Quem é o melhor entre
prefeitos reeleitos? (5)
DANIEL LIMA - 30/09/2024
Acabou de acabar a produção do que poderia ser chamado de Ranking de Qualidade dos Prefeitos Reeleitos no Grande ABC em 2020, e que por isso mesmo completam oito anos de dois mandatos. O resultado final após a apuração de 10 indicadores coloca, numa escala de Zero a Dez, Orlando Morando em primeiro lugar com média geral de 5,45 pontos, seguido de José Auricchio com 4,80 pontos e por Paulinho Serra, com 2,70 pontos.
Não seria por falta de aviso que poderia haver surpresa na qualificação dos dados e interpretações. A situação econômica e social exige políticas públicas agressivas, organizadas e destemidas que faltaram no passado.
É relevante explicar que o carregamento de notas não é exclusivamente um retrato fiel do período em que os três prefeitos passaram a ocupar os respectivos paços municipais. Há para o bem e para o mal um processo cumulativo herdado dos antecessores. Sobremodo em questões estruturais de ordem social e econômica.
Mas a influência de Paulinho Serra, Orlando Morando e José Auricchio Júnior é predominante. Afinal, são oito anos de dois mandatos seguidos. No caso de José Auricchio, são quatro mandatos que se completam neste século, com intervalo dos quatro anos de outro mandatário.
Logo abaixo estão explicadas as notas de três dos últimos 10 indicadores selecionados e que serviram às avaliações. Nas áreas de Desenvolvimento Econômico, Infraestrutura Social e Legado, têm-se o complemento de uma operação analítica inédita. Na edição de quinta-feira vamos reproduzir num mesmo espaço todos os capítulos dessa minissérie exclusiva e inédita de CapitalSocial. Um documento para ser guardado. O passado, o presente e o futuro do Grande ABC passam pelas páginas de CapitalSocial. Sem mistificações.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Há duas ponderações mais que relevantes para definir a trajetória de oito anos dos três prefeitos reeleitos em 2020 nas cidades mais importantes da região, que representam 70% do PIB.
O primeiro é o passado remoto e o passado recente que os antecederam. O segundo é o que empreenderam, na etapa de dois mandatos na tentativa de alterar o ritmo da chuva ácida de desindustrialização e suas consequências sociais na região outrora mais rica do País.
Uma coisa e outra coisa podem ser a mesma coisa em termos de avaliação tanto para o bem quanto para o mal, mas também podem ser opostas, ou seja, não servem como regra geral. Os 10 indicadores desse ranking são esclarecedores.
As administrações municipais principalmente em grandes metrópoles são em larga escala mas não totalmente dependentes da macroeconomia nacional e internacional. Mas também têm uma banda suficiente larga para se virarem nos trinta e apresentarem resultados que fujam do atrelamento automático e de mesma gradação. Prova disso é que há inúmeros municípios no Estado de São Paulo que crescem apesar de tudo e apesar de todos.
O fato inarredável é que o Grande ABC perdeu o rumo e o prumo sobretudo desde a implementação do Plano Real, iniciativa com prós e contras que modificou o rumo de investimentos e de competitividade industrial movidos até então pelo processo inflacionário negligenciado e incrementador de raízes das desigualdades sociais que uma democracia populista mal dá conta.
Antes do Plano Real, entretanto, o movimento sindical e a guerra fiscal conduziram a economia do Grande ABC rumo ao desfiladeiro sem contenção. A participação absoluta e também a participação relativa do Produto Interno Bruta da região caíram ao longo de 50 anos. Estamos cada vez mais a cara do Brasil. Quer pior notícia?
Por isso, com essa breve exposição (o acervo de CapitalSocial oferece mais de três centenas de análises sobre desindustrialização e de outros fatores vinculantes à derrocada regional) criamos as condições mais que fundamentadas para concluir ao fim de 10 Macroindicadores o seguinte sobre os prefeitos Paulinho Serra, Orlando Morando e José Auricchio nos oito anos quase completos de governo municipal.
PAULINHO SERRA
No caso de Paulinho Serra, numa escala de nota de Zero a Dez, com valor relativo de 2,0 de Desenvolvimento Econômico na grade geral, não cabe outra avaliação acima de 3,0, com muitas boa vontade. Santo André é um caso praticamente perdido na geografia econômica da região se depender do setor industrial. E no setor de serviços vai de mal a pior. Mergulhou em empreendimentos de baixo valor agregado. Tudo que Celso Daniel temia no fim do século passado, quando fez vários alertas sintonizados com CapitalSocial, então LivreMercado.
