Política

Gênios da Lamparina
querem subprefeituras

  DANIEL LIMA - 10/09/2024

Quero crer que a ideia partiu de assessores dos candidatos a prefeito em Santo André, Gilvan Júnior e Eduardo Leite. Não posso acreditar que a ideia seja dos próprios candidatos. Mas só o fato de os candidatos a levarem a público com certo entusiasmo, percorre-se a trilha da desclassificação técnica de programa de governo e se invade o terreno do populismo.

Os autores da proposta são Gênios da Lamparina, expressão que me veio à cabeça agora em forma de adaptação ou paródia, sei lá, e que significaria em linhas gerais, luminosidade tênue e vacilante nas trevas, muito aquém, portanto, de um horizonte prioritário a transformações.

Gênios da Lamparina mal conseguem enxergar o próprio nariz num ambiente de escuridão total, não mais que o próprio nariz.  Criar subprefeituras é de lascar. Se não forem gênios da lamparina, seriam pinóquios.

Não tive tempo de pesquisar no Google e tampouco vou fazê-lo neste momento, mas creio que a expressão Gênio da Lamparina, no sentido que moldo agora como reflexo de uma estupidez de terceiros, deverá ser catalogada como mais uma contribuição ao léxico político-social. 

ESPALHAMENTO PERIGOSO 

São tantos como forma de comunicação mais direta com os leitores. Complexo de Gata Borralheira é muito mais que isso, porque se tratou de um livro de fundamentação sociológica.

Mas, voltemos ao que interessa. E o que interessa é tentar entender como propostas de criação de subprefeituras em Santo André passam pelo filtro de exigências básicas em forma de obstáculo e de descarte. Como se já não bastasse esse Arquipélago Cinza, esse Bicho de Sete Cabeças de improdutividades dramáticas.  

Não pretendia produzir análise enfática sobre propostas que se assemelham e contam com a mesma finalidade envolvendo dois candidatos a prefeito de Santo André. Eduardo Leite disse que levaria a proposta a um grupo de colaboradores. Gilvan Júnior já a aprovou, embora ainda não seja prefeito.

Meu medo não é somente o que eles prometem ou sugerem. É o que podem desencadear propostas siamesas nos demais municípios da região. Essa turma toda, que mal conhece a história de uma grande cidade que seria hoje a João Ramalho, dividida em sete pedaços conflitivos, é mesmo capaz de recortar cada município em microterritórios.

CAPITAL DESORGANIZADA

É claro que a sede de poder e de continuidade no poder infligiria um terremoto de multiplicação de subprefeituras com estruturas físicas e operacionais sobrepostas e por isso mesmo de baixa resolutividade. Redundâncias jamais foram sinônimo de racionalidade.

A Capital do Estado, aqui pertinho, com quatro vezes mais habitantes que a soma dos sete municípios locais, conta com 32 subprefeituras. Uma calamidade. Sou um leitor voraz e ainda não encontrei um único estudo que colocasse as subprefeituras da Capital como parte relevante da gestão municipal. Todos sabem que são mesmo feudos distribuídos a grupos políticos que dão apoio ao prefeito de plantão.

A imprensa da Capital mais importante do País cobre mal e porcamente as questões municipais. Vou dar um exemplo: não existe qualquer estudo sério e muito menos uma cultura de abordagens jornalísticas que identifiquem o Desenvolvimento Econômico da cidade de São Paulo tendo como base de operação os 96 subdistritos ou mesmo áreas das subprefeituras. Algo semelhante ao que este jornalista produz há 35 anos seguidos. Detroit à Brasileira não é apenas a identificação de um livro que vai demorar, mas vou escrever. É a linha do tempo de observações constantes.  

O jornalismo paulistano se preocupa geralmente com política partidária, quando despertam para pautas de cunho eleitoral.

EXISTEM RAZÕES?

Não quero desviar o foco regional para o foco paulistano. Embora a  Grande São Paulo seja um território convergente a avaliações  sistêmicas, como sempre reforcei em meus trabalhos, hoje o assunto é mesmo subprefeituras.

Mencionei São Paulo como exemplo emblemático de que se trata de um pandemônio social que só resiste a tantas barbaridades porque tem o status e as vantagens intrínsecas de Capital do maior  Estado da Federação.

Gostaria imensamente que tanto Gilvan Júnior quanto Eduardo Leite apresentassem as razões que os levaram a anunciar subprefeituras em Santo André e, com isso, acionassem o botão da aberração de incentivarem uma barafunda de proliferação de territórios municipais sujeitos a interesses político-partidários inevitáveis.

