Administração Pública

Sete homens e o destino
de sustentarem uma farsa

  DANIEL LIMA - 12/08/2021

Se o leitor está pensando que os sete homens que estão proporcionando uma farsa são os prefeitos dos sete municípios do Grande ABC, o leitor está parcialmente equivocado. Estou falando dos sete secretários de Desenvolvimento Econômico. Eles são penduricalhos, puxadinhos, adornos, no organograma oficial de cada Prefeitura. Tanto que a quase totalidade dos contribuintes nem sabe que eles existem de fato. São fantasmas travestidos de gestores públicos.  

O dito popular de que sete é conta de mentiroso pode servir de analogia, porque os sete são a materialidade de monumental enganação regional.  

Claro que os prefeitos têm tudo a ver com isso. Tudo mesmo. São eles treinadores que definem os respectivos times de gestores e lhes atribuem prerrogativas funcionais.  

São os prefeitos que dão as cartas. Mas também são eles que, possivelmente, jamais se oporiam para valer a um movimento que reunisse numa ação determinada os sete inúteis secretários de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC. As barreiras políticas poderiam ser superadas. Bastaria boa vontade. E um ambiente com massa crítica social suficiente para impedir retrocessos.  

Abaixo das necessidades  

Os secretários são inúteis no sentido de que estão anos-luz da intensidade e da longevidade da crise regional. Eles são replicantes dos antecessores de diversos calibres políticos e ideológicos.  

O globo da morte do circo chamado regionalidade tem infindável lista de secretários que fracassaram.  Inclusive os tecnicamente compatíveis com as demandas. Vários, aliás, sucumbiram ao ecossistema social que privilegia agendas políticas no sentido mais estúpido da expressão.  

Os mecanismos que regem as prefeituras da região são tão viciados na instrumentalização do jogo exclusivamente político-eleitoral que a função de secretário de Desenvolvimento Econômico é uma troca despudorada de moeda para acomodar interesses que passam a léguas de distância de qualquer coisa que lembre PIB.   

Conquista fracassada  

A pasta é uma das poucas conquistas de mais de 30 anos de ladainhas deste jornalista em defesa da atividade econômica em meio ao turbilhão da desindustrialização que levantamos em sinal de alerta mais que justificado já na primeira edição da revista LivreMercado, em março de 1990.  

Foi um deus-nos-acuda usar o verbete desindustrialização. Aliás, até hoje há guetos de bandidos sociais que condenam quem faça menção ao fato de que caímos pelas tabelas na indústria de transformação sem colocar nada de efetivo para compensar, exceto o aumento da carga fiscal municipal.  

Bandidos sociais usufruem de regalias corporativas em redutos mais que frágeis da Administração Pública Municipal. Os escândalos são esquartejados. Há simbiose protecionista.  

Como dizia, a pasta de Desenvolvimento Econômico é uma das poucas vitórias que registramos e isso se deve ao então recém-eleito prefeito Celso Daniel, em novembro de 1996. O petista garantiu a este jornalista (e confirmou em seguida, assim que tomou posse) que faria da bandeira de LivreMercado a expressão de decisão administrativa.  

Boca-suja  

Outras prefeituras vieram a reboque em 1997. Já era tarde a reação do Grande ABC para impedir tantos estragos, mas um começo importante. Que os sucessores em todos os municípios jamais deram consistência. Alguns nomes de gabarito ocuparam as pastas, mas foram engolfados pelo imediatismo dos mandachuvas e mandachuvinhas.  

Não vou dizer nem escrever e tampouco sugerir muito menos alardear que todos os sete secretários municipais de Desenvolvimento Econômico são uns bananas, porque seria desrespeitoso. Se bem que o jornalismo anda tão boca-suja, a exemplo do presidente da República, que determinadas adjetivações passaram a fronteira da discrição e invadiram para valer uma guerra quente.  

Bananas, de qualquer maneira, não me apetecem nesse caso específico. Prefiro-as sem metáforas. Menos a Nanica. 

Os sete secretários, voluntariamente ou não, são farsantes. Eles fingem que estão no cargo, que ocupam o cargo, que tomam decisões que mudam as situações postas. São farsantes -- sempre sob o prisma de decisões que rigorosamente adensariam o Desenvolvimento Econômico, pastas que comandam.  

Extravagância nominal  

Aliás, cada pasta tem uma determinada nomenclatura. Sobram supostas atribuições, rareiam definições. É uma arrogância denominativa sem tamanho. E amanhã, fora das respectivas prefeituras, esses secretários farsantes vão enriquecer o currículo junto a incautos.  

Muitos os acharão o máximo. Mal sabem que não passam do mínimo multiplicado pelo mínimo. São todos farinhas do mesmo saco de desperdício de tempo no combate ao empobrecimento regional.  

Não responsabilizo até a raiz do fio de cabelo que ainda tenho apenas os secretários por tudo que não fazem. Mas eles são integrantes da primeira linha de inapetência para o cargo. São coniventes ou marionetes do mesmo tamanho de egocentrismo social. Acham-se importantes quando o quintal que ocupam estão repletos de gafanhotos de obstáculos que os colocam de quatro bovinamente.  

Muitas iniciativas  

Poderia sugerir a eles uma série de inciativas que teriam em comum produtividade, passando-se por cima do municipalismo arraigado e mambembe que os coloca na mesma situação de alguém de baixo adestramento que, munido de cinco laranjas, tenta fazer malabarismo numa esquina e o máximo que consegue é produzir um suco de laranja improvisado a queda por unidade. Ou seja: esses secretários são malabares patéticos porque inventam histórias locais que em nada alteram a corrida perdida há muito tempo pelo Desenvolvimento Econômico.  

Embora não se deva ter ilusão mais sobre a prevalência do municipalismo diante do regionalismo, porque a classe política é que comanda o espetáculo desnaturado de enxergar apenas o hoje, há formulas de produzir um encontro de águas que mobilize os sete secretários (e por extensão os sete prefeitos) a considerarem a integração regional como mantra a reações específicas.  

Nesse caso específico, não seria nem preciso contratar uma consultoria especializada em competitividade regional para unir as pontas soltas e ciumentas que demarcam a linha de atuação dos secretários municipais da pasta mais desvalorizada das administrações públicas.  

Há encaminhamentos tão compulsórios quanto providenciais que fariam do conjunto dos municípios a razão essencial dos encontros. Os sete secretários mostrariam à sociedade que não são bibelôs de luxo dos respectivos prefeitos. Bibelôs de luxo com raízes no que existe de menos nobre na gestão pública; ou seja, prioridades à escolha dos ocupantes dos cargos menos pelas qualidades técnicas e intelectuais e mais pelo potencial de atração de votos. 

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