É cada vez menor a fatia de trabalhadores industriais em Santo André. Pior que isso: há concentração proporcional cada vez mais expressiva no setor químico-petroquímico. Santo André sofre da Doença Holandesa Petroquica-Quimica. As demais atividades de transformação industrial foram dizimadas nas duas últimas décadas do século passado. A maioria deslocou-se ao Interior do Estado. Dezenas de unidades tiveram movimentações internas, às vizinhas Mauá e Diadema.
O prefeito Paulinho Serra só fez promessas de recuperação industrial de Santo André. Mesmo com a força químico-petroquímica, Santo André vai mal das pernas. O universo de trabalhadores industriais do setor é de baixa densidade ocupacional. Trata-se de uma atividade de uso intensivo de capital. Diferentemente, por exemplo, da indústria automotiva. O agregado transferível do Valor Adicionado, espécie de PIB, é muito menos capilarizado que a produção automotiva. Gera mais carga tributária por trabalhador, mas muito menos assalariamento e renda.
A Nota Três de Zero a Dez à gestão de Desenvolvimento Econômico de Paulinho Serra é uma generosidade. Tudo que você leu em várias mídias sobre a movimentação das pedras de empregos precisa ser relativizado. A massa salarial de serviços em Santo André é, na média de vencimentos por trabalhador, superada por São Bernardo, Mauá, São Caetano e Diadema. Santo André é pobre na criação de PIB per capita.
RECUPERAÇÃO LENTA
São Bernardo e São Caetano recuperaram nos últimos anos pós-desastre de Dilma Rousseff parte do que perderam com a maior recessão da história regional. Mas ainda é muito pouco. A Doença Holandesa Automotiva é um desafio à descoberta e exploração de novo filão de valor agregado.
Há dificuldades imensas porque a logística interna e externa não colabora. Menos no caso de São Bernardo, após obras estruturais do prefeito Orlando Morando. Mas só obras não resolvem. É preciso dispor de plano de metas transformador na área industrial. Uma tarefa e tanto. A competitividade é dilacerante. O Interior do Estado segue contratando especialistas para invadir o território da região. Eles seduzem empresários a trocar de endereço. Isso vem de longe.
Embora tenha faltado planeamento estratégico, a Administração de Orlando Morando é de longe a mais vitoriosa no campo de Desenvolvimento Econômico na medida em que tenta se mover apesar dos tentáculos dominantes do Estado e do governo federal.
Afinal, São Bernardo abriu as comportas de portentosas obras de logística interna para atrair investimentos e melhorar a qualidade de vida dos moradores. Mas ainda enfrenta o desafio do Rodoanel. A obra endeusada por triunfalistas e ignorantes se comprovou ruinosa demais à Economia da região. Orlando Morando recebe Nota Sete na mesma escala de Zero a Dez.
Já José Auricchio, sem qualquer iniciativa concreta e digna de uma força-tarefa, não neutralizou o descarrilamento econômico de São Caetano, por isso recebe a Nota Quatro como adequada.
MAL DAS PERNAS
O Ranking de Competitividade dos Municípios Brasileiros, com 404 concorrentes na edição do ano passado, coloca Santo André na posição 207 em Desenvolvimento Econômico, com queda de 59 postos entre 2022 e 2023. São Caetano ocupa a posição 10, com subida de três pontos no ano passado. E São Bernardo ocupa a posição 49, com subida de seis postos na temporada passada.
Para uma avaliação sem distorções é preciso lembrar como um dos pontos nucleares da ação diferenças territorial, demográfica e de tipologia ocupacional entre os três municípios.
São Caetano é a cidade que mais PIB Geral perdeu na região neste século. É um processo aparentemente implacável. Por isso ainda goza de uma memória de dados do passado. O posicionamento nacional guarda, portanto, um viés protetivo que se desgasta a cada nova temporada.
A Economia de São Bernardo, no Ranking de Competitividade, ocupa a 128 posição em Capital Humano, a 17ª posição em Inovação e Dinamismo Econômico, a 72ª posição em Inserção Econômica e a 383ª posição em Telecomunicações.
Já a Economia de São Caetano é a 15ª colocada em Capital Humano, 33ª em Inovação e Dinamismo Econômico, 2ª em Inserção Econômica e a 314 em Telecomunicações.
Santo André tem situação dramática ao ocupar a posição geral 207 entre os 404 município. No indicador de Capital Humano está na posição 177, em Inovação e Dinamismo Econômico ocupa a posição 116, em Inserção Econômica não passa da posição 93 e em Telecomunicações vai mal como São Caetano e Santo André, na posição 386.