Embora no começo da conversa comigo mesmo de que deveria ponderar bastante até chegar a uma conclusão aprovadora ou reprovadora de criação de subprefeituras em Santo André e em qualquer Município da região, não demorei muito para chegar a resultado óbvio. Tanto que, de supetão, ontem à noite, sentei-me diante do computador e escrevi esta análise em 50 minutos. 

ESTUPIDEZ GERENCIAL

A sentença que chamaria de estupidez administrativa está respaldada por evidências incontestáveis sob qualquer ponto de vista. Menos eleitoral, claro.

Veja o que se segue como exposição rápida, curta, seca, mas acho que suficientemente densa de predicados condenatórios às duas iniciativas. Não há como resistir à perplexidade de observar que a história de divisionismo da Cidade de João Ramalho não serviu de lição.

Não duvido que na esteira dessa bobagem eventualmente aprovada e replicada em outros municípios, como é comum entre prefeitos e vereadores sempre em busca de holofotes, tenha-se desdobramento institucional em forma de Clube dos Subprefeitos do Grande ABC. Já imaginaram? 

Seria a duplicação de algo imprestável que finge existir mas que não passa de um balcão de interesses partidários após viver apenas alguns momentos de competência durante os 35 anos de existência. Momentos entrecortados pelo prevalecimento de tudo que é contrário a Desenvolvimento Econômico. Os números dramáticos deste século, e das duas últimas décadas do século passado, são profusos.

Vamos então a quatro quesitos que deveriam impedir que sequer o verbete subprefeitura fosse pronunciado como léxico de um municipalismo mambembe e de uma regionalidade morta e enterrada. 

1. Estrutura matricial.

2. Tecnologia avançada.

3. Interatividade distrital.

4. Programas específicos. 

Feita essa breve listagem de vantagens compulsórias que a centralidade de uma Administração Pública pode exercitar sem o populismo politico e gerencial dos recursos públicos, vamos a algumas explicações: 

1. ESTRUTURA MATRICIAL

Não falta na literatura de atividades públicas, e mais ainda no setor privado, a relevância de ter o domínio de informações e de medidas a partir de um grupo operacional e de controle. O amontoado de subprefeituras, sobremodo no setor público exposto a chuvas de interesses de grupos de pressão e a tempestade de dispersar as medidas, só aumentaria o desperdício em detrimento da produtividade de uso de pessoal e equipamentos. 

2. TECNOLOGIA AVANÇADA

Não é preciso discorrer sobre as inúmeras vantagens que a tecnologia da informação proporciona a corporações de todos os setores, inclusive da gestão pública, quando bem posicionada na tabela de comprometimento de resultados. Com o que existe na praça nacional e internacional, a aproximação a qualquer tipo de localidade, a partir de uma centralidade organizada, é compulsória. Com boas fontes de informações sobre as demandas distritais, ações que influenciariam a Administração Municipal poderiam ser executadas com a vantagem de que não se perderia um fio de cabelo de produtividade tendo-se como referência semelhanças e diferenças entre os bairros demandantes. Ou seja: problemas e soluções da imensidão de Santo André seriam escrutinados de maneira conceitual uniforme como insumos que exigiram soluções semelhantes ou eventualmente distintas.

3. INTERATIVIDADE DISTRITAL

O que está nos parágrafos finais do tópico acima em forma de menção compulsória não é um apêndice na abordagem contrária à invencionice de subprefeituras. É muito mais que isso: o gerenciamento do território de Santo André a partir do Paço Municipal, com equipes especializadas em observar o conjunto dos moradores e suas demandas, não pode sofrer fragmentações que, ao mesmo tempo em que determinarão vieses de tratamentos preferenciais ou discriminatórios, também incendiarão o porão do navio de capacidade resolutiva dentro de parâmetros de economicidade.

4. PROGRAMAS ESPECÍFICOS 

A construção de um grupo de servidores públicos preparados tecnicamente e com visão estratégica de fortalecimento de laços econômicos incrementará a centralidade de iniciativas no Paço Municipal. Um contraponto muito mais seguro de obtenção de resultados do que se verifica atualmente, quando não se tem essa visão ampla dos bairros como potencial de dinamismo econômico orientado a superar a concorrência de grandes empresas de comercio e serviços. Essa iniciativa só será possível com a integração desse grupo de servidores públicos em contatos cooperativos  num mesmo ambiente de iniciativas.

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