Política

Velha Imprensa e Estado são
grandes derrotados no debate

  DANIEL LIMA - 08/08/2022

O primeiro debate eleitoral para o governo paulista, ontem à noite na TV Bandeirantes, não teve vencedores entre os cinco participantes (notadamente entre os três que de fato disputam o Palácio do Bandeirantes) mas mostrou mais uma vez que tanto a Velha Imprensa quanto o Estado ineficiente precisam ser observados mais de perto.  

A Velha Imprensa foi mais uma vez desmascarada por conta de omissões e imprecisões. Isso acontece a cada disputa eleitoral, sempre que o futuro de cada candidato está na reta.  

A Velha Imprensa de fofocas e tendenciosa precisa mergulhar mais constantemente nos mares sempre protegidos de gestores públicos.  

Incursões seletivas que não têm outra razão senão dourar a pílula de suposta independência e pluralidade não colam mais nestes tempos de irritadiças redes sociais.  

BANHO DE REALIDADE  

E o Estado desmorona como agente intermediador e principalmente executor de políticas públicas quando seus representantes ou pretensos representantes também querem salvar a própria pele e revelam, sem pudores, o que se passa nas quatro linhas dos gramados oficiais.  

Nada melhor que um banho de realidade na temporada de salve-se-quem-puder de disputas eleitorais para entender as esferas de poder do Brasil.  

O que a Velha Imprensa desperdiça em forma de omissões e desinformações é revelado com crueza de detalhes a cada intervenção dos contendedores, candidatos a um pedaço da pesadíssima carga tributária de um País que insiste em jogar o futuro no lixo.  

VELHA IMPRENSA  

A Velha Imprensa é pior que qualquer um dos piores candidatos porque passa ano, entra ano, e não se corrige, não procura sair da pasmaceira do varejismo muitas vezes manipulador de informações e de descaso ao que realmente pode fazer a diferença no futuro.  

O partidarismo e a ideologia, além de interesses outros, permeiam o mundo da Velha Imprensa metida a instância política agora em forma de consórcio pretensamente sanitário, origem surrupiada por pendores de grandiloquências ideológicas.   

Era impossível ficar indiferente a cada intervenção dos concorrentes ao Palácio dos Bandeirantes ontem à noite. E se lamentar com a montanha de ressalvas à atuação de cada concorrente. Principalmente àqueles que já experimentaram ou experimentam ou nadam de braçadas nas águas do Estado, no caso a direção do Palácio dos Bandeirantes. 

Obras paralisadas, buracos na atenção social, desigualdade econômica, improdutividades setoriais, modelos educacionais sem laços com a riqueza produtiva, tudo ou boa parte do compêndio de pecados capitais do Estado nacional, que arrecada como poucos e entrega quase nada, desfilou ontem à noite na tela da Bandeirantes e nas plataformas digitais.  

ENREDO MACABRO 

Nem os concorrentes nem a audiência provavelmente notaram que cultuaram um enredo macabro àqueles que ainda batem na tecla surrada de mais Estado, mais impostos, mais isso e aquilo com as digitais do setor público.  

Não há muita margem de manobra intelectual para apontar entre os três principais candidatos ao governo do Estado quem tenha tido mais destaque e, portanto, deixado os outros dois para trás num primeiro embate que ganhará elasticidade de audiência nas redes sociais.  

O petista Fernando Haddad, o tucano Rodrigo Garcia e o republicano Tarcísio de Freitas tiveram momentos de conforto e desconforto verbal nos antagonismos que colocaram ao público. A estratégia central da campanha de cada concorrente ficou bem definida. 

HADDAD MIRA RODRIGO 

A Fernando Haddad cabe em primeiro lugar, até eventual mudança, acertar em cheio o candidato tucano, retirando-o de esperado segundo turno no qual, ele Haddad, teria participação garantida.  

O petista sabe que, com um pouco mais de 30% dos votos que as pesquisas apontam, já tem lugar garantido. E que é preciso escolher o adversário.  

Rodrigo Garcia o inquieta mais por causa da estrutura partidária num Estado em que os tucanos dão as cartas há mais de três décadas.  

Tirar Rodrigo Garcia do jogo é essencial, embora a medida possa prejudicar o candidato Lula da Silva num eventual segundo turno presidencial entre os paulistas. Uma escolha de Sofia? O tempo dirá.  

NEUTRALIDADE  

Para Rodrigo Garcia, o campo estará mais iluminado a um pouso tranquilo se fugir de extremismos petistas e bolsonaristas. Garcia não quer cometer o erro letal do antecessor no governo paulista. João Doria apostou numa terceira via abrasiva, conflitante, e se deu mal --- por mais que tenha sido eficiente no campo sanitário com o combate ao Coronavírus. Queimou-se na vertente econômica do fecha-tudo.  

