Economia

Máquina pública já consome
36% do PIB Industrial da região

  DANIEL LIMA - 03/06/2022

Prepare-se para entender por que o Grande ABC de mobilidade social esfuziante no passado,  com a indústria a todo fôlego, está se tornando localidade semelhante à média paulista.  

Pegamos pelo colarinho os números deste século do PIB Industrial e do PIB Público. A constatação, que não é a primeira em três décadas de CapitalSocial, é sempre oportuna. 

Tudo bem que o avanço da máquina pública ante atividades geradoras de riqueza não é um fenômeno regional. Afinal,  trata-se de um País em que o Estado esfola os contribuintes em proporção semelhante à insuficiência de dar conta das demandas.  

Entretanto, no caso do Grande ABC, o crescimento do PIB Público neste século no confronto com o PIB Industrial é para lá de preocupante. Temos uma combinação dos infernos. 

MASSA AO POPULISMO  

Não é por outra razão, aliás, que o prefeito de Santo André, Paulinho Serra, aparece quase todo santo dia nas páginas de jornais com ações assistencialistas.  

A indústria de impostos da máquina pública tem tudo a ver, na maioria dos casos, com a desindustrialização. 

O populismo de Paulinho Serra, em detrimento de gestão reformista é, também, um retrato nacional. Exceções confirmam a regra. O que separa Paulinho Serra da maioria dos prefeitos populistas é que muitos prefeitos populistas não têm à mão um abacaxi econômico. Santo André deixou de ser Viveiro Industrial para ser Viveiro Assistencial.  

SALTO QUÃNTICO 

Neste século (vamos, portanto, aos dados) o Grande ABC viu o PIB Público que também pode ser chamado de gastança pública aumentar 280,88% em participação relativa frente ao PIB Industrial. No caso do Estado de São Paulo como um todo, o PIB Público aumentou participação relativa em 53,14%.  

Não vai demorar para o PIB Público do Grande ABC ter participação relativa semelhante a do Estado mais rico da Federação --- e também em processo de desindustrialização mais leve, mas continuada.  

Não é exagero afirmar que o PIB Público pode ser PIB tóxico. Há condicionantes que precisam ser explicadas para retirar a generalização da condição de peça-chave de uma engrenagem lesiva.  

ALTO CRESCIMENTO 

Há endereços municipais que aumentaram o PIB Público ao longo do século sem que necessariamente possa caracterizar pecado capital. Mas isso vamos explicar em outra análise. 

No caso do Grande ABC, que é o que interessa agora, o PIB Público de 1999, base da pesquisa que acabamos de realizar, representava apenas 9,52% do PIB Industrial. Vinte anos depois (o ponto de chegada da pesquisa é 2019, com dados oficiais do Tesouro Nacional), o PIB Público alcançou 36,26% do PIB Industrial. 

Duas corridas distintas comprometeram o saldo do PIB Industrial ante o PIB Público no período.  

PELAS TABELAS  

Primeiro, o PIB Industrial do Grande ABC caiu pelas tabelas, num contínuo processo de desindustrialização, iniciado nos anos 1980, intensificado nos anos 1990 e elevado a nova desilusão durante o período de seis anos de Dilma Rousseff em Brasília – claro que combinado com a inércia regional.  

Segundo, as autoridades públicas que ocuparam os paços municipais até a linha de corte dessa medição elevaram impostos sobre os quais têm poderio constitucional (sobremodo o IPTU) e empinaram os resultados.  

Enquanto o PIB Industrial neste século avançou no Grande ABC em termos nominais (sem considerar a inflação do período 2000-2019) 139,15%, o PIB Público subiu também em termos nominais 328,48%. O time da produção foi rebaixado,  enquanto o time da gastança ocupou os primeiros lugares.  

