Sociedade

Uma vez Borralheira,
sempre Borralheira (8)

  DANIEL LIMA - 08/06/2022

GRANDE ABC – Estamos de volta com a barriga cheia, pessoal. Uma feijoada de vez em quando é sempre uma boa pedida. Agora, conforme o combinado, vamos tratar de fofoca. 

CIDADE DE SÃO PAULO – De fofoca, vizinha borralheira?  

GRANDE ABC – Desculpe a nossa falha. Acho que cometi um ato falho. Vamos tratar de promessas e lorotas, conforme acertamos anteriormente. 

DIADEMA – Tudo bem, Grande ABC, tudo bem. Estamos preparados para enfrentar nossos fantasmas públicos. Antes, quero registrar que a feijoada foi uma boa pedida mesmo, mas gosto muito mais é de comida nordestina, quando não de comida mineira. A maioria de minha turma veio daquelas áreas, como você sabe. Invadimos a região. E nos instalamos onde havia terra mais barata e o desabrochar de muitas fábricas.  

SÃO BERNARDO – Depois vocês vão dizer que persigo minha vizinha enxerida, mas viram só que petulância de ficar aborrecendo a gente com o cardápio do dia? Feijoada foi ótimo. Se fosse individualista como você, Diadema, teria puxado o macarrão para o meu lado, misturando com os pratos de sua preferência, e teríamos um bufê mais sortido. Ou você se esqueceu que também tenho algumas de suas vestes nordestinas e mineiras, mas meu lado europeu, principalmente de italianos, ainda prevalece nas minhas veias?  

SANTO ANDRÉ – Sou mais Primeiro Mundo que você, São Bernardo, e teria sugerido uma senhora macarronada, apenas uma senhora macarronada, mas o que o Grande ABC pediu está de bom tamanho. 

SÃO CAETANO – Como sou ainda mais Primeiro Mundo que você, vizinha Santo André, meu macarrão seria feito a mão. Mas a feijoada caiu bem. Tenho que tomar certos cuidados porque se brigo pelo macarrão feito a mão vão dizer que discrimino o prato brasileiro, eu que sou, como todos sabem, o melhor da Europa no Brasil.  

MAUÁ – Sou parecida com Diadema, mas não choro como Diadema chora. Chora de barriga cheia. Feijoada foi ótimo. 

RIBEIRÃO PIRES – Estou aqui para comer o que servirem. Vivo de vocês. 

RIO GRANDE DA SERRA – Eu também. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Que turma você tem para gerenciar, Grande ABC? Uma barbaridade de personalismos. Gataborralheirismo demais dá nisso mesmo, ou seja, gente que não se acha, mas se acha. Entendeu? 

GRANDE ABC – Vamos deixar isso para lá e tratar do que devemos tratar. Como disse antes do almoço, um jornalista aqui da região fez experimento durante uma gestão quase inteira de prefeitos eleitos e recolheu aqui e ali, nas páginas de jornais, o que chamou de promessas e lorotas. O caso do Aeroportozão, que nem Aeroportozinho virou em São Bernardo, foi citado aqui como emblemático, mas temos mais.  

CIDADE DE SÃO PAULO – Vou dar uma de psicólogo, caros anões do Grande ABC. Acho que tenho autoridade para isso porque sou a Cinderela que vocês tanto admiram e invejam. Acho que recolher esses pertences de lunatismos administrativos é uma oportunidade de ouro para um reexame do quanto se perde tempo aqui com bobagens. Nas minhas fronteiras não tem disso não. Há antídotos sempre acionados. Gataborralheirismo não é com a gente não. 

SÃO CAETANO – Lunatismos administrativos? O que é isso, Cidade de São Paulo. Algum eufemismo? 

CIDADE DE SÃO PAULO – Eufemismo de uma realidade.  

GRANDE ABC – Vamos começar logo a dar alguns exemplos de que promessas e lorotas não faltaram aqui. E não faltam ainda. A diferença é que o jornalista desistiu da missão de apontá-las porque cansou de bater na mesma tecla. Além disso, os prefeitos que sucederam aquela leva decidiram tomar mais cuidados, mas continuam a falar demais. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Como assim, Grande ABC. 

