Política

Vamos ter goleada ou zebra no
jogo eleitoral em São Caetano?

  DANIEL LIMA - 15/12/2021

O número máximo de votos enseja uma goleada ou um jogo disputadíssimo. Você acha que vai dar o quê amanhã em Brasília quando o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidirá se José Auricchio Júnior assume a Prefeitura de São Caetano provavelmente no começo do ano ou será necessária nova eleição, com Fabio Palacio voltando a concorrer? 

Imagino que não faltarão oportunistas que, na moita, quietinhos, escondidinhos, pretendem se locupletar com uma frase muita conhecida entre engenheiros de obra feita: “Não disse que o Auricchio ia perder, não disse!”.  

Quando escrevo essa frase penso num exemplar abominável com o qual convivi durante algum tempo por força de necessidade e que é especialistas em dizer que acertou o resultado de qualquer coisa, mesmo que para isso descontextualize e faça das tripas coração para vender gato por lebre. 

Acho que esse exemplar que caberia perfeitamente no figurino que a propaganda do passado consagrou com a expressão “Lei de Gerson”, de levar vantagem em tudo, está de butuca, prontíssimo para festejar uma reviravolta nos dois a zero favoráveis a Auricchio e consequente anulação da disputa de novembro passado. 

Especulação e palpite  

Se alguém perguntar ao exemplar mencionado algo que o leve a sair do intramuros e aceite uma proposta, mesmo na brincadeira, de que a projeção por ele formulada -- de vitória indireta de Fabio Palacio -- está fadada ao fracasso, e que, portanto, caberia quem sabe uma meia dúzia de cervejas como recompensa, ele provavelmente até aceite o desafio. Desde que não saia das quatro linhas de um grupo fechado. Declaração pública, ou publicada, nem pensar.  

Faço essa avaliação no sentido mais emblemático do que qualquer outra coisa para dizer o que vou dizer agora: há posicionamentos sobre o resultado do julgamento do TSE em cada esquina de São Caetano, para não dizer de áreas políticas do Grande ABC. O embate fora de campo, no tapetão, é um prato a ser consumido especulativamente.  

Suspeição é lugar-comum  

Mas até mesmo especulação para ser levada a sério precisa ser estruturalmente convincente, caso contrário vira palpite, quando não insinuação de suspeição. Ministros do TSE seriam flexíveis demais a determinadas manobras. 

Dizer que teremos a vitória de José Auricchio ou de Fabio Palacio, resumo da ópera de interesses, pode tanto ser um vale-tudo sem compromisso algum com o processo como pode também ser a síntese de conhecimento básico dos autos.  

Já escrevi e vou repetir, e sem medo de consequências supostamente desclassificatórias como palpiteiro que não sou, porque especulador sou com base no que está no processo: José Auricchio Júnior será empossado nos próximos dias, em janeiro o mais tardar, depois de sair vitorioso por goleada semelhante à imposta pela Alemanha ao Brasil na semifinal da Copa do Mundo de 2014, no Mineirão.  

Traduzindo tudo em números especulativos: vai dar Auricchio por placar de seis a um, e se bobear, até por sete a zero.  

Goleada previsível 

Limitando-me a escrever sobre o resultado do jogo judicial, a goleada de José Auricchio é mais que previsível não necessariamente porque já estava dois a zero no placar, quando o ministro Barroso pediu vistas. Mais que os dois a zero, vale a fundamentação técnico-jurídica.  

O voto do relator que também atuou como corregedor-geral, é mais que um caminhão de entranhamento sustentável de que o prefeito eleito dispunha de condições legitimas para competir e já que competiu e venceu deve exercer o cargo. O um a zero no placar em seguida contemplado com o segundo voto favorável a Auricchio está solidamente justificado.  

Voto pesadíssimo 

O relator-corregedor carrega como elemento de convencimento uma decisão anterior, também como corregedor-geral e relator do TSE, que culminou na cassação do mandato de um deputado estadual paranaense por uso indevido de redes sociais.  

