Economia

Região perde uma Santo André
de massa salarial em seis anos

  DANIEL LIMA - 17/01/2022

Você tem ideia da gravidade embutida no enunciado da manchetíssima aí em cima? Dá para se ter ideia mesmo que razoável do que significa uma Santo André a menos de assalariados nos sete municípios?  

Se houvesse no Grande ABC um mínimo do mínimo de institucionalidade regional, de gabinete de crise qualificado, não teríamos passado o período dessa catástrofe, de janeiro de 2015 e dezembro de 2020, absolutamente inertes. Mais que inertes, silenciosos. Afinal, foram 19,35% de rebaixamento de riqueza salarial.  

A banda do desemprego passou e não houve o correspondente alerta em forma de organização da sociedade.  

O Grande ABC tem uma institucionalidade irrevogável até prova em contrário: a institucionalidade da negligência e do descaso quando a Economia em vetores básicos entra em campo.  

Pior que FHC 

Perder uma Santo André inteira de massa salarial de emprego formal numa comparação ponta a ponta de 72 meses é um quadro mais grave que os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, entre 1996 e 2002, até então o período mais dramático da região.  

Naquele período, que acompanhamos atentamente à frente da revista de papel LivreMercado, antecessora de CapitalSocial, a situação seguiu mais ou mesmo a mesma toada, quando foram destruídos 85 mil empregos industriais.  

A organização coletiva da sociedade do Grande ABC ganhou um último suspiro, tendo o prefeito Celso Daniel à frente. Mas as nuances de empregos que viraram pó jamais foram rigorosamente expostas e analisadas de maneira prospectiva.  

Seis temporadas tenebrosas 

Não duvide dos dados que vou expor porque são dados oficiais, do Ministério do Trabalho e Emprego. Decodifiquei-os, como sempre. A perda líquida de 94.014 postos de trabalho no período, já analisada nesta revista digital, ganhou detalhismos do Caged, o Cadastro Geral de Emprego e Desemprego do Ministério do Trabalho. Agora dá para saber o tamanho do rombo nos mínimos detalhes. 

Nos 72 meses ou seis anos analisados o Grande ABC perdeu em massa salarial o equivalente a R$ 602.663.857 milhões.  

Quem acha que é muito dinheiro ainda não sabe o pior. Esse valor corresponde a dezembro de 2020, o ponto de chegada da pesquisa, quando comparado a dezembro de 2014. Nesse intervalo todo, ou seja, nos 72 meses, as perdas foram se acumulando. Até chegar a R$ 602 milhões e uns quebrados.  

Rombo mês-a-mês 

É praticamente impossível, por falta de matéria-prima básica, avaliar o tamanho do rombo mês-a-mês. O cálculo que produzimos é ponta a ponta. O que é suficiente para mostrar o tamanho do prejuízo social e econômico.  

Aonde entra Santo André nessa história de debacle da massa salarial? Peguei Santo André apenas como exemplo emblemático, porque a massa salarial do Município mais desindustrializado do País ao longo de décadas contava naquele dezembro de 2020 (a fita de chegada da pesquisa) a números semelhantes do estrago regional: R$ 629.301.501 milhões de massa salarial. Santo André contava em 2020 com 201.906 mil trabalhadores com carteira assinada. 

Poderia ter feito a comparação com qualquer Município da região que o leitor entenderia o tamanho do problema herdado de uma recessão que começou no governo petista de Dilma Rousseff, passou por pífia recuperação de Michel Temer e invadiu o mandato de Jair Bolsonaro, impactado, a bem da verdade, pelo Coronavírus em seu primeiro ano de danos monumentais.   

Fazendo as contas  

Jamais imaginaria que, aluno rebelde, o jornalismo me obrigasse a dominar o necessário de matemática para destrinchar dados brutos. Cheguei a uma Santo André de quebra da massa salarial em dezembro de 2020 ao somar a massa salarial de cada Município do Grande ABC.  

Peguei a média salarial de Santo André e a multipliquei por 201.916 trabalhadores formais de todas as atividades. Deu R$ 629.301.501 milhões em dezembro de 2020. Em São Bernardo, foram 246.846 trabalhadores formais multiplicados pela média salarial. A operação se repetiu sete vezes. Somos um bicho-de-sete-cabeças, como se sabe.  