GRANDE ABC – Acontece que aquela espionagem jornalística criou mal-estar e os sucessores tomaram mais cuidados. Mas daqui a pouco conto um dos escorregões dos atuais prefeitos.  

SANTO ANDRÉ – Não entre em detalhe, Grande ABC. 

GRANDE ABC – Sei por que você não quer entrar em detalhes, mas não posso deixar de registrar alguma coisa dos últimos anos, senão vai parecer que sou relapso ou seletivo. Mas vamos em frente. Comecemos pelo Tancão da Morte. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Tancão da Morte? 

GRANDE ABC – Exato. Trata-se de uma coisa impressionante. O prefeito Carlos Grana, de Santo André, em fevereiro de 2014, anunciou disposição de reduzir a dois metros de profundidade o Tancão da Morte localizado no Parque Guaraciaba, por causa de afogamento de cinco jovens, o que totalizava 38 ao longo da história. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Qual foi a ideia de jerico do prefeito? 

GRANDE ABC – Exatamente o que isso: ele anunciou que reduziria a dois metros a profundidade, ou seja, iria aterrar o Tancão. Vocês já imaginaram que loucura aterrar uma área imensa que contava com mais de 50 metros de profundidade?  

ESTADO DE SÃO PAULO – Loucura, loucura. 

GRANDE ABC – Pior que isso, muito pior. Mesmo que fosse possível, sobrariam dois metros de profundidade. Ou seja: somente gigantes que jogam voleibol e basquetebol estariam a salvo de afogamentos.  

CIDADE DE SÃO PAULO – O que os anões acham disso. Parece que preferem o silêncio? 

GRANDE ABC – Não os fustigue, Cidade de São Paulo. Deixe eles quietos. Ficaram em silêncio durante todo o tempo, permitindo barbaridades, e agora não têm autoridade para contestar. 

SÃO CAETANO – Estou preocupado com o que podem falar de mim. 

GRANDE ABC – Já que falou, vou dar um exemplo de como o borralheirismo também impregnou São Caetano sem que houvesse contestação. 

SÃO CAETANO – Sabia que sobraria para mim. 

GRANDE ABC – Em janeiro de 2014 o então prefeito de São Caetano, Paulo Pinheiro, ganhou manchetes de jornais para anunciar que construiria um túnel sob a Avenida Goiás para desafogar o tráfego. A proposta era direcionada para a futura ramificação viária de veículos que partiam de Santo André pela Avenida Dom Pedro II e pela Avenida Guido Aliberti, ou vice-versa.  

SANTO ANDRÉ – Estou esperando até hoje. Ir a São Paulo tendo de passar por dentro de São Caetano é um tormento. Sem contar que há radares espalhados por todas as esquinas. Talvez São Caetano seja a cidade brasileira que tenha mais radares por metro linear. 

GRANDE ABC—Espere, espere que ainda não terminei. O túnel na Avenida Goiás era uma espécie de plano B, porque o prioritário era mesmo construir uma via paralela à Avenida Goiás e aos trilhos da Linha-10 Turquesa da CPTM, que o prefeito anunciou no ano anterior. 

SÃO CAETANO – Tenho de reconhecer que não temos nem uma coisa nem outra.  

DIADEMA – Escute, Grande ABC, não vá dizer que não tem nada sobre minha quase alma gêmea, Mauá, vizinha distante, mas muita parecida comigo? 

GRANDE ABC – Claro que tem. E muita coisa, mas fico apenas com a promessa do prefeito Donisete Braga que, em dezembro de 2012, garantiu também nas páginas de jornais que Mauá ganharia com a chegada de uma fábrica de Mercedes-Benz. Foram anunciados dois mil empregos. Dois mil! Querem que repita. Não preciso dizer que tudo não passou de um sonho que se consumou apenas e unicamente nas páginas de jornais. Aliás, os jornais são muito utilizados para compartilhar aberrações. Mas disso pretendo tratar mais adiante.  

CIDADE DE SÃO PAULO – Sabe que imagino o quanto esse tipo de informação provoca de estragos? Quanta gente acredita nisso e decide investir em áreas imobiliárias e preparar negócios já voltados para os ganhos indiretos de uma fábrica? Tem muito caroço nesse angu.  

