Política

É a Economia, Marcelo,
Luiz Fernando e Alex!

  DANIEL LIMA - 04/09/2024

Três dos quatro principais candidatos à Prefeitura de São Bernardo desconhecem a Economia da mesma São Bernardo que pretendem comandar. Não se pode afirmar nada nesse sentido de Flávia Morando que, ao que tudo indica, está se preparando para a reta final do primeiro turno.

Vamos mostrar nesta análise o resultado final de três indicadores que serviriam de plataforma de avaliação do desempenho dos três concorrentes que participaram de três eventos midiáticos. No cômputo final, houve igualdade entre eles. Um saldo razoável, mas abaixo da média desejada. O peso relativo de um dos indicadores vale metade da nota final.

Luiz Fernando Teixeira, do PT, deputado estadual, Alex Manente, do Cidadania/PSDB deputado federal, e Marcelo Lima, Podemos, ex-vice-prefeito e ex-deputado, perderam três oportunidade seguidas para saírem do breu. Até prova em contrário são analfabetos em Desenvolvimento Econômico. Seus assessores precisam acordar.

ONDE ESTAVAM?

Não fica bem para quem quer dirigir São Bernardo persistir na ignorância sobre a realidade econômica e por extensão social de São Bernardo. A herança maldita dos dois últimos anos de mandato da presidente Dilma  Rousseff foi de lascar. Heranças malditas anteriores, também.

O PIB per capita de São Bernardo encolheu 30% nos dois anos finais de Dilma Rousseff.  Isso não é chute: é resultado de constantes análises. Os dados são irrebatíveis. Não houve nada semelhante em qualquer Município brasileiro. Pois isso e muito mais foram olimpicamente ignorados na sabatina do UOL e nos debates seguintes, da Rede Gospel e da revista Veja.

Os candidatos podem até alegar que não foram diretamente indagados sobre essa catástrofe. Esperar de jornalistas mal-informados na área econômica respostas que exijam cuidados maiores é acreditar em Papai Noel.

O que se pergunta é o seguinte: onde os senhores deputados e ex-deputado que querem comandar São Bernardo estavam naqueles dois anos terríveis de Dilma Rousseff. E nos anos seguintes? Não é possível que passem por cima da ocorrência mais grave da trajetória de São Bernardo, Capital Econômica da região e um dos 20 maiores PIB do País. PIB Geral, não PIB per capita, porque aí é preciso colocar em campo despreparados, principalmente externos. E nesse rolo coloquem também muitos dos governadores do Estado. 

TRÊS CATEGORIAS 

Para tornar essa leitura mais pedagógica e mais compreensível, acredito que a melhor alternativa é mesmo dividir os três eventos midiáticos em categorias conexas. Não há como separar os concorrentes dos vetores que se seguem. Os vetores que se seguem levam leitores e eleitores, e também a audiência geral dos eventos, consumidores de mídia eletrônica, a concepções e conclusões que influenciam a definição do voto.

Então vamos compartimentar o desempenho de Luiz Fernando Teixeira, Alex Manente e Marcelo Lima nos segmentos interpretativos que seguem. Observem: 

1. CONHECIMENTO ECONÔMICO.

2. DOMÍNIO CÊNICO.

3. DESEMPENHO EMOCIONAL.

Feito isso, vamos às avaliações imprescindíveis na medida em que, invariavelmente, o conteúdo desses eventos nem sempre é metabolizado criticamente. Sobram informações e faltam avaliações. Informação sem avaliação estão longe de ser conhecimento. Muitas vezes é embromação. 

1. CONHECIMENTO ECONÔMICO

Considerando como peso cinco do total de 10 para se chegar ao resultado médio final a fim de aferir o comportamento da cada concorrente nos três eventos, não haveria como deixar de atribuir zero a cada um deles.

Luiz Fernando Teixeira peca porque é um ilusionista contumaz, Alex Manente não tem domínio sobre valores tangíveis  que resplandeçam  proposta de recuperação econômica de São Bernardo e Marcelo Lima praticamente se omitiu. Dos males divididos,  três males multiplicados por três.  

Chega a ser surreal que o desastre de Dilma Rousseff antecedido pelos estragos de Fernando Henrique Cardoso e os estilhados do movimento sindical, entre tantas variáveis comprovadas em inúmeros estudos independentes, não conste da carteira de ativos de sequer um candidato em defesa do Desenvolvimento Econômico de São Bernardo.

Foi de lascar ver Alex Manente desfraldando a bandeira surrada e fora de qualquer perspectiva robusta que colocaria o setor  de condomínios logísticos como natural salvação da lavoura após a debandada industrial.

Alguém precisa explicar ao deputado que condomínios logísticos pós-deserção industrial não resolvem nada de forma estrutural e restauradora. Apenas arrefecem o espírito reformista necessário.

Condomínios logísticos pós-ocupação industrial inibem  reindustrialização territorial em bases sólidas. Condomínios logísticos geram empregos de baixo valor agregado em qualquer lugar do mundo.

