Política

Olha só: regionalidade vale
menos que lixo paulistano

  DANIEL LIMA - 14/02/2022

O Grande ABC está institucionalmente à deriva e ninguém ou poucos se dão conta disso. A mais nova estocada na honra regional, uma abstração porque honra regional é ativo rarefeito, dá conta de que o chefe do Clube dos Prefeitos, o secretário-geral trazido pelo prefeito dos prefeitos Paulinho Serra, preferiu voltar à Capital, de onde veio, para administrar o lixo paulistano.  

O lado positivo disso é que para muitos finalmente caiu a ficha: nossa regionalidade vale menos que os detritos da maior cidade do País.  

Para quem tem alguma dificuldade de entender o significado de regionalidade, não custa lembrar alguns ensinamentos básicos.  

Regionalidade é um imenso guarda-chuva sob o qual tudo que é importante para o futuro de três milhões de habitantes deveria ser missão sacrossanta. Pois a profanação desse legado de Celso Daniel é constante. 

Só que tudo tem um limite, e o limite não passa nem mesmo pela sensatez, que foi para o espaço sideral há muito tempo.  

Mediocridade festejada  

O limite, no caso do secretário-geral Acácio Miranda que se escafedeu com ares de triunfo do prefeito Paulinho Serra, é o respeito à cidadania regional.  

Quando se festeja a saída de um medíocre, como se confirmou medíocre o secretário-executivo em questão, alçando-o ao patamar de ativos da região valorizado pela Capital, o gataborralheirismo servil, pior que o gataborralheirismo involuntário, porque cultural, se torna insuportável.  

A regionalidade do Grande ABC a bordo do Clube dos Prefeitos é uma acintosa mentira que perdura porque há interesses políticos e eleitorais por trás de tudo. Joga-se para a plateia quase toda ignorante e despreparada para entender a dimensão dos problemas que rompem a cartografia dos municípios locais.  

Poderia haver interesses políticos e partidários, porque a vida é política, goste-se ou não, mas zombar da inteligência de terceiros é dose suplementar de desrespeito. Foi o que o prefeito Paulinho Serra patrocinou voluntariamente ou não. Exibir como troféu um medíocre que se foi e que nada fez por aqui é um exagero comprometedor.  

Quando se exagera no marketing, e o prefeito Paulinho Serra é da mesma escola do governador João Doria, o fio pode virar. O feitiço volta-se contra o feiticeiro.    

Penduricalho regional  

Em qualquer circunstância, a troca do comando do Clube dos Prefeitos por qualquer secretaria na Capital já seria uma derrota da regionalidade.  

Afinal, significaria que o titular, mesmo que um titular político, porque não foi outra coisa o indicado à secretaria de limpeza urbana da Capital, era apenas um penduricalho no organograma da suposta integração dos sete municípios do Grande ABC.  

Quando a circunstância em questão é anabolizada pelo gataborralheirismo e pela política miúda, de troca de favores, de acomodações que visam outros passos igualmente menos nobres, tudo se torna escancarado demais para que, mesmo com muita boa-vontade, um jornalismo independente e disposto a colaborar, se cale.  

Tenham a santa paciência! Parem com tamanho amadorismo.  

Tenham a mínima compostura. Querem desmoralizar quem por razões estritamente colaborativas às vezes se omite temporalmente para ver aonde chegaremos!  

Que voto de confiança é possível manter quanto o que se pratica à luz da estupidez é um tiro no rosto da inteligência? 

Moeda de troca  

Secretário-executivo de uma instituição como o Clube dos Prefeitos, mesmo que um Clube de Prefeitos praticamente inútil no que deveria ser relevante ao extremo, no caso o Desenvolvimento Econômico, secretário-geral deveria ser um cargo de longevidade explícita, de várias temporadas, no interior de um arcabouço diferente do que está aí.  

Jamais um secretário-geral poderia ser moeda de troca, de favores, de conchavos. E foi isso que o secretário-geral se tornou. Uma marionete político-eleitoral. O Grande ABC que se dane.   