GRANDE ABC – Isso é de menos, querida Cinderela. Há muito tempo convivemos com diferentes modalidades de informações que se tornam delituosas. Gente, por exemplo, que propaga novas centenas de empregos para cada unidade do varejo que se instala na região sem se dar conta, ou esquecendo, ou fazendo questão de esquecer, que sem crescimento do PIB, as unidades que chegam protegidas por grandes corporações varejistas canibalizam os pequenos negócios, familiares na maioria, que perdem centenas de empregados. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Bem lembrado, Grande ABC. Mas você sabe que esse tipo de alerta, de precaução, não agrada a ninguém que quer especular. A mídia, por exemplo, adora esse tipo de informação pela metade. Só fala dos ganhos. Esquece as perdas comprovadamente mais expressivas. E enquanto isso a mesma mídia vai minguando.  

GRANDE ABC – Vou voltar ao que interessa porque tem mais alguns exemplares de promessas e lorotas que não são comuns em localidades onde o senso crítico é mais apurado. 

DIADEMA – Somos borralheiras, é isso que você quer dizer, Grande ABC. 

GRANDE ABC – Com todas as letras. Borralheirismo se manifesta sob várias formas. Essa de trombetear grandeza é uma delas.  

CIDADE DE SÃO PAULO – Gostei, gostei. 

GRANDE ABC – Todo mundo sabe que é uma estupidez de marketing soterrado o fato de que somos o endereço brasileiro que está na mente de qualquer pessoa como símbolo de veículo. Ora, então seria lógico que a gente soubesse explorar isso, não é verdade? 

CIDADE DE SÃO PAULO – Quem pensa grande faz até mesmo da desgraça uma maneira de se dar bem na área de turismo. Houston, no Texas, por exemplo, fez do circuito final do presidente John Kennedy, onde foi assassinato, roteiro disputadíssimo. Poderia citar muitos outros locais. Não consigo entender por que os anões nunca se juntaram para criar uma espécie de parque do automóvel. 

GRANDE ABC – É exatamente aí que pretendia chegar e você, vizinha maior e poderosa, me atropelou. Em 2009, o prefeito Luiz Marinho, de São Bernardo anunciou que pretendia abrir o Parque Temático do Automóvel, que seria composto de museu que seria responsável não só por contar a história dos carros, mas também da indústria automobilística e as mudanças que causou na cidade. Também comportaria um centro de exposições e convenções para suprir a demanda da região.  

SÃO BERNARDO – Isso é mesmo verdade, Grande ABC. Mas essa grande jogada vem de muito antes de o Luiz Marinho assumir a Prefeitura. O que, claro, não retira o mérito dele. O problema é que até hoje, duas décadas depois do novo século, caminhando para o centenário da chegada da primeira fábrica de automóvel aqui, não temos nada disso concretizado. Para falar a verdade, parece que desistimos de vez.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Cada vez mais entendo o que significa a ação do jornalista em dar a marca de Observatório de Promessas e Lorotas ao trabalho de pesquisa que realizou. 

SÃO CAETANO – Interessante a marca que ele impôs porque promessas e lorotas são coisas diferentes, distintas, mas que podem se fundir, conforme a situação se apresenta. Ou seja: uma promessa mirabolante pode virar lorota no passo seguinte, como no caso do Tancão da Morte em Santo André. 

RIO GRANDE DA SERRA – Gostei da intervenção de São Caetano. Não tinha captado a mensagem nesse sentido. Achava que poderia ser a mesma coisa, mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. 

RIBEIRÃO PIRES – Desculpe vizinha querida, mas, como disse São Caetano, nem sempre uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Ficou claro que uma promessa de hoje pode virar lorota amanhã. 

SANTO ANDRÉ – Quando ouço uma intervenção inteligente de Ribeirão Pires, como agora, e também de São Caetano, um pouco antes, fico todo orgulhoso mesmo, porque tanto uma quanto outra, ou seja, Ribeirão Pires e São Caetano, nasceram de meus cromossomos.  

SÃO CAETANO – Só não esqueça que aperfeiçoei a genética. 

GRANDE ABC – Viram como São Caetano é mesmo espirituosa? 

SÃO CAETANO – Não se trata de espirituosidade, caro Grande ABC. Continuo conservadora nos costumes em geral. Estou apenas retratando a realidade, que pode sugerir superioridade intelectual. Sou mesmo mais qualificada que os meus irmãos da região. Tenho mais homogeneidade social em todos os sentidos. E isso faz a diferença na hora de medir capacitação intelectual.  

