Política

O que esperar do PT nas
eleições deste domingo?

  DANIEL LIMA - 04/10/2024

O Partido dos Trabalhadores disputa vagas a quatro segundos turnos neste domingo nas eleições no Grande ABC. Tem possibilidades de ultrapassar a barreira do turno e se classificar às finalíssimas em Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá. Ganhar no primeiro turno em Diadema e em Mauá parece improvável, mas não está completamente fora do roteiro. Superar as dificuldades e emplacar candidaturas no turno final em Santo André e São Bernardo são cenários delicados.

O leitor deve estar a se perguntar por que estou preocupado com o PT na região? Ora, bolas, porque o PT faz parte da cultura social, cultural, econômica e política da região como um organismo vivíssimo. Esquecer ou mitigar a importância do PT é flertar com a insanidade.

Tenho muitas diferenças em relação ao estofo ideológico do Partido dos Trabalhadores e seus desdobramentos. Mas não posso me aliar à militância polarizadora que quer exterminar o contraditório. Até porque, a recíproca do outro lado do balcão de ideias é verdadeira.

Quero ver até onde vai a força do PT ao fim do primeiro turno das eleições na região e, sobretudo, após a realização de segundos turnos. 

MAIS PT DO QUE ANTES

Por série de contratempos deixei de fazer o que deveria fazer para fazer algo melhor que esse texto conceitual. Mas vou corrigir mais adiante, durante os segundos turnos onde houver segundo turno.

Pretendia recorrer ao acervo de CapitalSocial para apanhar um bocado de dados que registrei e interpretei ao longo das últimas eleições no que diz respeito ao desempenho do PT nas disputas municipais, sempre vinculado às eleições nacionais.

De qualquer forma, mesmo sem dados que pretendia expor, o certo mesmo é que o PT do Grande ABC desta temporada de votos é mais PT que o PT das temporadas municipais anteriores. E isso significa muito em termos de raciocínios matemáticos.

O  PT das eleições municipais de 2016 no Grande ABC foi duramente impactado pela presidência de Dilma Rousseff. Os dados detalhados só vieram em seguida. Vivemos entre 2014 e 2016 os anos mais terríveis da economia regional, como constatamos ao recorrer a plataformas formais do governo federal. O PIB per capita da região foi estraçalhado. Perdemos 30% naqueles dois anos quando comparados a 2014. Não há jornalismo que tenha registrado isso, além de CapitalSocial. É um crime de lesa-informação. 

COMO FUTEBOL

O PT das eleições municipais na região foi dilacerado porque perdeu a capacidade de mobilização físico-eleitoral na pandemia da Covid que fez dos prefeitos incumbentes prefeitos reeleitos ou prefeitos incumbentes melhores cabos eleitorais de sucessores.

Encaro todos os dias como jornalista exposto em aplicativo tecnológico o peso de não integrar a fanfarra militante da direita que não vê virtude alguma na fanfarra militante da esquerda. E tampouco da fanfarra da esquerda que abomina a fanfarra militante da direita.

Quem vem de um histórico de contestação à tese mais que furada do Caso Celso Daniel, que supostamente me lançaria como petista, e tampouco às explicitações duríssimas às roubalheiras do Petrolão, que me faria um direitista irrecuperável, sabe que não tenho razão alguma para deixar de expor o que penso e conheço.

Faço uma analogia com o futebol sempre didático para tentar levar o leitor que também é eleitor a entende o que se passa na minha cabeça política.

Aprendi na vida e com a vida que o resultado de qualquer jogo de futebol é invariavelmente uma soma de fatores positivos e negativos que envolvem as duas equipes. O perdedor que se vê como perdedor sem observar as virtudes correlativas do vencedor é um perdedor burro e incurável. Ver apenas um time em campo é atestado de estupidez. 

FOCO DEFINIDO

Levo essa definição ao campo politico para errar o menos possível. Erros e acertos fazem parte do cenário eleitoral. A maioria só enxerga um dos lados. Situações iguais ou semelhantes são tratadas desigualmente. O contexto geralmente é jogado no lixo.

Outra vertente de meu alinhamento teórico que conexa futebol e política é uma escolha de foco à análise. Tanto no futebol quanto na política costumo deixar em segundo plano o que chamaria de específico em nome do abrangente.

Específico é colocar como prioridade a atuação individual de cada jogador ou de cada político. Abrangente é observar o todo do desenho tático-estratégico.

