Política

TODOS CONTRA GILVAN
VAI DAR CERTO MESMO?

  DANIEL LIMA - 03/10/2024

Todos os principais concorrentes à Prefeitura de Santo André nesta temporada de votos querem derrotar o candidato do prefeito Paulinho Serra. Gilvan Júnior é a bola da vez. Há disputa acirrada entre Luiz Zacarias, Eduardo Leite e Bete Siraque para chegar ao segundo turno, mas sem segundo turno não adianta nada. Por isso as baterias estão direcionadas ao protegidíssimo Gilvan Júnior. Segundo turno é outra história. A manutenção do bloco monolítico passaria por testes e aferições. Mas isso pode ficar para depois. Se houver depois.

Há um elemento estatístico, entre vários, que desperta atenção pela disputa em Santo André, onde o titular do Paço Municipal vai completar dois mandatos contrastantes.

Paulinho Serra é bom de voto e ruim, mas muito ruim, de governo. Bom de voto na perspectiva de resultados eleitorais práticos. Ruim, muito ruim de governo, na perspectiva histórica. Santo André caiu em todos os rankings de indicadores sociais e econômicos credenciados. Só avançou na esfera do marketing da Administração que criou uma informal Secretaria de Efeitos Especiais.

VAI DAR CERTO?

Só não enxerga que Paulinho Serra é bom de voto e ruim de governo quem é estrábico ético. Ou fundamentalista político.  Estrábico ético e fundamentalista político são metades da mesma laranja de insensatez, quando não de oportunismo.

O grande mote do prefeito Paulinho Serra para eleger um jovem desconhecido como sucessor é o lado bom da Administração do prefeito Paulinho Serra.  O prefeito, como os demais prefeitos reeleitos em 2020, goza de prestígio popular.

Maior cabo eleitoral de Gilvan Júnior, a campanha (“Vai dar Certo de Novo”, do marqueteiro Duda Lima, o mesmo do prefeito Ricardo Nunes, de São Paulo)  corre o risco de esgotamento nessa reta de chegada, quando o eleitor se torna mais crítico.  Há indicativos fortes nessa direção nos dados do Instituto Paraná apurados esta semana.

Os adversários de Paulinho Serra resolveram se unir e triturar o prestígio popular de quem jogou o tempo todo praticamente sozinho, inclusive com anuência ou omissão deles. A revolta começou quando  foram barrados do baile da sucessão como situacionistas. Caíram nas promessas da turma de Paulinho Serra. E ficaram ainda mais raivosos quando viram o candidato apontado.   

CRESCIMENTO DÚBIO

Se você quiser saber em detalhes e comedidamente qual é o ponto estatístico  inquietante do Instituto Paraná, sugiro que largue essa mania de leitura dinâmica ou apressada, ou desleixada, ou qualquer coisa, e siga o texto. 

O risco que a candidatura de Gilvan Júnior corre no afunilamento critico do eleitorado, incrementado pelos três principais adversários, é que a velocidade de adesão ao mote de candidato-do-prefeito-de-prestígio-popular perde tração na medida em que sai do restrito grupo do Voto Espontâneo para o mais amplo Voto Declarado. É verdade que há condicionante técnico-comportamental do eleitorado, tanto quanto a possibilidade de que a tendência é um fator com forte viés de efetivação.

Gilvan Júnior é apontado por 29,0% dos eleitores de Santo André ante a pergunta de Voto Espontâneo, ou seja: “Em quem vai votar para prefeito nas próximas eleições”. O Voto Espontâneo é um caminhão de vantagem rumo à consagração, mas não é um tratado em que só o sucesso  é a conclusão natural.

Os 29,0% de Voto Espontâneo para Gilvan Júnior são quase o dobro da soma dos três concorrentes principais. Bete Siraque somou 5,4% dos eleitores que não precisaram de uma cartela com os nomes dos concorrentes, Eduardo Leite alcançou 4,9% e Luiz Zacarias, 6,6%. Resultado dessa etapa de intenção de votos: 29,0% a 16,9%.

METADE NO ESCURO

Na rodada de intenções de votos do Instituto Paraná, divulgada pelo Diário do Grande ABC, mais da metade do eleitorado não sabia em quem votar na categoria de Voto Espontâneo. Exatamente 51,6% dos eleitores de Santo André não foram capazes de apontar um candidato entre os oficiais ou mesmo entre outros que constam ou não da inscrição oficial. É um universo extravagante de dúvidas ou alienação, ou as duas coisas.

