Política

PESQUISAS ELEITORAIS
ALÉM DOS NÚMEROS (16)

  DANIEL LIMA - 08/10/2024

Continuamos avançando na captura do passado e transposição ao presente de uma seleção de textos de CapitalSocial sobre pesquisas eleitorais e variáveis. As análises se acentuaram nos últimos 10 anos, quando a indústria de resultados virtuais e seus mecanismos de influência nas urnas começou a me incomodar e, mais recentemente, tomaram a preocupação também dos consumidores de informação em geral.

Nesta nova edição apresentamos mais três análises. Vejam os títulos do que se seguirá logo abaixo, em ordem cronológica de publicação: 

 

Só Forças Armadas (e olhe lá!)

têm a confiança da sociedade

 

Pesquisa que compara ações

de prefeitos tem coerência?

 

Voto eletrônico: Datafolha e

Folha escondem reprovação 

 

Antes de reproduzir esses textos, convém lembrar porque lembrar é questão de transparência que esta série foi programada especialmente porque estamos vivendo um calendário eleitoral de permanente participação de pesquisas eleitorais a tomar conta do barraco de avaliações do eleitorado. Nada diferentemente disso.

Sobre isso, aliás, e esse é um ponto de reflexão que valerá a novas análises no futuro próximo, o que se verifica é que os institutos mais renomados começaram a se preocupar mais com a reputação.

As redes sociais são implacáveis na aferição do movimento dos votos potenciais e especulativos. Há cada vez mais exigências em torno de lisura num mundo, o mundo político, em que essa matéria-prima da democracia geralmente é desrespeitada, quando não sonegada ou, principalmente, manipulada. Sempre com o suporte da mídia mais flexível a permissividades éticas.

 

Só Forças Armadas (e olhe lá!)

têm a confiança da sociedade 

 DANIEL LIMA - 28/09/2021

Demorou para o Datafolha (ferramenta supostamente científica da Folha de S. Paulo explorada à exaustão pela Grande Mídia) dar uma medida relativamente exata do grau de confiança, ou seja, de credibilidade, de algumas das principais instituições do País. Os dados não são surpreendentes. De fato, ocupam um andar acima: são vexatórios. Você vai entender o que pretendo explicar.  

A pesquisa do Datafolha mirou o tempo todo o presidente da República. Resultado? Nada que fosse impactante mas, vejam só, acertou (no sentido de alvo) em cheio os demais poderes que a Grande Mídia passou a descartar de uns tempos para cá como fontes de desconfiança. Mais que isso: chega à santificação dos demônios. Renan Calheiros que o diga.  

O Brasil do problemático Jair Bolsonaro se descobriu (quanta surpresa, não é verdade?) um País igualmente ou até mais problemático em outros setores-chave da sociedade.  

CAINDO PELAS TABELAS  

Os dados conclusivos da pesquisa envolvendo os poderes preservados pela Grande Mídia poderiam estar piores do que estão porque foram o tempo todo protegidos no amplo questionário. Mas o que é do homem da realidade dos fatos o bicho da esperteza estatística não come. Muito pelo contrário: entrega de bandeja para quem não é cego ideológico.  

Vejam como o está o que chamaria de Ranking de Credibilidade de várias instituições do País: 

1. Presidente da República – 16%. 

2. Supremo Tribunal Federal – 15%. 

3. Congresso Nacional – 4%. 

4. Partidos políticos – 3%. 

5. Judiciário – 15%. 

6. Ministério Público – 15%. 

7. Forças Armadas – 37%. 

8. Imprensa – 18%. 

9. Grandes Empresas Brasileiras – 17%. 

10. Redes Sociais – 6%.   

É claro que a edição de sábado da Folha de S. Paulo fez acrobacias sadomasoquistas para dar a interpretação que mais lhe convinha. A linha editorial da Folha de S. Paulo é aquela coisa que todo mundo com equilíbrio e tolerância às sacolejadas de pontos e contrapontos sabe do que se trata.   

SEM PLURALIDADE  

Aliás, a própria Folha de S. Paulo, numa autocrítica saudável, embora omitida porque condenatória, já não se utiliza mais da muleta marquetológica de que é um jornal de pluralidades. Seria demais acreditar que os pouco mais de 70 mil leitores diários da versão impressa sejam um bando de capadócios. 

Como escrevi ainda outro dia, com a chegada de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto o que prevalece na Grande Mídia é o ‘Tudo Agora’, como se o Brasil houvesse sido descoberto recentemente. Antes, especialmente nos anos dourados de Lula da Silva, comprava-se com facilidade o ‘Nunca Antes”.  

