PREFEITO VAREJISTA E
PREFEITO REFORMISTA
DANIEL LIMA - 04/11/2024
Tomara que ao final do próximo mandato de quatro anos os prefeitos do Grande ABC saiam da mediocridade do varejismo administrativo e se provem reformistas. Os prefeitos eleitos em outubro passado têm obrigação de colocar um ponto final nessa deformidade gerencial.
Desde Celso Daniel, e antes mesmo de Celso Daniel, nenhum prefeito da região pode ser considerado minimamente reformista no sentido de reformismo mais comprometido e abrangente. Celso Daniel é um divisor de águas entre o antes da abundância e o depois da escassez.
Apenas o prefeito Orlando Morando chegou a uma das vertentes de reformista, com a reestruturação possível da mobilidade urbana de uma cidade que era um convite à deserção. Mas Orlando Morando ficou devendo no campo de Desenvolvimento Econômico. Criou-se um vácuo de oportunidades imperdíveis que, se espera, o prefeito Marcelo Lima preencha. Ainda não emitiu sinais nesse sentido. Nos debates e sabatinas, preferiu temas menos complexos.
Com as facilidades tecnológicas de comunicação ofertadas na praça dos poderes individuais e corporativos, ou seja, de eleitores e mídias em geral, prefeitos varejistas que também são prefeitos populistas ganharam notável poder de atração e de retenção.
VITÓRIA DOS VAREJISTAS
Ganharam os prefeitos varejistas em termos potenciais de continuarem nos cargos ou elegerem quem bem entenderem com elástica vantagem ante adversários impotentes ou não suficientemente estruturados. A competição é desigual.
É preciso errar demais em algum tipo de operação visceral à manutenção do poder para não usufruir das condições que se apresentam como mandantes de jogos. Basta ver o que ocorreu no Brasil como um todo. Os incumbentes ganharam mais de 80% das disputas. Sem contar os indicados dos incumbentes.
Por conta disso, ou seja, das facilidades de comunicação portátil, principalmente, a tendência dos prefeitos varejistas a continuarem varejistas e terem como sucessores igualmente prefeitos varejistas é inquestionável. Os pragmáticos vão continuar a ser prefeitos varejistas.
Vale mais um teatro reformado, outro teatro reformado, uma rua asfaltada, um unidade de saúde mesmo mal das pernas, uma iluminação trocada, um premiozinho fajuto e encomendado, essas coisas e muitos mais, do que a planificação e a organização do futuro que sempre chega.
PREFEITOS SEM HISTÓRIA
O Grande ABC é uma nau sem rumo e sem prumo como organização coletiva mesmo na individualidade dos municípios, mas isso não conta na hora de somar votos. Os prefeitos populistas, porque varejistas, não fazem história para valer, porque seus poderes se esgotam na praticidade calculada de obras previsíveis e adequadas ao orçamento cada mais contraído diante das demandas sociais.
Os prefeitos reformistas são potencialmente descartados como alternativa produtiva de prefeitos varejistas desde o primeiro dia de mandato porque o dia a dia de cobranças e de heranças malditas, quando não de fortalecimento do projeto de poder, sufoca qualquer visão de médio ou longo prazo.
Os prefeitos varejistas são prefeitos varejistas porque gostam de ser prefeitos varejistas mas também porque não têm ideia do que poderiam ser como prefeitos reformistas. Entre a alternativa certa da mesmice assegurada por mais tempo e a reestruturação que demanda mais prazo, a escolha é simples.
Alguns prefeitos varejistas, caso de Paulinho Serra, se pretendem prefeitos estruturalistas, mas não passam de subversão da literatura. Paulinho Serra é seguramente o prefeito varejista de maior sucesso na região. Quando em combinação com parceiros de jornada ensaia desgrudar-se da síntese de varejistas. Tudo não passa de enganação.
DIVIDOR CELSO DANIEL
Um exemplo clássico é o Projeto Santo André 500 Anos, puxadinho mal-ajambrado de Santo André Cidade Futuro deixado por Celso Daniel. Uma copiazinha mequetrefe que nem como copiazinha mequetrefe se sustenta. É marketing da pior espécie.
