Sociedade

Região envelhece mais
que Brasil neste século

  DANIEL LIMA - 26/10/2021

Os sete municípios do Grande ABC contam com população de quase três milhões de habitantes e cada vez mais neste século a faixa etária a partir de 50 anos avança no conjunto em ritmo superior ao registrado na média brasileira. A diferença neste 2021 é de 10% favorável (favorável?) ao Grande ABC. Antes da virada do século, o Brasil era em média mais velho que o Grande ABC. A taxa de crescimento populacional ajuda a explicar a reviravolta.  

Este século acrescentou à geografia regional 444.910 habitantes com 50 anos ou mais, número que representa 88,76% de novos moradores em todas as faixas etárias no período, de 501.252. Essa espécie de taxa de envelhecimento é mais que preocupante.  

No Brasil, seguindo o mesmo critério, a participação relativa de novos habitantes registrou aumento de 66,10% -- 33.918.134 pessoas com 50 anos ou mais ante novos 51.311.046 habitantes em geral.  

São Caetano é um caso excepcional da região e do País, com crescimento relativo muito acima.  

Uma São Bernardo  

O Grande ABC conta com quase 800 mil moradores de 50 anos de idade ou mais – universo semelhante ao da população inteira de São Bernardo. São exatamente 776.988. No Brasil são 58.037.823 milhões. Em 1999 eram 332.078 no Grande ABC e 24.119.689 milhões no Brasil.  

O índice de crescimento desse recorte populacional neste século é de 131,83% no Grande ABC e de 140,62%.  

O que torna a proporção relativa dessa faixa etária maior no Grande ABC é o crescimento da população: enquanto na região a população saltou de 2.323.565 milhões para 2.824.817 milhões (21,57% no período de 22 anos, com média anual de 0,98%), no Brasil a população saiu de 162.006.593 milhões para 213.317.639 milhões (31,67% de crescimento no mesmo período, média anual de 1,44%).  

Ou seja: a população brasileira em todas as faixas etárias cresceu 31,89% acima da média regional. O Grande ABC contava antes da virada do século com 1, 43% de participação relativa na população brasileira. Em 2021 passou a contar com 1,32%.  

Grades etárias 

Não há diferenças significativas nos resultados das grades etárias que dividem a população brasileira e a população do Grande ABC em quatro divisões – uma espécie de escadinha de idades subsequenciais.  

A primeira grade é formada por crianças e adolescentes até 14 anos de idade; a segunda entre 15 anos e 29 anos; a terceira entre 30 e 49 anos e a quarta de 50 anos em diante. O que distingue o território nacional do Grande ABC é o envelhecimento da população em grau mais acentuado nos sete municípios.  

Isso significa que o Grande ABC corre mais velozmente em direção a uma situação de inquietação no campo econômico e social por conta do envelhecimento da população e desdobramentos disso.  

No campo econômico porque o século tem dado continuidade à perda de riqueza iniciada nos anos 1980 e que ainda não se encerrou. No campo social porque a velhice mais acentuada exige mais investimentos em saúde, proteção social, pensões e aposentadorias, além do refluxo na capacidade de criar riqueza. A força de trabalho esgota-se organicamente de forma mais persistente no Grande ABC.  

Virada do jogo  

Parece quase irrelevante, mas a movimentação das pedras da faixa etária de 50 anos de idade em diante no confronto entre o Grande ABC e a média brasileira requer cuidado e atenção. Em 1999, base da pesquisa de CapitalSocial, a proporção dessa faixa etária no conjunto da população era superior no caso da média brasileira – 14,89% ante 14,29% do Grande ABC. Já nesta temporada de 2021, a proporção é maior na região – 27,50% ante 27,20% da média brasileira. 

O que chama a atenção além dos números semelhantes entre o Grande ABC e a média nacional é o ritmo do crescimento dos habitantes com 50 anos ou mais, que conta com influência do avanço do universo geral da população.  

No Brasil, o avanço entre os mais velhos foi de 82,67% no período deste século, enquanto no Grande ABC chegou a 92,44%. O Grande ABC correu numa raia etária 10,56% superior à da média brasileira quando entram em campo quem tem 50 anos ou mais. E a tendência é de aumentar a distância porque na faixa imediatamente anterior, de 30 a 49 anos, a média brasileira é de 30,05% no conjunto da população, enquanto no Grande ABC é de 32%.  

A média brasileira de constituição etária nas faixas definidas por CapitalSocial é maior tanto entre Crianças e Adolescentes quanto da Juventude, que vai de 15 a 29 anos. Enquanto o Grande ABC conta com 18,86% da população entre zero e 14 anos, o Brasil registra 20,68%. Já na faixa de Juventude, de 14 a 29 anos, o Brasil conta com 23,27% da população enquanto o Grande ABC registra 21,62%. Esses dados só confirmam que a taxa geral de envelhecimento do Grande ABC é maior que a média brasileira.  

São Caetano problemática   

O caso envolvendo São Caetano, que conta com participação relativa da população de 50 anos em diante muito acima da média brasileira, é especialmente inquietante às autoridades públicas locais. Ao mesmo tempo em que se acentua o definhamento econômico (rivaliza-se com Santo André na perda de musculatura nos últimos 40 anos), manifesta-se o afrouxamento da vitalidade produtiva.  

Em 1999, ano-base de comparações de CapitalSocial, São Caetano contava com população de 132.270 habitantes, dos quais 33.315 na faixa de 50 anos em diante. Ou 25,19% do conjunto da população – número semelhante à da média do Grande ABC registrada somente neste 2021. Já nesta temporada de 2021 os números de Caetano registram 162.741 habitantes ante 64.992 no universo exclusivo de 50 anos em diante. Uma participação relativa de 39,93%.  

Traduzindo a tragédia de São Caetano na área demográfica: enquanto a população cresceu apenas 23% neste século, os moradores de 50 anos em diante avançaram 95,08% -- mais de três vezes.  

A formação demográfica de São Caetano foi sempre considerada nas análises de CapitalSocial após a chegada do Coronavírus, em março do ano passado. O que algumas mídias só descobriram recentemente, CapitalSocial aprofundou desde o início.  

Densidade e geografia 

A população acentuadamente mais velha de São Caetano se soma a outros dois fatores que ajudam a explicar a elevadíssima taxa de letalidade do vírus. O primeiro é a elevada densidade demográfica, de quase 14 mil habitantes por quilômetros quadrado, uma das mais elevadas no País juntamente com Diadema e quatro vezes acima da média regional. E a segunda é a localização geográfica numa Região Metropolitana de São Paulo de controles sanitários sempre mais complexos em caso de pandemia porque uma das recomendações oficiais de distanciamento físico se torna um desafio.  

A participação relativa da população de idade de 50 anos ou mais no Brasil e no Grande ABC, que é semelhante, só alcançaria o perfil atual de São Caetano na mesma grade etária nas próximas duas décadas. Basta considerar o crescimento médio anual e a distância atual. Com 39,93% na categoria dos 50 anos em diante, São Caetano está bem acima dos 27,50% do Grande ABC e 27,20% do Brasil. São mais de 12 pontos percentuais de diferença. Resultado parecido com o avanço desses dois espaços territoriais no estrato dos 50 anos em diante durante os 22 anos deste século. 

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