O que existe na ponta da agulha do Datafolha é que não há nada a contestar nos números da Presidência da República (os quais trato em seguida). Nas demais instituições, exceto Forças Armadas e redes sociais, subsiste o que chamaria de contenção programada da realidade.  

Ou seja: os resultados para valer mesmo são piores do que os que se apresentam.  O contexto estrutural da macro pesquisa ameniza o quadro.  

CONSÓRCIO MOSTRA A CARA 

Chego a essas conclusões com a singeleza de quem entende como funcionam pesquisas do Datafolha e de tantos outros institutos.  

No caso específico desses resultados, o que temos é o complemento de uma macro pesquisa divulgada ao longo da semana passada pela Folha de S. Paulo (e a Grande Mídia) e que ouviu mais de três mil pessoas em todos os cantos do País – segundo o Datafolha.  

Os questionários (e a ordem das perguntas) apresentados aos entrevistados (é aí que mora um dos pilares do vício de um trabalho supostamente científico) foram todos direcionados a confirmar a linha editorial da Folha de S. Paulo e da chamada Grande Mídia, também conhecida como Consórcio de Imprensa que deixou a clandestinidade editorial ao decidir dar as caras públicas sob o pretexto de oferecer balanço diário dos danos do Coronavírus. Retirou-se a máscara em nome de uma causa nobre: uma resposta à política errática do governo federal.    

FAVORITA DA CRÍTICA 

Confirmar a linha editorial significa, simplificadamente, enviesar tudo que se refira ao presidente da República. Enviesar significa que qualquer resquício de ponto positivo do governo federal sempre será desconsiderado ou minimizado. Guerra é guerra.  

Isso quer dizer que a leitura do desempenho do presidente ganha tonalidade específica, por assim dizer. Quem trata as manifestações de Sete de Setembro como delitos cívicos, na forma de atos antidemocráticos, é capaz de tudo. Inclusive de escrever muitas verdades sobre os erros do presidente. E de negar ou omitir acertos, que existem. 

Por exemplo? O caso de invasões de domicílio do Supremo Tribunal Federal em várias questões, a começar pelo combate à pandemia que alguns caras de pau isentam os togados porque dão conotação extravagantemente hermenêutica, de fato farsesca, ao conceito de “concorrentes”.   

Repararam no ranking acima que a Imprensa tem praticamente o mesmo nível de credibilidade do presidente da República? Noves fora a margem de erro, empatam.  

CONTAMINAÇÃO SEQUENCIAL  

O carregamento crítico embutido nas questões elaboradas pelo Datafolha tendo a atuação do presidente da República como carro-chefe torna o processo de incursões complementares naturalmente contaminado.  

Vou explicar, porque pesquisas precisam sempre de explicação nos conceitos que as regem, sob pena de o leitor não entender bulhufas.  

Os resultados de pesquisas do gênero a que o Datafolha se lançou são vasos comunicantes. Perguntas e respostas têm encadeamento complementar, de mensagens subliminares, de emissões de juízo de valor induzidas. É uma engenharia de perscrutação de percepções da sociedade. Nada é por acaso.  

Dessa forma, até que o questionário chegue à avaliação das demais instituições, o cargo de presidente da República já passou por dura sabatina. Quando se pergunta, como se perguntou, sobre aprovação e reprovação do presidente, e, logo adiante, sobre a possibilidade de impeachment do presidente, o que se pretende é a consumação do esfacelamento gradual da qualificação do comandante da República.  

TUDO RELATIVIZADO  

Seguindo esse roteiro, quando se chega às questões relativas às demais instituições, como o Datafolha chegou, de alguma forma se reduz a carga de responsabilidades dessas mesmas instâncias. Tudo passa a ser relativizado pelo cargo presidencial.  

Agora, a razão de afirmar que os resultados em geral são vexatórios é o seguinte: se mesmo com essa manta de proteção tática dos produtores da pesquisa do Datafolha os dados são comprometedoras à maioria das instituições, ou quase da totalidade, para não dizer da totalidade, imaginem os leitores se houvesse pesquisa específica para dar uma dessas organizações sem a contaminação presidencial. Seriam resultados aterradores.  

Notem que não estou fazendo juízo de valor específico sobre cada uma dessas instituições no sentido que poderia, com profundidade. Estou apontando exclusivamente uma situação sensorial da sociedade.  