Por experiência própria, cevada com cuidado e atenção, garanto que observar o futebol sob o ângulo abrangente, de movimentação geral das peças no gramado e também fora dos gramados, é a estrada da explicação mais apropriada ao resultado final. Na política, o ambiente também ajuda a definir interpretações mais sólidas.

Entre outras coisas isso quer dizer que mais e mais nestes tempos de tecnologia portátil os erros individuais de candidatos podem ser superados e geralmente o são pelo conjunto da obra da representação partidária vinculante. 

EXEMPLO PRÁTICO

Vou dar um exemplo. O candidato à Prefeitura de São Bernardo, Luiz Fernando Teixeira, é mestre em fantasiar realidades econômicas. Atribui ao prefeito Orlando Morando a desindustrialização de uma cidade que começou a ser desindustrializada quando Lula e seus companheiros organizaram a primeira greve, ao fim dos anos 1970. Isso não é juízo de valor sobre o movimento. É  constatação pragmática.

Quando a guerra fiscal se espalhou pelo País, São Bernardo e o Grande ABC entraram em processo de esvaziamento compulsório. Ainda não inventaram antidoto conciliador à disputa entre capital e trabalho. Onde houver mais hostilidade, mais sangramento econômico se estabelece.

O que Luiz Fernando Teixeira fala de bobagem sobre economia é amortizado no custo relativo de votos pelo senso prevalecente da disputa eleitoral no campo ideológico. Quando o fanatismo prevalece, as maiores barbaridades não custam quase nada.

Se Luiz Fernando Teixeira dissesse a verdade sobre a desindustrialização de São Bernardo, seria um tiro no pé do PT. É preferível mentir a enfrentar a realidade. Quem deveria agir em forma de curadoria social seriam o meios de comunicação. Como o jornalismo noticioso não passa de extensão acrítica de declarações oportunistas e interesseiras, os leitores e eleitores permanecem sequestrados em seus próprios valores sociais e políticos.

O que quero dizer com tudo isso mesmo parecendo estar numa manhã pouco inspirada para aprofundamentos teóricos é que há ambiguidades, contradições, manipulações e tudo que possa ser contabilizado como artimanhas para traçar caminhos durante numa disputa eleitoral, não bastassem períodos antecedentes.

Torço para que o PT, a quem reservo severas restrições no campo econômico e político, faça um bom papel na região neste domingo. E um bom papel não significa necessariamente sucesso nas urnas, mas também nem o inverso. Significa uma colaboração a novas configurações sociais e econômicas.

IMPERIALISMO 

O Grande ABC de partido único, como se viu nos últimos oito anos em Santo André, é o pior Grande ABC da história. Sem combates, mesmo que exacerbados, não há democracia que resista. O imperialismo de grupos totalitários é o custo mais elevado à manutenção da Democracia.

O Grande ABC destes tempos é muito menos democrático do que nos tempos em que o PT regional estava mais vivo no seio da sociedade. Principalmente em Santo André, onde o PT foi aniquilado nos últimos oito anos e só está se recuperando agora porque o imperialismo imaginou que poderia continuar a controlar todos os poderes locais com cooptações e perseguições.

Não é por que não me rendo à fossilização do PT como instrumento político e social que exercito a autofagia crítica dos militantes exterminadores à direita. A bola que rola no gramado é a bola que rola na política. São pesos e contrapesos que devem ser observados cuidadosamente.

Um sindicalista ingênuo ou manipulador que destila a ideia de jerico de que o futuro industrial da região passa pela generosidade de chineses escravizadores de mão de obra é tão nocivo à composição sensorial da sociedade como um prefeito que cria uma secretaria de efeitos especiais e é bajulado irresponsavelmente durante dois mantados sem parar.

Esses são apenas dois recortes de modelos siameses que tornam a direita e a esquerda frutos do mesmo ventre de abuso contra a sociedade. O primeiro só se manifesta pela mesma razão do segundo: ambos contam com a impunidade crítica de uma sociedade servil e desorganizada.

Não vou esquecer que tenho uma dívida com os eleitores que também são leitores. Rebocarei desta revista digital  dados estatísticos sobre as eleições municipais e o desempenho numérico do PT nas cidades da região onde o segundo turno vai além da formalidade legislativa, porque se trata mesmo de perspectivas lógicas.

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