Administração Pública

SÃO BERNARDO DÁ UMA
SURRA EM SANTO ANDRÉ

  DANIEL LIMA - 15/10/2024

Estou sendo generoso ao não instalar na manchetíssima aí em cima uma definição mais cáustica, que seria mais apropriada. O correto seria algo como  “São Bernardo massacra Santo André em Competitividade”. Não o faço porque a ditadura gráfica não permite.

Tenho limites para definir espacialmente a manchetíssima de cada dia. São duas linhas de no máximo 20 caracteres cada. O fato é que São Bernardo goleia Santo André por 12 a 1 no Ranking de Competitividade dos Municípios Brasileiros. Está bom ou quer mais?

O Ranking de Competitividade dos Municípios Brasileiros reuniu na temporada de 2023 os maiores endereços nacionais. São 404 municípios com mais de 80 mil habitantes cada. Foram esmiuçados 76 indicadores atrelados a 13 macroindicadores de três esferas públicas – Gestão Social, Gestão Econômica e Gestão Fiscal.

A Santo André de oito anos do prefeito Paulinho Serra não deu certo a exceção das urnas eleitorais desta temporada. Resta agora torcer para que o sucessor de Paulinho Serra encontre o caminho comemorado em forma de farsa. 

COR-DE-ROSA

Diante disso, nada melhor que os próximos quatro anos serem escrutinados de forma comparativa, numa espécie de cidade-contra-cidade, tendo São Bernardo como adversário. Não seria exatamente um jogo de adversários. A competição (que também deveria envolver os demais municípios da região) seria ótima no sentido de que se formariam forças-tarefas para pegar todos os macroindicadores e indicadores pelo colarinho da eficiência e colocar a região mais próxima das melhores posições nacionais. Trataremos disso em outra ocasião.

O que interessa agora é retirar Santo André do noticiário cor-de-rosa sob encomenda, próprio para uma lavagem mentirosa de cunho eleitoreiro, e colocar a verdade sistematizada com metodologia consagrada em forma de alerta.

SÓ NO ELEITORAL

Santo André vai dar certo de novo é um mote eleitoral levado à suposição de que os resultados administrativos de Paulinho Serra foram positivos. Longe disso. Tanto é verdade que mentiras e meias-verdades ganharam escalas insuperáveis. Engana-se descaradamente o distinto público. A queda de 39 posições ao final dos primeiros cinco anos de mandato no Ranking de PIB per Capita no Estado de São Paulo poderia ser chamada de resumo da ópera. Mas o Ranking de Competitividade dos Municípios, mais atualizado, é ainda melhor. É uma sinfonia.

O  prefeito Paulinho Serra em fim de dois mandatos gosta mesmo é de comparar a Santo André de oito anos de sua administração com a Santo André de antes da posse em janeiro de 2016, após  uma gestão petista da qual foi um patético secretário de Mobilidade Urbana. Tão patético que escrevemos à época a dificuldade de ele entender que espaço físico não é espaço flexível para comportar veículos atropelados por decisões burocráticas.

Comparar uma administração com outra administração imediatamente anterior no caso específico mencionado por Paulinho Serra é comparação mamão com açúcar. Não só Santo André como os demais municípios da região comeram o pão que o diabo amassou com o governo de Dilma Rousseff, mais especificamente durante os dois anos da mais brutal recessão do Grande ABC. Foram perdidos nada menos que 22% do PIB Geral, quase 30% do PIB per capita na média dos sete municípios.

GOLEADA DESCLASSIFICADORA

A goleada de 12 a 1 para  São Bernardo frente a Santo André é desqualificadora. Boa parte dos resultados se deve à gestão de Paulinho Serra, porque são dados que se movem a cada temporada. E a única vitória de Paulinho Serra se dá num macroindicador sobre o qual qualquer gestor público, mesmo de dois mandatos, tem participação tecnicamente limitada.. No caso de Santo André de Paulinho  Serra, a vitória se dá no saneamento básico implantado principalmente durante os anos dourados de industrialização que começou a fazer água no começo dos anos 1990 e não parou mais. 

No computo geral envolvendo Santo André e São Bernardo, ao fim das numeralhas que registram a realidade de cada endereço, Santo André somou 1.932 pontos negativos, enquanto São Bernardo chegou a 1.266 pontos negativos. Quanto mais pontos negativos, menos qualificado é um Município em relação ao eventual adversário ou no correlacionamento de posicionamentos entre os 404 concorrentes.

Trata-se de uma distância quilométrica que sinaliza dificuldade imensa a uma reviravolta nos próximos anos.

No posicionamento geral, que comporta todos os macroindicadores, ou seja, uma competição inteira, sem segmentação, São Bernardo ocupa a posição 21 no Ranking Nacional, enquanto Santo André está na posição 117. É muita diferença para duas cidades vizinhas, praticamente do mesmo tamanho demográfico e de distintas configurações econômicas. São Bernardo sofre com a Doença Holandesa Automotiva. Santo André é beneficiada pela Doença Holandesa Petroquímica.

GESTÃO ECONÔMICA

Na categoria de Gestão Econômica, a vantagem de São Bernardo é bastante expressiva ao ocupar a posição 49 no Ranking Brasileiro, após cair seis posições entre 2022 e 2023. Santo André está em situação vexatória, com a posição 207 após cair 59 degraus entre 2022 e 2023. Florianópolis, capital catarinense, ocupa a primeira colocação nacional.  

