Administração Pública

Paulinho Serra mira 2022 com
promessas para 2053. Entenda

  DANIEL LIMA - 21/10/2021

Paulinho Serra anuncia ramificações de uma macroproposta técnica para a Santo André do Ano 2053. O que está nos jornais de hoje não é resultado direto das digitais e tampouco de cognições do prefeito, mas é legitimo lhe dar esse potencial ativo da mesma forma que deva lhe ser atribuída toda a carga de passivo que as medidas carregam de frustração. 

Nenhum gestor público ou gestor de qualquer atividade é obrigado a acertar tudo. Só não pode errar todas. 

Trata-se de iniciativa de baixa calibragem resolutiva no curto prazo, de tortuosa projeção de resultados no médio prazo e absolutamente indecifrável em meados do século quando, mesmo com noves fora de eventual nova bala de chumbo, não estarei mais por aqui para avaliar.  

Futuro candidato? 

Não estarei mais aqui, mas o produto digital estará no turbilhão de estoque compulsório do mundo internético. Alguém deverá aparecer na praça com uma cópia de alguma coisa que tenha escrito sobre Santo André e o Grande ABC do futuro. O acervo é denso. 

Paulinho Serra está de olho mesmo em 2022, ano que vem, quando disputas eleitorais estadual e federal vão determinar qual o futuro a que se dedicará quando deixar o cargo que ocupa há cinco anos, como prefeito reeleito. 

O superprefeito José Police Neto, responsável pela proposição e condução do Plano 2053, é experiente ex-vereador de São Paulo. 

Police Neto também é especulado como possível ensaio de candidato à sucessão de Paulinho Serra. Tudo dentro do acordo com forças políticas externas. 

Aliados de fora 

No caso específico de Police Neto, com o PSD do ex-prefeito da Capital, Gilberto Kassab. Forças conservadoras que antes exercitavam um dos mais odiosos tipos de discriminação (os forasteiros, lembram-se?) hoje se refestelam com companheiros de jornadas político-administrativas de outras paragens. 

Qualquer tentativa de retirar o lacre de injunções político-eleitorais do Plano 2053 seria patética. Faz parte do jogo do amanhã de votos entrelaçar forças mesmo que durante algum tempo antagônicas. Nenhuma novidade do circo de horrores da política. É assim que funciona o mecanismo em todo o mundo, com decibéis mais exacerbados aqui e ali, claro. 

O que não se deve omitir da sociedade, caso do jornalismo profissional, é esclarecer o que está por trás de cada peça desse enxadrismo eleitoral. É preciso esclarecer, portanto, que se trata de uma invasão do terreno da organização físico-territorial de Santo André.  

Pretendo nos próximos dias, se não for atropelado por pautas mais significativas, desnudar alguns pontos essenciais à compreensão do que se passa com o anúncio do projeto coordenado, por assim dizer, por Paulinho Serra. 

Melhor é esperar 

O Plano 500 Anos é pouco consistente e mais suscetível à desconfiança, mas essa não é uma definição decisiva. Está sujeita preliminarmente a revisionismo. Não é porque está permeado de eleitoralismo que temos algo desclassificável. 

Santo André é um terra tão entregue às sacolejadas do improviso administrativo desde que Celso Daniel foi embora que qualquer coisa que se acene à sociedade é espécie de bálsamo. 

O prefeito Paulinho Serra e o superprefeito José Police Neto devem saber disso. Tanto quanto o presidente Jair Bolsonaro sabe quanto ganha e quanto perde ao enfrentar a Grande Mídia sedenta daquilo que não é necessariamente a melhor informação, nem a mais isenta, muito menos disposto ao contraditório.  

Demora demais 

É claro que o oportunismo eleitoral é tão patente que a medida se dá somente após cinco anos de oito de mandato de Paulinho Serra e, sem esquecer, com enxertos de forças externas. 

Um homem público preparado para o futuro próprio e do Município que o elegeu deveria ter apresentado algo semelhante, mesmo que deficiente como é, antes de assumir o cargo em 2017. Foi preciso requisitar o ex-vereador de São Paulo para bater o martelo. 

Goste-se ou não (e não gosto porque é populismo mesclado de tecnicismo cujo resultado por melhor que seja ao longo de temporadas fica muito aquém das necessidades básicas de Santo André) o ex-vereador e hoje superprefeito José Police Neto é um executivo público apetrechado. 

