Sociedade

Uma vez Borralheira,
sempre Borralheira (11)

  DANIEL LIMA - 29/06/2022

GRANDE ABC – E aí, pessoal, estamos de volta do cafezinho com uma surpresa para todos. Estão vendo essa caixa de papelão aqui ao meu lado? E claro que estão vendo. O que quero saber de vocês é o que acham que tem aqui dentro? 

ESTADO DE SÃO PAULO – Desculpe, Grande ABC, mas você mesmo disse que a gente vai terminar esse encontro sem a necessidade do jantar, porque estamos em tempo de contenção de despesas. Então, não dá para dizer logo o que tem aí? 

CIDADE DE SÃO PAULO – Tem razão, Estado de São Paulo. Já que a gente vai voltar logo, não vejo a hora de pegar o caminho da roça. O trânsito em dia útil nas minhas terras é sempre uma aventura. Ninguém dá jeito nos engarrafamentos. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Imagine então, Cidade de São Paulo, se não houvesse o Rodoanel? Você iria ver o que é bom para a tosse. Ou vai dizer que o Rodoanel não deu uma boa aliviada, deslocando principalmente veículos pesados em direção à Baixada Santista e da Baixada Santista em direção ao Interior?  

CIDADE DE SÃO PAULO – Agradeço mesmo pelo Rodoanel, porque do jeito que a frota de veículos cresceu neste século e do jeito que constroem torres de apartamentos nos mais diferentes cantos, acho que estaria estrangulado. Até porque, como você sabe, Estado de São Paulo, as linhas de metrô não avançam conforme a necessidade. Tenho 12 milhões de habitantes e uma vizinhança de mais de 10 milhões. E todo mundo me ocupa.  

SÃO BERNARDO – O Rodoanel pode ter feito bem para você, Cidade de São Paulo, mas para mim, acabei de descobrir, virou um problemão. Você, Cidade de São Paulo, é diversificada na economia e sabe se virar. Comigo é outra coisa. Minhas indústrias encontraram no Rodoanel uma válvula de escape e saíram em direção à região de Osasco, de Barueri, onde, entre outras vantagens, o preço da terra é mais barato e a logística do Rodoanel é uma maravilha à produtividade.  

GRANDE ABC – São Bernardo lembrou bem, Estado de São Paulo. O Rodoanel foi um presente de grego porque encalacrou quase que totalmente os meus municípios. São poucos os acessos internos pelo Rodoanel. Quem ganhou com isso foram Osasco, Guarulhos, Barueri, e outros mais, e a Baixada Santista. Fiquei a ver navios.  

CIDADE DE SÃO PAULO – Gostei do trocadilho, Grande ABC. Ver navios é de lascar. Masoquismo econômico e social puro. 

SANTO ANDRÉ – Fico impressionado ao ver a reclamação de São Bernardo. Quem tem de chorar as pitangas sou eu. Desde que inventaram a Anchieta e a Imigrantes, ou seja, muito antes do Rodoanel, caio pelas tabelas industriais. Meu PIB encolheu o tempo todo. Perdi competitividade logística. Ainda mais que a Avenida dos Estados é o fim da picada com congestionamentos, maus-tratos de manutenção e tudo o mais. 

SÃO CAETANO – Ei, Santo André não esqueça que estou no mesmo barco furado de logística e de mobilidade urbana. Somos vizinhas, já fomos um único endereço, e a Avenida do Estado está para mim assim como está para você. Dançamos juntos essa velharia em forma de via supostamente rápida e integradora.  

GRANDE ABC – Embora considere as intervenções providenciais, porque havíamos esquecidos os estragos do Rodoanel em nossa economia, acho melhor retomar o que estávamos colocando como novidade após o cafezinho, ou seja, a caixa de papelão que está sobre meu canto privilegiado de mesa e o que está acondicionado. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Acho ótima a ideia, mas vou pedir mais um minuto para poder esclarecer um ponto importante sobre o traçado do Rodoanel. Vocês não têm muito direito à reclamação de que ficaram isolados por duas razões. 

GRANDE ABC – Quais, Estado de São Paulo. 

MAUÁ – Conta aí, Estadão. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Já disse para não me chamarem de Estadão. Tenho nome e sobrenome e nenhum deles tem qualquer parentesco com o jornal. 

RIBEIRÃO PIRES – Calma, Estado de São Paulo. Minha vizinha velha de guerra só está brincando. 