MAIOR IMPACTO  

Traduzindo agora em termos práticos e considerando-se a inflação de 234,91% do período: a indústria do Grande ABC teve comportamento muito abaixo do processo inflacionário (exatamente 95,76 pontos percentuais) enquanto a máquina pública avançou em termos reais 93,57 pontos percentuais.  

Colocando-se os números dos dois departamentos econômicos (o que produz e o que investe ou gasta, dependendo do titular do Paço Municipal da vez), em 1999 o Grande ABC registrava PIB Industrial de R$ 12.652,19 bilhões e PIB Público de R$ 2.560,77 bilhões. Já na linha de chegada de 2019, registrou PIB Industrial de 30.258,78 bilhões e PIB Público de R$ 10.972,48 bilhões.  

O PIB Público do Estado de São Paulo proporcionalmente é maior que o PIB Industrial, quando se confronta com os números do Grande ABC. Mas os números frios não dão a dimensão do avançado processo de desindustrialização do Grande ABC e da gulodice do Poder Público neste século. 

MAIS PARECIDO  

Como se verá em seguida, o Grande ABC está cada vez mais parecido como a média do Estado de São Paulo. E a média do Estado de São Paulo, por mais que o Estado de São Paulo seja o Estado mais desenvolvido da Federação, perde o viço há muito tempo. 

Em 1999, o PIB Público do Estado de São Paulo equivalia de 30,39% do PIB Industrial  (20,87 pontos percentuais acima do Grande ABC). Já na temporada de 2019 a participação relativa do PIB Público no PIB Industrial no Estado subiu para 46,54% (10 pontos percentuais acima dos dados do Grande ABC).  

Ou seja: enquanto o PIB Público avançou apenas 53,14% relativamente sobre o PIB Industrial no Estado de São Paulo. No Grande ABC o avanço chegou a 280,88%.  

A importância relativa do setor de transformação industrial no Grande ABC é muito maior que a importância relativa média da mesma atividade no Estado de São Paulo.  

PIB MAIOR  

Quando se divide o PIB Industrial do Grande ABC pela população e se faz a mesma operação tendo como base de cálculo a população do Estado de São Paulo e o PIB Industrial, a distância se cristaliza.  

O resultado, levando-se em consideração os dados de 2019, é que o PIB Industrial per capita no Grande ABC é de R$ 10.806 mil, enquanto no Estado de São Paulo não ultrapassa a R$ 8.900 mil Uma diferença de 17%.  

Ou seja: quanto mais se acentuar a progressão do PIB Público sobre o PIB Industrial do Grande ABC, mais as perdas da região estarão consolidadas.  

INDUSTRIAL VERSUS GERAL  

A participação do PIB Industrial no PIB Geral do Grande ABC, ou seja, quando se consideram todas as atividades econômicas, inclusive da Administração Pública, caiu de 47,06% em 1999 para 25,59% em 2019. Um tombo de 45,62%. O tombo do Estado de São Paulo na mesma comparação foi levemente maior, de 53,96 --- de 37,08% para 17,07%. 

Pegar esses dois resultados para concluir que o Estado de São Paulo perdeu mais em relação ao Grande ABC no PIB Industrial é um equívoco. O impacto é que faz a diferença. Os 10 pontos percentuais favoráveis ao Grande ABC quando se compara o PIB Industrial e o PIB Geral com os dados do Estado, caiu para 8,50 pontos percentuais neste século.  

Parece coisa pouca, mas não é. Os números envolvendo as duas atividades se estreitaram. Além disso, há geografias específicas como a Grande Campinas, a Grande Sorocaba e a Grande São José dos Campos que superam largamente o Grande ABC no PIB Industrial neste século.  

Um desfile de logomarcas industriais que nos anos 1980 e 1990 constavam da geografia econômica do Grande ABC pode ser visto naquelas metrópoles do Interior.  

Voltaremos ao assunto. Exceções de crescimento do PIB Público frente ao PIB Industrial tem ramificações saudáveis – por mais que mais Estado num País em que o Estado já é grande demais não comporte comemorações.  

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