Administração Pública

Paulinho Serra: bom de
voto e ruim de governo (10)

  DANIEL LIMA - 07/03/2024

Não fosse este jornalista, que não faz outra coisa senão representar a sociedade em termos de responsabilidade de informar, o conluio nos últimos tempos em crise entre a Administração Paulinho Serra e o Partido dos Trabalhadores jamais teria sido transformado em produto de informação. Mais que de informação: de análise aprofundada.

O que os leitores vão acompanhar em seguida, nesta série que não tem data para terminar, é um texto que escrevi em abril de 2021. Vou a detalhes para mostrar que o tucano Paulinho Serra chegou à Prefeitura de Santo André depois de sair do ventre do PT como secretário de Mobilidade Urbana, pasta na qual produziu uma série de barbaridades, entre as quais, acreditem, a subestimação, quando não a ignorância completa, de que ruas de Santo André não eram de plástico a ponto de permitir que corredores exclusivos de ônibus e veículos de passeio poderiam ocupar o mesmo espaço provocar caos.

Acompanhem as relações incestuosas entre Paulinho Serra e o PT como resumo do resumo da fome pelo poder a qualquer preço.

 

Farsa, patetice, oportunismo e

muito mais entre PT e Paulinho

 DANIEL LIMA - 16/04/2021

 

O amasiamento político, eleitoral e administrativo que envolve desde muito tempo o prefeito Paulinho Serra e o Partido dos Trabalhadores em Santo André ganhou conotação multifacetada nos últimos dias, quando a agremiação anunciou punição ao vereador Eduardo Leite por ter elogiado a gestão de Paulinho Serra. Tudo isso e muito mais não passam de combinação de farsa, patetice e oportunismo. 

Trata-se de marketing eleitoral no sentido mais pernicioso que existe. Os políticos de Santo André, em larga escala, não pensam na sociedade e nas agruras econômicas cada vez mais candentes. Eles só querem votos. E fazem dos pobres eleitores um bando de iludidos.   

A política regional, especialmente em Santo André por causa da visibilidade, amesquinhou-se a tal ponto que se chegou ao extremo de indigência técnica e intelectual. Até parece que não há um transatlântico avariado e à deriva em forma de empobrecimento social e mergulho econômico.  

FEITIÇO DOM PAÇO   

Santo André, não custa lembrar, é um dos piores endereços de desenvolvimento econômico deste século entre os 20 maiores municípios do Estado. Tudo comprovado, sacramentado e carimbado.   

Vamos aos fatos. O vereador petista é Eduardo Leite. Em fevereiro deste ano ele visitou a direção do Diário do Grande ABC e em seguida concedeu uma entrevista bajulativa ao prefeito Paulinho Serra. Talvez tenha se inspirado ou se enfeitiçado pelo horizonte do Paço Municipal que se vê de qualquer dependência do jornal. O PT não gostou dos termos publicados.   

Para que os leitores compreendam sem distorção alguma, vamos aos fatos relatados sob o título “Como se opor a um governo que acerta em várias medidas?”. Uma linha auxiliar, sentenciava: “Vereador do PT elogia Paulo Serra: “” Faz ações que faria se lá estivesse””. Transponho a matéria do jornal. Em seguida, trato daquele conjunto de adjetivos que constam da manchetíssima de hoje de CapitalSocial: 

 O vereador Eduardo Leite (PT), de Santo André, declarou ser “muito difícil” fazer oposição a um governo que “acerta em muitas medidas e que erra menos” ao fazer avaliação de como será o comportamento da bancada contrária ao prefeito Paulo Serra (PSDB) na Câmara. Em visita ao Diário, Eduardo voltou a minimizar a polêmica composição firmada com o bloco de sustentação para ter espaço na mesa diretora – ele, a contragosto do petismo, votou em Pedrinho Botaro (PSDB) como presidente da casa e ficou com a primeira secretaria.   

MAIS DIÁRO  

A despeito de dizer que cumpre função administrativa no Legislativo e que isso não interfere em sua atuação política no Parlamento, elogiou a gestão tucana. “Existe um clima de unidade de forças políticas para superar o momento de pandemia. O resultado das urnas e o fato de o prefeito Paulo Serra ter tido desempenho bem acima da média dos demais prefeitos reeleitos fortaleceram a influência dele sobre uma parcela grande dos vereadores. Foram 14 eleitos em sua coalizão. Um ambiente que dificulta bastante o trabalho de oposição”, comentou o petista. “Aliás, em muitos momentos é difícil fazer oposição ao prefeito. Como fazer oposição a um governo que acerta em muitas medidas e que erra menos?”.   

MAIS DIÁRIO  

 Eduardo avisou ainda que quem esperar que ele faça papel de oposição a Paulo Serra com votações contrárias a projetos e críticas constantes “vai se decepcionar”. “Não é porque sou filiado a um partido de oposição que em todas as ações terei de votar contra, terei de trabalhar contra. Não vou trabalhar contra o governo e me opor a toda e qualquer ação do prefeito Paulo Serra pelo fato de ele ser do PSDB. Pelo contrário. O que eu puder fazer para ajudar, somar e colaborar em ações que concordo, farei”, citou. “Aliás, ele faz algumas ações que faria se lá estivesse. Por isso não farei cerimônia em dar esse suporte.”. Sobre o futuro político, Eduardo disse que ainda não chegou o momento de debate aprofundado.   

MAIS DIÁRIO  

Ele foi candidato a deputado federal em 2018, recebeu 22.669 votos, e foi cotado para representar o PT na eleição à Prefeitura em 2020. Ele reconheceu que passou da hora de a cidade ter um deputado. “Pelo tamanho de Santo André, deveríamos ter mais de um deputado federal e um estadual. Por não termos deputados perdemos investimentos do Estado e do governo federal. E não apenas pela falta de envio das emendas, mas por outros investimentos que poderiam chegar se tivesse uma pessoa em Brasília e na Assembleia Legislativa sempre lembrando que Santo André é cidade importante.” 

MANCHETÍSSIMA JUSTIFICADA  

Reproduzida a reportagem do Diário do Grande ABC, vamos à exumação, sem deixar de acentuar que a abordagem que se segue deveria ser tipificada pelos leitores independentes como serviço público de informação indispensável. A catequese defendida nestas páginas digitais tem o sentido explícito de ir além do noticiário convencional.   

PRIMEIRO: A FARSA   

O PT não tem por que punir o vereador com a suspensão por dois meses ou qualquer outro mecanismo retaliatório. O PT perdeu a identidade em Santo André e se lambuzou no jogo de falso consenso supostamente em prol da sociedade. O que temos em Santo André é um jogo de cartas marcadas para beneficiar os amigos do rei, nada além disso. Qualquer coisa que tenha relação com cidadania é heresia.   

Desde que Carlos Alberto Grana era titular do Paço Municipal e Paulinho Serra secretário mequetrefe de algo como a Secretaria de Logística, o concubinato entre tucanos e petistas se estabeleceu. Eduardo Leite só seguiu um roteiro, embora indiscreto, traçado havia muito tempo. Portanto, o que temos é uma farsa de independência partidária e programática destilada pelo PT.   

SEGUNDO: A PATETICE  

A patetice da operação lambe-lambe do vereador Eduardo Leite caracteriza-se sem retoque na ausência completa, absolutamente completa, de qualquer elemento argumentativo que caracterizasse algo de bom da gestão de Paulinho Serra. Não há um exemplo sequer. Poderiam ser mencionados vários, provavelmente, todos no campo do varejismo de prefeitos medíocres que infestaram e ainda infestam os paços municipais na região. Mas nem isso. Ou seja: faltou conteúdo às declarações do vereador. 

Quando se refere genericamente à produção de competência de Paulinho Serra ante a pandemia chinesa, Eduardo Leite exagera e se curva à conveniência. Desde os primeiros meses do inferno viral Santo André desponta como um dos piores endereços de letalidade, muito acima da média nacional e estadual. 

O jornalista do Diário não tem responsabilidade pela fragilidade das declarações. Trata-se de texto relatorial. Diferentemente deste, que é analítico. São critérios editoriais distintos. O vereador Eduardo Leite, que tem pretensões legítimas de virar deputado estadual ou federal, faz do Diário do Grande ABC uma correia de transmissão.   

Eduardo Leite tem informações que qualquer leitor atento também detém: o jornal quer repetir o passado editorial de elevar o tamanho da bancada regional em São Paulo e em Brasília. O problema é que jamais o Grande ABC combinou qualidade e quantidade. Hoje, na esfera federal, continua sem qualidade e está rebaixadíssimo em quantidade, com apenas dois representantes que não fazem verão regional. Na Assembleia Legislativa temos seis representantes que também não mudam a história.   

TERCEIRO: OPORTUNISMO  

O oportunismo, que é diferente de oportunidade, transpira nas declarações do vereador Eduardo Leite ao se observar o quanto procurou se acomodar na distribuição de cargos no Legislativo de Santo André sem criar embaraços à Administração tucano-petista de Paulinho Serra. Tucano-petista até a terceira página, porque o prefeito está batendo asas em direção ao PSD de Gilberto Kassab. Daí, como escrevi outro dia, distribuir pancadas verbais no governador João Doria. Eduardo Leite é um político jovem e esperto como muitos políticos jovens e espertos. Só precisa acrescentar ao currículo ainda precário um elemento indispensável: compromisso de fato com a região. O que a historiografia regional registra como exceções à regra.  

MUITO MAIS 

O “muito mais” da manchetíssima de CapitalSocial é algo que o tempo deverá desvendar, além do que já é possível ser desvendado, como a fome pantagruélica de chegar ao Legislativo de São Paulo ou à Câmara Federal. Nada que infrinja o direito de alcançar mobilidade política. Eduardo Leite não é diferente da cepa tradicional de caçadores de votos, mas seria interessante se despontasse como uma variante. Dessa forma, não cairia na esparrela de substituir o interesse público pelo interesse pessoal, utilizando o primeiro como combustível do segundo.

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