Essa modalidade contribui ao desenvolvimento econômico em endereços que jamais tiveram a indústria como carro-chefe e que por isso mesmo devem comemorar investimentos. Nesse caso, podem sim atrair indústrias de transformação.  Como se observa, o que vale para um determinado endereço ou região é quase imprestável como força reconstrutiva em outros.

Durante os três eventos midiáticos o que tivemos foram afirmações descoladas da realidade destes tempos de grandes transformações de investimentos industriais e de serviços tecnológicos.

Há muito tempo a região perdeu o trem-bala de substituição industrial por algo reativador de fato. Somente com planejamento estratégico regional ou até mesmo municipal seria possível mitigar as dores econômicas que estão aí. Recuperar o terreno perdido vai demorar muito mais. E nada estaria assegurado. Há endereços muito mais competitivos do que uma São Bernardo encalacrada pelo Rodoanel de acessos escassos.

Deixar passar batido o segundo governo de Lula da Silva, de gastança desenfreada, seguido do governo Dilma Rousseff, intervencionista e inflacionário, é o fim da picada tanto para Marcelo Lima como para Alex Manente.

Por isso Luiz Fernando Teixeira deitou e rolou com aberrações como a transferência de responsabilidade à Administração de Orlando Morando pela derrocada industrial subjacente a um passado de conflitos e descuidos.

Com Orlando Morando o PIB de São Bernardo voltou a crescer, mesmo que discretamente, mesmo com a retirada da Ford, uma retirada que ganhou força e tração desde um passado sem freios sindicais.

Luiz Fernando Teixeira, no ímpeto de não enxergar o próprio espelho, também lançou sobre os ombros de Orlando Morando o fim da Rota do Frango com Polenta, endereço gastronômico dependente do que virou pó naquela vizinhança, ou seja, os abundantes empregos industriais que se escafederam desde os anos finais do século passado.

2. DOMÍNIO CÊNICO

Os três candidatos obtiveram nota oito em termos de domínio cênico. Como o peso relativo desse indicador no conjunto dos três pilares é três, a nota de cada um no total de 10 pontos para composição final registra 2,4 pontos parciais.

Domínio cênico é algo subjetivo ou muitas vezes imperceptível à avaliação geral. Pode ser sintetizado numa analogia com a arbitragem de futebol: quanto mais parecer discreto, mais terá aprovação. Descartem Pablo Marcel. Fenômeno é outra coisa.

Alex Manente, Marcelo Lima e Luiz Fernando Teixeira  se comportaram com sucesso nesse quesito. Não pareceram canastrões a desempenhar falsidades diante da audiência. Não chegaram a entusiasmar, não arrancaram grandes aplausos, mas estiveram longe das patifarias do debate na Bandeirantes com os candidatos à Prefeitura de São Paulo.

Manente mostrou-se mais experiente na arte da retórica, deputado rodado que é, mas não se desgarrou de um Marcelo Lima bem concatenado e assertivo e de um Luiz Fernando Teixeira sóbrio o tempo todo, com aquele ritmo de verbalização típico de pastor evangélico. 

3. DESEMPENHO EMOCIONAL 

Diferentemente de Domínio Cênico, o Equilíbrio Emocional nos três eventos comporta a sensação de que a audiência não está diante de candidatos despreparados para suportar eventuais estocadas.

Ou seja: é um degrau de exigência paralelo ao do Domínio Cênico, e que se estabelece como a individualidade na relação com o conhecimento próprio e a forma com que se conduz.

Equilíbrio Emocional é testado no confronto de ideias, de pontos e contrapontos, até diante de eventuais provocações. Essa é uma etapa crucial de um debate. Pode descambar para agressões verbais ou irritação suscetível à crítica da audiência. Substituir conteúdo por exacerbação muitas vezes não merece perdão. Com peso dois no computo geral, os candidatos mereceram nota máxima.

Dessa forma, no computo geral, o resultado foi de empate, com nota final 4,4 de zero a 10. Como se observa, a penalidade ao trio de concorrentes foi dura. Não podem ignorar ou estarem mal informados sobre o que levaria São Bernardo a dar passos importantes para sair da enrascada em que meteu nas duas décadas finais do século passado. Sem contar a elevação da temperatura de gravidade econômica neste século, com exceção provisória e ilusionista do segundo mandato presidencial de Lula da Silva, que deixou uma bomba relógio para Dilma Rousseff.

São Bernardo da Doença Holandesa Automotiva (será que Luiz Fernando Teixeira, Marcelo Lima e Alex Manente sabem o que isso significa?) é alvo fácil de destrambelhadas políticas públicas nacionais. E nesse ponto, tanto Lula da Silva quanto Dilma Rousseff capricharam nas granadas de alucinógenos que desencadearam uma depressão massacrante e, surpreendente, ignorada por quem jamais poderia ignorar.

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