Esportes

Que o novo Santo André não
repita erros fatais da Saged

  DANIEL LIMA - 08/07/2022

Vou reproduzir abaixo, integralmente, um dos muitos e muitos textos que produzi desde sempre sobre as necessidades de o Esporte Clube Santo André virar clube-empresa.  

O assunto é recorrente e, agora, mais que isso: a legislação da SAF, Sociedade Anônima do Futebol, mais que sugere, praticamente obriga as agremiações esportivas a saírem do marasmo rumo a missões de fortalecimento. O Esporte Clube Santo André é um caso típico.  

Reproduzir aquele texto que preparei há 12 anos (há outros aos quais eventualmente poderei recorrer nesse processo de alerta à necessidade de o Santo André virar SAF, apesar dos obstáculos da Prefeitura de Paulinho Serra) é uma maneira que encontrei para refrescar a memória e despertar a cautela sempre que a privatização do Esporte Clube Santo André surgir no radar. 

MODELO DOMÉSTICO  

O modelo doméstico que foi adotado (e sobre o qual faço restrições passageiras no texto abaixo) provou-se inútil, quando não comprometedor.  

A Saged, empresa criada para administrar o Esporte clube Santo André durante cinco anos, foi um fracasso de público, de bilheteria e de hierarquia. O sucesso inicial se encerrou na ponta da experiência em forma de estragos que romperam o tempo. Tenho nos arquivos de CapitalSocial nada menos que 166 textos que fazem referência profunda ou superficial à atuação da Saged.  

MUDANÇAS SOCIAIS  

Se não se deixar levar pelas ondas turbulentas de oportunistas de plantão, de gente que não entende do riscado chamado “negócios do futebol”, que também são um formato de “empreendedorismo do futebol”, o Esporte Clube Santo André terá o que comemorar persistentemente no futuro.  

Ou seja: um modelo de futebol empresarial capaz de revolucionar as relações sociais de que tanto prescinde para liderar um processo que poderia se espalhar pelos demais clubes da região, os principais dos quais já travestidos de empresas.  

O futuro próximo do Esporte Clube Santo André precisa contar com um modelo que somente os investidores com fundamentação em negócios e em organização esportiva podem aplicar. 

PROFISSIONALISMO  

Sei que sei porque sou dado a saber que não faltam na praça municipal gentes que pensam que entendem de empreendedorismo esportivo, mas de empreendedorismo esportivo para valer mesmo, preto no branco, não entendem nada.  

O passado da Saged é recomendável como expressão máxima do que não pode ser reproduzido, porque seria uma prova provada de burrice monumental.  

Ficar distante de injunções políticas e assemelhadas é o primeiro passo para o Esporte Clube Santo André, ao se transformar em Sociedade Anônima do Futebol, entrar no circuito de transformações que já tardam.  

RECUPERAR POSTO  

Recuperar-se na hierarquia do futebol e se instalar na Série B do Campeonato Brasileiro em cinco anos é o ápice da maturidade desejada. A Série A Nacional é outro patamar e que, por isso mesmo, exigiria suplementação organizacional que talvez obrigue esforços redobrados.  

O fracasso da experiência com a Saged está logo abaixo, mas, repito, apenas de passagem. Fiz outros textos aprofundando as dificuldades dessa operação privada. Deverei voltar ao assunto e reproduzir outras análises que fiz no passado (a mídia regional sempre se calou e não registrou praticamente nada sobre as glórias efêmeras e os infortúnios sistêmicos do fracasso) com o objetivo único de plantar alguns pilares que deverão servir de referência às mudanças que virão.  

Acompanhem, portanto, o texto abaixo. O material faz parte da historiografia do futebol regional fora das quadro linhas dos gramados.  

 

 

Aviso a conselheiros e acionistas: é

preciso definir futuro do Ramalhão 

 DANIEL LIMA - 19/04/2010 

Vamos aproveitar o ambiente de euforia mais que justa do Ramalhão em campo (afinal, não é pouca coisa disputar o título paulista) para chamar a atenção e a responsabilidade de conselheiros deliberativos do Esporte Clube Santo André e acionistas do Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva): é preciso reestruturar o quanto antes a matriz contratual do futebol de Santo André. 

Como se sabe e não custa repetir, o EC Santo André é a gênese do Saged. Vai completar três anos que o futebol de Santo André de quatro décadas foi privatizado pelo Saged. O EC Santo André continua com responsabilidade jurídica por muitas das contas que podem ser apresentadas no futuro, como várias que já foram quitadas. Por exemplo: toda a relação contratual com atletas tem o vínculo legal do EC Santo André, não do Saged. 

MAIS 2010 

Se o Saged contabilizar lucros, muitos lucros, o Santo André ficará com naco correspondente a 20 das 100 cotas negociadas com investidores. Se der prejuízo, a conta vai ultrapassar em muito esse limite. Afinal, é o EC Santo André que está potencialmente na berlinda. 

