Dib e Marinho, extremos de
uma São Bernardo vulnerável
DANIEL LIMA - 09/03/2022
Quatro prefeitos comandaram São Bernardo desde a chegada do Plano Real, em 1994. E o melhor desempenho econômico contemplou de forma extraordinariamente forte Willian Dib, sucessor de Maurício Soares. O pior resultado acumulado é do petista Luiz Marinho. Orlando Morando está conseguindo resultado positivo discreto.
Todos eles, sem exceção, têm em comum a interferência do que chamo de Doença Holandesa Automotiva, que determina o andar da carruagem da economia de São Bernardo.
O setor automotivo de São Bernardo é um paraíso ou um inferno para os prefeitos. A Capital Econômica do Grande ABC é vulnerável demais a vetores externos. Como se os problemas internos já não fossem suficientes.
Como antecipamos na edição de ontem, ao analisar o desempenho dos prefeitos de Santo André a partir das eleições municipais de 1996, o remelexo em São Bernardo é mais intenso. Santo André é menos suscetível a quedas e evoluções de geração de riqueza em forma de Valor Adicionado.
AMENIZANDO DORES
É verdade que o setor químico e petroquímico tem o poder de influenciar os resultados do Valor Adicionado de Santo André, mas não nas mesmas dimensões e proporções do setor automotivo em São Bernardo.
São Bernardo é espécie de liquidificador. Santo André é uma escada rolante de shopping center. Historicamente para baixo, mas sempre suavemente.
São Bernardo é um elevador andares abaixo. De vez em quando, sobe. Desde que inventaram outros polos automotivos no País, São Bernardo ganhou tração fosso abaixo. Somente ilusionistas não veem nisso mais que sintoma, a estrutura típica de desindustrialização. Há gente na praça que trata elevador-acima como regra, não exceção.
No caso de Santo André, o setor químico e petroquímico camufla novas ondas de desindustrialização em atividades diversas. Tudo encoberto ou parcialmente encoberto pelos humores e horrores das fábricas de produção de químicos e petroquímicos, que geram poucos empregos industriais e muito Valor Adicionado.
AUTOMOTIVO IMPLACÁVEL
Em São Bernardo o setor automotivo, de montadoras de veículos e autopeças, é implacável. Quando vai mal, contamina drasticamente tudo.
O PIB (Produto Interno Bruto) de São Bernardo neste século caiu da sexta para a sétima posição, com crescimento nominal de 332,05%. Praticamente empatado com a inflação do período. O PIB per capita de Santo André caiu da 12ª para a 16ª posição no mesmo período, com avanço nominal de 358,74%. Os resultados estão restritos ao G-22, o Clube dos Maiores Municípios do Estado, exceto a Capital.
Em 24 anos de mandatos, os quatro prefeitos que ocuparam o Paço Municipal de São Bernardo tiveram comportamentos distintos no cômputo geral.
Maurício Soares governou a cidade entre janeiro de 1997 a março de 2003. Acumulou perda do Valor Adicionado de 11,89%. Quando se divide esse total por seis anos, chega-se à perda média anual de 1,98%.
No período de gestão de Maurício Soares, a indústria automotiva nacional aumentou a produção em 0,923% -- de 1.623.135 milhão veículos de passeio, comerciais, ônibus e caminhões para 1.633.790 milhão.
PERDENDO ESPAÇOS
São Bernardo vem perdendo participação absoluta e relativa no bolo automotivo nacional. O Grande ABC como um todo não chega a 10% da produção nacional.
O sucessor de Maurício Soares na Prefeitura de São Bernardo foi Willian Dib, que assumiu em março de 2003 após renúncia do titular por alegados problemas de saúde. Dib teve ganho real de Valor Adicionado: 39,90% em seis anos, média de crescimento anual de 6,65%.
No período, o setor automotivo nacional cresceu 86,77% em produção: de 1.623.135 milhão para 3.050.000 milhões. O presidente Lula da Silva facilitou a vida de todos com alto consumo. Dilma Rousseff pagou a conta em seguida.
O desempenho da economia de São Bernardo sob o comando do petista Luiz Marinho a partir de janeiro de 2009, encerrando-se em dezembro de 2016, foi o mais duramente impactado pelo setor automotivo, com perda de 62,69% do Valor Adicionado, média anual de 7,83%.
A produção nacional registrou queda de 28% no período – de 3.050.000 milhão de veículos em 2008 para 2.176.784 em 2016.
MORANDO DISCRETO
Já o tucano Orlando Morando alcançou relativo sucesso no período de quatro anos do primeiro mandato, entre janeiro de 1997 e dezembro de 2020. Houve crescimento do Valor Adicionado de 5,55% no período, média anual de 1,39%. Bem abaixo de William Dib, mas muito acima de Luiz Marinho.
