Esportes

Santo André vai virar SAF e em
seguida requerer Bruno Daniel

  DANIEL LIMA - 18/04/2022

Enquanto a Administração de Paulinho Serra não toma qualquer iniciativa diplomática e mesmo técnica sobre a importância, a emergência e, principalmente, os princípios básicos à concessão do Estádio Bruno Daniel, o Esporte Clube Santo André parece na dianteira.  

Resta saber qual vai ser a reação do Paço Municipal. Por enquanto, criam-se dificuldades ao representante do futebol da cidade. Mas há indicações de que vozes ponderadas suplantarão os divisionistas.  

O Esporte Clube Santo André mantém tratativas para se transformar em SAF, Sociedade Anônima do Futebol. A documentação deverá estar pronta em duas semanas. Por isso, já se programa a possibilidade de, ao fim desse período, formalizar o pedido de concessão do Estádio Bruno Daniel à Administração Municipal.  

SALDO AO FUTURO  

A ação está sendo analisada pela direção do clube e tem amplo apoio do grupo preocupado com o futuro do futebol cada vez mais profissionalizado em forma de clube-empresa. O novo modelo já controla inclusive algumas das principais agremiações do País.  

A iniciativa está conectada ao cronograma de enquadramento legal do Santo André à nova legislação esportiva.  

A SAF é um grande salto em direção à modernização do futebol brasileiro porque, entre outras vantagens, reduz drasticamente o peso de passivos fiscais e trabalhistas acumulados pela maioria dos clubes associativos.  

O Santo André está num patamar discreto de dividas consolidadas e as adequou a um cronograma de pagamentos suportável.  

PARA INVESTIDORES  

Mas está de olho num salto de qualidade dentro de campo que só será possível com nova configuração legal acompanhada de medidas práticas de potencialização estrutural.   

A mudança de rumo da direção do Esporte Clube Santo André tem como objetivo tentar reaproximar os interesses da agremiação junto aos consultores especializados em investimentos.  

Empresas do ramo se mostram refratárias à alternativa de optar pela equipe da região na busca por interessados.  

O mercado da bola não perdoa quem não tem pressa e, principalmente, quem não encontrar sustentação interna para adotar a nova modalidade que já seduz grandes clubes brasileiros. 

AÇÃO CONSEQUENTE  

Inicialmente o Esporte Clube Santo André pretendia contar com rápida liberação do Estádio Bruno Daniel para, em paralelo, manter entendimentos com consultorias especializadas na transformação de clube associativo em clube empresarial.  

Entretanto, a Administração de Paulinho Serra protela a decisão porque há em combustão um direcionamento paralelo, gestado inclusive por secretários municipais e forças que giram do entorno do gabinete do prefeito.  

A criação do Santo André Futebol Clube, que tem raízes no futebol de salão e agora se anuncia como fonte de gestão de equipes de base de futebol, tornou lenta a decisão do prefeito Paulinho Serra.  

JOGO EMBARALHADO  

Fala-se que o tempo correria a favor dos interesses do Paço Municipal em manter relações mais estreitas com os gerenciadores do Santo André Futebol Clube, em detrimento do Esporte Clube Santo André.  

O clube homônimo não surge por acaso, nem na denominação nem no tempo. Teria sido criado exatamente para atrapalhar o Esporte Clube Santo André e criar embaraços ao uso do Estádio Bruno Daniel.  

Independentemente dessa situação de acavalamento de interesses, o Esporte Clube Santo André, fundado em 1967 com o nome de Santo André Futebol Clube, e que mudou a denominação em 1975 para Esporte Clube Santo André, estaria decidido a solicitar a concessão do Estádio Bruno Daniel somente após a configuração legal de Santo André Sociedade Anônima.   

O que num passado recente não passaria de formalidade, agora pode virar grande desafio. Seria formalidade legal sem qualquer atropelo porque o Esporte Clube Santo André é detentor moral do Estádio Bruno Daniel. Afinal, a praça esportiva foi construída exatamente para que fosse utilizada pela representação oficial do futebol profissional de Santo André.  

USURPANDO HISTÓRIA  

Agora a situação pode se tornar problemática porque entrou na fita de conveniências do Paço Municipal e de secretários que inclusive concorrem às eleições deste ano uma agremiação que jamais disputou qualquer jogo oficial.  

O surgimento do Santo André Futebol Clube ultrapassa o terreno de democracia esportiva, por assim dizer, porque usurparia uma denominação que vem do passado e está na raiz do Esporte Clube Santo André. Trata-se de um marketing de guerrilha que visaria beneficiar-se da história do Esporte Clube Santo André ao levar dúvida aos consumidores de futebol.  

Dirigentes do Esporte Clube Santo André evitam falar sobre o homônimo anunciado e também sobre as relações intestinas que alguns dos dirigentes da nova agremiação mantêm com a Administração de Paulinho Serra.  

Certo é que o documento reivindicando a cessão do Estádio Bruno Daniel em condições semelhantes a da quase totalidade dos clubes brasileiros que atuam em próprios municipais poderá reconectar o Esporte Clube Santo André ao mercado de investidores, sobretudo de executivos que atuam em clubes empresariais.  

PRÓXIMO ALVO?  

A missão será mesmo delicada. Não faltam informações que dão conta de que a Prefeitura de Paulinho Serra vai criar série de obstáculos ao Esporte Clube Santo André tendo como suporte o surgimento do Santo André Futebol Clube.  

Mais que isso: reforça-se a cada dia a veracidade de que tudo faz parte de uma engrenagem preparada para criar embaraços mesmo. A tese de dividir para reinar é insistentemente citada como fonte de inspiração da gestão do tucano e seu entorno.  

Santo André é um Município cada vez mais dependente do Poder Público quando se trata de relações com instituições representativas da sociedade.  

O Esporte Clube Santo André, a salvo dos tentáculos do Paço Municipal, seria o próximo alvo de controle com vistas a interesses políticos e eleitorais. O Santo André Futebol Clube teria surgido exatamente como alavanca à invasão do Parque Jaçatuba.  

MOMENTOS DECISIVOS  

A direção do Esporte Clube Santo André procura distanciar-se desse cenário, mas conselheiros e integrantes de torcidas organizadas se mobilizam discretamente.  

Resta saber quais são os próximos passos. A avalanche imperialista do Paço Municipal não parece ceder à tentação de fundir o futebol da cidade à constelação de controles implícitos e explícitos.  

A fragilidade econômico-estrutural de agremiações com o tamanho do Esporte Clube Santo André num mundo do futebol em que os negócios são cada vez mais sinônimo de fortalecimento das equipes é um prato cheio ao oportunismo.  

Maior peça da cultura social de Santo André, o futebol do Esporte Clube Santo André vive momentos decisivos.  

Um prefeito que se diz decidido a recuperar símbolos tradicionais da cidade, como o Teatro Carlos Gomes, lidera nos bastidores o ataque a uma instituição que teima em não pertencer a qualquer organização política. 

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