O pilar Econômico do Ranking de Competitividade dos Municípios Brasileiros reúne 19 indicadores nas quatro subdivisões mencionadas. Não custa mencionar a lista: Qualificação dos Trabalhadores em Emprego Formal, Taxa Bruta de Matrícula no Ensino Superior, Taxa Bruta de Matrícula no Ensino Técnico Profissionalizante, Complexidade Econômica, Crédito per Capita, Crescimento da Renda Média do Trabalhador Formal, Crescimento do PIB per Capita, Emprego no Setor Criativo per Capita, Recursos para Pesquisa e Desenvolvimento Científico, Renda Média do Trabalhador Formal, Crescimento dos Empregos Formais, Formalidade no Mercado de Trabalho, População Vulnerável, Acessos de Banda Larga, Acessos de Banda Larga de Alta Velocidade, Acessos de Banda Larga de Fibra Ótica, Acessos de Telefonia Móvel e Acessos de Telefonia Móvel 4G.
INFRAESTRUTURA SOCIAL
De novo o Ranking de Competitividade dos Municípios Brasileiros é a matriz do comportamento das gestões de Paulinho Serra, Orlando Morando e José Auricchio à frente dos respectivos paços municipais desde janeiro de 2017. Como já alertamos, pós-reeleição de José Auricchio, período no qual ficou afastado, também integra essa contabilidade. Afinal, a máquina pública de São Caetano não sofreu interrupção nem mudança de diretrizes.
O prefeito José Auricchio recebe Nota 10 nessa nova rubrica desse balanço de oito anos. Com oscilações aqui e ali, naturais quando se observa o número de mais de quatro dezenas de competidores nacionais, São Caetano manteve a primeira colocação sem qualquer oscilação em Infraestrutura Social. Merece, por isso, Nota 10.
Já a Administração de Orlando Morando, que caiu 10 postos entre 2022 e 2023, mas mantém situação apreciável quando se consideram demografia, economia e território, ocupa a posição nacional de número 18 entre 404 municípios, a Nota Oito parece bastante razoável. Santo André caiu sete posições entre 2022 e 2023, ocupa a posição 67 no ranking nacional. Recebe Nota Seis na classificação de CapitalSocial. Poderia ser melhor, porque neste século, por causa da proteção da Doença Holandesa Químico-Petroquímica, a participação do PIB de Santo André foi menos afetada que a de São Bernardo e São Caetano.
Para se ter ideia mais ajustada do quanto São Caetano está à frente de São Bernardo e de Santo André em Gestão Social, ocupa posições de vantagens sobre os dois competidores em 26 dos 36 indicadores. São Bernardo lidera em sete indicadores e Santo André também em sete. Há cumulatividades de resultados em alguns indicadores.
A Infraestrutura Social deste balanço geral de oito anos dos três prefeitos envolve seis grupos de indicadores. Em Acesso à Educação, São Caetano é a 5ª colocada nacional, São Bernardo a 53ª colocada e Santo André a 142. Em Acesso à Saúde, São Caetano ocupa a posição 61, São Bernardo a 41 e Santo André a 231. Em Meio Ambiente, São Caetano é a 396ª colocada, São Bernardo a 67 e Santo André a 82. Em Qualidade da Educação, São Caetano é a 12ª colocada, São Bernardo a 33ª e Santo André a 91ª. Em Qualidade da Saúde, São Caetano é a 12ª colocada, São Bernardo 145 e Santo André a 148. Em Saneamento, São Caetano é a oitava, São Bernardo a 120 e Santo André a 66. E Em Segurança Pública, São Caetano é a 7ª, São Bernardo a 92ª e Santo André a 110ª colocada.
LEGADO
Os três prefeitos que encerram dois mandatos sequenciais nesta temporada deixam como retrato fiel às próximas gerações uma distância de qualidade administrativa que não pode ser desprezada. Afinal, mais que um retrato que simboliza o presente, embora uma carga de tintas tenha ramificações profundas no passado, o ensaio geral para o futuro poderá ganhar novas tonalidades, preocupantes de um lado, esperançosas de outro.
O prefeito Paulinho Serra se mostrou Administrador impecável na arte da enganação. É um prefeito falastrão no pior sentido do termo. Santo André manteve nos oito anos uma continua propensão a perder musculatura econômica, em contraste com discursos que remetem o território ao paraíso. O marketing populista funcionou a pleno valor. Não à toa Paulinho Serra é bom de voto. Bom de voto e ruim de governo.
Os números são irrebatíveis e podem ser sintetizados nos 39 postos de queda no ranking do PIB per Capital no Estado de São Paulo nos primeiros cinco anos já contabilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas.
Paulinho Serra fez do marketing, protegidíssimo pela mídia digital e impressa, o carro-chefe de propagandismo vazio. Ganhou popularidade numa região obscurecida pela vizinhança da Capital, foi mestre nos votos, inclusive da mulher eleita deputada estadual. Convergiu internamente para um monopólio político e social.