GRANDE ABC – Repararam, Estado de São Paulo e Cidade de São Paulo, como basta dar uma folga para o individualismo brotar entre os anões?  

CIDADE DE SÃO PAULO – Acho que isso ajuda a explicar o sentimento de inferioridade junto a mim. Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, que no caso dos anões seria a união, é bobo na arte de construir uma cultura mais respeitada.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Tem mais promessas e lorotas? 

GRANDE ABC – Não faltam, não faltam. Outro exemplo? Desculpe, Ribeirão Pires, mas vocês também vão dançar. 

RIBEIRÃO PIRES – Estou preparado. 

GRANDE ABC – Em 2015, por exemplo, o prefeito Saulo Benevides anunciou três obras fantásticas que seriam entregues antes de deixar o mandato. A primeira a construção de um teleférico que uniria as duas partes da cidade, a segunda uma fábrica artesanal de chocolate e a terceira um parque temático. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Pelo visto todo mundo era adepto de parque temático. Quantos parques temáticos existem na terra dos anões? 

GRANDE ABC – Você tem razão. Não ganhamos nenhum há muito tempo. Aqui as coisas são complicadas. O mais famoso parque de diversão que temos, a Cidade da Criança, agora foi privatizado, mas o potencial de marketing é muito maior que a prática para atrair turistas. Não sabemos lidar com esse negócio de trazer gente para nossas atrações. Aqui a Imprensa Cinderela só nos procura em dias de desgraça, como os da Favela Naval, da Eloá sequestrada e morta, do Celso Daniel. É assim que funciona. Os metalúrgicos que faziam greves na Anchieta e despertavam a atenção da mídia já não fazem mais isso. Os tempos de temores e tremores são outros.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Mas ouvi outro dia falarem em turismo industrial? 

GRANDE ABC – É verdade, isso existe, mas numa escala bastante modesta. É gente que vem conhecer o funcionamento de fábricas. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Não quero ofender ninguém nessa mesa, mas acho que vocês se dariam bem melhor se o roteiro fosse outro. 

GRANDE ABC – Como assim, Cidade de São Paulo. 

CIDADE DE SÃO PAULO—Ora, que tal um roteiro para documentar os pontos principais de fábricas que abandonaram a região e se mandaram para o Interior? E, claro, que tipo de atividade econômica tomou o lugar dessas mesmas fábricas. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Não só atividades econômicas, mas também templos religiosos. 

MAUÁ – Se alguém aqui fizer piada e dizer que templos religiosos e atividades econômicas são a mesma coisa, juro por todos os santos que vou partir para a ignorância. Tenho fieis de todas as denominações e não aceito que os tratem com desrespeito. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Calma, Mauá, calma. Aqui todo mundo está envolvido no crescimento dos evangélicos. E acho bom porque se os católicos seguem conservadores, os evangélicos vão à luta. Eles têm tanta importância pela combatividade que, mesmo em parcela inferior à dos católicos, não há pesquisa eleitoral que não lhes deem muita relevância. 

DIADEMA – A dúvida que tenho é se conto com mais botequins ou mais igrejas evangélicas.  

GRANDE ABC – Não precisam intervir. Sei que vocês, anões queridos, vão repetir as palavra de Diadema. Mas não vamos sair da pauta, e a paute são as promessas e lorotas. Toda vez que a gente desvia do assunto, perdemos tempo.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Também acho. E lembro que nosso tempo vai-se esgotando. Ainda não me disseram até que hora estaremos reunidos. Ainda temos o café da tarde, mas logo depois temos de ir embora. Preferencialmente antes que escureça. 

DIADEMA – Você não está insinuando que existe uma correlação entre escurecer, segurança pública e a passagem por meu território? 

ESTADO DE SÃO PAULO – Longe disso, Diadema. Até porque você sabe que sua fama de cidade violenta já não é a mesma. Diferentemente disso. Fizemos de tudo para aliviar não só sua barra, que era muita suja, como também de meu território como um todo. Desde que o Celso Daniel morreu, rebaixamos drasticamente os casos de homicídios. Estamos com um dígito de morte para cada grupo de 100 mil habitantes. Você Diadema, está próximo a isso, com bem sabe. 

