CLUBE DOS PREFEITOS
SOMA 35% DOS VOTOS
DANIEL LIMA - 29/10/2024
Com um estoque de quase 900 textos direta ou indiretamente relacionados ao Clube dos Prefeitos, sinto obrigação de alertar o novo conjunto de prefeitos que vão ocupar as sete cadeiras do Clube dos Prefeitos: os senhores foram eleitos legitimamente por apenas 35% dos votos disponíveis na região. Ou seja: de cada 100 eleitores habilitados, apenas 35, em médias, os elegeram.
Sabem o que isso significa? Significa que os senhores vão enfrentar nos próximos quatro anos uma jornada duríssima. A bucha de canhão de uma região há quatro décadas em processo de empobrecimento não se transformará em flores à sociedade se não houver mudanças profundas a partir do Clube dos Prefeitos.
No escurinho do cinema do municipalismo praticado sem limites no Grande ABC é possível que os senhores obtenham bons resultados individuais, mas como teimamos em ser uma região sem cartografia divisionista na hora da onça da economia e da mobilidade social beber água, dá no que deu nestas eleições. Dois terços de afastamento dos eleitores em relação aos ganhadores das eleições.
DEPOIS DE CAPITALSOCIAL
Tudo bem que o Grande ABC faz parte da regra geral de fragilidade democrática de votos dos vencedores nas disputas municipais neste País afora, mas quando se trata de território com as características locais há pitada de gravidade que vai muito além do campo político-estatístico. Já tratamos disse inúmeras vez. Não será hoje que requentaremos e daremos novos condimentos.
Portanto, trataremos de questões relativas à atuação do Clube dos Prefeitos, uma de nossas especialistas no guarda-chuva de regionalidade, num outro texto. Mais que isso: nesse outro texto que virá, tomarei o cuidado de, em breve exposição, listar os desafios que esperam o novo conjunto de prefeitos do Clube dos Prefeitos.
Desde que foi criado em dezembro de 1990 como primeiros sinais de que regionalidade poderia ingressar no dicionário organizacional das sete cidades (portanto, quase um ano depois deste jornalista criar esta revista digital, antes revista de papel LivreMercado), o Clube dos Prefeitos deixa a desejar.
A instituição teve alguns momentos de brilho intenso, sob o dinamismo praticamente solitário de Celso Daniel, o maior prefeito regional do Grande ABC. Em seguida, com raras exceções de curta temporada, caiu no vazio de muita papagaiada e poucas realizações.
AOS DADOS
O fato que está nos números que estão nas eleições deste ano na região que estão no âmago das questões locais que estão no ventre de questões nacionais em tempos de democracia mais do que nunca de araque é que os senhores prefeitos concentraram em média apenas um terço dos eleitores da região.
Vamos discriminar os nomes e os ativos de primeiro turno e também de segundo turno para que todos possam entender. Antes disso, claro, é preciso explicar que fizemos contas simples. Pegamos o total de votos disponíveis em cada cidade, ou seja, de eleitores cadastrados, e comparamos com os votos obtidos pelos prefeitos eleitos em primeiro ou em segundo turno. Votos em branco, nulos, votos para os adversários e votos que não apareceram nas urnas porque ficaram longe das zonas eleitorais também foram contabilizados. Chamam esses votos de abstenção. Aos dados, então:
1) Gilvan Júnior virou prefeito de Santo André com 221.410 votos de um total disponível de 583.229. Conquistou 37,96% dos votos.
2) Marcelo Lima virou prefeito de São Bernardo com 205.831 votos de um total disponível de 643.023. Conquistou 32,00% dos votos.
3) Tite Campanella virou prefeito de São Caetano com 60.858 votos de um total disponível de 144.255. Conquistou 42,18% dos votos.
4) Taka Yamauchi virou prefeito de Diadema com 116.003 votos de um total disponível de 340.373. Conquistou 34,00% dos votos.
5) Marcelo Oliveira virou prefeito de Mauá com 102.115 votos de um total disponível de 318.437. Conquistou 32,00% dos votos.
6) Guto Volpi virou prefeito de Ribeirão Pires com 28.909 votos do total disponível de 85.544. Conquistou 33,79% dos votos.
7) Akira Auriani virou prefeito de Rio Grande da Serra com 17.508 votos do total disponível de 33.946. Conquistou 51,57% dos votos.
