Economia

São Bernardo não precisa do
Grande ABC para crescer (2)

  DANIEL LIMA - 15/09/2021

Decidi transformar em minissérie de múltiplas abordagens o texto-análise que produzi ontem sobre a importância de São Bernardo, Capital Econômica do Grande ABC, deixar oficialmente de lado o regionalismo improdutivo no setor-chave de Desenvolvimento Social e partir para um agressivo planejamento e ações de liderança prática de recuperação do conjunto dos sete municípios.  

É hora de quebrar paradigmas improdutivos. A concorrência dissimulada embutida no Clube dos Prefeitos precisa ser exorcizada em favor de uma concorrência imperativa e de profundidade. Que os melhores vençam sem que os protagonistas recorram a métodos autofágicos. Até porque, convenhamos, é muito pouco provável que se dê uma carnificina por causa de suposta guerra fiscal por investimentos. Não há espaço legal para tanto. Isso é especialidade de municípios virginais ou quase virginais sobretudo na área industrial.  

Quando sugiro que os melhores vençam quero dizer que a concorrência interna subjacente mas sem ímpeto se tornará muito mais interessante quando colocada no campo de jogo.  

PIB esclarecedor  

Há muitos e muitos anos praticamos um jogo de faz de conta no interior do Clube dos Prefeitos. Finge-se que há harmonia entre as prefeituras, quando, até mesmo pela falência estrutural da entidade, o que registramos para valer é uma indolência generalizada no campo econômico.  

Pinço dados do PIB (Produto Interno Bruto) dos Municípios Brasileiros, relativos à temporada de 2018. Os números de 2019 só serão anunciados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no fim deste ano. A defasagem, mesmo com a pandemia do Coronavírus no meio do caminho, não interrompe a trajetória histórica de movimentação das pedras de produção de riquezas de produtos e serviços, síntese do significado de PIB.  

Ao longo de várias décadas que me dedico a decifrar os cromossomos da economia do Grande ABC, com implícitos e explícitos desdobramentos sociais, jamais me detive para valer sobre o conceito elástico de PIB num ambiente em que sete municípios têm formato legal mas na prática formam uma megacidade do tamanho de Belo Horizonte.   

Participação estável  

Tudo isso é obra dos emancipacionistas que, tenham razão em vários pontos na busca por liberdade territorial, administrativa e tudo o mais, provocaram sérios danos econômicos no conjunto regional. A fragmentação de meados dos anos 1950 e um pouco mais liquidou com os ganhos sistêmicos que uma gestão unificada proporcionaria, ou teria possibilidade de proporcionar.  

Aonde quero chegar com essas premissas? Simples: numericamente, São Bernardo detém 39,95% do PIB regional, sempre considerando os dados de 2018. O que isso significa? Significa que de cada R$ 100 reais gerados em riqueza no Grande ABC, R$ 40% tem endereço em São Bernardo. Mas isso não é garantido. É provavelmente menos do que de fato é, quando a elasticidade entra em campo. Como força-motriz da região, os tentáculos econômicos, principalmente industriais, de São Bernardo, têm poder de irradiação que beneficia o entorno regional.  

Como é praticamente impossível chegar-se aos números reais de São Bernardo como protagonista econômico do Grande ABC, convém lembrar que o mapa regional em termos de PIB pode ser resumido da seguinte maneira: excluindo-se Santo André, a soma dos demais municípios chega próxima a São Bernardo. Ainda faltaria um tiquinho de PIB para que fosse equivalente.  

Vamos aos números  

Trocando em miúdos: quando você observar o mapa do Grande ABC, de sete territórios, dê um jeito de apagar as linhas divisórias e, mantendo o formato, distribua três territórios, dois iguais (São Bernardo de um lado, Diadema, Mauá, São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra de outro) e, completando o desenho, Santo André. A menor fatia, correspondente a 23%, pertenceria a Santo André, antigo viveiro industrial e, ao longo das décadas, juntamente com São Caetano, a mais desindustrializada cidade do Estado de São Paulo. Veja a composição do PIB Geral do Grande ABC em 2018: 

1. Diadema – R$ 14.671.971 bilhões. 

2. Mauá – R$ 15.287.483 bilhões. 

3. Ribeirão Pires – R$ 3.042.930 bilhões. 

4. Rio Grande da Serra – R$ 566.839 milhões.  

5. Santo André – R$ 28.994.686 bilhões. 

6. São Bernardo – R$ 50.568.693 bilhões. 

7. São Caetano – R$ 13.330.728 bilhões. 

Recuo estadual   

Quando se compara o PIB Geral do Grande ABC tendo como base os resultados de 1999 e os dados de 2018, o que se tem como resumo da ópera do comportamento da economia regional neste século é uma queda frente ao Estado de São Paulo.  

Em 1999 o PIB Geral do Grande ABC representava 7,90% do PIB Geral do Estado, ante 5,72% do PIB Geral de 2018. Uma queda relativa de 28,00%. Nada que não seja natural, embora ruim, porque comprova a descentralização produtiva iniciada anteriormente e que segue em frente.   

O crescimento médio do PIB Geral dos paulistas foi bastante superior ao do Grande ABC nos 19 anos acumulados neste século. O Estado de São Paulo avançou em termos nominais, sem considerar a inflação do período, 549,63%, enquanto os municípios do Grande ABC registraram movimentação média de 370,80%.   

Traduzindo essa diferença de desempenho em analogia automotiva, os paulistas avançaram a uma velocidade média 34,42% superior à registrada pelos sete municípios da região. É muita diferença. Sobremodo porque o Estado de São Paulo registrou crescimento médio do PIB Geral no mesmo período inferior à média brasileira.   

A tradução disso tudo é que o Grande ABC está ficando menos importante tanto em termos estadual quanto nacional.   

São Bernardo é a saída   

Apesar de todos os pesares de São Bernardo, que sofre continuadamente com a desindustrialização relacionada ao setor automotivo desde a implantação de novos polos produtivos no País, a participação relativa do PIB Geral no Grande ABC praticamente não se alterou neste século. Era 38,92% em 1999 e passou para 39,95% em 2018.   

Esse resultado seria mais um sintoma de que há fortíssima vinculação entre o desempenho econômico da Capital Econômica do Grande ABC e os demais municípios locais. É aparentemente quase impossível que a estabilidade relativa de São Bernardo no PIB Geral da Região, mas em queda frente a outros universos, caso do Estado de São Paulo, não afete a vizinhança.   

Esse aspecto precisaria de atenção especial e daria mais volume de acerto na reconfiguração da regionalidade como abre-alas de crescimento. Sem o empuxo da liderança exercida por São Bernardo, tendo a Doença Holandesa Automotiva como tração, os demais municípios só têm a perder.   

Portanto, como se esquadrinha a equação de menos regionalismo econômico e mais municipalismo econômico, só existiria uma saída ao respiro em busca de uma estabilidade no desempenho regional em confronto com o comportamento médio dos paulistas. 

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