Ora bolas, se os quatro principais concorrentes à Prefeitura de Santo André somaram nominalmente 45,9% dos Votos Espontâneos, isso significa que Gilvan Júnior contava com uma parcela efetiva de 13,31% das entrevistas aplicadas. Os demais somavam 7,76%. Praticamente o dobro de Voto Espontâneo estava garantido por Gilvan Júnior.

Na transição de Voto Espontâneo para Voto Estimulado, o eleitorado de Gilvan Júnior sobe para 46,3% ante a soma de 38,5% dos três principais concorrentes. A velocidade média dessa transfusão de voto sem cartela de incentivo e voto com cartela de incentivo foi praticamente o dobro em favor dos três concorrentes. Gilvan Júnior avançou 60% ante 128% da média de Bete Siraque, Eduardo Leite e Luiz Zacarias.

QUAL É O LIMITE?

A pergunta-chave que precisa ser feita é a seguinte: quanto representaria na reta de chegada de definições o volume de votos individuais e oposicionistas? Estaria Gilvan Júnior tão próximo do 50% mais um voto para definir o jogo no primeiro turno ou haveria um incremento de Voto Declarado a contemplar o trio de adversários a ponto de atropelamento?

Esse questionamento só poderia ter uma resposta mais ou menos encaminhada a certo grau de inviolabilidade se a pesquisa do Instituto Paraná medisse o tamanho da convicção do Voto Estimulado durante a fase de transição à etapa seguinte, de Voto Declarado. Como o Voto Declarado, que aparece em forma de resultado da pesquisa, está sujeito a intempéries típicas de linha de chegada, com desistências aqui, convicções ali, nada asseguraria a definição antecipada de que haveria ou não segundo turno em Santo André.

Não custa especificar a velocidade de crescimento do eleitorado de cada concorrente entre uma etapa (Voto Espontâneo) e a segunda etapa (Voto Estimulado). Enquanto Gilvan Júnior avançou 60%, Bete Siraque alcançou ritmo de 148%, Eduardo Leite de 165% e Luiz Zacarias de 83,3%.

Desta forma, o resultado final (e ainda parcial da disputa no campo de pesquisa) em forma de Voto Declarado aponta Gilvan Júnior com 46,3%, ante 13,4% de Bete Siraque, 13,0 de Eduardo Leite e 12,1% de Luiz Zacarias. A candidatura do Coronel Sardano não entra nessa hierarquia, mas os 2,8% de votos são uma porção que pode fazer a diferença entre a disputa de um único turno ou não.

O que se coloca no campo de dúvidas, além da velocidade de transição de Voto Convicto para Voto Declarado, ou seja, de Voto Espontâneo opara Voto Estimulado, é até que ponto mesmo estaria dando certo o mote de apadrinhamento do prefeito Paulinho Serra a Gilvan Júnior. 

REPASSE DUVIDOSO

Aprovado, segundo o Instituto Paraná, por 78,3% do eleitorado (ótimo para 23%, Bom para 43,7%, Regular para 22,5% e Ruim/Péssimo para 10,1%) a absorção do prestígio teria alcançado o limite ou há elasticidade a ser explorada. O ritmo mais intenso dos concorrentes de Gilvan Júnior sugere na contabilidade final das urnas a consumação de potencial segundo turno, mas isso é apenas e tão somente uma especulação.

Até porque – e isso é automaticamente inserido em qualquer análise deste jornalista quando se trata de pesquisa eleitoral – a higidez técnico-estatística do trabalho de qualquer instituto deve ser sempre motivo de cautela. O Instituto Paraná é a única fonte nesta temporada como inspiração a análises, mas carrega grau de desconfiança. A margem de erro de 3,8 pontos percentuais no caso de Santo André é um convite à desconfiança. Quando a margem de erro é tão elevada tem cara de margem de manobra.  

Para completar, o grau de rejeição à candidatura petista de Bete Siraque, de 39,6% do eleitorado, não é novidade alguma quando se trata de um País polarizado. Trata-se de uma trajetória que antecede essa mesma polarização nacional. Petistas e antipetistas compõem a geografia política da região desde a incubadora do partido nos chãos de fábricas da região.

O mais relevante mesmo nessa altura do campeonato de especulação é observar até onde os três concorrentes que querem ver Gilvan Júnior no segundo turno acertaram ou não na decisão de acordarem para a dualidade de atuação do padrinho-mor do concorrente do Paço Municipal. Demoraram ou não demoraram a desmascarar um prefeito de efeitos especiais cercados de covardia de uma sociedade servil e desorganizada?

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