Para encurtar a história, porque já escrevi alguns artigos sobre o assunto nos últimos dias, todos disponíveis neste site, exponho três alternativas para que a gestão do futebol em Santo André não seja contaminada por descompassos. 

MAIS 2010  

Primeiro: que o Saged se desvincule formalmente o quanto antes da companhia do Esporte Clube Santo André e torne-se algo como Grêmio Santo André. Desta forma, assumiria todas as responsabilidades e vantagens da gestão independente que mantém. Isso mesmo: o EC Santo André não tem participação nos destinos do Saged, formado por acionistas sob a liderança e controle societário do empresário Ronan Maria Pinto. A representação institucional do Santo André no conjunto de acionistas é formal. Quando o Saged tomar essa providência, o EC Santo André não correrá o risco de sofrer duras perdas financeiras nem usufruirá de possíveis lucros de agiotagem, porque, repito, não tem nenhum poder de gestão do empreendimento privado sobre o qual não endereço preconceito algum. Muito pelo contrário: empresa é para dar lucro. Empresa de futebol que dá lucro certamente é empresa vitoriosa dentro de campo. 

MAIS 2010 

Segundo: que o EC Santo André reivindique a devolução do comando do futebol ao Saged, entre outros motivos porque o clube-empresa deixou de cumprir cláusulas contratuais que constam do estatuto social — embora o teor desse instrumento seja segredo para acionistas do Saged e principalmente para dirigentes e conselheiros do EC Santo André. 

Terceiro: que o EC Santo André e o Saged firmem acordo de corresponsabilidade diretiva de tal ordem que o passado e o presente de glórias do futebol sejam respeitados e as decisões, compartilhadas. Aliás, foi sob essa perspectiva que se aprovou o projeto de fortalecimento do futebol de Santo André. Tanto que o ex-presidente do EC Santo André, Jairo Livolis, e o em seguida igualmente presidente do EC Santo André, Celso Luiz de Almeida, ocuparam cargos decisórios no Saged dos primeiros tempos. Acabaram, tanto eles quanto o Esporte Clube Santo André, soterrados por Ronan Maria Pinto. 

MAIS 2010 

A melhor opção seria a terceira, porque preencheria os propósitos da transferência do futebol para o Saged. Entretanto, não creio que tenha sustentação. Possivelmente, se anunciada, não passaria de embromação. As características empresariais de Ronan Maria Pinto, que multiplica impetuosidade, individualismo, controle absoluto da situação e interesses que vão muito além do futebol, definitivamente seriam contestadas pela direção do EC Santo André. Menos, se a direção do EC Santo André fingir que de fato compartilha o poder. Seria uma aproximação para inglês ver. 

A opção mais viável é mesmo a criação do Grêmio Santo André, aproveitando-se de jurisprudência que permitiu a formação do Grêmio Prudente sem colocar em risco a posição hierárquica daquele clube-empresa nas esferas estadual e nacional. Desta forma, Santo André continuaria a contar com representação no futebol. É claro que será preciso acertar as contas do contrato que reservou 20 cotas ao EC Santo André. Aliás, um contrato leonino para o clube do Parque Jaçatuba, que detinha integralmente a patente do futebol como também imensa lista de jogadores. 

MAIS 2010 

A opção menos potencialmente factível (pelo menos enquanto não surgir na praça outro grupo de interessados no futebol da cidade) é a devolução do futebol ao Esporte Clube Santo André. Quando resolveu entregar a rapadura, em 2007, Jairo Livolis havia esgotado todas as tentativas para manter o futebol competitivo. Com Ronan Maria Pinto o Santo André elevou os níveis de investimentos e de recursos estruturais. Entretanto, como não há informações oficiais sobre as finanças do Saged, o que prevalece é imenso ponto de interrogação. Estaria o Saged afundado em dívidas ou nadando em dinheiro? Qualquer que seja a realidade, as 20 cotas do EC Santo André exigiriam prestação de contas. Entretanto, não há no EC Santo André ninguém com disposição para encaminhar o assunto. O que estaria fazendo o Conselho Deliberativo nestas alturas do campeonato? 

MAIS 2010 

O que vai acontecer no futebol do Santo André dependerá de conselheiros e dirigentes do Esporte Clube Santo André e dos acionistas do Saged. Quem continuar negligenciando e empurrando com a barriga terá de prestar contas à sociedade civil. 

Vamos comemorar para valer os resultados do Ramalhão. Mas não vamos esquecer o dia seguinte. Não faltam exemplos na praça de que depois da bonança de bons resultados em campo costuma vir a tempestade de complicações administrativas e financeiras fora de campo. 

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