RIO GRANDE DA SERRA – Já imaginaram se fosse eu que estivesse brincando com o Estado de São Paulo? Sou tão pequenininha. 

GRANDE ABC – Fale sobre as duas razões, Estado de São Paulo. 

ESTADO DE SÃO PAULO –Primeiro e claramente: vocês não tiveram capacidade de mobilização regional para influenciar a construção do Rodoanel em termos econômicos. Obras físicas sem cuidados econômicos podem ser um tiro no pé. E foi o que aconteceu. Aliás, somente o prefeito de Mauá à época, o Oswaldo Dias, deu um grito de alerta porque o território dele estava ainda mais isolado. Foi aí que decidimos construir o puxadinho que passa pelo Bairro Sertãozinho, cheio de indústrias, e segue adiante, até a Zona Leste de São Paulo. 

GRANDE ABC – E o outro ponto relevante, Estado de São Paulo? 

ESTADO DE SÃO PAULO – Vocês têm muita responsabilidade porque jamais trataram a logística interna, ou seja, entre vocês próprios, com qualquer prioridade. Antes de reclamarem da logística externa, que é o Rodoanel, olhem para o próprio rabo, no sentido metafórico, claro, e vejam o quanto vocês são cada vez menos produtivos na relação entre logística de transporte, de mobilidade urbana, de produtividade do trabalho. 

GRANDE ABC – Tudo esclarecido, Estado de São Paulo. Então agora vou falar sobre o que está dentro dessa caixa de papelão. 

DIADEMA – Conta logo, Grande ABC, conta logo. Não gosto de suspense. Nem de drama. Cansei disso ao frequentar diariamente programas de televisão, os Datenas da vida. Dei uma melhorada, como todos sabem.  

GRANDE ABC – Trata-se do seguinte: dentro da caixa de papelão há nove caixinhas de madeira. São caixinhas mesmo. Como se fossem porta-joias. Vocês sabem, certamente, o que é porta-joias. Na verdade, não é como se fossem porta-joias. É muito mesmo porta-joias, porque o que está dentro da caixinha de madeira de primeira linha, emoldurada, envernizada, lustrada, é muito especial. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Se tem algo especial nesta mesa, me desculpe borralheiras de sempre, sou eu, a Cidade de São Paulo, a mais importante da América Latina, uma das mais disputadas no mundo. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Também sou especial, Cidade de São Paulo. Provavelmente mais do que está nessa caixinha enigmática.  

GRANDE ABC – Se querem saber, trata-se mesmo de caixinhas enigmáticas. Tanto que estou desafiando vocês a decifrá-las. 

SANTO ANDRÉ – Está aí uma coisa que detesto, porque esse negócio de desafio me faz lembrar coisas internas e não pega bem ficar falando agora. 

SÃO BERNARDO – Minha vizinha e ex-capital econômica da região tem medo de tudo. Ainda vou descobrir a razão. A morte do prefeito Celso Daniel não é o motivo, porque já se passaram 20 anos e a maioria já esqueceu.  

RIO GRANDE DA SERRA – Com meu tamanhinho inexpressivo ninguém vai se incomodar comigo nesse papo de enigmático. Nem quero saber. Provavelmente, não terá nada comigo. 

RIBEIRÃO PIRES – Nem comigo, que sou 10 vezes maior que você, mas não passo de 2% do peso econômico do Grande ABC.  

DIADEMA – Gosto de desafios. Transformei um território abandonado num grande endereço econômico, mas, confesso, foge do meu controle saber o que está dentro e para que serve esse tal porta-joias. 

GRANDE ABC – Mais que porta-joias, mas uma joia valiosíssima, Diadema. Pode acreditar.  

CIDADE DE SÃO PAULO – Estou começando a ficar mais interessada agora. Riqueza é comigo mesmo. 

DIADEMA – E pobreza, também, grandona. Ou você esqueceu de minha vizinhança ao sul? 

CIDADE DE SÃO PAULO – Já vi que a vizinha do extremo sul quer chamar a atenção. Quer minimizar minha grandeza. Até me chamou de grandona. Até agora pouco era só elogios para a Cinderela aqui.  

SÃO BERNARDO – Não liga não, Cidade de São Paulo, minha querida Cinderela. Diadema é assim mesmo. Sempre reclama. Acha que é discriminada. Essas coisas típicas da esquerda, dos vermelhos. Uma manobra muito conhecida para ganhar proteção e contar com privilégios.  

