Economia

Indústria de Diadema desaba
e ninguém se dá conta. Pode?

  DANIEL LIMA - 24/11/2021

Duvido que o tetraprefeito José de Filippi Júnior saiba. Se souber e não esteja fazendo nada, como é o que parece, precisa agir rapidamente. Se não souber, que fique sabendo. E reaja prontamente. O fato é catastrófico: a estrelinha de desafogo industrial do Grande ABC nas duas últimas décadas do século passado se apagou neste século: Diadema está caindo pelas tabelas no Campeonato Paulista de Produção Industrial.   

Diadema desabou do nono para o décimo-nono lugar. E quando o PIB mais atualizado, de 2019, sair no próximo mês, poderá ser rebaixada à Série B, destinada a quem não ocupa pelo menos um dos primeiros 20 lugares.  

Conheço tanto o eleitorado regional (no sentido figurado de eleitorado, e também no sentido etimológico) que não tenho dúvida alguma: a notícia que estou produzindo agora em forma de análise é uma surpresa para a quase totalidade de formadores de opinião e tomadores de decisão. Aliás, quase tudo é surpresa para essas duas turmas, com honrosas exceções individuais.  

Metade da inflação  

Vou repetir para que não haja dúvida alguma: Diadema, a queridinha industrial do Grande ABC que emergiu a partir dos anos 1980 como desafogo à saturação espacial e ambiental de Santo André, São Caetano e mesmo da vizinha a mais pujante São Bernardo, não está resistindo à competitividade estadual (nem falo da federal em forma de incentivos fiscais).  

Tanto é verdade que nos 19 anos já apurados deste século (entre 2000 e 2018), Diadema Industrial não conseguiu sequer acompanhar o ritmo da inflação medida pelo IPCA do IBGE. Para ser mais preciso, ficou na metade da velocidade que seria obrigatória para que não se registrasse perda. 

Resultado final, ou parcial? Repito: caiu do nono para o 19º lugar no Campeonato Paulista. Os dados são cruéis. E choca porque um elefante passou pela região e poucos se deram conta.  

Retrato piorado  

Diadema é a desindustrialização da desindustrialização do Grande ABC, porque sempre acenou como válvula de escape do setor automotivo de São Bernardo e do setor químico-petroquímico de Santo André.  

Como que Diadema consegue chegar a esse estágio de desmonte industrial estando inserida no manual de suposta competitividade geoeconômica, próxima do Porto de Santos, abastecida pela Rodovia dos Imigrantes, pela Rodovia Anchieta e também nas cercanias do trecho sul do Rodoanel? Me responde: como Diadema pode chegar a tanto? 

São exatamente as supostas virtudes geográficas de Diadema que se transformaram em bumerangue à competitividade. As rodovias que estão no entorno de Diadema de pouco valem à atração de investimentos se o ambiente interno, institucional e econômico, é de desprezo aos fatores de competitividade. Diadema possivelmente tenha caído no conto da supremacia intocável. Achou-se acima de todos. Caiu do cavalo. 

A logística interna de Diadema, que não é diferente da barafunda da logística interna do Grande ABC, é um convite à retirada, à busca de novos ares.  

Bumerangue logístico  

Não à toa o Rodoanel veio neste século para deslocar o eixo de Desenvolvimento Econômico em direção às áreas Leste e Oeste da Grande São Paulo. Diadema e o Grande ABC como um todo perderam o rumo. Como se a desindustrialização nas três décadas do século passado não fosse suficiente. Diadema, que escapou naquele período, e, mais que isso, cresceu industrialmente, agora está beirando a zona de rebaixamento estadual.  

Perguntem aos empreendedores industriais de Diadema o quanto é complicado acessar a Anchieta, a Imigrantes e o Rodoanel? Um estudo detalhado (é isso que estamos sugerindo como primeiro passo da administração de Filippi Júnior) é questão de sobrevivência econômica de Diadema para apurar de imediato as cinco principais causas da desindustrialização expressa neste século. Sem isso não tem o resto.  

Medidas imediatas 

Nos próximos tempos talvez especule um pouco sobre a queda de Diadema neste século. Nada, acreditem, que fugirá do espectro que uma consultoria especializada detectaria. Diadema é o anticlímax de investimentos privados, geradores de riqueza e de emprego. Parece que seus menos de 30 quilômetros quadrados de área tomados sem planejamento mais cuidadoso (embora o PT tenha feito o possível com seguidas gestões para equalizar a corrente migratória com demandas sociais imensas e a então cantadíssima localização estratégica) chegaram à exaustão mais que física, mas também ambiental. 

