Política

Marcelo Lima responde
ao UOL como prefeito

  DANIEL LIMA - 30/08/2024

O eleitor desavisado não teria dúvida, e o eleitor bem informado juraria por todos os santos que cometera o pecado da desinformação. É com essas conexões que poderia ser definido o escopo da entrevista de Marcelo Lima ao portal UOL ontem à tarde. Marcelo Lima respondeu como prefeito atual que busca a reeleição.

O ex-vice-prefeito de São Bernardo e ex-deputado federal cassado porque trocou do partido sem se dar conta de algumas filigranas, navegou com tranquilidade durante todo o tempo para responder aos questionamentos. Marcelo Lima falou o tempo todo como prefeito atual de São Bernardo Ele seria candidato à reeleição.

Flávia Morando praticamente não existiu nas respostas de Marcelo Lima, embora seja a indicada do prefeito Orlando Morando e fortíssima concorrente ao segundo turno. Aliás, o prefeito Orlando Morando praticamente não existiu diante do prefeito Marcelo Lima.

DIFERENTE DE GILVAN

Marcelo Lima adotou tática diametralmente diferente à colocada na campanha do indicado do prefeito Paulinho Serra para concorrer à sucessão em Santo André.

Enquanto Marcelo Lima se apropriou da gestão de São Bernardo, sem que isso seja considerado juízo de valor deste jornalista,  em qualquer sentido da expressão, mas apenas uma observação, Gilvan Júnior exercita a todo momento a missão de agradecer de joelhos por ser visto como continuidade da gestão de Paulinho Serra.

Enquanto Marcelo Lima é o prefeito de plantão segundo subjetividades declaratórias que obedeceram a um ritual de participação intestina na gestão de Orlando Morando, Gilvan Júnior passa o tempo todo a proclamar-se e a ser proclamado múltiplo secretário de Paulinho Serra, a quem reverencia sem parar.

Marcelo Lima é Marcelo Lima independentemente de Orlando Morando e de Flávia Morando, segundo uma avaliação desprovida, repito, de juízo qualificado de valor. Gilvan Júnior é Paulinho Serra em todos os sentidos, físicos e metafísicos.

INDIVIDUALIDADE 

Marcelo Lima é um concorrente à reeleição sem ser prefeito de direito, porque o prefeito de direito é Orlando Morando. Gilvan Júnior é um candidato a prefeito como se fosse uma extensão físico-cognitiva de Paulinho Serra.  Gilvan Júnior chega a repetir frases do titular da Prefeitura de Santo André. “Pertencimento” é uma palavra renitente no léxico de Paulinho Serra e Gilvan Júnior, quando se trata de expressarem valores andreenses. Celso  Daniel era titular absoluto do vocábulo há três décadas.

Marcelo Lima e  Gilvan Júnior são porções diferenciadas na política regional. O que os liga é o desejo natural de chegar às respectivas prefeituras. Distinguir um de outro é importante na conjuntura atual de disputas nas duas cidades mais importantes da região.  

A diferença não tem nada a ver com o sucesso popular dos dois prefeitos. Orlando e Paulinho têm semelhantes graus de aceitação, embora dirijam cidadelas distintas  em muitos aspectos. Sem contar, também, protagonismos em ações antagônicas.

Paulinho Serra converteu-se num varejista sempre iluminado por premiações carregadas de suspeição e que não  se traduzem em políticas públicas  especiais (como mostra o Ranking de Competitividade dos Municípios Brasileiros), enquanto Orlando Morando se consagra como um prefeito estruturante que potencializou uma competitividade econômica pouco provável. Afinal, o Grande ABC há muito saiu do radar de Desenvolvimento Econômico para valer num mundo  concorrencial duríssimo.  

SEM RISCO  

Marcelo Lima foi eleito e reeleito com Orlando Morando para comandar uma São Bernardo arrasada pelo governo de Dilma Rousseff.

Quando assumiu o Paço Municipal em janeiro de 2017, Orlando Morando pegou uma São Bernardo com recidiva na quebra de produção de riqueza. Foram perdas de 30% do PIB per capita somente nos dois últimos anos da gestão do antecessor, Luiz Marinho, do PT, por conta das diabruras de Dilma Rousseff e uma política de gastança complementar às gastanças de Lula da Silva.

