Administração Pública

Propaganda não segura
fracasso de Santo André

  DANIEL LIMA - 23/08/2024

O Ranking de Competitividade dos Municípios Brasileiros é implacável com Santo André do prefeito Paulinho Serra assim como o teria sido com os antecessores, caso o macroindicador do CLP (Centro de Liderança Pública) existisse há mais de cinco anos já completados.

A 117ª posição entre 410 endereços com mais de 80 mil habitantes é emblemática de uma cidade que ainda não encontrou a maneira de estancar a derrocada econômica de 40 anos. Estancar seria a primeira iniciativa, porque já se consolidaria como lucro institucional e social. Santo André caiu 44 posições entre 2022 e 2023. São Caetano, sexta colocada, caiu uma posição no País. E São Bernardo, 21a colocada, caiu sete. 

O problema de Santo André é que o atual prefeito, Paulinho Serra, não ouviu as recomendações deste jornalista antes mesmo de tomar posse em janeiro de 2017. Preferiu o triunfalismo propagandístico a enfrentar a realidade que vem do passado de desindustrialização irrefreável.  Uma sociedade enganada é uma sociedade potencialmente inerte, quando não submissa. Vira o reino encantado de mandachuvas e mandachuvinhas. 

Os números se agravam a cada nova temporada. É possível enganar incautos, mas as estatísticas são terrivelmente esclarecedoras. E sempre chegam. No caso do Ranking de Competitividade dos Municípios, chegam sempre em agosto. 

MACROINDICADORES

Decidimos colocar Santo André, São Bernardo e  São Caetano no mesmo recorte de avaliação após a divulgação dos resultados regionais publicados aqui e dos resultados nacionais na quase totalidade da mídia nacional.

Os três municípios mais tradicionais, que concentram 70% do PIB da região, são compatíveis a uma análise comparativa.

Santo André ocupa o que seria a Sexta Divisão de Competitividade Nacional, enquanto São Caetano seria de Primeira Divisão e São Bernardo de Segunda Divisão. Cada grupo de 20 municípios comporia uma divisão hierárquica. São Caetano de sexta colocação e São Bernardo de 21ª deixam Santo André da 117ª colocação comendo poeira.

Na disputa interna, entre os três municípios, os resultados são dramaticamente desfavoráveis a Santo André. Em nenhum dos 13 macroindicadores Santo André está em primeiro nesse G-3. Mais que isso: em apenas três está na segunda colocação. Ou seja: na quase totalidade, é terceira e última colocada.

O resultado final é que Santo André é, como se observa, o caso mais acentuado de perda de tração econômica, social e institucional, como define o Ranking de Competitividade dos Municípios Brasileiros. Não há manchete de jornal impresso ou digital, tampouco discursos efusivos e triunfalistas do prefeito Paulinho Serra, que obscureçam a realidade nua e crua em cada agosto de contragosto numérico e contraditório consistente.

Santo André perde o fôlego não só porque vai mal das pernas mas também porque outros municípios reagem ou crescem com mais vigor. Esse efeito-duplo precisa ser considerado sempre. Especialmente quando se juntam a fome de dados insofismáveis com a vontade de comer de uma disputa eleitoral.

Um filtro crítico cuidadoso do que declararam candidatos e apoiadores é o melhor conselho aos eleitores. Cuidado com a carnavalização de declarações que escondem a derrocada histórica e incontrolável de Santo André e também de outros municípios da região.  

QUADRO DE MEDALHAS 

Se cada primeiro lugar no recorte do ranking envolvendo os três mais tradicionais municípios da região correspondesse a uma medalha de ouro, São Caetano seria líder com oito conquistas, enquanto São Bernardo ficaria com cinco. Santo André não registraria uma sequer. Quase todas seriam de bronze, um bronze doméstico porque em nível nacional está completamente fora de qualquer qualificação competitiva.

Essa distribuição de medalhas corresponderia a cada um dos 13 macroindicadores do Ranking de Competitividade dos Municípios, que centralizam quase sete dezenas de ramificações especificas. Vamos a cada resultado. Veja cada um dos macroindicadores:

SANEAMENTO – São Caetano ocupa a oitava posição nacional, Santo André a 66ª e São Bernardo a posição 120. Só São Caetano ganhou posição (uma) em relação ao ranking de 2022. Santo André perdeu três e São Bernardo 31.

MEIO AMBIENTE – São Bernardo ocupa a posição 67 no ranking nacional e o primeiro no G-3 da região. Santo André é a 82ª colocada e São Caetano a posição 398. Os três municípios melhoraram em relação ao ano passado: Santo André ganhou sete posições, São Bernardo sete e São Caetano, seis.

QUALIDADE DA EDUCAÇÃO – São Caetano é disparadamente a melhor, com o quinto lugar nacional, enquanto São Bernardo está na posição 33 e Santo André na 91ª. Somente Santo André ganhou posição no confronto com o ranking do ano anterior (duas). São Caetano perdeu duas e São Bernardo três.

