Administração Pública

Quem é o melhor entre
prefeitos reeleitos? (1)

  DANIEL LIMA - 24/09/2024

Praticamente completado o ciclo de dois mandatos sequenciais de quatro anos cada, já está na hora de fazer um balanço geral, embora breve, dos prefeitos José Auricchio Júnior, Orlando Morando e Paulinho Serra, que também são Orlando Morando, José Auricchio e Paulinho Serra,  como também Paulinho Serra, Orlando Morando e José Auricchio, entre várias combinações possíveis.

Uma ciranda nominal politicamente esperta no bom sentido de esperteza porque a pergunta simples, com a escolha da uma única versão, poderia sugerir que o primeiro seria o primeiro, o segundo seria o segundo e o terceiro seria o terceiro. Com a embaralhada acima, vou manter o segredo que revelarei apenas nos próximos dias.

No caso do prefeito José Auricchio, formalmente foram sete anos de gestão, porque durante 2021 foi afastado do cargo pela Justiça Eleitoral. Mas a estrutura administrativa não sofreu ruptura com o prefeito interino Tite Campanella. Foi apenas, portanto, um intervalo para comerciais burocráticos ditados por instâncias legais.

Selecionei 10 quesitos que entendo indispensáveis sobre a atuação de um chefe do Executivo Municipal como balizamento a qualquer análise. O resultado médio geral que só vou anunciar nos próximos dias com as devidas justificativas, explicações e nuances, não é favorável ao conjunto dos prefeitos de dois mandatos, mas é menos ainda a um deles, enquanto um segundo fica em posição intermediária de notas e o ocupante da dianteira sofre com a dificuldade média geral de atender às exigências determinantes a transformações.

Se a linha de corte for a nota média cinco, apenas um deles passou pelo teste de competência. Um ficou no meio do caminho. E o outro foi um fracasso. Quem será o melhor, o intermediário e o pior?

DIFICULDADES ENORMES 

Jamais qualquer jornalista se deu ao trabalho de fazer o que estou fazendo porque o que estou fazendo é uma obrigação que me assaltou a consciência, metido que estou em escrutinar os gestores locais.

Da mesma forma que, sem falsa modéstia, me deleitei na edição de hoje da série sobre as pesquisas eleitorais, que trata da disputa presidencial de 2018, espero que, num futuro não muito distante, possa retomar a leitura desse material e confrontar as atuações individuais desse trio, bem como a ação coletiva desse mesmo trio, e, quem sabe, chegar à conclusão que os prefeitos de safras que virão após dois mandatos consecutivos seriam mais atuantes.

E não será fácil que sejam mais atuantes quando confrontados com os desafios embutidos nos indicadores que elencamos em seguida.

A nota média do primeiro colocado desse trio poderia ser considerada uma nota média baixa para quem está há oito anos no poder, mas não é necessariamente o caso. Há mesmo dificuldades de dar conta às exigências de CapitalSocial.

DESEQUILIBRIO ESTRUTURAL

Praticamente nenhum prefeito desse país varonil alcançaria uma nota próxima de oito numa escala de zero a dez porque para tanto teria de sair do casulo de mesmices gerenciais públicas que infestam o País.

O nível de oxigenação no gerenciamento público municipal está aquém da imperiosidade social e dos desafios econômicos.

No caso do Grande ABC, o Poder Público está muito acima da Sociedade e dos Empreendedores como fonte de comando e controle social. E isso é péssimo. O equilíbrio dá dinamicidade ao processo civilizatório, crítico e construtivo. Quando o Estado em qualquer esfera governamental dá as cartas e joga de mão, é sinal de que a situação se agravou a ponto de determinar dissuasão permanente e irrecuperável.

Sem perda de tempo, vejam os quesitos que determinarão as notas individuais e as notas médias finais dos três prefeitos. 

1. GESTÃO POLÍTICA.

2. ADMINISTRAÇÃO FISCAL.

3. REGIONALIDADE.

4. LEGADO.

5. RELAÇÕES INSTITUCIONAIS.

6. RELAÇÕES SOCIAIS.

7. SUCESSÃO ELEITORAL.

8. TRANSPARÊNCIA.

9. DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO.

10. INFRAESTRUTURA SOCIAL. 

Exposta essa vitrine de desafios, porque são mesmo desafios, vamos aos conceitos que darão suporte técnico-interpretativo às notas de cada prefeito e ao conjunto dos prefeitos. 

1. GESTÃO POLÍTICA.

Trata-se do desempenho estritamente de ordem político-administrativa que tem como ponto culminante, independentemente de qualquer juízo de valor consequencial, a aprovação popular. Esse indicador visto de forma autônoma, individualizada, tanto pode abrir as cortinas explicativas ao sucesso de uma gestão como um todo como, também, uma cortina de fumaça que poderia dar um suporte de qualificação muitas vezes confundida com popularidade. Ou seja: nem tudo que brilha nas pesquisa de aprovação popular do eleitorado seria necessariamente a argamassa de sucesso de uma gestão pública, da mesma forma que o reverso poderia ser verdadeiro, ou seja, um gestor mal-avaliado popularmente pode ter empreendido mudanças que somente os mais críticos e comprometidos com o futuro poderiam observar.