TRÊS CENÁRIO  

O Datafolha ofereceu aos entrevistados três cenários de avaliação a cada uma das instituições listadas. Optei pelo “confio muito” porque me parece mais próxima da realidade das ruas. E que pode sim ser traduzida em forma de Ranking de Credibilidade.  

A segunda alternativa na cartela apresentada por cada entrevistador refere-se ao conceito de “confia um pouco”. E a terceira se refere a “não confio”. Nesses quesitos, há variações mais abruptas, por assim dizer. Faço um ranking do “confia um pouco”:  

1. Presidência da República – 33%. 

2. Supremo Tribunal Federal – 44%. 

3. Congresso Nacional – 46%. 

4. Partidos políticos – 35%. 

5. Judiciário – 51%. 

6. Ministério Público – 53%. 

7. Forças Armadas – 39%. 

8. Imprensa – 48%. 

9. Grandes Empresas Brasileiras – 51%. 

10. Redes sociais – 40%. 

Olhem para as instituições e respectivos percentuais. E não esqueçam de que se trata do critério “confia um pouco”. Agora vamos para o critério “não confia”:  

1. Presidência da República – 50%. 

2. Supremo Tribunal Federal – 38%. 

3. Congresso Nacional – 49%. 

4. Partidos políticos – 61%. 

5. Judiciário – 31%. 

6. Ministério Público – 30%. 

7. Forças Armadas – 22%. 

8. Imprensa – 32%. 

9. Grandes Empresas Brasileiras – 29%. 

10. Redes sociais – 53%.  

Me recuso a considerar positiva qualquer derivação além do “confia muito” escolhida pelos entrevistados do Datafolha. O que se pode aceitar no espaço intermediador entre “confia muito” e “não confia”, no caso “confia um pouco” é um certo grau de flexibilidade à adoção de um dos dois extremos de avaliação. O “confia um pouco” é algo semelhante ao “regular” quando se pretende avaliar uma determinada gestão. Ou dos “indecisos” em pesquisas eleitorais.  

Trata-se de espécie de subida no muro do não comprometimento. Na situação específica da causa da pesquisa do Datafolha sobre as instituições, optaria pela desconfiança e, portanto, por uma avaliação que não teria intimidade com o respaldo à credibilidade.  

Parece que o mais importante de tudo isso é que temos para valer sequência prolongada de crise institucional, cujo berço é de difícil detecção temporal. O Brasil parece destinado a mergulhar em permanentes crises de competência geral.  

Alguns períodos de bonança ao longo de décadas não passaram de exceções à regra, em muitos casos turbinados pelo conluio entre podres poderes e podres mídias.  

 

Pesquisa que compara ações

de prefeitos tem coerência?

 DANIEL LIMA - 14/01/2022

No final de dezembro do ano passado o Diário do Grande ABC publicou uma pesquisa de opinião pública encomendada ao Instituto Brada. Mediu-se a temperatura de aprovação e reprovação dos prefeitos da região. Houve preocupação em destacar a aprovação geral, mas, até porque não se podem esconder os dados, o prefeito Paulinho Serra foi considerado o melhor. Isso é sustentável? 

Não estou me referindo ao resultado favorável a Paulinho Serra, mas estritamente ao conceito de comparabilidade entre os sete prefeitos. Se você coloca tudo no mesmo recipiente avaliativo, é melhor prestar atenção.  

Acho que a quase totalidade pensa assim, ou seja, que uma coisa e outra coisa mais alguma coisa entre outras coisas são a mesma coisa.  Vou mostrar que é possível desmontar com argumentação forte essa teoria alquebrada.  

IDENTIDADE FRÁGIL 

Não fosse o período de férias, já teria analisado o assunto. Nunca é tarde, entre outros motivos porque o tema ultrapassa o imediatismo para se alojar em recônditos sociológicos complexos de uma área sub-metropolitana cuja identidade social e econômica esfarela-se a cada nova temporada e tudo parece que não terá fim nos próximos tempos. 

A verdade é que a primeira iniciativa de quem tem acesso aos dados da pesquisa é mesmo escrever que Paulinho Serra conta com a maior aprovação e Claudinho da Geladeira, prefeito de Rio Grande da Serra, a pior. A pesquisa, da qual o jornal é escravo na interpretação ou mesmo na simples enunciação de dados, obriga a esse raciocínio. 

O estranho, mas não tão estranho assim, é que Claudinho da Geladeira comemorou o resultado, mesmo ocupando a lanterninha na região. Como isso é possível?  

CONCEITO EQUIVOCADO 

Sem qualquer juízo de valor sobre o resultado numérico da pesquisa, faço restrições ao conceito geral de embate interdependente dos prefeitos. Provavelmente já incorri nessa esparrela conceitual, mas experiência só tem sentido se for para reparar equívocos. Pobre da alma humana que teima em lutar contra fatos e evidências.  

Para não deixar dúvidas aos leitores, condicionantes que desenho abaixo são o que chamaria de provas vivas de maturidade a esse tipo de sondagem.  

Em outros tempos provavelmente também iria no ritmo de uma regionalidade imperfeita, ou seja, de comparar realidades diferentes. Colocar o selo do Grande ABC acriticamente no mesmo saco de gatos de avaliações é um perigo. Há temáticas que exigem essa premissa, enquanto outros cenários obrigam a rompimentos dessa teia invisível. Nem tudo que brilha nos sete municípios é ouro de sabedoria regionalista.  

MORANDO MELHOR    

Para que não fique dúvida sobre dúvida, ou seja, para que não se destilem a ideia de que pretendo favorecer algum candidato nessa avaliação, antecipo que não escondo de ninguém que, no conjunto da obra, em cinco anos de dois mandatos incompletos, Orlando Morando tem efetivamente mais a mostrar do que seus parceiros de jornada. Até porque São Bernardo é um prato potencialmente com mais tempero econômico gerado pela indústria automotiva. 

Expresso esse ponto de vista faz tempo, da mesma forma que, ao que parece, o prefeito Paulinho Serra começa a descobrir as veredas de uma nova configuração do terreno em que pisou durante os primeiros quatro anos. Paulinho Serra não seria o primeiro nem o último exemplo de chefe de Executivo da região que avança em qualidade na medida em que mais tempo tem de mandato. Resta saber até que ponto a gestão pública voltada para a cidade e as naturais ambições de fazer carreira não seriam autofágicas.  

Não há como descartar pelo menos quatro enormes condicionantes a demarcar a atuação dos prefeitos da região em seus respectivos territórios: 

1. Ambiente municipal 

2. Ambiente regional 

3. Ambiente metropolitano 

4. Ambiente nacional  

Já se foi o tempo em que apenas o quadro municipal pesava na balança de avaliações. Ou numa escala muito abaixo e subordinada o ambiente regional e o ambiente metropolitano.  

INFLUÊNCIA EXTERNA 

Depois que o mundo mudou em todos os sentidos e a qualidade de vida no Grande ABC e na maior metrópole latina passou a patinar, é impossível afirmar categoricamente que o morador de Santo André, de São Bernardo e dos demais municípios não é influenciado nos humores e horrores por acontecimentos em geral, independentemente da área territorial que ocupa. 

Não bastasse tudo isso, o vetor “ambiente municipal” é completamente distinto politicamente em Santo André e em São Bernardo. E isso influencia muito o resultado final de uma sondagem que pretende saber o grau de eficiência de um prefeito.  

São Bernardo é muito mais conflagrada entre conservadores e esquerdistas do PT, berço que é do sindicalismo.  

PT DIZIMADO 

Em Santo André, por outro lado, o PT foi dizimado nos últimos anos entre outras razões porque tem viés menos trabalhista que São Bernardo e Diadema, situação que gera baixo grau de resiliência programática e ideológica.  

Raízes petistas em Santo André são menos frondosas. Celso Daniel precisou de tempo e de muita competência para conquistar a classe média. E mesmo assim houve tamanha resistência que até perdeu em algumas urnas do Centro conservador, em 2000, para o invasor Celso Russomanno, concorrente ao Paço Municipal.  

Ora, se mais petistas se manifestam em São Bernardo, é natural que o índice de aprovação do tucano Orlando Morando sofre maiores desgastes que Paulinho Serra em Santo André.  

Já em São Caetano, onde o PT praticamente inexiste, o prefeito de plantão tem mesmo como adversário a insatisfação de extratos da população por razões menos político-partidárias e muito mais por ações administrativas.  

CONFRONTO EMBLEMÁTICO 

Talvez a comparação envolvendo Orlando Morando e o então prefeito interino de São Caetano, Tite Campanella, seja mais ilustrativa às ponderações que devem ser feitas quando há uma competição entre prefeitos. 

O resultado do Instituto Brada colocou Tite Campanella à frente de Orlando Morando. Tite Campanella foi aprovado por 59,3% dos entrevistados e reprovado por 32,4%, enquanto Orlando Morando alcançou 56,5% de aprovação e 37,2% de reprovação.  

