Sociedade

Uma vez Borralheira,
sempre Borralheira (10)

  DANIEL LIMA - 22/06/2022

GRANDE ABC – Bem, Estado de São Paulo, creio que somente uma iniciativa sua, para valer mesmo, poderia corrigir o negligenciamento total que mais nos aflige, que é o Desenvolvimento Econômico.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Então fale, Grande ABC. 

GRANDE ABC – Está mais que provado e comprovado que não conseguimos traçar nosso próprio caminho institucional de coalização de forças municipais em prol de uma ação regional coordenada. O Celso Daniel morreu e com ele morreu tudo que se planejava e já se executava nesse sentido. Aliás, mesmo com ele a situação já era bastante vulnerável. O divisionismo municipalista é um inferno.  

SANTO ANDRÉ – Verdade, Grande ABC. 

GRANDE ABC – Como você pode observar, caro Estado de São Paulo, nem mesmo Santo André azulada demais para meu gosto, porque uma sociedade sem contrapontos de qualquer cor é sempre uma cidade fadada ao triunfalismo irresponsável, nem mesmo Santo André, como dizia, se opõe aos fatos de que Celso Daniel avermelhado foi um ponto fora da curva da regionalidade. 

SÃO BERNARDO – Só faltava Santo André ser mais arrogante do que é e achar que Celso Daniel foi um qualquer. Ele era avermelhado, mas tinha a grandeza de, em assuntos de interesses da comunidade, vestir-se de múltiplas cores muito antes de múltiplas cores terem todos os significados possíveis, além da política.  

DIADEMA – Verdade absoluta. 

SÃO CAETANO – Tenho a impressão de que se houvesse um Celso Daniel lá atrás, bem atrás, em meados do século passado, eu não existiria, ou seja, continuaria sendo Santo André, porque, regionalista como ele, duvido que permitiria que eu nascesse de Santo André, naquela onda de emancipação. 

GRANDE ABC – De fato o que levou Celso Daniel enxergar longe e tentar costurar ampla ação regional está no passado vivido de fragmentação criada por emancipacionistas. O que era um território virou sete. Conta da mentira, da enrolação.  

SÃO CAETANO – Mas também de libertação quando se trata de nossa região.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Vamos ao que interessa, Grande ABC. Qual é a mágica? 

GRANDE ABC – Simples, muito simples. Já que tudo o que o Celso Daniel fez lá atrás, inclusive convidando você, Estado de São Paulo, para integrar os planos de integração regional, acabou desabando em decepções, então a saída agora é a regionalidade transversa temporal. 

DIADEMA – Que bicho é esse, Grande ABC? 

MAUÁ – Não tenho a menor ideia do que se trata? 

RIBEIRÃO PIRES – Imaginem eu, então. 

RIO GRANDE DA SERRA – Longe disso. 

SÃO CAETANO – Eu que sou o que todo mundo sabe, um poço de conhecimentos, com a única universidade pública municipal que se debruça para valer sobre assuntos da região, não entendo também o que o Grande ABC planeja. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Esses borralheiras gostam de sofisticar a linguagem para levar todo mundo no bico, mas, quando se confere o produto final, nada acontece. 

GRANDE ABC – O que quero dizer com regionalidade transversa temporal é a iniciativa do Estado de São Paulo de dar finalmente característica institucional de regionalidade às minhas terras. Que faça como fez em outras regiões do Estado ao criar regiões metropolitanas. Um modelo que combine com as necessidades de atacar o foco de nossos problemas. E nossos problemas começam e terminam com o emaranhado econômico.  

DIADEMA – Concordo que já não há mais dúvida sobre o estágio a que chegamos. Somos como municípios e como conjunto de municípios um carro desgovernado. Não sei mais como sustentar um modelo socialista na gestão pública se o orçamento está cada vez mais comprometido com o custo do funcionalismo e da máquina pública, enquanto carências sociais não cessam. Cada vez sobra menos dinheiro para investimentos. 

SÃO BERNARDO – Rezo todos os dias e todas as noites para livrar da Doença Holandesa Automotiva, mas estou perdendo as esperanças. Não existe massa crítica que procure restaurar nossas forças. Estamos sofrendo os efeitos de uma globalização que agora está virando desglobalização sem que tenha havido qualquer resquício de ganhos para minha população. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Deixem o Grande ABC falar um pouco mais sobre os planos de uma regionalidade de fora para dentro, já que de dentro para dentro está provado que não deu resultado. 