INSERÇÃO ECONÔMICA – São Caetano está na segunda colocação em nível nacional, São Bernardo ocupa a posição 72 e Santo André a posição 93. Somente Santo André melhorou entre 2022 e 2023, ganhando uma posição entre os 410 municípios. São Bernardo perdeu 31 e São Caetano manteve posicionamento.

SEGURANÇA PÚBLICA – De novo São Caetano lidera o G-3 regional, com a sétima posição no ranking nacional. São Bernardo está em segundo ao ocupar a posição 92 e Santo André em terceiro na posição 110. A mesma Santo André que caiu 35 posições entre 2022 e 2023. São Bernardo avançou 31 posições e São Caetano caiu quatro posições.

INOVAÇÃO E DINAMISMO ECONÔMICO – Quem lidera é São Bernardo com a 17ª colocação no ranking nacional. São Caetano é a segunda, na posição 33 e Santo André ocupa a posição 118. A mesma Santo André que desabou 45 postos em relação ao ano anterior. São Caetano caiu seis posições e São Bernardo avançou oito.,

FUNCIONAMENTO DA MÁQUINA PÚBLICA – São Bernardo é a 48ª colocada no ranking nacional e a primeira no G-3 regional. Santo André ocupa a posição nacional 139 e São Caetano a posição 167. Somente São Caetano registrou melhoria em 2023 em relação a 2022, com seis postos de avanço. Santo André caiu 45 posições e São Bernardo 20.

TELECOMUNICAÇÕES – Esse é o pior macroindicador dos três municípios da região. Uma calamidade. São Caetano ocupa a posição 314 no ranking nacional e a primeira no G-3 regional. São Bernardo é a 383ª colocada em nível nacional e Santo André a 386. Todos caíram em relação ao ranking anterior: Santo André perdeu 45 posições, São Bernardo 31 e São Caetano seis.

ACESSO À SAÚDE – São Bernardo é a 41ª cidade no ranking nacional e a primeira no G-3 regional. São Caetano está em segundo com a ocupação da 61ª colocação e Santo André desaba na posição 231. Santo André perdeu 45 posições entre um ano e outro, enquanto São Bernardo avançou 14 e São Caetano caiu seis.

CAPITAL HUMANO  – São Caetano também é disparadamente a melhor da região e a 15 colocada no ranking nacional. São Bernardo vem em seguida na posição 128 e Santo André é a terceira na posição 177. Somente Santo André perdeu posições entre um ranking e outro: caiu 45 degraus. São Bernardo subiu 31 e São Caetano, seis.

QUALIDADE DA SAÚDE – São Caetano é a 12ª colocada nacional e a primeira no G-3 regional. São Bernardo ocupa a posição 145 e Santo André a posição 148. Os três municípios perderam posição relativa no País: Santo André, 45; São Bernardo 31 e São Caetano, duas.

SUSTENTABIIDADE FISCAL – São Bernardo é a 67ª colocada no ranking nacional e a primeira no G-3 regional. São  Caetano está na posição 80 e Santo André na posição 148. Somente São Caetano avançou nos dois últimos anos pesquisados: ganhou seis postos. São Bernardo perdeu 31 e Santo André 45.

ACESSO À EDUCAÇÃO – São Caetano é quinta colocada nacional, São Bernardo a 53ª colocada e Santo André a 142ª. Os três municípios perderam posição relativa: Santo André caiu 45 postos, São Bernardo seis e São Caetano dois.

MARATONA DE INDICADORES 

Produzido pelo CLP, o Ranking Brasileiro de Competitividade dos Municípios envolve três dimensões. A primeira dimensão analisa as instituições de cada Município, centralizando atenção nos pilares de Sustentabilidade Fiscal e Funcionamento da Máquina Pública.  

A segunda dimensão observa vetores sociais e o atendimento à sociedade, compondo os pilares de Saúde, Educação, Segurança, Saneamento e Meio Ambiente.  

Por fim, o terceiro pilar revela a Dimensão Econômica, incluindo os pilares de Inserção Econômica, Inovação e Dinamismo, Capital Humano e Telecomunicações.  

O Ranking de Competitividade dos Municípios é uma maratona de indiciadores envolvendo 65 temáticas e conta com a participação de 410 municípios com pelo menos 80 mil habitantes. Praticamente nada relacionado à gestão pública escapa ao inventário da organização.  

O Centro de Liderança Pública é apresentado como uma organização suprapartidária que busca engajar a sociedade e desenvolver líderes públicos para enfrentar os problemas mais urgentes do Brasil.  

Desde 2008, a organização já ultrapassou a mil cidades impactadas por projetos ou cursos; e tem mais de 300 pessoas na rede de líderes, que já alcançou 24 Estados, diferentes partidos políticos e setores da Administração Pública. 

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