Por isso, Rodrigo Garcia quer se segurar como a melhor opção entre os que relutam aos mais conflitivos estoques de direitistas e esquerdistas no cenário nacional.  

Provar-se conciliador, alguém que não colocaria a direção do Estado de São Paulo em perigo, é a diretriz que o fez pautar-se por serenidade, lucidez e estocadas diplomáticas durante o debate de ontem à noite. Nesse ponto, foi bastante convincente. Bem mais que a imagem de lentes de óculos refletidas em excesso pelos holofotes.  

CORONAVÍRUS  

Já Tarcísio de Freitas, ex-ministro de Infraestrutura de Jair Bolsonaro, homem com imagem de eficiência técnica, sabe que os adversários vão cutucá-lo sempre por ter a companhia de um presidente que fez uma porção de barbeiragens no campo sanitário.  

Esse é um ponto do qual Tarcísio de Freitas provavelmente fará tudo para mitigar. Tanto quanto a própria viabilidade eleitoral ao se juntar a nomes de políticos velhos de guerra que constam da ficha cadastral da Lava Jato, como lembrou ontem o candidato do Novo, Vinicius Poit.  

O fato é que o debate de ontem na Bandeirantes foi de bom nível técnico, por assim dizer.  

UM CLÁSSICO  

Transposto para o ambiente futebolístico, foi um clássico mais que palatável. Nada de uma decisão de mata-mata, que exacerba os ânimos. Mas também não foi um amistoso entre solteiros e casados.  

O debate foi um jogo jogado com segurança entre os competidores. Cada candidato procurou se cercar de questionamentos e respostas que não abrissem demais a retaguarda e comprometessem futuros embates de tanta visibilidade. 

Alguns pontos básicos de fraquezas dos três principais concorrentes deverão ser explorados à exaustão, mas até prova em contrário não parece que serão no âmbito estadual tão provocadores de emoções como na disputa presidencial.  

LAVA JATO 

Talvez quem mais terá de lidar com a prestação de contas do passado e que por isso mesmo tem o poderio bélico delimitado para um segundo turno é o candidato petista Fernando Haddad.  

A sombra da Lava Jato poderá ser decisiva num eleitorado conservador como o paulista, embora recentes pesquisas coloquem o indicador de corrupção muito aquém dos níveis decisivos de 2018.  

Tarcísio de Freitas terá de enfrentar os fantasmas que estão fora do armário do presidente Jair Bolsonaro e também a indução dos adversários de que seria um oportunista por ter desembarcado candidatura em São Paulo após supostos voos preliminares a outras paragens eleitorais.  

ESTRANHO NO NINHO  

A etiquetagem de estranho no ninho paulista, entretanto, tem limite indutivo. O fardo sanitário de Bolsonaro possivelmente será mais comprometedor. Assim como os bônus de um terço de eleitorado fixo que o presidente da República carrega.  

Por essas e por outras Rodrigo Garcia vai mesmo caprichar no figurino de neutralidade ideológica e de eficiência do maior Estado da Federação, o que, evidentemente, precisa sustentar diante de provas em contrário, conforme se viu ontem à noite.  

Resta saber até que ponto, até que momento, Rodrigo Garcia sustentará o equilíbrio de discurso de experiência no ramo administrativo e também emocional para transmitir aos eleitores o que parece ser a principal peça do mosaico com o qual pretende desenhar a faixa de vencedor da disputa paulista – ou seja, a garantia de que, diante da suposta ameaça de dois extremos em conflito permanente na atmosfera nacional, é o melhor antídoto e a estabilidade democrática.   

AMBIENTE NACIONAL  

Rodrigo Garcia sabe que precisa escapar do encapsulamento que fez de João Doria o maior perdedor da política nacional nos últimos tempos, embora, contraditoriamente, tenha se destacado como gestor público.  

Até que ponto o debate ao governo do Estado de São Paulo será menos suscetível às refregas nacionais de genocida versus quadrilheiros? Esse é o grande desafio do candidato tucano. Por isso o PT estadual tanto o temeria num eventual segundo turno.  

O PT preferiria um candidato bolsonarista porque sonha com a conversão de boa parte do eleitorado de centro e de centro-direita à candidatura de Haddad. Numa disputa com Rodrigo Garcia, esses mesmos blocos de eleitores optariam  em maior escala pelo candidato tucano. 

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