Não há termos de comparação entre os então dois titulares de paços municipais. Orlando Morando vinha de cinco anos de mandatos obtidos nas urnas e Tite Campanella atuava por desígnios da Justiça Eleitoral.  

Mas esse é um ponto quase irrelevante ante o desempenho de um e de outro. Morando vem transformando São Bernardo num Município potencialmente competitivo em Economia e faz de obras que chamo de varejo, no bom sentido do termo, coleção de sucessos. Já Tite Campanella mal teve tempo de se ajeitar na cadeira, dada a transitoriedade iminente da titularidade emprestada. 

DISPUTAS DESIGUAIS   

Outra variante especulativa da pesquisa do Instituto Badra se deu com a métrica de votos conquistados nas eleições de novembro do ano passado e os índices de aprovação do eleitorado nos dados divulgados. 

A aprovação de Paulinho Serra, de 65,1%, ficou um pouco abaixo da votação nas urnas, enquanto praticamente todos os demais registraram números superiores na sondagem no mesmo molde comparativo. 

Confrontar votos apurados e o índice de aprovação é claramente um equívoco. Mas Claudinho da Geladeira, contestadíssimo prefeito de Rio Grande da Serra, não perdeu tempo para avocar para si sucesso na administração ao apontar que teve mais “sim” agora dos eleitores do que votos favoráveis um ano atrás.  

O obstáculo maior para que se leve a sério uma coisa confrontada à outra coisa é que uma pesquisa que mede aprovação e reprovação de um prefeito não tem o mesmo tônus de competitividade de uma disputa eleitoral materializada nas urnas.  

UTILIDADE ESPECÍFICA  

Traduzindo: enquanto numa eleição de verdade há todo um aparato ao voto e os candidatos são concorrentes de verdade, que lutam por cada sufrágio, numa pesquisa de aprovação e reprovação o adversário é invisível, menos competitivo e embates acalorados nas redes sociais inexistem.  

Entretanto, jamais cometeria o deslize de dizer que pesquisas semelhantes às da Brada são inúteis e encaminham a resultados insustentáveis. Não é isso.  

Pesquisa de aprovação e reprovação é importante a qualquer prefeito, governador e presidente da República. Tomar a temperatura da sociedade em vários aspectos de uma administração faz parte do marketing de aperfeiçoamento e correções.  

Mas pesquisas de aprovação e reprovação não podem extrapolar referenciais. Principalmente no caso do Grande ABC, onde larga escala da sociedade é economicamente interativa e as percepções políticas e partidárias são tão especificas quanto generalizadas, dependendo da situação posta.  

Os resultados eleitorais acumulados ao longo dos tempos na região revelam essas nuances com recortes personalizados de acordo com o histórico sociológico de cada Município e as influências externas do momento.   

 

Voto eletrônico: Datafolha e

Folha escondem reprovação

 DANIEL LIMA - 30/05/2022

Esse é um bom teste para saber até que ponto você é radical de direita ou de esquerda. Levo em conta que o voto eletrônico demarca eleitores dos dois principais (e únicos) concorrentes para valer à Presidência da República. E a matéria-prima é o Instituto Datafolha, braço estatístico da Folha de S. Paulo e do chamado Consórcio de Imprensa. 

Afirmar como estou afirmando na manchetíssima de hoje que o Datafolha e a Folha escondem reprovação ao voto eletrônico não é uma heresia. É a realidade que salta da mais recente pesquisa daquele instituto. Não há semântica que resista aos dados apresentados.  

A manchetíssima de primeira página da Folha de S. Paulo de sábado e a manchete da página interna que tratam do voto eletrônico são frutos da mesma tessitura de notícias falsas. Fake news, numa expressão mais utilizada. Uma das modalidades de notícias falsas é enfiar na fuça de consumidores de informação dados sem sustentação como fortalezas inexpugnáveis.  

EXPLICANDO TUDO  

Vou explicar tudo sobre a investida do Datafolha e da Folha de S. Paulo para seguirem tratando o voto eletrônico como meta inviolável à contestação e reparo.  

A sociedade brasileira não concorda com isso em larga escala. O próprio Datafolha fornece combustível para atear fogo às próprias vestes de dados gelatinosos. 