Talvez não se tenha ainda a compreensão do que representa a regionalidade para o futuro do Grande ABC. Por mais que antes mesmo da virada do século o assunto tenha se tornado pauta obrigatória, ainda somos reticentes no tratamento do principal passivo regional.  

Reticentes é eufemismo para minimizar o vocabulário crítico. O que temos mesmo é uma mistura de negligência e desprezo, quando não de descaso e equivalentes.  

Regionalidade econômica  

Quando lancei a revista LivreMercado, em março de 1990, coloquei na pauta midiática regional o que praticamente era um deserto: a preocupação com o Desenvolvimento Econômico. Imperava até então a bajulação em torno da grandeza econômica que já dava sinais de enfraquecimento.  

Nada até então nos jornais e em outros veículos de comunicação se dava conta de que já tínhamos iniciado processo de derrocada econômica.  

LivreMercado foi a expressão-marca que engendrei com base no ambiente internacional, de queda do Muro de Berlim, menos de um ano antes.  

Era uma forma de dar um recado objetivo: Desenvolvimento Econômico precisa contar com liberdade, mas também com suporte do Estado. Sem compadrios. Meritocracia acima de tudo. 

Grande palavrão  

Desindustrialização era e continua sendo um palavrão àqueles que não querem mudar nada porque o que controlam é mais que interessante à perpetuação de poderes.  

O histórico de aprendizagem de 30 anos do Clube dos Prefeitos não poderia jamais desembocar na manchetíssima de sábado do Diário do Grande ABC. Deu-se conta, de forma entusiástica, que estamos exportando um craque da Administração Pública para a vizinha e poderosa Capital, a Cinderela de nosso Complexo de Gata Borralheira.  

Não é assim que se procede à valorização da região no sentido motivador, não mistificador. 

Afinal, estamos nos livrando de um executivo público que não fez absolutamente nada que possa ser catalogado como incremento ao Desenvolvimento Econômico.  

Como muitos antecessores, mas muito mais porque não conhece sequer as divisas da região, o secretário-executivo não liderou nada para aproximar as partes que interessam e imantar a região de um sentimento defensivo e progressivo de enriquecimento econômico. 

O secretário-executivo é claramente um homem de partido, o que está longe de ser crime. Muito diferente disso, porque esse atributo poderia ser utilizado para fortalecer o Clube dos Prefeitos. O problema é que ele é um homem de partido, no sentido não específico de partidarização, sem compromisso com a base estrutural do Grande ABC, que está na sede do Clube dos Prefeitos.  

Espaço aberto  

No fundo, no fundo, não perdemos nada com a gloria individual de translado encomendado do secretário-geral para o setor de limpeza urbana da Capital. Ganhamos muito, se querem saber.  

Agora o espaço está aberto para quem sabe o prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos, Paulinho Serra, acertar o tiro de uma vez, porque já errou demais.  

Já passou da hora de o Clube dos Prefeitos ser completamente reformulado, esquadrinhado, planejado e executado como fonte de inspiração e progressão de políticas públicas conectadas com o mundo real, o mundo dos empreendedores.  

Não é mais possível perdurar lengalengas que parecem infinitas. Entram prefeitos dos prefeitos, saem prefeitos dos prefeitos, e a porcaria, para não dizer outra coisa, permanece a mesma coisa. Permanecem?  

Pioram, porque estagnação significa atraso num mundo de competitividade alucinante, com novos lances de resistência. Está aí o Coronavírus, suas versões e a crise no abastecimento de fábricas, para confirmar a situação de alto risco.  

Para não dizerem que sou engenheiro de obras feitas, seguem os trechos principais da análise que publiquei em três de junho de 2021 sobre o secretário-executivo que acaba de sair pelo lixo de São Paulo.  