Tenho muita desconfiança de que a nova leva de prefeitos do Grande ABC, que toma posse em janeiro próximo, seria uma repetição da repetição da repetição do que assistimos desde que Celso Daniel se foi e o legado reestruturante virou pó.
Anteriormente a Celso Daniel, o Grande ABC era tão poderoso economicamente, seguido de processo de esvaziamento negado, que os prefeitos de então jamais se sentiam na obrigação de pensarem como reformistas. Havia dinheiro sobrando nos respectivos orçamentos.
Sem nenhum sentido autossuficiente, mas sendo um pouco autossuficiente, porque é melhor pecar pelo excesso de franqueza do que pela discrição da falsidade, acho que os sete prefeitos deveriam trocar um próximo almoço de confraternização por um encontro de pelo menos três horas com um grupo de cinco observadores atentos do cenário regional no campo que mais interessa, o Desenvolvimento Econômico.
ALÉM DA POLÍTICA
Poderia esse grupo – e continuo com o tom só aparentemente autoglorificador –dar conta desse recado. Garanto a eles, prefeitos, que teria um bocado sobre os melhores nomes para não frustrar expectativas. Sou do ramo, teria dificuldades em selecionar essa plantel, mas daria um jeito. Trabalhar com a escassez é sempre um desafio. O que a gente não faz pela região?
Os regionalistas de verdade e, mais que isso, que além de regionalistas podem contribuir com diretrizes básicas que se desdobrariam em ações efetivas caso houvesse interesse dos sete prefeitos, esses regionalistas de verdade são praticamente desconhecidos nestes tempos de muito barulho midiático, muita assessoria de imprensa disfarçada de jornalismo mas de profundos vácuos de transformações.
É esse pessoal sem compromisso em agradar que os prefeitos eleitos deveriam ouvir. Se forem minimamente decididos a dar um novo tom de mudanças na região, nada que os impediriam de também serem varejistas, os prefeitos eleitos deveriam tomar posse informal de maneira mais produtiva o quanto antes. Ou seja: não devem ser guiados por marqueteiros sem compromisso com o amanhã.
Há tanta coisa a ser realizada no Grande ABC para dar nova configuração à regionalidade há muito violentada que não caberia antecipações. Até porque muito já se escreveu sobre isso e tudo não passou de perda de tempo. Os prefeitos desde Celso Daniel e antes de Celso Daniel jamais entenderam a importância da regionalidade, especialmente no campo econômico, matriz de todos os desajustes sociais. Será que essa nova turma de prefeitos romperá esse ciclo de mediocridade?
NOTORIEDADE NÃO RESOLVE
O que posso dizer antes de escrever o que tenho de escrever esta semana sobre um novo ajuste de sugestão à regionalidade do Grande ABC é que o formato do Clube dos Prefeitos, também chamado de Consórcio de Prefeitos, já foi para o chapéu da caducidade prática há muito tempo.
Celso Daniel ainda vivia quando me disse e eu escrevi sobre, entre outros pontos, chamar integrantes da sociedade, inclusive empresários, para atuar naquela entidade.
Andaram, depois disso, e já sem Celso Daniel, fazendo alguma experimentação aqui e ali no Clube dos Prefeitos, mas nada que levasse em conta um ponto essencial a qualquer empreitada reformadora: os integrantes de qualquer organismo que vise mudanças não podem ser escolhidos necessariamente porque ocupam posições em determinadas organizações.
Esse vício de notoriedade não pode continuar sufocando a virtude da notabilidade. Há gentes incompetentes demais em determinadas entidades que não passam de satélites dominados pelo Poder Executivo.
Por isso que qualquer iniciativa reformista de organismo com a característica de regionalidade do Clube dos Prefeitos não pode repetir os erros do passado de identidades a reboque da tradição de organizações privadas que se perderam no tempo.
Muita gente ainda não sabe a diferença entre competência e holofotes. Tampouco a distância entre juventude gregoriana e obsolescência intelectual. Não faltam jovens-velhos na praça. Eles vivem de artifícios, mas são incapazes de produzir mudanças, de estabelecer novas diretrizes. São jovens-velhos, admiradores de fósseis que também foram jovens envelhecidos. São cópias mal-acabadas.
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