A Gestão Econômico do Ranking de Competitividade dos Municípios Brasileiros conta com quatro macroindicadores e 19 indicadores. Em Capital Humano Santo André ocupa a posição 177 enquanto São Bernardo está na posição 128. Em Inovação e Dinamismo, com oito indicadores, Santo André ocupa a posição 118 ante a posição 17 de São Bernardo. Em Inserção Econômica, com três indicadores, Santo André ocupa a posição 93 enquanto São Bernardo está na posição 72. Em Telecomunicações, São Bernardo está na posição 383 e Santo André na posição 386.

GESTÃO FISCAL

Na categoria de Gestão Fiscal, que conta com dois macroindicadores e 10 indicadores, Santo André ocupa a posição 128, com queda de 61 posições entre 2022 e 2023, enquanto São Bernardo está na posição 39, com queda de 26 posições entre as duas temporadas. No indicador de Funcionamento da Máquina Pública, Santo André ocupa a posição 139, enquanto São Bernardo é a 48ª colocada. No indicador de Sustentabilidade Fiscal, Santo André está na posição 148, enquanto São Bernardo é a 67ª colocada.

GESTÃO SOCIAL

Na categoria de Gestão Social, a mais detalhada do Ranking de Competitividade dos Municípios Brasileiros, Santo André ocupa a posição 67, com queda de sete posições entre 2022 e 2023. São Bernardo é a 18ª colocada, com queda de 10 posições entre os dois últimos anos já analisados.

A Gestão Social comporta sete  macroindicadores e 36 indicadores. No Acesso à Educação, Santo André é a 142ª colocada enquanto São Bernardo é 53ª colocada. Em Acesso à Saúde, Santo André ocupa a posição 231, enquanto São Bernardo é a 41ª colocada. Em Qualidade da Educação, Santo André é a 91ª colocada, enquanto São Bernardo está na posição 33. Em Qualidade da Saúde, Santo André está na posição 148 ante a posição 145 de São Bernardo.

Os números de Santo André e São Bernardo são discretos no macroindicador de Meio Ambiente da Gestão Social. Santo André é a 82ª colocada, e  São Bernardo a 67ª. O macroindicador dos dois municípios no ranking nacional de  Saneamento também é ruim: Santo André está na posição 66, enquanto São Bernardo na posição 120.  É o único registro favorável a Santo André. Para completar, em Segurança, Santo André é a 110ª colocada no País, enquanto São Bernardo é a 92 colocada. 

ENTENDA O RANKING

O Ranking de Competitividade dos Municípios, elaborado pelo CLP (Centro de Liderança Pública)  é uma ferramenta de grande relevância e que visa apoiar os líderes públicos brasileiros nas tomadas de decisão, com foco na melhoria da gestão das cidades. Por meio da metodologia SEALL, o Ranking dos Estados ganhou uma expansão, com a incorporação de métricas de sustentabilidade. É – segundo a organização -- a oportunidade de fomentar boas práticas para uma competição saudável rumo a justiça, equidade e desenvolvimento sustentável.

A quinta edição do Ranking de Competitividade dos Municípios analisou o total de 404 municípios brasileiros (7,25% do universo de municípios), representando os municípios do país com população acima de 80 mil habitantes de acordo com a população oficial dos municípios com base nos dados definitivos do Censo Demográfico de 2022.

Na edição anterior deste estudo foi utilizada para recorte populacional dos municípios a prévia da população do Censo Demográfico de 2022. Em conjunto, os 404 municípios em análise correspondem a 59,34% da população brasileira (120.499.435 habitantes do total de 203.080.756 habitantes do Brasil de acordo com o Censo Demográfico de 2022).

Como resultado, a quinta edição do Ranking de Competitividade dos Municípios é composta por 65 indicadores, organizados em 13 pilares temáticos e 3 dimensões: instituições, sociedade e economia. Esta organização é fruto de ampla reflexão ao longo do projeto sobre quais são os temas fundamentais para se analisar a competitividade a nível municipal no Brasil

De forma resumida, seguem alguns dos principais objetivos da elaboração do Ranking de Competitividade dos Municípios:

 Incentivar a competição positiva entre os municípios, entendida como a busca dos agentes no município por melhorar o fornecimento de serviços públicos, atrair empresas, trabalhadores e estudantes para ali viverem e se desenvolverem.

 Permitir a obtenção de um amplo mapeamento dos fatores de competitividade e de fragilidade, direcionando, de forma mais precisa, a atuação das lideranças públicas municipais para planejamento e atuação para aquilo que é prioritário.

 Valorizar casos de sucesso, promovendo a publicização e inspiração originada pelas boas iniciativas para se aplicar em outras localidades.

 Ser uma ferramenta para cidadãos avaliarem e cobrarem de forma eficiente o desempenho dos formuladores de políticas públicas.

 Ser um sistema de incentivo e de enforcement à melhoria para os líderes públicos e a sociedade no município;

 Possibilitar uma comparação simples, direta e concisa, entre localidades, de uma série de atributos institucionais, sociais e econômicos que são comumente de difícil mensuração e avaliação.

 Construir e disponibilizar uma ferramenta prática de auxílio e mobilização dos atores envolvidos nos processos de formulação e implementação de políticas públicas, tornando-as efetivas e baseadas em dados e evidências; 

 Ser uma ferramenta de fomento e apoio à qualificação do ambiente de negócios no município, bem como auxílio ao setor privado no direcionamento de investimentos.

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