GRANDE ABC – Vamos parar com essas hostilidades internas? Já somos divididos demais para dar conta a sentimentos que nada constroem. Quero retomar o assunto das caixinhas. Dos porta-joias. É isso que deixou todos vocês curiosos. 

SANTO ANDRÉ – Vamos voltar ao assunto, Grande ABC. Porta-joias é comigo mesmo. 

GRANDE ABC – No próximo intervalo, que será o último, e será dedicado ao chá da tarde, vocês terão um adicional de tempo de 30 minutos para resolver a questão das caixinhas de porta-joias. Reservamos nove cabines isoladas entre si para que vocês se dediquem exclusivamente à tarefa. Sem comunicação entre as partes. Uma decisão autônoma. Decisão não é bem o termo. Uma prospecção, diria, individualizada. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Desculpe minha franqueza, Grande ABC, mas estava pensando cá comigo no seguinte caso: o que tanto eu quanto o Estado de São Paulo temos com esse peixe? Por que temos de participar dessa brincadeira de porta-joias? Dê as joias logo para nós dois e estamos conversados. Para quê ficar meia hora preso numa cabine ridícula fazendo algo que não tem nada a ver com a gente. 

GRANDE ABC – Acho que vai valer a pena. Você e o Estado de São Paulo vão ficar surpresos com a brincadeira. E querem saber por que? Porque nenhum dos dois, e também os outros sete, que são meus filhotes, meus anões, como vocês gostam de dizer, vão conseguir superar o desafio. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Desafio? 

ESTADO DE SÃO PAULO – Desafio? 

SANTO ANDRÉ – Desafio? 

SÃO BERNARDO – Desafio? 

DIADEMA – Desafio? 

MAUÁ – Desafio?  

RIBEIRÃO PIRES – Desafio? 

RIO GRANDE DA SERRA – Desafio? 

GRANDE ABC – Escutem aqui, vocês todos. Se é para torrarem o saco com a mesma pergunta, uma seguida à outra, como se debochassem de minha proposta, pelo menos tenham criatividade e decência. Se manifestassem em coro, como um jogral, seria mais simples. Desafio?, Desafio?, Desafio tantas vezes é de encher a paciência. 

DIADEMA – Mas é desafio ou não, Grande ABC? 

GRANDE ABC – Claro que é desafio. Quem lida com vocês só pode entender que qualquer coisa que tenha o objetivo de mexer com os brios de vocês, de todos vocês, só pode ser mesmo um desafio. Um senhor desafio.  

SÃO CAETANO – Então o Grande ABC acha que sendo eu o que sou, a nata da região, aquela porção de terra que conta com o melhor patrimônio de cidadania, de riqueza e de intelectualidade de suas terras, não vai dar conta do recado? 

GRANDE ABC – Garantidamente não, São Caetano. Aliás, diria mais. Diria o seguinte para você começar a entender que o desafio é mesmo insuperável: você é a menos indicada a responder ao que será colocado. Conheço seu nariz empinado por contar com a maior renda per capita da região, e uma das maiores do País. 

SANTO ANDRÉ – Gostei, Grande ABC. São Caetano merece mesmo uma lição de refrega por ser tão autossuficiente. Conheço bem como é essa vizinha. Somos semelhantes em muitas coisas, mas distantes em outras. 

SÃO BERNARDO – Vamos lá, Grande ABC. A gente precisa se preparar para entender com antecedência o que vai acontecer a cada um de nós nas cabines individuais. Dê uma dica do que nos espera. Teremos uma caixinha de surpresa? Vamos, diga logo. 

MAUÁ – Boa ideia, São Bernardo. Já vi que sua inteligência é pragmática. Aliás, para quem fazia móveis e depois se converteu em fazer automóveis é preciso mesmo versatilidade e raciocínio rápido. 

DIADEMA – Tem razão, Mauá. Mas não esqueça de colocar as qualificações de São Bernardo também na minha conta. Sou uma extensão dessa vizinha poderosa. 

SÃO BERNARDO – Calma lá, Diadema. Já lhe disse e vou repetir que você é apenas semelhante a mim em determinados pontos, mas na maioria dos pontos sou bem melhor que você. Mesmo com as recaídas neste século.  