GRANDE ABC – Já vi que o Estado de São Paulo captou minha mensagem. É isso mesmo. O Palácio dos Bandeirantes, seja quem for o próximo titular, e a Assembleia Legislativa, sejam quais forem os integrantes, precisam tomar providência. Criar a Região Metropolitana do Grande ABC dentro da Região Metropolitana de São Paulo, com autonomia, é fundamental. O modelo atual já era. Aliás, nunca foi. Até porque não existe modelo atual.  

CIDADE DE SÃO PAULO – Por mim, tanto faz como tanto fez, porque nada, absolutamente nada, abalará minhas estruturas sociais e econômicas. Aliás, se a proposta for vitoriosa para os vizinhos anões, quem vai ganhar mais sou eu porque teremos uma metrópole, que comando desde sempre, mais civilizada e inclusiva.  

ESTADO DE SÃO PAULO – O que pergunto, caro Grande ABC, é se haverá mesmo um grupo de sensibilizadores locais que toparão essa parada. Ninguém gosta de perder poder, porque poder é poder desde sempre. 

GRANDE ABC – Ninguém perde o que não tem, caro Estado de São Paulo. Regionalidade é ficção nas minhas terras. É melhor entregar a bola temporariamente para o Estado de São Paulo tomar as providências e, em seguida, a gente toca a vida de forma mais organizada por aqui. Inclusive com orçamento específico às ações institucionais e técnicas necessárias. Você não está pensando que vai entrar apenas por entrar? Uma fatia do orçamento do Estado precisa ser aplicada aqui. Tudo preto no branco. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Acho que a ideia é mesmo interessante. Vamos ver nos próximos tempos o que será possível fazer. Estamos num processo de troca de guarda. Muitas peças vão ser substituídas no Executivo e no Legislativo. Quando as águas baixarem, e isso será no começo do ano que vem, quem sabe a gente leve isso adiante.  

CIDADE DE SÃO PAULO – O Grande ABC só não pode esquecer que tem de tomar a iniciativa de entregar a rapadura, ou seja, expor um gesto de humildade e entregar ao Estado de São Paulo a operação mesmo que compartilhada do modelo de regionalidade institucional que realmente funcione.  

SÃO CAETANO – Toda vez que minha vizinha poderosa se expressa com tamanha sabedoria e liderança, mais sinto desejo incontido de me jogar no seu território. O Grande ABC que fique dividido por seis, mas um dia vou exigir anexação pela Capital dos meus sonhos nada secretos. Não tenho nenhuma vocação para ser a Ucrânia. Quero mesmo cair nos braços do poderoso.  

DIADEMA – Sabe que já estive pensando sobre isso, São Caetano. É verdade. Já pensei em algo semelhante, ou seja, de deixar o Grande ABC para lá e reivindicar incorporação por São Paulo.  

SÃO CAETANO – Então você pensa como eu. Vamos deixar o Grande ABC com cinco municípios? 

DIADEMA – Calma, São Caetano, calma. Não é bem assim. Entre ter a autonomia que tenho e ser um rabo de foguete da vizinha Cidade de São Paulo, prefiro como está. Tenho mais futuro. Sou de oposição sempre. Uma Ucrânia livre cai bem em mim.  

SANTO ANDRÉ – Como assim, Diadema? 

DIADEMA – Ora, é básico: como vou aceitar virar um pedacinho desimportante e problemático da Cidade de São Paulo, mais precisamente da periferia da periferia da Região Sul de São Paulo, desprezando meu histórico municipalista expresso, entre outros pontos, no fato de eleger o primeiro prefeito do PT no País? Virar um penduricalho do penduricalho da Cidade de São Paulo seria péssimo negócio. Que São Paulo fique com os Sapopembas da vida. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Não fale assim, Diadema. Sapopemba por Sapopemba mostramos na pandemia que temos mais competência de lidar com o vírus chinês do que vocês, que se julgam os bambas na tentativa de exorcizar o gataborralheirismo.  

