Paulinho Serra é o pior prefeito
do Clube dos Prefeitos. Veja!
DANIEL LIMA - 02/08/2023
Demorei um pouco para chegar ao quinto quesito, entre seis, do Troféu Celso Daniel de Gestão Pública. Trata-se de “Regionalidade”. Depois deste, só faltará Desenvolvimento Econômico. Coloquei nas duas últimas filas desse ranking de avalição dos três prefeitos que se elegeram em outubro de 2016 as diretrizes mais exigíveis. Regionalidade e Desenvolvimento Econômico têm, individualmente, três pontos numa escala de 10. Ou seja: as duas questões têm em conjunto peso seis do total de dez.
Isso quer dizer e deixo bem claro que será muito difícil, quase impossível, que Paulinho Serra, Orlando Morando e José Auricchio alcancem média geral suficiente para conquistar o Troféu Celso Daniel de Gestão Pública.
O maior prefeito dos prefeitos da história da região (ou seja, o prefeito regional, não prefeito municipal) provavelmente não terá um sucessor como resultado dessa avaliação. Seria necessário alcançar a média geral de 6,3 pontos, ou seja, 70% da nota registrada por Celso Daniel – 9,0.
PILARES DESPENCAM
Há pelo menos três pilares que despencaram sob a presidência ou a influência político-partidária de Paulinho Serra no Clube dos Prefeitos. São passivos adicionais que, por não terem se apresentado aos prefeitos que o antecederam, permitiram ou o colocaram em situação bastante desvantajosa.
Isso não quer dizer que Paulinho Serra tenha tido ao longo dos três mandatos como prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos uma sobrecarrega de tarefas além do infortúnio que o caracteriza como o pior da categoria.
Paulinho Serra é o pior prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos porque acrescentou às inoperâncias históricas e deletérias do Clube dos Prefeitos várias camadas de improdutividades, irrelevâncias, contradições, descuidos, exageros e tudo que possa ser catalogado como manual de trapalhão incorporável.
TRIPÉ DO FRACASSO
Afinal, quais são os três pontos-chave da derrocada de Paulinho Serra como prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos, objeto dessa análise sincronizada com parâmetros de medição de competências? Vamos lá:
1. Completo despreparo para lidar com alguns critérios mínimos de regionalidade durante a pandemiado Coronavírus, a Covid-19.
2. Partidarização oportunista do comando do Clube dos Prefeitos com vistas a plantar sementes individualistas rumo a outras plagas.
3. Inabilidade crassa para lidar com a própria sucessão ao cargo, aquecendo descuidadamente os motores de intrigas e divisionismos que provocaram a retirada de São Bernardo e São Caetano da instituição.
Caso Paulinho Serra não fizesse nada além do nada da maioria dos antecessores (e os antecessores, mais uns, menos outros, não chegaram a não fazer nada, embora não fizessem o necessário), tudo estaria resolvido. E o que estaria resolvido? Ora, Paulinho Serra receberia a nota cinco, de regular, porque teria seguido a boiada.
PANDEMIA ARRASADORA
Mas Paulinho Serra é caprichoso na arte de decepcionar. Os desafios que se lhe apresentaram foram o combustível da desilusão.
Paulinho Serra é aquele tipo de autoridade pública que se deixa embevecer pelos áulicos e não percebe quando a situação que lhe pintam não é nada mais que uma ilusão ótica.
Oferecem a Paulinho Serra um painel multicolorido numa viagem alucinógena. Não percebe que detém falsa liderança e falso prestígio. Com isso, embarca em canoas furadas com a candura dos inocentes.
Durante quase todo o período tempestuoso da Covid-19 o prefeito de Santo André esteve à frente do Clube dos Prefeitos, quer diretamente, quer como iluminado influenciador de terceiros, sempre com o suporte de forças políticas e empresariais de Santo André, além da mídia chapa-branca.
A rota de direção da regionalidade durante a pandemia foi um atentado à objetividade. Não houve uma ação sequer que colocasse a regionalidade em primeiro plano. Mais que isso: nenhuma medida que saísse do padrão normativo de mediocridade que praticamente dominou a administração municipal e estadual no País foi introduzida para combater a pandemia.
PILOTO AUTOMÁTICO
E não se deu tamanha vocação à inutilidade sem que se mostrasse no mosaico de regionalidade algumas ideias. Uma das quais, que remeti diretamente à direção do Clube dos Prefeitos, dava conta de criar forças tarefas municipais contando com a participação maciça de funcionários comissionados que, em larga escala, só provocam custos ao Erário.
Sugeri que comissionados das prefeituras fossem preparados, treinados e qualificados para atuarem em cada bairro. Mais detalhes sobre a atuação que os comissionados teriam se tornam desnecessário agora. Houve, vejam só, experiências semelhantes e exitosas no Exterior. As unidades médicas contariam com o desafogo de primeira triagem nos bairros. As filas de atendimento seriam reduzidas.
