Política

PESQUISAS ELEITORAIS
ALÉM DOS NÚMEROS (4)

  DANIEL LIMA - 02/09/2024

Na edição de setembro de 2008 desta revista digital (que acumulou periodicidade durante os oito anos finais de circulação da revista de papel LivreMercado) ainda caminhava sem muitas pretensões pedagógicas, por assim dizer, nas tortuosidades e acidentalidades de pesquisas eleitorais, esse vasto e desafiador campo aberto pretensamente a serviço da democracia.

O texto que se segue procurava de alguma forma, ou de forma consistente, mostrar aos leitores critérios adotados para interpretar informações consolidados nas incursões de entrevistadores em busca de tendências do eleitorado.

Os leitores que acompanharem atentamente esta série inédita sobre as relações entre institutos de pesquisas eleitorais, agremiações políticas e veículos de comunicação verificarão que nada é por acaso no avanço do grau de desconfiança do leitorado e eleitorado em geral. Sobretudo após o advento das redes sociais.

Temos a cada dia mais e mais um campo minado que, exageros e equívocos cada vez mais detectáveis, alterou completamente as percepções da sociedade consumidora de produtos jornalísticos ou pretensamente jornalísticos. A ingenuidade cede cada vez mais terreno ao escrutínio popular. 

 

Coerências eleitorais 

 DANIEL LIMA - 08/09/2008

 

Para efeitos jornalísticos, adotei na revista LivreMercado alguns critérios de interpretação dos números das pesquisas eleitorais no Grande ABC, perscrutados pelo Instituto Brasmarket.

Primeiro, considerei na segunda rodada os votos válidos, embora não desprezasse o que chamo de votos naturais.

Segundo, minimizei a margem de erro.

Terceiro, não escondi o nível de aprovação dos atuais prefeitos.

Quarto, adotamos em conjunto o que chamo de convicção de voto, que é algo como a solidez ou a volubilidade do quadro de acordo com os próprios eleitores que se posicionaram em favor de algum dos candidatos.

Explico os quatro pontos, bem rapidinho:

Primeiro, os votos válidos se aproximam cada vez mais da realidade conjuntural das urnas à medida que as eleições se aproximam. Entendi ao sugerir ao Instituto Brasmarket que o tratamento deveria ser este na edição de setembro de LivreMercado, já que em agosto optamos pelos votos naturais. Entre brancos, nulos e abstenções a margem de eleitores que não constam dos votos válidos oscila entre 20% e 25%. Os indecisos e os eleitores que dizem que não votariam em nenhum dos candidatos captados na pesquisa Brasmarket ultrapassam um pouco esse limite em alguns municípios da região, e estão na média histórica das urnas, em outros.

Segundo, há quem opte por interpretar os números manipulando a margem de erro e, na mesma edição, desprezam a mesma margem de erro. Prefiro a clareza e a segurança de formato único.

Terceiro, o nível de aprovação dos prefeitos é muito relevante na avaliação dos concorrentes, sejam eles os próprios prefeitos, sejam seus escolhidos. Há farta literatura sobre a influência de um bom governo no apontamento do sucessor ou da própria candidatura. E também os problemas decorrentes de elevada reprovação popular.

Quarto, o grau de convicção de voto ajuda a desbaratar parte de outras dúvidas, ou contribui também para elevar a temperatura de dificuldades avaliativas. Em municípios onde os votos estão fartamente canalizados para um determinado concorrente, a solidez de intenção de voto é uma ducha fria nos adversários. Onde o bicho está pegando, a volubilidade indica que muita água pode rolar sob a ponte.

Conheço uns maníacos por pesquisas eleitorais. Gente que parece ter mais prazer em ejacular alternativas do que outra coisa. Resolvi escrever este artigo para eles.

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