O mapa da mina para dinamitar a concepção do Datafolha e da Folha de S. Paulo de que o eleitorado brasileiro aprova o voto eletrônico está na avaliação de um ponto crucial que, antes de revelá-lo por inteiro, me remete a perguntar ao leitor sem rodeios: 

Pergunta – Quando você responde a uma consulta qualquer sobre o grau de confiança a determinada pessoa com a afirmativa “confio pouco”, você está muito mais próximo de aprovar ou de reprovar?  

RESPOSTA LÓGICA  

Se essa pergunta for feita a um grupo de pessoas, provavelmente a resposta será unânime: não se confia.  

Se individualmente ou em grupo a resposta fosse “confio muito”, não haveria do que desconfiar. Tão claro quanto o sol do meio dia no verão. 

Pois esse é o ponto ignorado, quando não sacrificado, pelo Datafolha/Folha.  

A manchete da página A4 da Folha de S. Paulo de sábado não deixava margem a dúvida quanto ao equívoco que se observa no corpo da matéria: “73% confiam nas urnas; índice recua em meio a ofensiva de Bolsonaro”. 

O Datafolha e a Folha erraram grotescamente. E não é a primeira vez.  

PLURALIDADE? 

O jornal que no passado se orgulhava de suposta pluralidade, hoje não passa de braço armado contra a direita. Tanto quanto algumas mídias eletrônicas o são contra a esquerda.  

O Brasil polarizado que se reflete nas intenções de votos é o Brasil da mídia em geral. O problema é que falta combinar com a realidade dos fatos. E o Datafolha ignora essa premissa porque a militância político-ideológica é a fonte de novas inspirações e aspirações. O jornalismo impresso, como se sabe, está em transe após o desembarque barulhento das mídias sociais.  

Vou reproduzir, em seguida, os trechos principais da matéria da Folha de S. Paulo de sábado e, em seguida, explico as razões de caracterizar o noticiário como fake news. 

FOLHA DE S. PAULO  

A confiança do brasileiro nas urnas eletrônicas caiu desde março, segundo mais recente levantamento do Datafolha, mas ainda é majoritária na população. No total, 73% responderam que confiam no sistema usado nas eleições, enquanto 24% dizem não confiar e outros 2% não sabem. Dentro aqueles que confiam nas urnas, 42% dizem confiar muito no sistema e 31% confiam um pouco. Em março, o índice de confiança era maior – de 82%, enquanto 17% afirmavam não confiar no sistema. Já em relação a dezembro de 2020, a confiança nas urnas subiu: era de 69%, contra 39% que não confiavam. 

AGORA, OS FATOS 

O texto correto ao qual deveria ter-se dedicado a Folha de S. Paulo com base na matriz de dados do Datafolha e num jornalismo a salvo de tranqueiras informativas deveria ser exatamente esse, que segue abaixo, em relação ao que os leitores acompanharam acima: 

A confiança do brasileiro nas urnas eletrônicas continua a cair, segundo o mais recente levantamento do Datafolha, e tudo indica que seguirá caindo até as eleições presidenciais de outubro. No total 58% responderam que “não confiam” ou “confiam pouco” no sistema usado nas eleições, enquanto 42% “confiam muito”. Outros 2% não sabem. Dentre aquele que reprovam as urnas eletrônicas, 24 dizem que “não confiam” e 42% “confiam pouco”. O bloco daqueles que confiam é formado por 42% do eleitorado.  

FALSIDADE INFORMATIVA 

A análise da Folha de S. Paulo é completamente direcionada à falsidade numérica como verdade inquestionável.  

O texto dá de ombros a qualquer possibilidade de ponderação sobre o conceito de “confia pouco”. Como se o time desse grupamento reforçasse automaticamente o time do “confia muito”. Uma tremenda bobagem interpretativa.  

Qualquer profissional especializado em psicologia de massa colocará o Datafolha no deslocamento de credibilidade. Aliás, não é preciso ser especialista em coisa alguma para distinguir o ruim de “confia pouco” do bom de “confia muito”. Ou alguém tem dúvida de que “confia pouco” é parente mais que próximo de “não confia”? 

Você compraria um carro usado de alguém em que “confia pouco”. O Datafolha metamorfoseia realidade factual, tornando-a realidade artificial. 

Não bastasse a farsa interpretativa da Folha de S. Paulo, sem base alguma de sustentação inclusive entre os eleitores de Lula da Silva (ou alguém tem coragem de afrontar a dinâmica sensorial dos entrevistados e considerar “confia pouco” algo positivo) o jornal trata os dados do Datafolha com o costumeiro desdém à inteligência dos leitores. Não é de hoje que escrevo sobre isso. Nem será a última vez, portanto. 