Resultado final? A massa salarial geral do Grande ABC em dezembro de 2020 chegou a R$ 2.512.326 bilhões. Já em dezembro de 2014 o total regional registrado foi de R$ 2.274.213 bilhões. Atualizei o valor pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O índice acumulado de inflação foi de 36,97%. Trazendo à realidade de dezembro de 2020, os valores de dezembro de 2014 passaram a ser R$ 3.114.990 bilhões.  

Corrigindo pela inflação  

A diferença para baixo, ou seja, negativa, se explica quando se lança o total de mais de R$ 3 bilhões projetados inflacionariamente em confronto com o pouco mais de R$ 2.512 bilhões do efetivamente gerado de massa salarial. Está aí o buraco de mais de R$ 600 milhões entre um dezembro e outro dezembro.  

Vou usar outra comparação para tentar dimensionar pedagogicamente o estrago no mercado de trabalho formal a partir do segundo mandato de Dilma Rousseff, petista que o PT vai esconder o quanto puder nas eleições presidenciais porque partido bom da cuca não revela as mazelas, torcendo que torce para a Imprensa sem memória também esquecer.  

Vamos fazer uma experiência diferente. Pegue os R$ 602.663.857 de diferença para baixo entre dezembro de 2014 e dezembro de 2020. Vamos traduzir esse valor em forma de unidades de negócios que teriam desaparecido da região em empregos formais?  

Muitas Bridgestone Firestone 

A média salarial do emprego industrial formal em Santo André em dezembro de 2020 era exatamente R$ 4.220,71. Números aqui, números ali e chegamos a 47 fábricas de três mil funcionários cada. Uma Bridgestone Firestone, por exemplo, multiplicada por 47 Bridgestone Firestone – eis o saldo negativo dos sete municípios da região quando se tem o foco nos valores da massa salarial do contingente expelido das folhas de pagamentos.  

Será que é isso mesmo? Perdemos tudo isso de massa salarial no Grande ABC em 60 meses? É isso mesmo.  

1. Santo André perdeu massa salarial de 11,97% no período, sempre em termos reais, ou seja, descontando-se a inflação. Os R$ 521.916.510 milhões da massa salarial de dezembro de 2014 deveriam virar R$ 714.869.044 em dezembro de 2020.  

2. São Bernardo perdeu 23,99% de massa salarial, sobretudo porque foi mais atingida no setor industrial. Os salários somados em dezembro de 2014 eram em termos nominais R$ 917.405.198 milhões e deveriam ser, seis dezembros depois, R$ 1.256.569 milhões, mas não passou de R$ 955.113.844 milhões.  

3. São Caetano perdeu 14,28% de massa salarial entre os dois dezembros separados por seis anos. Os R$ 311.668.286 milhões nominais de dezembro de 2014 deveriam ser R$ 426.892.051 com correção inflacionária, mas não passaram de R$ 365.944.422 milhões.  

4. Diadema perdeu 28,88% de massa salarial no período. Os R$ 292.790.104 milhões de dezembro de 2014 deveriam ser R$ 401.034.605 milhões em dezembro de 2020. Foram apenas R$ 285.253.780 milhões. 

5. Mauá, do Polo Petroquímico, perdeu 7,99% da massa salarial no período. Os R$ 170.782.384 milhões deveriam ser R$ 233.920.631 milhões em dezembro de 2020, mas foram R$ 210.898.416 milhões. 

6. Ribeirão Pires caiu 20,09% quando se comparam as massas salariais no período. Eram R$ 51.905.810 milhões em dezembro de 2014 e deveriam ser, com a inflação, R$ 71.095.388 milhões em dezembro de 2020. Não passou de R$ 56.808.256 milhões. 

7. Rio Grande da Serra perdeu 15,11% de massa salarial em 60 meses ponta a ponta. Os R$ 7.745.312 milhões de dezembro de 2014 deveriam ser R$ 10.608.754 milhões em 2020 com a atualização da moeda. Não passou de R$ 9.005.983 milhões.

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