SANTO ANDRÉ – Não considero relevante falar da pandemia. Comandamos o Clube dos Prefeitos e vão nos atribuir responsabilidade pelos números que procuramos esconder. Essa matemática de dividir o total de mortos para cada 100 mil habitantes é uma balela.  

SÃO BERNARDO – Cala-te, Santo André. Deixe o Grande ABC falar.  

GRANDE ABC – Mais uma vez, caro Estado de São Paulo, está claro que precisamos mesmo de uma liderança extra-região para encontrar o caminho da salvação. Uma Região Metropolitana do Grande ABC é premente. E não me venham dizer que seria redundante porque já temos a Região Metropolitana de São Paulo porque ninguém me convencerá.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Por que não, Grande ABC? 

GRANDE ABC – Por tudo que já falei sobre produtividade do voto e muito mais. Somos, para que você entenda o que somos comparativamente aos interesses da Região Metropolitana de São Paulo, uma espécie de Rio Grande da Serra dentro do contexto de minhas terras. Ou seja: valemos muito pouco.  

SANTO ANDRÉ – Estou começando a achar que o legado de Celso Daniel precisa mesmo ser revertido. O conceito de regionalidade funcionando para valer será praticamente o mesmo, só que inicialmente com inversão de mão condutora. Como não temos competência para produzir um processo de dentro para dentro e de dentro para fora, vamos fazer de fora para dentro para que se operacionalize, em seguida, de dentro para dentro. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Matou a charada, caro Santo André. Vejo que de vez em quando meus fluidos contemporâneas se espalham por sua terra e promove, como se vê agora, um raio de lucidez e pragmatismo. Assim, você deixa de ser anão como os demais. Pelo menos por um lapso de tempo. 

GRANDE ABC – Só estamos procurando essa alternativa e a entendemos como a mais viável porque o caminho da regionalidade a partir de movimentos internos é mesmo uma perda de tempo. Não temos massa crítica para tanto e a vaidade é generalizada. Aliás, se já não tínhamos massa crítica no passado recente, de 20 anos atrás, mesmo com todo o empenho do Celso Daniel e também do Fórum da Cidadania, imagine agora que a dispersão tomou conta de todo mundo.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Como assim, Grande ABC? 

GRANDE ABC – Essas maquininhas infernais acessadas à Internet e a aplicativos múltiplos tiraram de vez o que restava de foco em torno da regionalidade. 

DIADEMA – Que maquininhas são essas, Grande ABC? 

GRANDE ABC – Acorda Diadema. Não se faça de desentendida. Você sabe que estou falando de telefones celulares, de redes sociais, de tudo que o pessoal vermelho tem más lembranças, porque chegou alguém mais esperto que vocês e acordou o outro lado ideológico e se elegeu presidente. 

SANTO ANDRÉ – É verdade, pegaram os avermelhados de calça curta. Aqui nem foi preciso fazer muita força porque os vermelhos foram absorvidos pelos azulados e morreram como força de oposição ou de situação deixada pelo Celso Daniel. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Só me safei como força azul porque o amarelo da facada ajudou muito na reta de chegada. Sem a dobradinha o candidato lilás poderia estar ocupando o Palácio dos Bandeirantes. Como pretende agora, juntando-se aos vermelhos. Esse tal de Márcio França é esperto. Sabe jogar o jogo.  

GRANDE ABC – De novo estamos nos dispersando. O que as maquininhas diabólicas para o futuro da regionalidade fizeram foi o que antecipei: propagam cenários políticos e econômicos que não têm relação direta com nossas necessidades e, com isso, transformaram os níveis já ralos de cobranças em algo praticamente superficial. 

SANTO ANDRÉ – Devo dizer que aqui está mesmo tudo dominado. Mando e desmando, embora recrudesçam alguns nichos contrariados. Tenho a mídia e a maioria das redes sociais sob controle. Meu governo faz marolas, inventa conquistas, produz o máximo de varejismo, e está tudo correndo às mil maravilhas. A oposição e os críticos estão dominados. Me organizei para isso. Peguei o vácuo do municipalismo em frangalhos e concentrei todos os poderes de mando. 

SÃO BERNARDO –Você, Santo André, tem a sorte de contar com um território sem um passado de sindicalismo tão bravio quanto o meu. Aqui o jogo é mais dividido, a quantidade de opositores para quem está no Paço Municipal não é controlável como a que você mostra. Até porque, entre tantos fatores, existe sempre a possibilidade de a turma dos vermelhos voltar ao poder em Brasília e isso repercutiria aqui. Minhas entranhas são bicolores, de vermelho de um lado e de azul de outro.  

