Esportes

Paulinho Serra define termos
de concessão do Bruno Daniel

  DANIEL LIMA - 20/07/2022

O prefeito Paulinho Serra garantiu ontem em encontro com este jornalista que a concessão do Estádio Bruno Daniel ao Esporte Clube Santo André já está desenhada. Agora só falta ser formatada e resolvida em termos jurídicos. A medida atenderá as demandas para a agremiação tornar-se clube-empresa, adotando a legislação da SAF -- Sociedade Anônima do Futebol.  

O futebol competitivo de bola redonda à base de paixão está com os dias contados. Vai ter cada vez mais espaço o mercado do futebol de gravata. É assim cada vez mais no mundo inteiro. E não será diferente no Brasil.  

O Esporte Clube Santo André vai virar Santo André Sociedade Anônima se depender do prefeito de Santo André. Palavra do prefeito de Santo André, nascido em Santo André em 1973, seis anos depois da fundação do Esporte Clube Santo André.  

PRAZO DE CARÊNCIA 

Não poderia haver notícia melhor, mas há condicionante que deve ser aplaudida: o Esporte Clube Santo André terá seis meses para encontrar investidores dispostos a dar ao futebol da cidade uma nova configuração, caminhando a novos rumos. Depois desse período, a Prefeitura poderia reformular os termos de concessão.  

O conceito da concessão possivelmente será definitivo: não se pretende criar obstáculos para que o Santo André dê um salto rumo ao futuro. 

Os seis meses de condicionante na verdade são seis meses de proteção ao clube que desde 1967 coloca Santo André nas manchetes esportivas. O prefeito Paulinho Serra poderia simplesmente repassar de imediato, assim que a concessão fosse aprovada, todos os custos de manutenção do Estádio Bruno Daniel.  

POUPANDO CUSTOS  

Os seis meses de prazo são um período que, ao mesmo tempo em que evita gastos suplementares do orçamento de um clube que vive dificuldades financeira, seria suficiente às tratativas com investidores. E, mais que isso: que as tratativas tenham os termos de concessão legitimados e sem contratempos posteriores. 

O prefeito Paulinho Serra assegura que quer ver o Esporte Clube Santo André potencializado, independentemente do modelo jurídico que a agremiação decida adotar.  

O titular do Paço Municipal acredita que com a medida, agora em fase de execução formal, a direção do Santo André já pode seguir ou iniciar entendimentos com eventuais parceiros.  

AMPLOS DIREITOS  

Uma das cláusulas que vai constar da concessão do Estádio Bruno Daniel é que o Santo André Sociedade Anônima terá amplos direitos de administrar o local. A medida é essencial. Não há a menor possibilidade de o Santo André amealhar parceiros caso não seja oferecida a garantia de gestão do espaço.  

Tanto é verdade que sem a concessão em termos garantidores de autonomia o Santo André não seguiria em busca de parceiros. Em contatos preliminares, essa premissa se mostrou inegociável aos investidores.  

Ou seja: não há quem invista numa agremiação sem ter garantias de que não será surpreendido com o rompimento da concessão. 

O prefeito Paulinho Serra sabe disso. Tanto que na entrevista a este jornalista assegurou que tudo que combinar legalidade da decisão e fortalecimento do futebol da cidade será rigorosamente adotado.  

FARTOS EXEMPLOS  

Paulinho Serra sabe que há profusão de exemplares jurídicos de clubes que receberam concessões de prefeituras ao longo dos anos, e mais recentemente também sob o pressuposto de parcerias como a pretendida pelo Santo André.  

A impressão que o titular do Paço de Santo André deixou durante o encontro com este jornalista é de não permitirá e não incentivará qualquer alternativa que tente inventar a roda da concessão.  

Não haveria, portanto, nenhuma iniciativa para colocar pedras no caminho. O processo já está lento demais, levando-se em conta que a SAF foi promulgada há quase um ano.  

PASSADO, PASSADO 

As indecisões demonstradas pelo Paço de Santo André à concessão do Estádio Bruno Daniel não foram pauta do encontro que este jornalista teve com o prefeito. A preferência por uma agenda sem carregamento do passado prevaleceu.  

As indefinições geraram críticas já superadas diante do interesse maior, ou seja, de que o Santo André tenha a efetiva oportunidade de colocar o bloco da SAF no gramado do Estádio Bruno Daniel e também em forma de responsabilidade social fora das quatro linhas.   

A concessão do Municipal deverá seguir ritual veloz e garantidor de direitos e obrigações que seriam automaticamente repassados aos investidores no Esporte Clube Santo André.  

