Esportes

Santo André congelado e São
Bernardo abrasivo estão fora

  DANIEL LIMA - 24/03/2022

O São Bernardo excedeu-se na temperatura abrasiva da disputa. O Santo André foi um time congelado. Por essa (e também por outras razões) as duas equipes da região não conseguiram ultrapassar a barreira das quartas de final da Série A-1 do Campeonato Paulista, neste meio de semana.  

Resumo da ópera? Está bom demais para quem não entrou ainda no mundo do futebol dos negócios. 

Quem disser que o São Bernardo, clube-empresa, já entrou no mundo do futebol dos negócios está parcialmente correto. Mas o modelo que tem um empresário à frente da agremiação, um empresário rico com relações com uma empresa especializada em negócios do futebol, é insuficiente diante de forças mais poderosas.  

Já o Santo André agora está se mobilizando para chegar ao status de clube-empresa, no modelo da SAF (Sociedade Anônima do Futebol), mesmo tendo como concorrente a própria Prefeitura, administrada por Paulinho Serra.  

Trataremos nos próximos dias de novos capítulos sobre o que anda fazendo a turma da fuzarca ligada a Paulinho Serra. Não é apenas uma vergonha como também um absurdo sem limites. Ao invés de cuidar do Desenvolvimento Econômico de um Município recordista em desindustrialização, Paulinho Serra ataca de negociante de futebol.  

FERVEÇÃO E GELIDEZ   

O São Bernardo perdeu de quatro a um para o São Paulo no Morumbi entre outras razões, mas basicamente, porque levou o jogo a um patamar de ferveção psíquica e física.  

O Santo André perdeu ontem à noite para o Bragantino Red Bull entre outros motivos porque manteve-se congelado psíquica e fisicamente.  

Os dois times foram presas fáceis aos vencedores.  

O São Bernardo caiu de forma acachapante no segundo tempo, depois de ter um jogador expulso e acreditar que, com 10, poderia se lançar ao ataque impunemente. Os quatro a um foram pouco. Se o São Paulo não perdesse tanto tempo comemorando os gols e se lançasse a colocar a bola para reinício de jogo, teria feito uma vantagem muito maior e complicado ainda mais a vida do Corinthians esta noite.  

RITMO DO ADVERSÁRIO  

O Santo André simplesmente não jogou com o Bragantino. Entrou em campo. A paralisia geral tem dois enquadramentos que se juntam: o Bragantino exerceu uma pressão monolítica, sobretudo no primeiro tempo, e o Santo André se assustou com a impossibilidade de fazer o que exibiu na competição: um jogo de aproximação, de tabelas, de ultrapassagens. Entrou na roda do jogo posicional, largo, amplo, do adversário. 

Não se esperava, francamente, que os dois times da região ultrapassassem a barreira das quartas de final, exceto numa jornada excepcional.  

Como o futebol está cada vez mais fragmentado, com grandes cada vez mais fortes, médios e pequenos cada vez menos robustos, imaginar mesmo que circunstancialmente surpresas, é sempre excesso de otimismo. 

Está cada vez mais evidente que na medida em que futebol e negócios viram sinônimos, pequenos e médios clubes estaduais vão ter de se virar.  

ITUANO DEU JOGO  

O Bragantino só é o que está sendo porque tem uma multinacional de energéticos por trás. Outras equipes abaixo do Bragantino mas estruturalmente acima das equipes da região contam com infraestrutura muito maior.  

Caso do Ituano, por exemplo, também um clube-empresa, e que não passou vergonha ontem à noite diante do Palmeiras. Deu jogo.  

A estrada do futuro para agremiações de pequeno e médio porte do futebol brasileiro, notadamente àquelas fora do calendário nacional, casos das equipes da região (o São Caetano está na Série A-2) passa obrigatoriamente por um nível mais poderoso de organização como empresa.  

O modelo associativista do Santo André já deu o que tinha de dar. Até os grandes, Cruzeiro, Vasco, Botafogo, entre outros, sabem disso e reagem. Associados e conselheiros deliberativos não fazem verão na maioria das agremiações na hora de pagar as contas num modelo pouco profissional.  

O que se viu no Morumbi na noite de terça-feira e em Bragança Paulista ontem à noite foram, portanto, desenlaces naturais.  

SEMPRE INSUFICIENTE  

É verdade que os dois times da região decepcionaram, principalmente o São Bernardo, mas se fizessem mais seria sempre insuficiente.  

Exceto, claro, uma jornada de gala. Como a do Santo André na Copa do Brasil de 2004. Mas aquele futebol estrutural já não existe mais.  

O mesmo Flamengo vítima de uma travessura do destino em 2004 hoje está na ponta do ranking sul-americano longe de fator circunstancial. As transformações internas e a nova modelagem de negócios do futebol fazem toda a diferença.  

Os grandes brasileiros miram para o Primeiro Mundo. Novas concepções se aplicam. Até uma Liga Nacional que se traduziria em bilhões de reais está chegando para mudar de vez o jeito que se vê futebol no Brasil.   

Portanto, não dá para chorar o leite derramado na terça-feira e ontem à noite. Até porque não há leite derramado algum.  

PAIXÃO E RAZÃO 

Somente os fanáticos poderiam esperar algo diferente do que se deu. O desequilibrado São Bernardo e o atônito Santo André talvez tenham sido induzidos a jornadas miraculosas e, daí, reagidos com destempero de temperatura emocional e operacional.  

De qualquer maneira, o saldo é positivo. Tanto o São Bernardo quanto o Santo André colocaram a região num patamar de audiência midiática que nenhuma outra área social e econômica seria capaz.  

Nosso melhor produto midiático, embora ainda seja um produto sujeito a muitos reparos e limitações de desenvolvimento, é o futebol. A competitividade no gramado é a constante prova dos nove. Não dá para enganar o distinto público. Somos fortes entre iguais e semelhantes, mas frágeis ante agremiações que saltaram de patamar ou aprimoram o patamar que já frequentavam.  

O limite técnico-tático dentro de campo (e as limitações fora das quatro linhas) tanto do São Bernardo e quanto do Santo André não é uma sentença desclassificatória. É a constatação de que é preciso entender a mecânica do negócio chamado futebol. Que deve ser paixão apenas nas arquibancadas e redes sociais. E ficar a léguas de distância de mecanismos capitalistas nas torres do Poder Público.  

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