SÃO CAETANO – Essas maquininhas diabólicas só aumentaram meu poder de fogo conservador. Quanto mais discutem políticas estaduais e federais, mais fico na minha. Vou tocando o barco. Não por outra razão dissemino a formação de conselhos temáticos de todos os tipos. É uma maneira de manter todo mundo bem próximo do Paço Municipal. 

GRANDE ABC – Está vendo, Estado de São Paulo? É assim que agimos. Se já não bastasse a enfermidade borralheira em relação à Cidade de São Paulo, com as maquininhas diabólicas perdemos o rumo de vez. Agora é discussão em torno de problemas nacionais e também estaduais. Uma salvaguarda aos políticos locais, raramente incomodadas pelos donos das maquininhas diabólicos.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Devo reconhecer que de uns tempos para cá o pessoal decidiu olhar mais para mim do que fazia antes. Ainda não sou uma Brasília, nem quero ser, porque ser Brasília nas maquininhas diabólicas é viver num eterno inferno. Bom mesmo é o que eu era até outro dia, ou seja, o Estado de São Paulo discreto, dominador da cena política com o apoio de um parceiro vermelho que todos supunham ser adversário. Trabalhamos muito bem essa questão. 

DIADEMA – É verdade, irmão azul. Nem eu mesmo tinha compreendido essa parceria. Minha ficha só caiu agora porque um dos chefes do outro lado agora está do nosso lado na disputa presidencial.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Nunca transformamos nossas diferenças em obstáculos intransponíveis. Não contem para ninguém, mas o nome e o sobrenome disso é chantagem mútua, que alguns acadêmicos, nossos amigos, chamam de relações civilizadas. A gente apertava daqui, eles dali, e ficou combinado: tudo que é grave a gente esconde; tudo que é supérfluo a gente faz estardalhaço. Mas nada de irmos ao desfiladeiro do radicalismo. CPIs não poderiam dar em nada. Escândalos precisariam e seriam sempre abafados.  

GRANDE ABC – A impressão que tenho é que nada mais será como antes na política federal e estadual, porque as maquininhas diabólicas estão atentas. Sei que há um plano das elites para dizerem o que estou dizendo, que as maquinhas são diabólicas e que, portanto, precisariam ser demonizadas mesmo. 

CIDADE DE SÃO PAULO – É não é exatamente isso que a queridíssima vizinha dos sete anões está sugerindo quando repete insistentemente um adjetivo para os celulares? 

GRANDE ABC – Nada disso, Cidade de São Paulo. O juízo de valor discriminatório é seu e de quem pensa como você. Acho, aliás, que é a maioria nesta mesa retangular. Mas o sentido de maquininhas diabólicas que sai da minha boca é outro. 

DIADEMA – Nem desconfio o que seja. 

SÃO BERNARDO – Tampouco eu, vizinha enxerida. 

RIO GRANDE DA SERRA – Estou tão longe do centro do poder de minha vizinhança que acho melhor apenas ouvir. Ainda mais esse negócio de diabólico.  

RIBEIRÃO PIRES – Sai para lá, Satanás. 

MAUÁ – Sou tão ignorante quanto minha irmã quase siamesa, a querida Diadema. 

SANTO ANDRÉ – Maquininhas diabólicas? Maquininhas diabólicas? Depende do ponto de vista. Para mim, que sei lidar com esse negócio, são maquininhas maravilhosas. 

SÃO CAETANO – Maquininhas abençoadas, diria. 

GRANDE ABC – Viram como tem gente aqui que imagina o que seja maquininha diabólica num sentido diverso do que a maioria pretende saber? No meu caso, maquininhas diabólicas são a portabilidade de um objeto de comunicação pessoal que revolucionou o mundo para o bem e para o mal. E entre essas revoluções está a possibilidade mais que explorada de tirar das profundezas de manipulações muitas questões que eram varridas do mapa do jornalismo profissional, que deitava e rolava soberano no radio, na televisão e nos jornais tradicionais.  

SANTO ANDRÉ – Seria melhor a gente não falar sobre mídia tradicional nesta reunião. Sei que vão pretender chegar até mim.  