2. ADMINISTRAÇÃO FISCAL. 

Esse indicador é implacável no sentido de que os números definirão até que ponto o gestor se preocupou para valer com as finanças públicas ou fez de investimentos e arrecadação uma combinação tóxica porque voltados exclusivamente a interesses imediatos. Há fontes preciosas de informações que fogem do controle de manipulações. Mais que isso: a métrica não se restringe a comparação do município em determinado período com o mesmo município em outro período, mas o que for possível de enfrentamentos correlativos. Um Município pode ter elevado ou piorado a capacidade de administrar finanças, mas somente com embates internos e externos à região será possível chegar a conclusões menos sujeitas a imperfeições.

3. REGIONALIDADE. 

No caso do Grande ABC não há como eliminar a atuação do Clube dos Prefeitos de qualquer conjectura. Mais que isso: o Clube dos Prefeitos é o ponto máximo a avalições porque supostamente ali se dá o centro de atenção do regionalismo desse espaço demográfico de quase três milhões de habitantes. O resultado individual e do trio de prefeitos seria um fracasso gigantesco ou há alguma válvula de escape que teria sido acionada para configurar média individual e coletiva elevada?

4. LEGADO. 

Por conta de tudo o que cada prefeito fez ao longo de oito anos, e principalmente do que teria plantado de semente ao sucessor, qual perspectiva poderia ser alimentada como matriz de entusiasmo ou de preocupação? Legado é um indicador elástico porque abrange provas de fogo materializáveis e subjetivas. Um administrador de qualidade transfere ao sucessor insumos de continuidade para valer do que efetivamente foi plantado, da mesma forma que  usurpadores de expectativas são sacos vazios de programas que não param em pé. 

5. RELAÇÕES INSTITUCIONAIS. 

Qual foi o nível de interações institucionais que cada um dos três prefeitos manteve internamente, no mesmo barco do Município em que atuaram durante oito anos? Interações institucionais são a aproximação, o questionamento, a colaboração entre o Poder Público e entidades locais em uma série de iniciativas que plantam propostas e ações colaborativas transformadoras à sociedade.

6. RELAÇÕES SOCIAIS. 

É a atuação do prefeito junto à comunidade uma fórmula de sucesso ou de fracasso ao entendimento do conjunto de agentes que estabelecem valores de comprometimento com o futuro econômico e social. Até que ponto um prefeito de oito anos manteve para valer relações construtivas com os moradores?

7. SUCESSÃO ELEITORAL.

Como foram os três prefeitos de dois mandatos da região na hora em que tiveram de decidir o nome do sucessor eleitoral? O que cada um deles fez para harmonizar interesses sucessórios de cunho estritamente eleitoral? Quem alcançou o registro mais produtivo entre os três, de modo que a indicação do candidato de cada Paço Municipal seguisse a lógica da tranquilidade e equilíbrio, ao invés de complexidades, discordâncias, duvidas e eventuais estragos?

8. TRANSPARÊNCIA.

O que fizeram os três prefeitos de dois mandatos para dar à gestão de oito anos o que se poderia chamar de ampla transparência comunicacional? Quem se saiu melhor no dispositivo de confiança dos contribuintes ao tomarem conhecimento permanente de questões relevantes que marcaram os já quase completados 96 meses de administração? Como se saiu cada prefeito diante de acusações da mídia e de adversários políticos? Até que ponto cada prefeito compreendeu a importância de relacionar-se com frequência com os contribuintes, utilizando-se de mecanismos que não se restringissem à oficialidade?

9. DESENVLVIMENTO ECONÕMICO.

O que cada prefeito analisado fez efetivamente para de alguma forma alterar o ritmo da chuva de ácido de desindustrialização que tem caracterizado cada Município da região ao longo das últimas três décadas? Quais medidas podem ser consideradas estruturantes e reformistas? Como cada administração saiu-se diante da herança maldita que receberam em janeiro de 2017, quando, ao tomarem posse, encontraram os cofres públicos abalados pelos dois anos mais recessivos da história da economia regional, os anos 2015 e 2016 de Dilma Rousseff, quando a região perdeu 100 mil empregos com carteira assinada?

10. INFRAESTRUTURA SOCIAL.

Como se comportaram as áreas de Educação, Saúde e Segurança Pública? Qual é a situação Santo André, São Bernardo e São Caetano em indicadores nacionais e estaduais permanentemente atualizados por centros de estudos respeitáveis? Até que ponto indicadores que explicitam eficiência e produtividade obtiveram obtiveram destaque em cada Administração?

Leia mais matérias desta seção: