Manente aposta errado e tem
PSD de Kassab como opção

  DANIEL LIMA - 21/09/2023

Fosse político mais previdente e não aderisse a determinadas configurações partidárias que o lançaram num arcabouço enroladíssimo, o deputado federal Alex Manente teria tudo para ser o favorito nas eleições municipais de São Bernardo.  

A um ano da disputa está alijado temporariamente da competição. A federação formada por PSDB e Cidadania implica que Manente teria de ter o apoio de Orlando Morando para concorrer no ano que vem contando com a máquina pública e o prestígio do melhor prefeito da região. Esse era o desenho perfeito ao então potencial favoritismo de Manente. 

Como o tiro da precipitação saiu pela culatra da ambição, Alex Manente está, portanto, sem o lenço de uma aliança que tem muitos pontos positivos para concorrer com ligeiro favoritismo à Prefeitura e também sem documento de formalidade partidária. 

Com isso, o contratempo de sem lenço é irreversível. E o outro contratempo, sem documento, é questão de tempo para se ajeitar.  

Quando se junta o primeiro ao segundo e se dá o acabamento de duplo rompimento, quando poderia ser de integração, a constatação óbvia é que Alex Manente sai derrotado temporariamente.  

COM GILBERTO KASSAB 

A alternativa mais provável, mas não necessariamente confirmada é de que o Cidadania de São Bernardo o libere para não ficar fora da disputa. Alex Manente buscaria refúgio no partido do ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, do PSD. 

Resta saber até que ponto Gilberto Kassab, raposa felpuda da política (tão felpuda que é secretário de governo de Tarcísio de Freitas e aliado do presidente Lula da Silva) vai se empenhar para, mais que dar guarida, dar suporte logístico à disputa municipal.  

Alex Manente não deu muita sorte até agora quando se trata de carreira política de Executivo. Tanto é que desde que se elegeu vereador com mais de 12 mil votos em 2004 vem patinando no Legislativo, primeiro em São Paulo e há três temporadas seguidas em Brasília. Fosse em outro endereço da região, especialmente em Santo André, provavelmente já teria (por fadiga de material dos adversários ou empurrado por parceiros de jornada) arranjado um espaço para disputar a Prefeitura com amplas possibilidades de vitória. Como se sabe, em Santo André vivemos um ambiente político-eleitoral de mão única.  

PRELIMINAR ELEITORAL  

É fato que Alex Manente tentou em São Bernardo durante três competições e fracassou em todas. Fracassou é força de expressão porque disputar uma Prefeitura como espécie de terceira via com cartas marcadas, ou seja, sabendo que é apenas uma linha auxiliar do favorito da ocasião, é sempre um investimento às eleições parlamentar seguintes. E foi disso que sempre tratou Alex Manente.  

Talvez a próxima eleição seja a que mais conduziria teoricamente Alex Manente a participação eleitoral mais robusta, pela primeira vez desde que se meteu na política.  

Há, paradoxalmente, razões para tanto. O PT terá um candidato que é uma grande incógnita (o deputado estadual excessivamente extravagante Luiz Fernando Teixeira) enquanto a Administração de Orlando Morando terá mesmo de fixar estacas na confiança de que, quem o tucano indicar e apoiar para valer, seria recompensado pelo eleitorado como forma de agradecimento.  

Não custa repetir o que as pesquisas mesmo que pesquisas com vieses explicitam recorrentemente: Morando está muito acima de qualquer expectativa de aprovação num Município em que o avermelhado é forte e os reveses econômicos ditados pelos estragos dantescos do governo de Dilma Rousseff (22% do PIB entre 2015 e 2016) provocam demandas emergenciais no campo econômico e social.  

ACORDO ROMPIDO  

Houvesse Alex Manente se mantido fiel a Orlando Morando, tudo poderia ser diferente. Sabe-se até onde é possível saber que Manente teria feito um acordo para desistir da disputa pela Prefeitura em 2020, contribuindo para a fatura no primeiro turno, diante da perspectiva de que teria prioridade em 2024 como potencial candidato da situação.  

Essa é uma versão sujeita a desmentido, mas de qualquer forma tem no mínimo uma ponta de veracidade. Manente não costuma entregar a rapadura sem contrapartida. Um direito natural de quem vive na política. 

Entretanto, porém, contudo e todavia, na ânsia de ampliar o raio de ação parlamentar e, sobretudo, de fortalecer-se à disputa municipal, Manente se bandeou para o grupo do prefeito de Santo André, Paulinho Serra, e, como Paulinho e Orlando são tucanos que não se beijam, acabou dançando. 

Sem pretender ser malicioso, mas já o sendo, acho que não se deve deslocar o eixo de responsabilidade do acordo desfeito, seja qual tenha sido o acordo, na direção do prefeito de São Bernardo. A fama do titular do Paço Municipal de São Bernardo é que acordo feito, acordo é cumprido. Já em relação a outros políticos da região, inclusive Alex Manente, há controvérsias. 

MOTORES DE ARRANQUE  

Seja qual for o motivo, a situação está posta. Alex Manente tem cacife eleitoral para se eleger deputado federal quando bem entender, porque já construiu uma base na região, especialmente em São Bernardo, e, mais que isso, conta com a motricidade logística de todos os deputados em mandato, no caso os dinheiros de fundos eleitorais e de emendas parlamentares.  

São dois motores de arranque que, acionados principalmente na reta de chegada da disputa numa região de alta densidade demográfica como é o Grande ABC, se traduzem em sucesso. Perder é que é difícil e improvável. 

Mas, todos sabem, a competição municipal é outra coisa. Estabelecer paralelismos com a votação de parlamentar é sempre um risco porque as condições de tempo e de temperatura são outros quinhentos.  

De qualquer forma, parece não restar dúvida de que Alex Manente pegou o bonde errado na Estação de Santo André num momento em que a biruta de proximidade entre os dois prefeitos vizinhos não acusava tempestade à vista.  

Escanteado pela frente liderado pelo PSDB e decididamente decepado por essa federação, a opção de Alex Manente não é suficientemente desestimuladora à recuperação do potencial que lhe restava após os entreveros entre Orlando Morando e Paulinho Serra.  

Difícil vai ser convencer o cacique Gilberto Kassab de que valeria a pena dar suporte à candidatura de Manente no ano que vem, tendo em vista o favoritismo do grupo de Orlando Morando, mesmo sem a definição de um candidato forte, e tendo também o PT como concorrente principal.  

Tudo bem que Manente pode repetir ações anteriores de concorrer apenas por concorrer e negociar os votos no segundo turno. Possivelmente será essa a alternativa que adotará, mas sempre ficaria um gosto amargo de precipitações numa trajetória errática em que se deixou levar no bico por gente que não tem compromisso para valer com São Bernardo.  

Mais que isso: por gente de Santo André que age exclusivamente para tomar de assalto São Bernardo e, com isso, fortalecer os laços de mandachuvas e mandachuvinhas que regionalizam o ABC Paulista apenas quando há interesses muitas vezes inconfessos em jogo.  

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