TUDO AUTORIZADO  

A transformação do Esporte Clube Santo André em Santo André Sociedade Anônima já está autorizada pelo Conselho Deliberativo e pela Diretoria Executiva. Agora só faltar tornar realidade o que a potencialidade jurídica garante.   

Os seis meses de prazo que a Prefeitura de Santo André dará ao Esporte Clube Santo André para se tornar Santo André Sociedade Anônima poderiam resultar na disputa da Série A da próxima temporada já sob o controle acionário de empreendedores ligados ao futebol, preferencialmente. 

Explica-se: a direção do clube pretende repassar 90% das ações do Santo André Sociedade Anônima a um grupo de investidores que tenham lastro no futebol e que, por conta disso, ofereçam maiores garantias de que o sucesso dentro de campo passará a ser frequente. 

MUITAS FÓRMULAS 

Entretanto, no mundo do futebol de negócios não há fórmula única e acabada. É possível, quando não provável, a junção de duas porções: de investidores que entendam de investimentos, sejam quais forem os investimentos em ativos, e parceiros especializados em futebol, gente do ramo que tanto sabe produzir atletas nas divisões de base como na operacionalidade de resultados no time principal.  

É muito provável que se conseguir sensibilizar uma parceria nos moldes da SAF o Santo André teria essa combinação de especialidades, ou seja, de gente que sabe o caminho das pedras de transformar dinheiro em mais dinheiro e gente que também sabe o caminho das pedras de transformar talentos jovens em negociações robustas.  

DATAS RESERVADAS  

Um dos pontos que abordei no diálogo com o prefeito de Santo André e que não deverá causar qualquer entrave à aprovação dos termos de concessão é que o Estádio Bruno Daniel poderia ser utilizado em um determinado limite de datas anuais por equipes do futebol amador, especialmente em disputas de títulos.  

Inaugurado em 14 de dezembro de 1969 num amistoso em que o Santo André perdeu de quatro a zero para o então campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, a Sociedade Esportiva Palmeiras, o Estádio Bruno Daniel sempre conviveu com um gramado irregular. O piso argiloso era um convite à trepidação e à aridez.   

Entretanto, no ano passado, após servir de espaço a hospital de campanha no combate ao Coronavírus, o estádio recebeu gramado sintético. A diferença em durabilidade e em uniformidade do piso em relação ao gramado natural é visível, mas os custos de manutenção são elevados porque requerem cuidados especiais.  

SEM OPOSIÇÃO 

Alguns canais de resistência à concessão do Estádio Bruno Daniel ao Esporte Clube Santo André parecem esgarçados no Paço Municipal.  

O prefeito Paulinho Serra preferiu não comentar ou confirmar o ambiente de dissidência. A convicção de que o melhor mesmo é preparar a concessão e oferecer seis meses de carência para o Esporte Clube Santo André encontrar o parceiro ideal prevaleceu no encontro que mantivemos.  

O que transpirou é que a Prefeitura de Santo André será facilitadora da mudança jurídica e esportiva do Esporte Clube Santo André sem, portanto, fazer concessões a terceiros que eventualmente têm interesse na gestão do Estádio Bruno Daniel.  

A iniciativa não encontra respaldo sensato, porque o local foi construído exatamente para ser o palco dos jogos da equipe.  

MUITA PRESSÃO 

O Santo André vive situação emergencial no futebol, pressionado pelos custos, pela valorização das competições e também pela concorrência cada vez mais profissionalizada, que adota modelos empresariais múltiplos e correndo contra o tempo para não esticar as dificuldades que parecem se perpetuar.  

Tanto que mais uma vez disputou a Quarta Divisão do Campeonato Brasileiro (Série D) e ficou pelo caminho. Nada que não fosse esperado. A folha de pagamento (os investimentos na competição) não passou de 20% da média das equipes que chegaram à fase de mata-mata.  

Agora o desafio do Esporte Clube Santo André é chegar a investidores que queiram explorar economicamente, e culturalmente também, o mais tradicional e mais importante clube de um Grande ABC de quase três milhões de habitantes e um dos maiores mercados consumidores do País. Um dos cinco maiores mercados, quando se leva em conta o território de 800 quilômetros quadrados e alta densidade demográfica.  

O Grande ABC é uma geoeconomia especialíssima. Não fosse a divisão cartográfica, seria uma réplica demográfica de Belo Horizonte e muito maior que Porto Alegre, entre dezenas de exemplos. Até mesmo o ônus de se localizar na vizinhança da Capital de grandes equipes encontrou alternativa de drible com a massificação das redes sociais. Santo André tem autonomia tecnológica para avançar sobre o mercado de consumidores-torcedores.

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