Sociedade

Uma vez Borralheira,
sempre borralheira (13)

  DANIEL LIMA - 13/07/2022

ESTADO DE SÃO PAULO – Voltou rápido do papo com Brasília, Grande ABC. Parece que a coisa era simples, então? 

GRANDE ABC – A gente é que torna as coisas simples ou complexas. Depende da capacidade resolutiva, da premissa de que tempo é dinheiro. Despachei Brasília rapidinho porque sei que vocês querem ir embora e estamos na última etapa. Vamos apressar os passos, então. 

SANTO ANDRÉ – Não vai nos contar o que falou com Brasília, Grande ABC? Vai nos esconder? 

DIADEMA – Não acredito que o Grande ABC seria capaz disso. 

MAUÁ – Nem eu. 

GRANDE ABC – Parem, parem, por favor. Se não pararem vou esticar esse nosso encontro até de madrugada. Estou fazendo o possível para dar um jeito de sairmos logo. Até cancelei o jantar. Acho que esgotamos a pauta. Agora vamos tratar de questões finais. 

SÃO BERNARDO – E vai insistir em não falar do telefonema de Brasília? 

RIO GRANDE DA SERRA – Sou tão pequenininho que nem ouso intervir com sugestão, mas acho que meus irmãozões estão certos, excelentíssimo Grande ABC.  

SÃO CAETANO – Se a minúsculo Rio Grande da Serra pode falar, também posso. E espero que o Grande ABC conte o telefonema de Brasília. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Estou pouco interessado nisso, porque sou grande e poderosa o suficiente para Brasília vir até mim quando eu quiser. E se me interessar. 

GRANDE ABC – Vou ser breve sobre Brasília. Foi um telefonema confuso, chato, tinha dois interlocutores do outro lado da linha, um tomando o lugar do outro para falar comigo.  

SÃO CAETANO – Como assim, Grande ABC. Quem eram? 

GRANDE ABC – Tão óbvio, tão óbvio. O presidente e o ex-presidente. Um deles vai tomar posse em janeiro do ano que vem. Eles disputaram o telefonema para dizerem que estarão à nossa disposição. Que preparemos as pautas. 

RIO GRANDE DA SERRA – Êba, êba, é isso que interessa. 

GRANDE ABC – Deixe de ser estúpido, Rio Grande da Serra. Isso é conversa mole para boi dormir faz carradas de anos.  

SÃO BERNARDO – Também acho. 

SANTO ANDRÉ – Quem sabe tem mudança agora que a política mudou? 

GRANDE ABC – Será que vocês não entenderam o que eu disse assim que esse encontro começou? Brasília somos nós. Para o bem e para o mal. Se nos organizarmos como coletivo de verdade, a gente passa a fazer de Brasília. Poderemos ganhar muito em uma série de mobilizações. Sem isso, dependendo apenas dos interesses de Brasília, sem que a gente se organize, continuaremos com políticas pontuais, clientelísticas. Nada além disso.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Então o que você fez com o presidente e o ex-presidente? 

GRANDE ABC – Claro que fui educado, que disse confiar nos dois, agradeci e abreviei a conversa dizendo que estávamos fechando esse encontro. Eles entenderam, se derramaram em elogios e mandaram um abraço geral.  

ESTADO DE SÃO PAULO – E você está satisfeito, Grande ABC? 

GRANDE ABC – Nada se alterou em relação ao que penso. Aliás, não é diferente, com todo o respeito do que penso sobre você, Estado de São Paulo. Por isso sugeri que tome a iniciativa de chamar a gente para uma conversa sobre maior integração entre nós. Dê o pontapé inicial que depois o jogo passa a ser comandado por aqui, porque sabemos que sua agenda é recheadíssima.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Perfeito. Vamos mudar de guarda no Palácio dos Bandeirantes, independentemente das cores da bandeira, e é uma grande oportunidade a inovações. 

GRANDE ABC – Agora vamos tratar do que mais interessa e que finalizará esse encontro. 

SANTO ANDRÉ – Fale, Grande ABC. 

SÃO BERNARDO – Estou ansioso. 

GRANDE ABC – Vamos tratar do próximo encontro. Tenho uma ideia que acho bastante interessante, mas dependo de aprovação geral. 

SÃO CAETANO – Vamos em frente. 

GRANDE ABC – Demoramos 20 anos para marcar um segundo encontro. O primeiro praticamente homenageou o Celso Daniel, por conta da violência que sofreu. Mas não perdemos tempo e debatemos nossos maiores problemas. Agora que tudo isso está mais que cristalizado, não poderemos demorar para monitorar os acontecimentos, os projetos, os planejamentos que por certo virão. 

