Economia

Queda do emprego formal em
2020 é mais grave na região

  DANIEL LIMA - 09/12/2021

O Grande ABC perdeu 30.948 empregos com carteira assinada no primeiro ano da pandemia do Coronavírus. Na ponta do lápis, sem exagero, trata-se de algo como sete fábricas da Ford, que fechou as portas em São Bernardo em 2019. A correlação é apenas quantitativa. Se forem considerados apenas os empregos industriais perdidos no ano passado, que ultrapassou a oito mil postos de trabalho, seriam duas fábricas da Ford.  

Os novos números anunciados pelo Ministério do Trabalho e Emprego superam largamente os 11.753 divulgados em janeiro último. A reformulação dos dados impacta todo o País e não poupou a região. Foi drástica.  

Santo André e São Bernardo, que, juntos, representam 62% do PIB (Produto Interno Bruto), perderam muito mais do que a participação relativa. Nos empregos industriais foram 81,90% de redução de carteiras assinadas. No geral, contando todos os setores, foram 76,19%. 

Santo André lidera  

Quando se leva em conta o que é o resultado mais realista do desempenho individual dos municípios ou mesmo do grupamento regional, Santo André é o endereço mais impactado pelo Coronavírus e seus desdobramentos com a perda relativa de 5,74% do estoque de dezembro de 2019, quando não se ouvia falar do vírus. E Mauá é a exceção regional, com saldo geral de emprego positivo em 2020, quando confrontado com o ano anterior.  

Nas próximas edições vamos repetir o ritual de todas a as temporadas ao esmiuçar os dados oficiais do emprego formal no Grande ABC e também no universo do G-22, o Clube dos Maiores Municípios do Estado de São Paulo, excluindo-se a Capital e incluindo-se apenas para termos estatísticos Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que não passam de 2% do PIB do Grande ABC.  

A revisão dos dados do emprego formal no Brasil na temporada passada multiplicou por quase três vezes o desastre do Grande ABC.  

Menos R$ 81 milhões  

Se forem projetados os valores salariais que desapareceram em dezembro do ano passado, somente em dezembro do ano passado, quando confrontados com dezembro de 2019, Santo André e São Bernardo somam R$ 81 milhões. Ou seja: a massa de salários nos dois municípios chega a esse montante por conta da perda líquida de 23.579 postos de trabalho.  

Para se chegar a essa conclusão, a média salarial nos dois municípios na temporada passada foi multiplicada pelo saldo líquido do estoque de trabalhadores em dezembro de 2020. A media salarial em Santo André em dezembro do ano passado era de R$ 3.116,65 mil enquanto em São Bernardo alcançava R$ 3.869,27 mil. Foram 11.278 demissões líquidas em São Bernardo e 12.301 em Santo André. Ou 76,19% do total do Grande ABC.  

Santo André e São Bernardo contavam com 448.762 trabalhadores com carteira assinada em dezembro do ano passado, estoque que representa 61,91% do total de carteiras assinadas nos sete municípios da região. Ou seja: a participação relativa no total de empregos formais criados ao longo dos anos é inferior ao impacto das demissões líquidas em 2020.  

Impacto industrial  

A vulnerabilidade de Santo André e São Bernardo em relação aos demais municípios do Grande ABC se dá principalmente por conta de empregos formais que desapareceram do setor industrial. Foram 1.559 em Santo André e 5.420 em São Bernardo, de um total de 8.521.  

O estoque do emprego formal industrial em Santo André foi reduzido em 5,93% em dezembro de 2020 ante dezembro de 2019, antes da pandemia. Em São Bernardo o resultado foi muito pior, com rebaixamento de 7,32% do estoque no mesmo período.  

Santo André passou a contar em dezembro de 2020 com estoque de emprego industrial de 24.722 profissionais, ante 26.281 de dezembro de 2019. Nenhuma Município do Grande ABC conta com estoque relativo de emprego industrial tão baixo quanto Santo André. São apenas 12,24% do total dos empregados com carteira assinada. Menos da metade dos 27,81% de São Bernardo. A média de participação relativa do emprego industrial na região é de 24,36% do total geral. 

Estoque rebaixado  

O emprego industrial de São Bernardo caiu de 74.061 para 68.641. Diadema de pequenas e médias industriais também foi afetada pela crise econômica em 2020, com perda de 1.357 colaboradores – eram 20.271 e passou para 19.735. 

No conjunto da obra do emprego industrial do Grande ABC em 2020, o resultado líquido é a perda de 8.521 postos de trabalho. O estoque de 185.082 caiu para 176.561. 

Nos demais setores econômicos, contabilizando a Administração Pública no regime celetista, conforme o balanço do Caged (Cadastro Geral de Emprego e Desemprego do Ministério do Trabalho), foram destruídos 22.427 postos com carteira assinada -- excluindo-se, portanto, o setor industrial. Em dezembro de 2019 o Grande ABC contava com estoque geral de 755.765 trabalhadores com carteira assinada. Em dezembro do ano passado, pandemia incluída, passou a contar com 724.817. Uma queda de 4,09%. Os resultados do emprego geral por Município: 

1. Santo André contava em dezembro de 2019 com 214.217 trabalhadores e em dezembro de 2020 passou a contar com 201.916. Perda líquida de 12.301, ou 5,74% do estoque.  

2. São Bernardo contava em dezembro de 2019 com 258.124 trabalhadores e em dezembro de 2020 passou a contar com 246.846. Perda líquida de 11.278, ou 4,37% do estoque. 

3. São Caetano contava em dezembro de 2019 com 109.124 trabalhadores e em dezembro de 2020 passou a contar com 103.581. Perda líquida de 5.763, ou 5,08% do estoque.  

4. Diadema contava em dezembro de 2019 com 88.242 trabalhadores e em dezembro de 2020 passou a contar com 83.743. Perda líquida de 4.499, ou 5,10% do estoque.  

5. Mauá contava em dezembro de 2019 com 60.677 trabalhadores e em dezembro de 2020 passou a contar com 64.519, com ganho líquido de 5,95% do estoque.  

6. Ribeirão Pires contava em dezembro de 2019 com 21.585 trabalhadores e em dezembro de 2020 passou a contar com 20.704, com perda líquida de 881, ou 4,08%. 

7. Rio Grande da Serra contava em dezembro de 2019 com 3.576 trabalhadores e em dezembro de 2020 passou a contar com 3.508, com perda líquida de 68, ou 1,90% do estoque.   

Dados atualizados  

O saldo do emprego formal no Brasil em 2020 foi negativo, segundo apontamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados semana passada pelo Ministério do Trabalho. No primeiro ano da pandemia, o País teve fechamento de 191.502 vagas. Este número é fruto de 15.619.434 admissões e 15.810.936 desligamentos.  

Inicialmente, o governo divulgou, em janeiro deste ano, que o saldo de empregos em 2020 havia sido de 142.690 vagas, fruto de 15.166.221 admissões e de 15.023.531 desligamentos. De acordo com os ajustes feitos até setembro de 2021, foram geradas ao longo do ano passado 75.883 vagas de emprego formal, resultado de 15.437.117 admissões e 15.361.234 desligamentos, conforme o Painel de Informações do Novo Caged.  

A metodologia do Caged mudou em 2020 e alguns especialistas apontavam o risco de subnotificação dos dados, especialmente para casos de empresas que teriam fechado as portas e não informado ao governo o número de demissões. Esse processo pode ser feito em até 12 meses, que compõe a chamada série com ajustes. Foram essas novas inclusões, tanto no número de admissões quanto de demissões que resultaram nesse novo saldo. 

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