 Como foi surpreendido pela escolha de Flávia Morando pelo prefeito Orlando Morando, numa  decisão  de assegurar sucessor na Prefeitura, Marcelo Lima teve que se virar nos 30 para concorrer nesta temporada.

O peso da cassação do mandato de deputado federal acabou enterrando o apoio de Orlando Morando. A perspectiva de que os adversários iriam utilizar o caso como munição eleitoral tornou arriscado o apoio de Orlando Morando.

COMO PREFEITO

Na entrevista ao UOL, como se nada disso houvesse ocorrido, Marcelo Lima falou como sucessor natural de Orlando Morando. Muitas das obras foram avocadas à participação direta como vice-prefeito participativo. Especialmente o sucesso no combate às enchentes na área do Paço Municipal, que tanto atormentavam moradores e comerciantes da vizinhança.

Como secretário de Obras, Marcelo Lima garantiu ao UOL que teve atuação proeminente. Em outros pontos não tirou da reta a responsabilidade que se atribui (ainda sem meu juízo de valor), mas prometendo melhoras no futuro como prefeito eleito que imagina ser.

Os 30 minutos da sabatina foram uma sucessão de ponderações de Marcelo Lima ao misturar obras de sucesso e iniciativas que constam do programa de governo que pretende assumir em janeiro do ano que vem.

Caso Marcelo Lima não dissesse uma ou outra vez que pretende atuar como vencedor da disputa de outubro, os espectadores que desconhecem São Bernardo, e mesmo quem de alguma forma conhece a gestão de Orlando Morando, não teriam mesmo dúvida de que estavam diante do prefeito em busca da reeleição.

EFEITOS MIDIÁTICOS

Não se deve entrar necessariamente numa dividida na forma de ser ou não de Marcelo Lima como vice-prefeito ativo. Isso não importa no caso. O que vale para efeitos eleitorais é o peso midiático da sabatina. Marcelo Lima foi o tempo todo ponderado e compromissado com o futuro de São Bernardo.

Marcelo Lima não hostilizou os adversários e, mais que isso, deixou portas abertas a eventuais aproximações num possível segundo turno do qual participaria como eventual finalista.

Estaria exagerando quem viu Marcelo Lima maltratar mesmo que na semântica o prefeito Orlando Morando e Flávia Morando.   

Marcelo Lima utilizou uma única frase para demonstrar decepção e mesmo assim de forma sutil por ter a indicação rejeitada em favor da sobrinha do prefeito.  Mesmo assim o fez de forma respeitosa, considerando-se o nível dos debates e sabatinas políticas. Marcelo Lima respondeu aos entrevistadores do UOL que possivelmente lhe teria faltado o sobrenome da família Morando.

COM LEVEZA

Cavoucando com mais intensidade o distanciamento entre Orlando Morando e Marcelo Lima, também se encontraria uma leve estocada quando o ex-vice-prefeito, ao mencionar pelo menos três vezes a  expressão “mais experiência”, auto atribuiu qualidades de gestor público que supostamente faltariam à jovem Flávia Morando.

Repito: em nenhum momento Marcelo Lima mencionou a identidade da candidata do Paço e tampouco o nome completo do prefeito Orlando Morando. Até porque, sempre pareceu ser ele o prefeito diante dos entrevistadores do UOL.

A impressão geral, sempre levando-se em conta o aspecto midiático da sabatina, é que Marcelo Lima se apresentou muito acima do antecessor no UOL, no caso o petista Luiz Fernando Teixeira.

Enquanto o petista não poupou crítica aos adversários, Marcelo Lima caminhou suavemente entre pedregulhos lançados em áreas distintas da Administração Pública.

Para quem cumpre obrigação social de estar à cata de deslizes de debatedores e de sabatinados nesse período eleitoral, Marcelo Lima foi um prato raso e vazio. Não cometeu praticamente nenhum deslize.

Quanto às declarações no campo de projetos e ações, expôs algumas iniciativas que,  como todas as ações anunciadas durante o período eleitoral,  precisam ser relativizadas. Intervenções públicas espetaculosas nem sempre se convertem em ações. Há uma distância entre sonho de materialidade e obstáculos orçamentários.

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