Police Neto tem mais experiência numa Capital como São Paulo do que Paulinho Serra como prefeito reticente, ex-secretário petista e ex-vereador do baixo clero – como quase todos os vereadores, a bem da verdade. 

Histórico de perdas 

Nos próximos textos sobre o futuro de Santo André vou mostrar que a projeção proposta passa obrigatoriamente por 40 anos de desindustrialização e afrouxamento da mobilidade social e também pelos cinco primeiros anos da administração de Paulinho Serra.  Tudo isso tem um preço incalculável. É preciso ajustar os focos com firmeza para que não se frustrem as expectativas. 

As reportagens a que tive acesso hoje de manhã retratam uma proposta que evidencia duas decisões centrais. 

A primeira é engatilhar mecanismos com roupagem de gestão pública preocupada principalmente com as camadas mais sofridas da população, mas cujo objetivo principal mesmo é adensar a cadeia de votos aos candidatos com os quais Paulinho Serra estará alinhado nas eleições no ano que vem. 

A segunda é que tomaram uma estrada vicinal de supostas soluções no longo prazo, e esqueceram a autoestrada que conduz a mudanças mitigatórias do processo de empobrecimento de Santo André. 

Também é importante lembrar que, por mais interessante que seja a proposta a ser preparada por uma instituição do porte técnico da Fipe, não é possível ultrapassar as quatro linhas de experiências já vividas por municípios brasileiros que se dedicaram a empreitadas semelhantes. 

Tempos que mudam 

Querem um exemplo? A leitura do material publicado pela mídia encaminha à direção do muito do que o então prefeito Celso Daniel programou e executou a partir de 1997, quando assumiu a Prefeitura pela segunda vez. 

Aliás, nas reportagens que li hoje está claro que o próprio prefeito Paulinho Serra reconhece essa mimetização, com a ressalva lúcida de que são outros tempos e outros tempos exigem outros cuidados entre outras razões porque esses outros tempos são tempos tenebrosos – é claro que o prefeito não disse isso. 

Não há nada de ruinoso em copiar a inspiração de que já passou pela Prefeitura de Santo André. Diferentemente disso. Há também que se reconhecer a humildade explicitada por Paulinho Serra em estabelecer divisão temporal, autoral e circunstancial da proposta agora entregue à sociedade. 

Não se poderia esperar, claro, que Paulinho Serra dissesse também que está de olho nas eleições do ano que vem, quando a primeira dama será candidata a deputada estadual, Geraldo Alckmin a governador e eventualmente Eduardo Leite à presidência da República. 

Esse trio é o que existe de mais preocupante para Paulinho Serra na temporada de caças ao voto no ano que vem. O Plano 500 Anos, que pretende fazer varredura em todos os bairros de Santo André, faz parte do show eleitoral.

Fosse mais organizado e observasse o futuro que lhe interessa, Paulinho Serra teria construído essa modalidade de projeto eleitoral com a efetivação do que CapitalSocial propôs ano passado, quando estourou a bomba da pandemia do Coronavírus. 

Combate desprezado 

Presidente de fato do Clube dos Prefeitos, Paulinho Serra ignorou olimpicamente a ideia de espalhar exército de comissionados e de servidores públicos da saúde para rastrear Santo André inteira. Muitas mortes teriam sido evitadas em contraponto ao “fique em casa” mandetteano. 

A tradução disso é que, para gerir desejos e interesses correlacionados a votos eletrônicos, Paulinho Serra entrega-se para valer à terceirização do comando estratégico do Paço Municipal. 

Há um vácuo imperdoável no Plano 500 Anos que exigirá correção de rota, e não seria a Fipe que resolveria o problema, porque não tem os requisitos desejados. Esqueceram do Planejamento Econômico Estratégico. 

Cuidaram teoricamente dos efeitos, mas a causa de Santo André ter-se transformado no que é, ou seja, num projeto de solução que vai exigir 22 anos de aplicação, tem as raízes no desfiguramento econômico. 

Tanto é verdade que o antigo “Viveiro Industrial” não passa do Município da região com menor percentual de trabalhadores industriais em relação ao conjunto de empregados em todos os setores.

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