Clube dos Prefeitos: estranho

no ninho fantasia histórico 

 DANIEL LIMA - 03/06/2021 

O secretário-geral do Clube dos Prefeitos do Grande ABC, Acácio Miranda, é um mistificador da classe política. Esse é o retrato de um novo capítulo envolvendo a realidade do Grande ABC. Em artigo assinado no Diário do Grande ABC, o executivo rebocado da Capital por injunções político-partidárias pelo prefeito Paulinho Serra, também prefeito temporal dos prefeitos da região, construiu um edifício de regionalidade que não fica de pé.  

Quem o leu e não se irritou provavelmente estaria na mesma situação de ignorância informativa do autor ou chegou a tal ponto de exaustão que já não sente qualquer reação diante de barbaridades que agridem a história.   

(...) Posso resumir o artigo por meio de um paradoxo: fosse tudo o que descreveu o secretário-geral Acácio, mesmo assim o texto poderia ser inserido nos anais de fragilidades do Clube dos Prefeitos.  Imaginem então o que se apresentou, tendo como base incongruências, desconhecimento e generalizações insustentáveis. Acácio Miranda, secretário-geral de Paulinho Serra no Clube dos Prefeitos, afirma que o trecho sul do Rodoanel se deve às ações da instituição. Bobagem: as divisões políticas e partidárias sempre operaram em sentido contrário aos interesses coletivos da região.   

(...) O secretário-geral Acácio Miranda também afirma que a Universidade Federal do Grande ABC veio a reboque de ações do Clube dos Prefeitos. Outra bobagem: foi o PT que se mobilizou à parte daquela entidade, e convenceu o presidente Lula da Silva a implantar um sonho antigo que também virou pesadelo. A UFABC apenas está no Grande ABC, não faz parte da cultura produtiva do Grande ABC. Com viés de modelo de passarelas internacionais, a UFABC descolou-se do grito de emergência econômica regional, notadamente do setor químico e petroquímico tão desejado.   

(...) Até o Hospital Mário Covas, demanda muito antiga, é colocado na conta de ativos do Clube dos Prefeitos. Fundado em 2001, reconstruído a partir de escombros de obras inacabadas, o Mario Covas não virou realidade por força do colegiado de um Clube dos Prefeitos fora da curva de ineficiências, porque sob a influência de Celso Daniel. Foram representações de fragmentos da sociedade civil desorganizada que atuaram nesse sentido.   

(...) Alguns penduricalhos apontados pelo secretário-geral Acácio Miranda para lustrar a regionalidade pretendida a bordo do Clube dos Prefeitos só confirmam a história reticente e de baixa capacidade resolutiva da instituição. Os projetos que saíram do forno de reuniões de especialistas temáticos que convergiram em direção a um Grande ABC só confirmam a frustração da dificuldade imposta em os transformar em realidade.   Entre projetos e realizações há um longo caminho a percorrer. O Clube dos Prefeitos é um pangaré de organização e sensibilidade num ambiente de demanda regional que recomenda um manga-larga de planejamento e execução.  

(...) O trololó ufanista do secretário-geral Acácio Miranda visava mesmo retirar o traseiro de inconformidades, descuidos e incompetências generalizadas do Grande ABC em combater o Coronavírus. Tanto que o título do artigo (“Um milhão de olhares à regionalidade”), referindo-se ao total de doses de vacinas que já ocuparam braços na região, pretende exatamente isso: vender a ideia de que somos um território de extraordinária habilidade no combate à pandemia.  Trata-se um tapa na cara da verdade, porque perdemos até do Distrito de Sapopemba, da Capital, quando se faz a conta certa e inegociável de tomar o total de mortes em confronto com o número de habitantes. O resultado é letal a qualquer tentativa de embromação.   

(...) O secretário Acácio Mirando é uma réplica de sinais trocados do conselheiro Acácio, de O Primo Basílio, de Eça de Queirós: se as obviedades do personagem ficcional eram irritantes, as conjecturas do representante do Clube dos Prefeitos são a linguagem de negacionistas dos fatos.

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