O resumo da ópera é que o ABC Paulista como um todo ofereceu um cardápio de horrores quando se colocam as mortes por Coronavírus no padrão de letalidade internacional, dividindo-se o total pelo número de habitantes.
MAIS MORTES
Morreram 30% mais moradores da região do que na média nacional. A participação de mortes por 100 mil habitantes se rivalizou com o Distrito de Sapopemba, na Capital, de configuração econômica e social menos avançada que a média regional. O simples enunciar de que a região empatou o jogo macabro com Sapopemba é um atestado de óbito organizacional.
Não bastasse tudo isso, o que se tem também como rescaldo do período da Covid-19 é o estrondoso escândalo de roubalheiras perpetradas pela Central de Compras da Fundação do ABC, sob a tutela de assessores de Paulinho Serra. Milhões foram desviados segundo apuração da Controladoria-Geral da União.
PARTIDARIZAÇÃO
A partidarização de cargos de relevo no Clube dos Prefeitos obedeceu a um ritual jamais visto ao combinar duas enfermidades letais à regionalidade.
A primeira, a partidarização em si, ou seja, transformar o Clube dos Prefeitos e a Agência de Desenvolvimento Regional, entidades sob o controle do prefeito dos prefeitos de plantão, em ramais de interesses políticos.
A segunda, a requisição de profissionais para o comando das duas instituições sem que contassem com qualquer vivência regional.
Um desses profissionais atuou como prefeito do Distrito de Pinheiros, na Capital, cuja similaridade com a realidade regional é tão bem encaixada quanto sugerir que o Jabaquara é um rival à altura do Palmeiras. Acácio Miranda, hoje secretário de Planejamento de Santo André, integra um jogo de transversalidades partidárias que submetem Paulinho Serra, no âmbito de prefeito de Santo André, às rédeas curtas de poderosos políticos estaduais.
A decisão de Paulinho Serra colocar um estranho no ninho da regionalidade porque estava de olhos bem abertos no futuro individual é um fato raro na história da instituição. Acácio Miranda provavelmente não saberia distinguir a geografia que separa o Bairro Cata Preta de Vila Curuçá.
DESFALQUE DESABONADOR
Para completar o circo de horrores diretivos comandado por Paulinho Serra, o Clube dos Prefeitos perdeu a participação de duas das principais cidades. São Bernardo do prefeito Orlando Morando e São Caetano do prefeito José Auricchio não aceitaram a condução do prefeito de Mauá, Marcelo Oliveira, ao comando da entidade.
Havia um encaminhamento que colocaria o experiente prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior, como presidente do Clube dos Prefeitos, e José Auricchio atuaria como vice-presidente.
O que aconteceu no intervalo de tempo que culminou no afastamento dos dois prefeitos está sujeito a polêmicas, mas a situação não afasta uma realidade incontestável: Paulinho Serra, presidente do Clube dos Prefeitos que saia, não conduziu a contento o processo de transição.
Nas demais tarefas que competiam a Paulinho Serra como presidente ou principal influenciador do Clube dos Prefeitos, sobretudo no campo de Desenvolvimento Econômico, a situação degringolou de vez, muito abaixo, portanto, dos antecessores, que, em raras situações depois do brilhantismo de Celso Daniel, ofereceram respostas firmes à desindustrialização continuada e ao esfarelamento da mobilidade social de uma região que era referência nacional de crescimento econômico nos anos 1970-1980.
COZINHEIRO DESASTRADO
Para se ter uma ideia mais precisa do que significam os anos em que Paulinho Serra mandou direta ou indiretamente no Clube dos Prefeitos, pense em dois cozinheiros. O primeiro de um restaurante fino. O segundo de um restaurante pé-sujo, de beira de estrada. Pensou?
Pois o cozinheiro de restaurante fino seria um Paulinho Serra prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos em estágio reformista, atento às nuances de fragilização da economia e da institucionalidade da região. O prefeito dessa casa de busca à reorganização e reencaminhamento de mudanças jamais chegou a existir.
Já o cozinheiro de restaurante de beira de estrada seria um Paulinho Serra prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos desperto à escassez de alternativa culinária, mas disposto a apresentar uma comidinha honesta e atendimento camarada.
Paulinho Serra não foi nem um cozinheiro de clientela mais requintada nem um cozinheiro de caminhoneiros esfomeados.
Paulinho Serra à frente da regionalidade do ABC Paulista se tornou incapaz de preparar qualquer prato que matasse a fome de transformações há muito indispensáveis à região.
Paulinho Serra deixou um rastro de fraturas institucionais, divisionismo político-partidário além da conta e um gosto insuperável por manchetes vazias, além de uma porção significativa de responsabilidade pelos números da Covid na região.
Paulinho Serra recebe nota zero de zero a dez no quesito Regionalidade. Orlando Morando e José Auricchio ficam com a nota três. Abaixo, portanto, da média cinco da maioria dos antecessores pouco resolutivos.
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