AUMENTA DESERÇÃO
No somatório e multiplcatório dos dados numéricos o que temos é um mapa eleitoral preocupante. Afinal, dos 2.148.807 votos disponíveis aos eleitores da região, apenas 752.634 representam os prefeitos eleitos. São os 35,02% da manchetíssima desta edição.
É importante ressaltar que essa contabilidade não é novidade. A deserção dos eleitores vem aumentando a cada nova disputa municipal, como se não bastasse o refugo estadual e federal. Nas eleições de 2020, mesmo com a pandemia, os vencedores foram um pouco mais vencedores, porque obtiveram a média de 38% dos votos disponíveis.
Minha preocupação mesmo é com o noticiário que já leio e que, mais que conhecido, dá sinais de que pretende se repetir como fórmula surrada de tratar o Clube dos Prefeitos como a salvação da lavoura que jamais foi, mas que se pretende fazer que tenha sido para manter a degeneração técnica em nome de politização partidária de fundas raízes de poderes paralelos.
Será que o leitor entendeu a frase acima ou preciso repetir em termos mais pedagógicos?
Traduzindo: já se manifestam grupos de pressão que pretendem dourar mais uma vez a pílula do fracasso histórico do Clube dos Prefeitos com o objetivo dissimulado de controlar politicamente a região, principalmente aos olhos do governador do Estado. Um governador que não entende nada de nada de minúcias do Grande ABC, embora ultimamente venha metendo o bico com o auxilio de assessores igualmente desinformados.
Resta saber até que ponto os novos prefeitos que se incorporarão aos dois prefeitos que restaram da leva de sete prefeitos eleitos ou reeleitos em 2020 vão saber discernir o que é verdade, o que é meia-verdade e o que não passa de charlatanismo em nome da integração regional.
PREFEITO DOS PREFEITOS
Maior prefeito dos prefeitos do Grande ABC, num critério que leva em conta o poderio econômico, social e político, o novato Marcelo Lima declarou antes mesmo do primeiro turno que recolocaria São Bernardo no Clube dos Prefeitos. Como se sabe, São Bernardo foi retirada do Clube dos Prefeitos pelo prefeito Orlando Morando, assim como São Caetano e Ribeirão Pires (que desistiu em seguida) durante uma crise política de sucessão previamente definida, mas rompida.
Espera-se que além do gesto de boa-vontade, Marcelo Lima engate uma quinta marcha de dinamismo no Clube dos Prefeitos, contando para tanto com o peso relativo maior da cidade que representa. Nada que supostamente estabeleça discriminação num ambiente multicolorido obrigatoriamente de peso institucional uniforme. Mas também nada que se finja de morto e a subjetividade de grandeza do Município não seja um abre-alas a potenciais inovações sufocadas em nome do colegiado pretensamente equânime.
CUIDADO MARCELO
Se pudesse dar um conselho ao prefeito eleito de São Bernardo e também aos demais, do alto da experiência de acompanhar os poucos sucessos temporais e os muitos fracassos estruturais do Clube dos Prefeitos, diria simplesmente o seguinte como mote a um complexo mas indispensável estudo transformador: não caia na conversa fiada de velhas raposas e se lance para valer a uma empreitada que tenha o Desenvolvimento Econômico como carro-chefe. O resto é consequência.
O primeiro prefeito dos prefeitos da nova leva de prefeitos do Clube dos Prefeitos deveria ser obrigatoriamente o novo prefeito de São Bernardo. Seria a sinalização clara de que o colegiado teria dado uma largada óbvia de mudanças que não podem ter qualquer parentesco com o amontoado de promessas, lorotas e meias-verdades que transpira naquela instituição aviltada nos dois últimos mandatos dos atuais prefeitos, especialmente por conta dos prefeitos que ficaram, não dos prefeitos que saíram em protesto, porque os prefeitos que saíram em protesto apenas delataram mesmo no silêncio da decisão o quanto de desserviço à sociedade regional ali está instalado.
Que os 35% dos eleitores do Grande ABC que sufragaram os novos prefeitos do Clube dos Prefeitos sejam observados com atenção, porque são ativos legítimos das urnas. Mas há uma maioria de 65% à espera de uma região menos covarde e menos conciliadora no consenso improdutivo para a quase totalidade da população.
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