MAUÁ – Continue, Grande ABC. 

GRANDE ABC – Proponho que a gente faça reuniões como essa a qualquer momento, desde que o momento seja relevante. Quem sabe o primeiro antes das eleições de outubro? Seria uma maneira de atualizar o quadro regional e definir algumas estratégias. 

DIADEMA – Gostei da ideia, gostei da ideia. 

GRANDE ABC – Se Diadema, que é rebelde, gostou da ideia, acho que não precisamos nem colocar em votação. Está aprovado. 

SANTO ANDRÉ – Espere um pouquinho, Grande ABC. Por que não realizar o encontro de forma virtual. Eu tenho investido muito em tecnologia de comunicação. Tenho tudo em tempo real. 

SÃO BERNARDO – Acho que Santo André está exagerando. Nada substitui o presencial. Até porque a pandemia está indo embora, a vacina deu grandes resultados e acho que uma reunião em torno de uma mesa é sempre mais produtiva, clara, sincera. 

GRANDE ABC – São Bernardo tem toda a razão. E vejo no semblante de cada um, inclusive de Santo André, que há concordância quanto ao presencial. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Estou interessado em saber se o Grande ABC vai preparar um novo formato físico da mesa, conforme já foi aprovado. Não quero voltar aqui em posição de inferioridade locacional. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Nem eu. 

RIO GRANDE DA SERRA – Para mim, qualquer cadeira serve, qualquer lugar na mesa serve. Sou tão pequeninho. 

RIBEIRÃO PIRES – Eu também. 

GRANDE ABC – Vamos parar de perder tempo com o que não é substantivo. No caso da intervenção do Estado de São Paulo, acho providencial. Vamos ter sim, conforme combinado, um mesão para 10 representações, em formato de decágono. Ou seja: todos terão sua autonomia visual e protetivo do que está fazendo em seu respectivo assento e todos usufruirão das mesmas dimensões. Um mesão de métricas iguais para todos vai acabar com qualquer cheiro de discriminação ou de privilégio que, sei bem, vocês sentem agora.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Então, estamos combinados. Todo mundo junto, igualitariamente em espaços físicos que exalem um ambiente sem resquício algum de predomínio hierárquico. Estou muito feliz porque poderia exigir privilégio ocupacional, mas estou a fim de colaborar. Só espero que vocês se unam e saibam me usar. Afinal, estamos tão próximos, meu Palácio está a um passo dos limites do Grande ABC. É só dar um pulinho e estamos juntos. 

GRANDE ABC – Espero sinceramente que, da próxima vez que decidir por algo como a montagem de um quebra-cabeça, vocês todos superem o desafio, ao invés de chorarem. Não quero dizer que vou repetir a brincadeira nos próximos encontros, mas também não estou dizendo que não vou.  

SANTO ANDRÉ – Até porque, Grande ABC, agora a gente sabe que o quebra-cabeça de construir o mapa do nosso território individual e regional já não será mais um desafio. Será uma moleza. 

GRANDE ABC – E quem disse que um eventual quebra-cabeça terá como resultado o desenho do mapa da região? Quem sabe use outros apetrechos para ver até que ponto vocês estão engajados no projeto de regionalidade? 

ESTADO DE SÃO PAULO -- Para terminar, Grande ABC. Você acha mesmo que deveremos nos reunir antes das eleições 

GRANDE ABC – É muito provável. Estamos tão pertos uns dos outros que não será incômodo. Será uma oportunidade de ouro para buscarmos saídas. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Perfeito, Grande ABC. 

SANTO ANDRÉ – Que barulho é esse? Fogos de artifício? 

GRANDE ABC – Foi a surpresa final que pedi à produção. Nosso encontro é histórico é merece foguetório mesmo.  

CIDADE DE SÃO PAULO – Esse pessoal da periferia gosta mesmo de um balacobaco, mas a gente perdoa. Vamos dizer que vocês, anões vizinhos, estão comemorando um título importante. Contar comigo e com o Estado de São Paulo é mesmo algo a ser comemorado. 

GRANDE ABC – Deixe de ser gozador, Cidade de São Paulo. Estamos todos no mesmo barco. Temos tudo para ganhar em conjunto e perder individualmente. 

ESTADO DE SÃO PAULO – É verdade. Por isso estamos juntos. 

GRANDE ABC – Preparem-se para a próxima reunião, com mesa de dimensões e formato novos. Temos uma briga feia de vermelho e amarelo para a presidência e de vermelho, amarelo e azul para o governo do Estado. Até antes de outubro. E muito obrigado pela presença. 

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