Ao longo dos anos esmiucei malabarismos de pesquisas eleitorais não só do Datafolha. A diferença em optar preferencialmente pelas análises do Datafolha é que o instituto é a base da artilharia de interesses nem sempre republicanos que predomina na Grande Mídia, seja agora, seja antes da barafunda petista.  

CRONOLOGIA MALICIOSA  

Uma das malandragens que visam contaminar os resultados das pesquisas de acordo com a vontade de quem comanda o Datafolha e de quem comanda quem comanda o Datafolha é a ordem cronológica dos questionamentos.  

Uma pergunta antecedente tem poder imenso de enviesar a resposta da pergunta seguinte e também as respostas seguintes das perguntas seguintes. 

Por essa e por outras razões é indispensável contar com o questionário integral de cada pesquisa, o que, todos sabem, é praticamente impossível.  

ORDEM DAS QUESTÕES  

A Folha de S. Paulo e as demais mídias alinhadas fracionam a divulgação dos dados, sempre sob ótica a se desconfiar. A integridade do material básico levado aos entrevistados é sempre omitida. 

Querem um exemplo prático da última pesquisa do Datafolha cuja ordem de perguntas poderia influenciar respostas posteiros?  

Sob a temática “Confiança no sistema eleitoral e participação das Forças Armadas”, a pergunta transposta pela Folha de S. Paulo é exatamente a seguinte: 

a) O presidente Jair Bolsonaro em suas declarações costuma questionar a segurança do sistema eleitoral e diz que pode haver fraude nas eleições. Na sua opinião, existe ou não existe chance de haver fraude nas eleições, com diz o presidente?  

Ora, é muito fácil constatar que o questionamento é enviesado porque explicita um posicionamento do presidente da República numa questão que poderia ser apresentada de maneira neutra, ou seja, sem que se mencionasse um candidato presidencial levado ao escrutínio dos eleitores pesquisados. 

PARTIDARISMO  

Ou seja: partidariza uma questão importante quando a mesma questão importante poderia ser avaliada pelos entrevistados sem a explicitude eleitoral. Por mais que o senso comum junte farsa eletrônica e candidatura de Jair Bolsonaro, não é correto do ponto de vista de ciência meter o bedelho de forma tão acintosa.  

O leitor perguntaria qual foi o resultado a essa questão que nomina o presidente da República.  Um terço dos entrevistados (34%) disseram haver “muita chance” de fraude nas eleições, 21% disseram existir “um pouco de chance” e 43% se posicionaram “não existe chance”. 

Viram os leitores como os números podem ser vistos como conflitantes, mas também como semelhantes à questão pressupostamente anterior (aquela à qual me refiro na manchetíssima aí de cima), cujo enunciado foi neutro – exatamente o seguinte: 

a) Você diria que confia muito, um pouco ou não confia no sistema de urnas eletrônicas usado nas eleições brasileiras?  

MAIS EXPLICAÇÕES  

Quando afirmo que as respostas podem ser vistas como semelhantes, mas também como conflitantes quero dizer que toda a diferença entre uma coisa e outra está na resposta “existe um pouco de chance” para fraudes nas urnas. Nesse caso, ou seja, quando se posicionou “existe um pouco de chance”, o eleitor está mais ou está menos vinculado ao pensamento do presidente?  

Diferentemente da questão de enunciado neutro, ou seja, sem a nominação de Jair Bolsonaro, na qual “confia pouco” quer dizer reprovação às urnas eletrônicas, nesse caso de “existe um pouco de chance” de fraudes, o resultado parece se encaminhar mais para a alternativa “existe muita chance” ao invés de “não existe chance”.  

MAIS DÚVIDAS 

Espero que tenham entendido o tamanho do muro entre uma questão e outra, ou seja, de explícita reprovação ao uso de urnas eletrônicas (isso não quer dizer que se defende urnas de papel) quando não se menciona o nome de Jair Bolsonaro e a possibilidade de fraudes quando se utiliza o nome do presidente da República.  

A dúvida que fica em relação ao cruzamento das duas questões de resultados distintos é por que o Datafolha não introduziu uma nova questão no escrutínio dos pesquisados, na sequência das duas questões acima: 

a) Você seria favorável à comprovação em papel do voto eletrônico nas próximas eleições? 

b) Você seria favorável ao voto exclusivamente de papel nas próximas eleições, aposentando-se, portanto, o voto eletrônico?  