GRANDE ABC – Quem não deve não treme, Santo André. Mas que vamos chegar até você, não tenha dúvida. Aliás, vamos chegar a todos, meus convidados. Ninguém escapa. Todos são beneficiários do novo modelo de comunicação pessoal com a força da Internet. Apenas o Estado de São Paulo e Brasília têm de lamentar porque, repito, estão mais expostos, viraram a bola da vez.  

CIDADE DE SÃO PAULO – Você está esquecendo do Judiciário? 

GRANDE ABC – Nem do Judiciário, nem de todo o Sistema de Justiça. Nem os clubes de futebol. Nem os artistas. Está tudo escancarado. As maquininhas diabólicas são o estado puro de uma cidadania virtual, por assim dizer. Há exageros, há distorções, há peraltices babacas que escancararam fake news, mas também há muita verdade insuportável para quem está no poder. Menos, claro, os prefeitos. Eles são peças menos importantes no tabuleiro de transformações do País porque tomaram conta do barraco das redes sociais. Juntamente, claro, com a mídia tradicional, em papel ou virtual, que, todos sabem, está com a corda no pescoço financeiro justamente porque as maquinhas diabólicas vieram para dividir o espaço de opinião. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Minha expectativa é de que o Supremo bote ordem na casa. Que cace produtores de fake news. 

GRANDE ABC – Deixe de ingenuidade, Estado de São Paulo. Aqui no meu canto, tranquilo, tenho observado tudo com atenção. O Supremo entende muito pouco de jornalismo de verdade, de verdades, meias-verdades e mentiras tanto do jornalismo profissional quanto das redes sociais. O Supremo é aprendiz numa redação de jornal, ou seja, não tem a menor ideia de como se processa um produto chamado notícia e seus desdobramentos específicos, casos de opinião, de interpretação, de fatualidades.  

DIADEMA – Sou contra os poderes incontidos das redes sociais, mas também, seguindo o que diz nosso guia, o jornalismo profissional precisa de corretivo. Ou seja: precisa ser monitorado. 

SÃO CAETANO – Lá vem o vermelho repetindo uma cantilena mais que manjada de controle da mídia, que não passa de pretexto de absolutistas que detestam o outro lado da informação.  

GRANDE ABC – Há muito mais segredos a desvendar entre um parágrafo e outro de uma redação, entre uma declaração e outra num noticiário de televisão, uma ênfase e outra num programa de rádio, do que imagina o mais sábio dos componentes do Supremo. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Cá entre nós e que ninguém diga aí fora que eu falei: o Supremo quer mesmo é exercer um poder discricionário que beneficiaria determinadas candidaturas. Não preciso entrar em detalhes, claro. Tudo é um jogo de cena que conta com o apoio da chamada Velha Imprensa que, com a chegada das maquininhas diabólicas, dançou o último tango de influência total na opinião pública e de saúde intocável nas finanças.  

GRANDE ABC – É exatamente disso que estamos tratando. Se a Velha Imprensa já não é mais a mesma nem em qualidade, nem em circulação do produto chamado jornal, nem de audiência do produto chamado televisão, nem na difusão de informações incontestáveis, imagine então como a Velha Imprensa reage às maquininhas diabólicas? É um tal de marketing para levar a opinião pública a acreditar que as maquininhas são diabólicas exclusivamente no sentido pejorativo, desclassificatório, que não há como enganar. O Supremo entrou nessa. Faz parte do show.  

DIADEMA – Concordo, concordo. Acho que os juízes do Supremo não sabem distinguir uma matéria intocável de uma matéria fraudulenta. Tudo vai depender do prevalecimento do perfil de cada um. E todo mundo sabe que perfil é esse. Um perfil, entre outros pontos, sem nenhuma semelhança com o conhecimento maduro e provado de decifrar informação qualificada e informação deformada.  

GRANDE ABC – Pausa para mais um cafezinho. Nosso encontro está se encaminhando para terminar nas próximas duas horas. Estou pensando em cancelar o jantar. Vai depender do que vocês entenderem melhor. Deem a resposta assim que voltarmos. Mas adianto: estou com uma ideia na cabeça e espero que vocês a analisem na última etapa de nosso encontro. Acho que todos vão gostar. 

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