Política

Oito combinações para
apenas três vencedores

  DANIEL LIMA - 23/10/2024

Não sei se passou pelo vão de minhas pernas de detalhamentos alguma combinação inadvertidamente escorregadia e dribladora. Sei que sei que formulei oito combinações juntando os seis finalistas de segundo turno das eleições municipais programadas para este domingo na região. Das oito propostas especulativas apenas uma se tornará realidade nas urnas. Qual prevalecerá? Façam suas apostas, senhores leitores e eleitores.

Ainda não decidi se vou fazer minha fezinha. Há sempre um detrator de tocaia para dizer que errei espetacularmente, embora não canse de dizer que em disputa por votos tudo é permitido a quem escreve.

Não tenho compromisso com o acerto nas projeções eleitorais. Sempre deixei isso tudo muito claro. Sem pesquisas confiáveis, até porque pesquisas confiáveis cada vez mais sofrem o assédio de intempéries especulativas nos últimos 10 dias, o que posso fazer senão chutar é simplesmente fugir da raia. Não fujo da raia. Só de eventual ameaça de que alguém sacou um revólver, menos quando assisto a um filme. Trauma se cura expondo-se ao perigo virtual.

TRIANGULAÇÕES TRAIÇOEIRAS

Tive alguma dificuldade em definir as triangulações possíveis. Os leitores vão entender do que se trata. Não fiz uso de Inteligência Artificial nem de outra tecnologia. Cuidei disso isoladamente, num canto. Fiz a prova dos noves e acho que não falta nada. Não é possível que minha cognição tenha cometido falha depois de ter-me debruçado sobre os nomes dos concorrentes.  

Na primeira versão desse texto havia escrito que eram 12 combinações possíveis. A leitura na tela é um perigo. Nem sempre oferece a acuidade necessária que o papel proporciona. Quando imprimi as 12 combinações, descobri quatro cenários excedentes. A checagem me parece ter sido  correta. Tomara que não esteja enganado. Se estiver, não faltará leitor a dar um alerta. E tampouco os que me chamarão de burro. Faz parte do jogo.

Antes de passar adiante o que preciso dizer sobre as eleições de domingo, reproduzo as oito combinações em jogo. Depois disso, vou fazer  especulação em torno de cada triangulação. Conto em seguida.   

1. Marcelo Lima, Filippi e Marcelo Oliveira.

2. Marcelo Lima, Taka e Atila.

3. Marcelo Lima, Filippi e Atila.

4. Marcelo Lima, Taka e Marcelo Oliveira.

5. Manente, Filippi e Marcelo Oliveira.

6. Manente, Taka e Atila.

7. Manente, Filippi e Atila.

8. Manente, Taka e Marcelo Oliveira. 

OS  CONCORRENTES

Antes de prosseguir, não custa nada acentuar a identidade eleitoral dos seis competidores. Temos muitos leitores ocasionais que se tornam leitores assíduos e nem todos conhecem os prefeituráveis finalistas que vão disputar os votos em São Bernardo, em Diadema e em Mauá. As outras quatro cidades da região (Santo André, São Caetano, Ribeirão Pires e  Rio Grande da Serra já elegeram os respectivos prefeitos). Vamos então à apresentação dos finalistas. 

a) Marcelo Lima pode ser prefeito pela primeira vez em São Bernardo. Foi vice-prefeito nas duas vitórias de Orlando Morando. Elegeu-se deputado federal em 2022, mas perdeu o mandato por infidelidade partidária.

b) Alex Manente concorre pela quarta vez à Prefeitura de São Bernardo. É deputado federal em terceiro mandato. Foi duas vezes deputado estadual e também vereador. É um tetraderrotado, portanto.

c) José de Filippi Júnior é prefeito petista em quarto mandato em Diadema. Quer ser pentaprefeito.

d) Taka Yamauchi concorre pela terceira vez à Prefeitura de Diadema. É, portanto, triderrotado. Chegou em primeiro no primeiro turno, com vantagem escassa.

e) Marcelo Oliveira quer ser biprefeito em Mauá. É petista. Chegou em primeiro no primeiro turno.

f) Atila Jacomussi quer ser biprefeito em Mauá. Foi prefeito antes de Marcelo Oliveira eleger-se prefeito. Perdeu a disputa de 2020 para Marcelo Oliveira. É deputado estadual. 

OS PERCENTUAIS

Agora vamos ao que interessa: aos resultados combinados. O que são resultados combinados? Das oito opções disponíveis, apenas uma se tornará realidade ao final das apurações de domingo.

O noticiário dos últimos dias, as redes sociais, as manifestações de gente diretamente interessada em cada disputa, tudo isso e muito mais formam um caldo de cultura que leva à seguinte conclusão: o jogo em Diadema é um jogo indefinido, o jogo em São Bernardo é um jogo de pedra cantada e o jogo em Mauá é um jogo intermediário do que acontece em São Bernardo e em Diadema.

Se fosse possível transferir ao campo geométrico uma figura que definisse o quadro pré-eleitoral nos três municípios, o triângulo escaleno seria perfeito. São três lados diferentes, portanto de medidas distintas.

Se você não entendeu bulhufas do que tentei explicar é porque você não tem  intimidade com o quadro eleitoral na região. E que, portanto, não deve se meter a tentar definir o trio de vencedores em combinação numa única, alternativa. Diria o seguinte sem medo de errar: você que não entende bulhufas de campanha eleitoral não está muito distante de quem pensa que entende. A falta de dados consistentes que as pesquisas nem sempre oferecem torna verdadeira aventura a  tentativa de desvendar numeralhas oficiais.

TRÊS COMBINAÇÕES

Na expectativa de que não será nada fácil acertar em cheio o trio vencedor deste domingo, ou seja, uma combinação perfeita, vamos fazer o seguinte: para cada vencedor especulado contam-se 33,33 pontos e alguns quebradinhos, de modo que a soma de três vitórias previstas se chegue a 100 pontos de acerto. Tudo bem?

Então ficamos assim: você olha para cima de oito combinações expostas e, em seguida, anota três que estariam reservadas como potenciais vitoriosas neste domingo. Quem acertar em cheio conquista 100 pontos, quem acertar duas opções conquista 50 pontos e quem acertar apenas uma terá um saldo de apenas 20 pontos. Combinado? Eis as minhas respostas, em ordem de relevância de pontos: 

1. Marcelo Lima, Taka Yamauchi e Marcelo Oliveira.

2. Marcelo Lima, José de Filippi e Marcelo Oliveira.

3. Marcelo Lima, Taka Yamauchi e Atila Jacomussi.  

PESQUISA ANUNCIADA

Estou escrevendo este texto às cinco horas da manhã desta quarta-feira. Acordei mais cedo do que de costume, não muito mais cedo, é verdade, e apanhei na garagem os três jornais que assino.

O Diário do Grande ABC traz uma nova pesquisa sobre a disputa em São Bernardo. Nenhuma surpresa. Talvez o resultado ainda esteja aquém do que podem revelar as urnas no domingo.

Segundo o Instituto Paraná, Marcelo Lima conta com vantagem de 10,7 pontos sobre Alex Manente  -- 49,7% a 39,0%. Acho que é mais. E que vai se alargar. As mídias que até outro dia reverenciam Alex Manente puxaram o freio de mão do entusiasmo. Esse ambiente midiático provavelmente expresse pesquisas não publicadas. E que são ferramentas mais confiáveis que as pesquisas publicadas.

Quando saíram os resultados do primeiro turno e depois de breve análise, chutei que Marcelo Lima venceria o segundo turno por 60-40. Ainda acho que há espaço à elasticidade senão acachapante, mas pronunciada.

Mais cinco pontos para Marcelo Lima e consequentes menos cinco pontos para Alex Manente parece ser uma movimentação lógica. Todos estão contra Manente.

FALSA NEUTRALIDADE

Onde o leitor ouviu dizer ou leu que há neutralidade dos petistas, eliminados do jogo, entenda-se que os petistas estão com Marcelo Lima. Não estão de corpo e alma com Marcelo Lima, mas estão com Marcelo Lima. Até porque nem precisariam da ‘neutralidade” anunciada para induzir os eleitores a votar em Marcelo Lima.

Marcelo Lima tem a periferia  ao seu lado. Só chegou à finalíssima, enquanto o petista Luiz Fernando Teixeira dançou,  porque ganhou o eleitorado mais pobre que não quer saber de radicalismo de esquerda. Muitos são lulistas, como a maioria do eleitorado em São Bernardo. Mas lulismo é uma coisa, petismo é outra. Não antagônicos, necessariamente, porque não o são, mas permeáveis a gradações.

O interessante no caso do veto explícito dos petistas e parceiros a Alex Manente (Luiz Fernando Teixeira, sindicalistas, Willian Dib e tantos outros) é que temos o atraso do atraso se manifestando. Aqueles que são contrários a Alex Manente porque Alex Manente não cumpriria palavra dada (como declarou o ex-prefeito de Ribeirão Pires, Clovis Volpi) é outra história.

ACERTO E ERRO

Alex Manente está sendo execrado e eliminado da disputa em termos práticos pelos petistas porque ousou votar contra os chamados interesses da classe trabalhadora. No caso, Manente acertou em cheio. Há uma velharia constitucional que precisa mesmo ser desmontada, ou o Brasil  continuará a seguir em ritmo de tartaruga.

Manente só errou o tiro – e nesse ponto a esquerda tem toda a razão em propagar veto – ao se juntar oportunisticamente a um bolsonarista como candidato a vice-prefeito.

Paulo Eduardo Chuchu, policial que fez fama regional porque é bolsonarista convicto, teria sido uma jogada de mestre se Alex Manente fosse para o segundo turno com o petista Luiz Fernando Teixeira. Como deu Marcelo Lima com apoio de Orlando Morando, prefeito que teria dificuldades em ficar neutro de verdade se os finalistas fossem Manente e Luiz Fernando, o tiro saiu pela culatra.

Manente, que jamais foi centrista ou direitista, porque navegou em muitas águas sem se definir para valer em termos ideológicos, arriscou com coragem, é verdade, deu um passo ousado, foi estrategista, mas não contava e poucos contavam com a ausência do PT no turno final. De fato, deu duas zebras. Os finalistas previstos inicialmente seriam Flavia Morando e Luiz Fernando Teixeira. Quem disser algo diferente não bateria bem da cachola.

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