APOSTANDO CABELOS 

Sou capaz de apostar todos os meus cabelos que o Datafolha jamais vai fazer a pergunta que cruzaria votos eletrônicos com votos documentados. O resultado seria uma pá de cal na avaliação supostamente majoritária de que as urnas não são violáveis da forma com que se apresentam nas eleições. Afinal, se da forma com que já se apresenta o enunciado protetivo ao voto eletrônico – e mesmo assim os resultados são um chute na canela da arrogância – imaginem então com complemento. O Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral iriam entrar em convulsão.  

Voltando ao Datafolha e à questão em que se menciona deliberadamente o nome de Jair Bolsonaro na suposição de fraude eleitoral, está tão claro o direcionamento partidário que entre os eleitores de Lula da Silva pesquisados pelo Datafolha, apenas 21% responderam “existe muita chance”, enquanto os eleitores de Bolsonaro foram 60%. De outro lado, “não existe chance” contemplou 57% dos eleitores de Lula da Silva, ante 16% de Jair Bolsonaro. 

O interessante nessa dicotomia partidária é que tudo isso reforça a questão-chave da manchete da Folha de S. Paulo: bolsonaristas, lulistas e eleitores de outros candidatos perfilam-se como maioria que “confia pouco” e “não confia” nas urnas eletrônicas. 

FORÇAS ARMADAS  

Mais um ponto da pesquisa do Datafolha coloca a Folha de S. Paulo em situação difícil porque o resultado também contraria a política de criminalizar as Forças Armadas.  

Explico. À pergunta “As forças Armadas devem participar da contagem dos votos nas eleições”, nada menos que 45% “concorda totalmente”, outros 13% “concorda em parte” e apenas 7% “discorda em parte” e 33% “discorda totalmente”. Ou seja: a maioria segue alinhada à desconfiança das urnas eletrônicas.  

E mais uma vez, também nesse questionamento específico, a divisão entre lulistas e bolsonaristas é palpável: 48% dos lulistas “concorda totalmente” e “concorda em parte” com a participação dos militares, ante 81% dos bolsonaristas, enquanto 49% dos lulistas “discorda em parte” e “discorda totalmente” da presença dos militares ante 17% de bolsonaristas que “discorda em parte” e “discorda totalmente”.  

DOIS PESOS 

Nos desdobramentos diários do Datafolha nas páginas da Folha de S. Paulo, a edição de hoje é um tiro no pé da incoerência interpretativa apontada no caso das urnas eletrônicas, de fraudes e outras questões avaliadas acima. A manchetíssima de hoje do jornal paulistano é prova disso. A manchete principal de primeira página é exatamente a seguinte: “Situação econômica influi muito no voto, diz maioria”.  

Vale a pena reproduzir o texto da primeira página (que se repete em alinhamento lógico na página interna) e, em seguida, breve exame complementar: 

a) Pesquisa Datafolha aponta que 53% dos brasileiros consideram que a situação econômica do país está tendo “muita influência” na decisão do voto – e, para a maior parte dos eleitores, o quadro piorou no últimos meses. Há “um pouco de influência” para 24%, enquanto 21% não veem influência alguma. Nesse contexto, subiu de 46% para 52% (entre levantamento feito em março e agora) o total de eleitores que consideram que sua situação econômica pessoal piorou nos últimos meses.   

Voltando à realidade: notaram que a Folha de S. Paulo esqueceu o critério de incorporar a resposta secundária em densidade à resposta principal, como o fez no caso das urnas eletrônicas?  

Vou explicar: para ser coerente (e novamente equivocada) com a forçada de barra de enganar leitores com a falsidade de aprovação ao voto eletrônico (que de fato foi reprovado), o Datafolha e a Folha de S. Paulo deveriam acrescentar aos 53% dos brasileiros que se posicionaram no modo “muita influência” em relação à situação econômica do País os 24% que responderam “um pouco de influência”.   

Ou seja: o universo de eleitores que, seguindo a interpretação do Datafolha e da Folha de S. Paulo no caso das urnas eletrônicas, seria formado pela soma dos 53% que disseram “muita influência” e os 24% que disseram “um pouco de influência”. 

O Datafolha e a Folha de S. Paulo se juntaram às instâncias judiciais que não abrem mão do voto eletrônico solteiro, ou seja, sem qualquer adendo, e precisam manter uma suposta aprovação do eleitorado. Quebraram a cara com os próprios punhos sem luvas. 

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