Ora bolas, se o mesmo ministro conduziu um processo rigorosamente problemático com um poder de sedução (no bom sentido do verbete) junto aos colegas de trabalho, como acreditar que no caso envolvendo as eleições em São Caetano haveria possibilidade de ocorrer uma zebra? Até porque dois votos confirmatórios já se alinharam.  

É claro que cada processo é um processo e que as situações precisam ser observadas levando-se em conta, portanto, as especificidades do recurso do prefeito eleito. Tudo muito claro.   

Descendo do muro  

Quem expõe aos demais magistrados uma série de argumentos que colocam o financiamento supostamente irregular da campanha de José Auricchio na disputa anterior à Prefeitura num invólucro inviolável, libera o prefeito eleito a tomar assento no Palácio do Cerâmica. Não é qualquer coisa o pano de fundo de credibilidade técnica a cassação na mesma data da sessão de um deputado estadual.  

A razão de mais uma vez escrever sobre o caso que coloca São Caetano em situação administrativa senão comprometedora, mas completamente fora da institucionalidade desejada, é que gosto de pelejar. Detesto ficar em cima do muro. Mas só desço do muro, porque sempre tudo começa em cima do muro ao analisar a situação, qualquer que seja a situação. No caso específica, seria um estúpido se desconsiderasse as evidências de que há encaminhamento à vitória estrondosa de José Auricchio.  

Silêncio geral  

O que mais me choca como jornalista é que há um silêncio absoluto da classe sobre o resultado do julgamento em Brasília. Não enxergo uma viva alma que coloque os pés no chão do desafio de enveredar por um provável resultado. Os textos são rigorosamente os mesmos de sempre, apenas expositivos. Nada de entrar em campo e dizer aos leitores, telespectadores, radiouvintes e tudo o mais que teremos este ou aquele resultado. No futebol, inversamente, o que mais se encontram são palpiteiros. Nesse caso, silêncio total.  

Sei lá se é difícil, entenderem mas tenho cá comigo que jornalista sem exposição de ideias e mesmo sem algum grau de ousadia, sempre cristalizada por informações consistentes, deixa de ser jornalista. Enquanto redes sociais exorbitam com especulações descabidas, que viram palpites infelizes, o jornalismo profissional prefere, nesse caso, o extremo oposto, do mutismo.  

Para que esconder?  

É claro que respeito a todos mas, no fundo, me sinto meio órfão nessa jornada porque adotar postura editorial que supostamente avançaria o sinal da cautela, quando não do juízo, é questão de personalidade mesmo. Acho que os leitores procuram um pouco mais sobre questões semelhantes às que estão em jogo em São Caetano. Se o jogo está dois a zero e a análise tática converge a um massacre, e se apenas haveria reviravolta se o inesperado ocorrer, então por que esconder isso do público consumidor de informação?.  

Então ficamos assim: o jogo é de goleada, porque a goleada já teria se iniciado mais que no placar, mas no enredo que se insinua. Se der zebra, não acreditem em falsos adivinhadores, falsos sabe-tudo, falsos vendedores de ilusão. Eles não passam mesmo de oportunistas. Ou fanáticos.  

Política é diferente  

Para completar: me sinto tão à vontade indo além do trivial nessa questão política de São Caetano que qualquer resultado diferente do que prevê quem tem juízo será café pequeno. Afinal, existe no campo político uma flexibilidade interpretativa que possibilita ir além mesmo. Muito diferente da segurança indelével que a análise econômica recomenda.  

Por exemplo: quando escrevi pela primeira vez em 1990 que o Grande ABC já estava em processo de desindustrialização, não se verificou um exemplar editorial de cartomancia. Era realidade documentada, provada e tudo o mais. Infelizes foram aqueles que passaram anos, e mesmo décadas, negando a verdade dos fatos. E há alguns ainda que exigiriam internação por deficiência cognitiva ao contestarem a trajetória de declínio do PIB Industrial. 

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