Tudo em nome de um imperialismo perigoso de perseguição aos adversários e de controle social de uma cidade violentada na Economia e subnutrida em capital social, cada vez mais fonte de extradição de mão de obra a outros endereços metropolitanos.
De Zero a Dez a nota máxima que pode ser atribuída a Paulinho Serra no quesito Legado é Nota Zero. Um legado miseravelmente recordista desde que se implantou reeleição nos municípios brasileiros. O grupo de Paulinho Serra se consagra nas urnas porque é imbatível na arte de vender ilusões. Até uma secretaria informal de Efeitos Especiais foi lubrificada com falsas verdades, meias-verdades e mentiras inteiras. Convenceu e ainda convence os ingênuos, quando não os fanáticos.
CONDOMÍNIO RESIDENCIAL
De Zero a Dez a nota ao prefeito José Auricchio Júnior é Cinco. Auricchio é um prefeito acomodado. E nessa contabilidade e conclusão não incluímos os dois mandatos anteriores do prefeito que sucedeu a Luiz Tortorello no início deste século.
Não há efetivamente um avanço de São Caetano nesse período no campo econômico, que é o centro de operações a grandes mudanças sociais. São Caetano é cada vez mais um condomínio residencial de certo luxo. Grande parcela dos moradores tem ocupações profissionais fora do território de 15 quilômetros quadrados.
São Caetano vive a esquizofrenia de se sentir endereço especial na Grande São Paulo, com a qualidade de vida acima da média, mas, por outro lado, vê o relógio da fragilidade de produção de riqueza econômica correr muito mais rápido rumo ao comprometimento do ecossistema social.
À falta de Desenvolvimento Econômico consistente, São Caetano recorre ao aumento da carga tributária municipal, que pesa cada vez mais no bolso dos contribuintes.
Morar em São Caetano está cada vez mais dispendioso. A tendência é a redução da diferença que a colocava bem à frente de municípios brasileiros de tamanho semelhante, incrustadas em regiões menos tormentosas que a metrópole paulista.
LEGADO MELHOR
De Zero a Dez a nota ao prefeito Orlando Morando é Nota Oito no quesito Legado. O peso preponderante se dá no campo até então mais cruel de uma cidade construída aos trancos e barrancos, de periferias transbordantes como Santo André. Trata-se da infraestrutura viária. São Bernardo ainda está distante do ideal, mas a logística interna e externa, tanto para uso econômico quando social, é disparadamente a melhor da região. E isso só foi possível com as obras priorizadas pela Administração do tucano.
Foram corredores viários em praticamente todas as regiões de São Bernardo, convergindo para áreas desbraváveis à exploração econômica e social. São Bernardo deixou de ter a gravidade extrema e insanável de cidade grande apertada por veículos que se amontoavam em ruas e avenidas que não levavam a outra direção senão ao caos.
Nesse ponto, as obras marcantes induzem a um salto em busca de um desafio ainda maior: estabelecer um marco de dinamismo econômico que mitigue os danos da desindustrialização que, goste-se ou não, vai seguir em frente. Não há como São Bernardo evitar mais perdas produtivas.
Orlando Morando e os demais prefeitos eleitos em 2020 assumiram paços municipais violados pela presidente Dilma Rousseff, que arrasou como País e com o PT nas eleições de 2020. Nos cinco anos já medidos, Orlando Morando recuperou uma parte dos 30% de perda do PIB per capita da cidade mais atingida pela recessão dilmista.
Mas não há milagre que salve a indústria de São Bernardo pelo menos até o fim dessa década. As condições de competitividade nacional são cada vez mais drásticas para o Grande ABC. Perdemos qualquer possibilidade de reação vigorosa. Os mandatários em geral agem como municipalistas emperdigados num mundo em que geoeconomia é a expressão-chave.
A São Bernardo de obras viárias sem parar é um sopro de esperança à recuperação regional, mas não passa disso mesmo. A vizinhança do trecho do Rodoanel Sul, como alertamos há três décadas, é um presente de grego. Sem contar o ambiente beligerante do sindicalismo, a enrascada de uma metrópole de deseconomia de escala, a violência urbana, e tantas outras complicações.
Para completar o quadro de horrores, vem aí o último trecho do Rodoanel, o trecho Norte, que vai acelerar a destruição industrial da região. Guarulhos e vizinhos agradecem. E o então governador Geraldo Alckmin, propagandista da frase mais aplaudida e idiota deste século, seguirá como fantasma a incomodar a todos que tem um mínimo de discernimento. “A melhor esquina do Brasil” é a ponta que caiu.
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