DIADEMA – Daqui a pouco você, minha vizinha metida a besta, vai dizer que nossa separação territorial foi uma armação sua, não dos emancipacionistas, para supostamente livrar-se de meus males. 

SÃO BERNARDO – Não chegaria a tanto, vizinha enxerida. Mas sabe que você disse algo que bem que poderia ter sido executado?  

ESTADO DE SÃO PAULO – Não vai falar nada, Grande ABC. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Fala, Grande ABC. 

GRANDE ABC – Vou falar sim, mas nada que se trate de mexericos. Quero antecipar a vocês todos qual vai ser o desafio a ser superado nas cabines individuais. 

SANTO ANDRÉ –Finalmente. 

GRANDE ABC – Vocês vão receber peças de um quebra-cabeça. É isso, está bom? 

SANTO ANDRÉ – Peças de um quebra-cabeças? 

SÃO CAETANO – Brincadeirinha sem graça. 

GRANDE ABC – Você, São Caetano, vai ver o que te espera. 

SÃO CAETANO – Então quer dizer que você, Grande ABC, armou contra mim? Quer me desmoralizar diante de meus irmãozinhos, da grande e invejável Cidade de São Paulo e do nosso e glorioso Estado de São Paulo? 

GRANDE ABC – Viram como São Caetano deu um salto para trás na empáfia que a caracteriza? Viram só? Mas não é nada disso, São Caetano. Nada foi feito especificamente para constranger você. O quebra-cabeça é equânime numa maldade sadia que decidi promover. 

SÃO BERNARDO – Maldade sadia, Grande ABC? Isso não cola? 

SANTO ANDRÉ – Jamais colaria.  

MAUÁ – Quem sabe dá cola? 

RIBEIRÃO PIRES – Pode ser, pode ser. 

RIO GRANDE DA SERRA – Para mim, tanto faz como tanto fez. Não faz diferença mesmo o que vou dizer. Estou na geladeira faz tempo. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Temos tido boas relações com o Grande ABC nos últimos tempos. Anunciamos série de investimentos. Não quero saber o que dizem quando conectam o dinheiro prometido ao calendário eleitoral. O que posso dizer é que acredito que o Grande ABC tem um sentimento de respeito por todos nós quando fala de maldade sadia.  

GRANDE ABC – Pois é a pura verdade, anões de minhas terras, Capital do meu Estado e Estado de minhas terras. Vocês não conseguirão responder à demanda que o quebra-cabeça imporá. Não que se trate de algo inconciliável com a possibilidade. Não é nada inalcançável, mas pelo andar da carruagem de fogo de idiossincrasias tanto internas quanto externas à região, casos da Cidade de São Paulo e mesmo do Estado de São Paulo, um olhar positivista seria ingenuidade minha.  

SANTO ANDRÉ – Então quer dizer, Grande ABC, que cada um de nós vai ficar meia hora numa cabine indevassável com um quebra-cabeça para montar e nenhum de nós vai concluir com sucesso? Isso quer dizer que é uma pegadinha maldosa e nada sadia. São, afinal, quantas peças para construir a resposta? 

GRANDE ABC – O que posso garantir a todos é que o tratamento que será dado com esse desafio é bastante respeitoso, ético, moralmente inquestionável.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Tem certeza, Grande ABC? 

GRANDE ABC – Ora, Estado de São Paulo. Então você acha que desrespeitaria de tal forma a hierarquia que nos envolve ao proceder de maneira irresponsável? Sei bem o que estou fazendo. Aliás, eu mesmo providenciei as peças do quebra-cabeças, o encaixe perfeito, para que ninguém da organização desse nosso encontro soubesse a resposta. Sabe como é, né: vazamentos não faltam para complicar a vida da gente.  

SÃO BERNARDO – Tenho uma pergunta sobre o quebra-cabeça, posso fazer? 

GRANDE ABC – Claro, São Bernardo. Fique à vontade. Mas vou antecipar uma coisa que talvez você não goste: não é porque você é a terra das montadoras, que lembram montagem, que alguns podem entender como quebra-cabeça na produção de veículos, que vai encontrar alguma coisa que a favoreça no processo de tentativa de encontrar a resposta nas peças de quebra-cabeça.  

SÃO BERNARDO – O que quero saber, caro Grande ABC, anfitrião desse encontro, é se o quebra-cabeça que vou destrinchar sem problema algum, porque sou bom nesse negócio de montagem, será igual ou diferente dos quebra-cabeças dos demais convidados? 