O setor automotivo produziu praticamente os mesmos números entre o ano da eleição de Orlando Morando e os quatro anos do primeiro mandato: de 2.176.784 milhões para 2.014.055 milhões. Uma queda suave. Bem diferente, portanto, da vivenciada pelo antecessor Luiz Marinho.
Todos esses resultados levam em consideração o Valor Adicionado atualizado para cada período, ou seja, após a aplicação da correção monetária decorrente da inflação medida pelo IPCA do IBGE.
Maurício Soares dirigiu São Bernardo entre 1997 e 2002, desconsideramos os três meses de 2003, quando renunciou. Nesse período de seis anos, São Bernardo contava inicialmente com Valor Adicionado de R$ 8.048.648 bilhões e chegou a R$ 10.763.002 bilhões. A inflação do período chegou a 49,63%.
Dessa forma, a atualização monetária do Valor Adicionado da temporada de 1996 (antecedente à posse de Willian Dib) saltou de R$ 8.048.648 bilhões para R$ 12.043.192. Entretanto, como só contabilizou de fato R$ 10.763.002 bilhões, a diferença de R$ 1.280.190 bilhão representou perda do Valor Adicionado de 11,89%. Queda anual de 1,69%.
DIB FANTÁSTICO
Willian Dib dirigiu São Bernardo durante seis anos, de 2003 a 2008. O Valor Adicionado da temporada anterior à posse, de R$ 10.763.002 bilhões, saltou para R$ 25.399.592 bilhões. Um salto real, descontada a inflação do período (41,82%) de 39,90%. Média de crescimento anual de 6,65%%.
O Valor Adicionado de São Bernardo da temporada de 2002 (base de cálculo do desempenho de Willian Dib) chegaria a R$ 15.264.089 bilhões caso corresse na mesma velocidade da inflação de 41,82%. Mas o ritmo foi superior e alcançou R$ 25.399.592 bilhões.
Quem pegou o rabo de foguete do vitorioso desempenho de Willian Dib foi Luiz Marinho. A base de cálculo do Valor Adicionado dos oito anos de gestão do petista é o montante de R$ 25.399.592 registrado na temporada de 2008 da administração de Willian Dib. Um valor bastante considerável.
MARINHO SACRIFICADO
Quando Luiz Marinho deixou a Prefeitura, em 2016, o Valor Adicionado registrava R$ 25.773.863 bilhões. Praticamente o mesmo montante do Valor Adicionado de quando assumiu a Prefeitura. Como a inflação do período de oito anos de gestão chegou a 65,09%, o montante que deveria ser registrado para que não houve perda seria de R$ 41.932.186 bilhões. Uma diferença negativa, portanto, de 16.158.323 bilhões.
Houve, portanto, uma hecatombe que provocou perda real do Valor Adicionado de 62,69% que, divididos por oito anos, significa queda média anual de 7,83%.
Faltou sorte, muita sorte, para Luiz Marinho deixar a Prefeitura com números menos impactantes: ficou na sua conta de prefeito todo o efeito nocivo da política econômica do governo federal de Dilma Rousseff.
São Bernardo viveu a pior crise no século. O Brasil sofreu com dois anos seguidos de recessão, em 2015 e 2016. Uma crise contratada no segundo
Para completar o ciclo de 24 anos de prefeitos de São Bernardo, Orlando Morando registra saldo positivo de crescimento anual no primeiro mandato de 1,39%. No acumulado, são 5,55% de crescimento. Mais que todos os antecessores, à exceção de Willian Dib.
LENTA RECUPERAÇÃO
Quando assumiu a Prefeitura, em janeiro de 1997, Orlando Morando herdou Valor Adicionado da temporada anterior, de Luiz Marinho, de R$ 25.773.863, e o peso sobressalente da maior crise já vivida pelo Município. Quando terminou o primeiro mandato, em dezembro de 2020, o Valor Adicionado de São Bernardo chegava a R$ 31.674.048 bilhões.
Não fosse registrado o aumento real de 5,55% e o jogo terminasse empatado, a inflação de 16,43% do período teria elevado o Valor Adicionado a R$ 30.008.850 bilhões. O ganho de um pouco mais de R$ 1,5 bilhão pode ser um alento aos próximos anos.
Possivelmente essa melhora já se tenha registrado na temporada de 2021, que vai entrar na contabilidade futura desses estudos. Houve alguma melhora no setor automotivo nacional (crescimento da produção em 11,6%) quando comparado ao ano anterior, de 2020, sob os efeitos economicamente mais agressivos do Coronavírus.
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