GRANDE ABC – Devemos reconhecer que realmente houve um grande avanço em diferentes indicadores de criminalidade, especialmente nos homicídios. E isso é obra do Estado de São Paulo. 

MAUÁ – Aqui dizem que também o crime organizado colaborou ao se entender com as forças de segurança. 

DIADEMA – O mesmo dizem aqui. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Nesse ponto, nessa abordagem, somos todos irmãos. Realmente melhoramos muito e dizem que o resultado é de acertos entre Estado e crime organizado. Mas não vou meter minha colher aí não.  

SÃO CAETANO – A mim pouco interessa saber o peso de cada um nessa história. Sempre fui exemplo de civilização moderna, com reduzidíssimos casos de assassinatos. Sou o paraíso da paz e do amor. 

SANTO ANRE – Nem tanto, vizinha seletiva. Esqueceu que é recordista em roubos e furtos de veículos desde sempre? 

SÃO CAETANO – Aí são outros quinhentos, outros quinhentos.  

GRANDE ABC – Quero lembrar que a nossa pauta está sendo violentada. De novo chamo a atenção para as promessas e lorotas anunciadas. E vou dizendo logo que esse negócio de parque temático é mesmo uma doença recorrente de promessa que jamais se viabiliza.  

CIDADE DE SÃO PAULO – Vem de longe, Grande ABC? 

GRANDE ABC – De muito longe. Tanto é verdade que Santo André também faz parte do enredo. Já prometeram um Parque Temático na Avenida dos Estados. Em agosto de 2013, por exemplo, a então secretária de Desenvolvimento Econômico de Santo André, Oswana Fameli, mandou brasa e ganhou manchete de jornal dizendo que a Prefeitura construiria um centro de convenções no escopo do Polo Tecnológico de Santo André. Como se sabe, não temos uma coisa nem outra. Aliás, temos um parque tecnológico virtual, invenção do atual prefeito. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Sabe o que acho, Grande ABC? Acho que já não precisa mais desfilar essa crônica constatação de que os anões adoram pentear macaco. Quem vive eternamente de ilusões não chega a lugar nenhum. Está na hora, ou já passou da hora, de vocês crescerem. Olhem para mim, mirem no que faço.  

GRANDE ABC – Vai me desculpar, Cidade de São Paulo, mas você não tem autoridade moral que imagina, porque seu processo de desindustrialização é muito mais forte que o nosso. Você também se descuidou nessa fonte de riqueza que é a indústria de transformação. Ou seja: você não é o sabe-tudo que imagina ser. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Bobagem, bobagem Grande ABC. Acho que você deu uma encarregada homérica agora. Provavelmente para fazer média com seus anões.  

GRANDE ABC – Não preciso disso. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Então você sofre de amnésia porque sabe muito bem que a indústria me deixou em larga escala, mas minha vitalidade econômica na área de serviços de ponta, de tecnologia, de turismo, de tudo isso, compensou largamente as perdas da indústria. Sou em serviços de valor agregado o que você jamais será, porque você se acostumou com pouco. Aqui a indústria do cinema, dos shoppings, da saúde, da educação, de tudo que se imagina contemporâneo, é nossa fonte de crescimento. 

GRANDE ABC – Você tem razão, Cidade de São Paulo. Tenho humildade para reconhecer onde estou errado. E estou errado quando, de vez em quando, tenho sentimento paternalista e pretendo proteger meus anões. Eles precisam mesmo de corretivo. Até para que eu não pague o pato.  

CIDADE DE SÃO PAULO – Se não estou enganado, Grande ABC, você prometeu que ia contar uma promessa ou lorota, não sei, do atual prefeito de Santo André, o Paulinho Serra. Desistiu? 

GRANDE ABC – Claro que não. Ele coleciona várias, mas vou contar uma que é de lascar. Quando se vê que ele é formado em Economia e diz uma besteira dessa, que vou contar, a gente fica pensando até que ponto o interesse político-administrativo subverte a capacidade de raciocínio. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Conta logo, Grande ABC, conta logo, porque se é do Paulinho Serra tenho todo o interesse. Ele andou pisando na bola com a gente. Nosso recente comandante política foi deixado de lado por ele, que preferiu se bandear para o Kassab. Conta logo, Santo André.

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