Não é fácil chegar à conclusão preliminar de que um dos pontos desfavoráveis a Diadema no jogo da competitividade industrial talvez seja o ambiente no sentido de qualidade de vida, mais precisamente no quesito segurança pública. Até porque, neste século, desabaram os índices de criminalidade.  

Diadema liderava o ranking estadual de criminalidade de forma vergonhosa, com mais de 100 assassinatos por ano para cada grupo de 100 mil moradores. A queda foi extraordinária, para menos de 15. E mesmo assim Diadema é vista como território perigoso. O ambiente subjetivo, memorial, ainda amedronta. É politicamente incorreto fazer essa afirmativa. Mas é preciso. Sem hipocrisia.  

Planilhas esclarecedoras  

Mas duvido que esse seja mesmo o fator mais relevante. Os vetores são econômicos mesmo, porque empreendedores buscam cada vez mais gente especializada em localizar os melhores pontos estratégicos para criarem riquezas. Um coquetel de mais de uma centena de indicadores é vasculhado, escrutinado e questionado. Até que, de acordo com a especificidade de produção, é escolhido.  

Em 1999, ano-base desta análise, Diadema estava muito bem na fita do Campeonato Paulista Industrial. Ocupava a nona posição na classificação da Série A, destinada aos 20 primeiros colocados. O PIB Industrial de Diadema registrava R$ 1.974,13 bilhão. Estava abaixo apenas de Barueri, Campinas, Cubatão, Guarulhos, Santo André, São Bernardo, São José dos Campos e São Paulo. Dezenove anos depois, em 2018, Diadema seguiu atrás daqueles oito municípios e foi ultrapassada por Ilhabela, Indaiatuba, Jundiaí, Limeira, Paulínia, Sorocaba, Sumaré e Taubaté.  

Ultrapassagens  

Pior que ser ultrapassada é ser subjugada pelo afrouxamento da musculatura produtiva. Quando se pega o PIB Industrial de Diadema em 1999 e se compara com o PIB Industrial de Diadema em 2018 (R$ 1.974,13 bilhão ante R$ 4.023,85 bilhões em valores nominais, ou seja, sem considerar a inflação do período), verifica-se crescimento igualmente nominal de 103,85%. Menos da metade da inflação de 221,09% do período. Essa é uma das faces da desindustrialização clássica. Nenhum Município da região chegou a queda tão vertiginosa neste século. 

Se tudo correr como o esperado, porque a linha histórica é implacável, no próximo mês vai-se constatar mais uma queda classificatória e o flerte do PIB Industrial de Diadema com a Série B do Campeonato Paulista. Deverá perder a 19ª colocação para Jacareí, que registrou PIB Industrial pouco abaixo de Diadema (r$ 4.003,77 bilhões em 2018). 

Não se deve duvidar, também, que municípios que estão subindo na tabela da Série B deem salto suficiente para deslocar de vez Diadema ao rebaixamento. Ficar de olhos abertos no próximo PIB dos Municípios Brasileiro é o mínimo que se tem a fazer. Principalmente a gestão de Filippi Júnior, experiente gestor público que não chegou por acaso ao quarto mandato, depois de intervalo de oito anos de uma quebra de tradição de socialistas no poder municipal. Lauro Michels nem pode ser chamado de liberal, para alimentar um debate de prováveis intolerâncias, porque pouco ou nada fez efetivamente no setor econômico.  

Incêndio no porão  

O que me deixa de cabelo em pé (isso é força de expressão, claro!) é que por mais que leia sobre a gestão do petista José de Filippi Júnior, nada tenho encontrado que dê sinais de detecção do incêndio no porão do Desenvolvimento Econômico e Social de Diadema.  

Ignorar que foi o surto industrial vivido pelo Município durante mais de duas décadas finais do século passado o sustentáculo de políticas públicas diferenciadas é acreditar que dinheiro brota nos cofres públicos por combustão milagrosa.  

Diadema, portanto, precisa reagir de imediato, agora que passa a saber que o passado recente sufoca peremptoriamente a trajetória de um passado antecedente de sucesso econômico.  

O rebaixamento está próximo. Reagir significa encerrar a década dos anos 2020 em situação menos dramática do que se vive e se projeta hoje.  

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