GRANDE ABC – Já imaginava que alguém pudesse fazer esse questionamento, que também é curiosidade, que também é uma manobra subliminar para tentar descobrir se haveria favorecimento em forma de facilitação da imagem que vai aparecer. Já imaginava tudo isso. Imaginava tanto que tenho a resposta pronta: não sei, não sei, não sei. Vocês é que se virem. Sem dica nenhuma.  

SANTO ANDRÉ – Poderia dormir sem essa, São Bernardo. 

SÃO BERNARDO – Sempre tem um Santo André no meu cangote ético. Como se fosse virgem em matéria de especulação.  

GRANDE ABC – Acho que vocês não se recordam do que aconteceu há 20 anos, quando nos encontramos pela primeira vez naquele hotel-fazenda. Lembram-se da surpresa que aconteceu na última etapa de nosso encontro? Quem foi que apareceu de supetão e se converteu em convidada intrusa e indesejada daquele encontro que abriu as portas para essa nova reunião? 

ESTADO DE SÃO PAULO – Não tenho a menor ideia. Faz 20 anos. 

GRANDE ABC – Pois deveria saber mais que qualquer um dessa mesa, porque você, caro Estado de São Paulo, estava na raiz daquele encontro, porque tratamos do assassinato do prefeito Celso Daniel.  

SANTO ANDRÉ – O Estado de São Paulo deve sofrer de Alzheimer. Como pode esquecer o que é intimamente relacionado ao seu passado e a seu presente.  

CIDADE DE SÃO PAULO – Fale logo, Grande ABC. Quero tomar o chá da tarde e em seguida montar o quebra-cabeça para provar que tenho inteligência superior. 

GRANDE ABC – Vou falar, então. Como todo mundo sabe, aquele encontro foi para homenagear postumamente o prefeito Celso Daniel. Foi um encontro emocionante, dramático e também crítico à calamidade da Segurança Pública no Estado de São Paulo. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Estou começando a ligar os pontos. Continue Grande ABC. 

GRANDE ABC – Pois então: o que tivemos naquele encontro, antes que terminasse, foi a invasão do espaço pela Violência. Sim, aquele horrorosa, tenebrosa, devastadora Violência. A principal responsável pela morte do prefeito de Santo André e de um número aparentemente incontrolável de assassinatos no Estado de São Paulo. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Agora captei a mensagem. 

GRANDE ABC – Então, para completar, diga o que aconteceu. Fale você mesmo. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Não quero me estender sobre as políticas públicas adotadas. Só posso dizer que fizemos tudo que deveríamos ter feito antes. Apertamos o cerco em todos os indicadores de criminalidade ao utilizar muito mais recursos orçamentários que alimentaram dispositivos de combate, contando tanto com profissionais como equipamentos e tecnologia, além de logística. Derrubamos os índices abaixo de 10 mortes por cada 100 mil habitantes. Tínhamos uma proporção de mais de 50 por 100 mil até então. 

GRANDE ABC – Não precisa falar mais nada. Vamos tomar o chá da tarde antes da última etapa desse encontro. Garanto que a mensagem de cada quebra-cabeça não é tão chocante quanto a morte física do Celso Daniel.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Espere aí, Grande ABC. Então teremos em seguida, depois do chá da tarde e da montagem do quebra-cabeça, uma última rodada desse encontro? 

GRANDE ABC – Perfeitamente. 

ESTADO DE SÃO PAULO – E quando a gente vai se reunir outra vez. Vamos esperar mais 20 anos? 

GRANDE ABC – É nesse ponto que pretendia chegar apenas na última etapa desse encontro, mas já que você quer saber já, vou falar. 

SÃO CAETANO – Fala não, Grande ABC. Deixe para o encerramento desse nosso encontro. Quem sabe durante o intervalo alguém tenha uma boa ideia a expor? 

GRANDE ABC – Excelente intervenção, São Caetano. Vamos lá para o chá de erva cidreira. 

DIADEMA – Era cidreira? Nada disso. Quero algo mais forte, alguma coisa que lembre o Nordeste. 

GRANDE ABC – Tudo vem. Cada um escolhe o sabor. Não quero que ninguém volte da cabine de montagem do quebra-cabeça com a desculpa esfarrapada de não chegou ao que pretendemos porque estava contrariado. Vamos lá, vamos lá.

Leia mais matérias desta seção: