Administração Pública

Entenda porque Morando é
muito melhor que Paulinho

  DANIEL LIMA - 14/07/2021

Paulinho Serra e Orlando Morando representam mais de 50% do PIB e da população do Grande ABC. São prefeitos em segundo mandato. De amigos tornaram-se inimigos. Frequentam ambientes diferentes. Compará-los não é uma heresia. É uma necessidade. Orlando Morando é bem melhor que Paulinho Serra. Mesmo que nenhum dos dois preencha vários vácuos regionais. Mas isso é outra história.  

Formulei 11 quesitos básicos para colocar os dois prefeitos numa mesma plataforma de avaliação. Deu goleada. Orlando ganha em seis, Paulinho em um e nos outros quatro nenhum dos dois preenche às exigências. Ou seja: fosse um time de futebol, teríamos Orlando Morando dominando. Mas o “nenhum dos dois” preocupa.  

Não nego que a intenção de produzir lista básica de qualificações envolvendo Paulinho Serra e Orlando Morando parte do pressuposto de que é preciso colocar ordem no galinheiro de interpretações.  

Torcida organizada  

A torcida organizada de Paulinho Serra quer fazer crer que o tucano de Santo André é melhor que o tucano de São Bernardo. Trata-se de estupidez juramentada. É fundamentalismo oportunista. Um marketing de pé-quebrado.  

Os mais toscos (e olhem que não falta rudimentarismo nas praças da região) avocam votos depositados nas urnas no ano passado como cerne de análise. Esquecem o contexto e as variáveis políticas. Seria como confrontar outros prefeitos com tantos outros prefeitos apenas tendo a totalidade de votos como premissa.  

Paulinho Serra enfrentou em Santo André um Exército de Brancaleone, de oposicionistas sem estrutura de campanha e alguns até puxando o freio de mão ao perceberem que não decolavam. Orlando Morando teve um ex-ministro de Estado e ex-prefeito de dois mandatos, Luiz Marinho, num reduto coalhado de petistas.  

Em Santo André, sempre menos vermelha que São Bernardo, a cúpula e muitos petistas (aninhados na Administração Paulinho Serra) esfarelaram-se após a Operação Lava Jato. 

Mas, vamos ao que interessa. Vejam os vetores (e os respectivos resultados) sobre os quais me debrucei para afirmar categoricamente que Orlando Morando é muito melhor que Paulinho Serra: 

1. Transparência – Nenhum dos dois. 

2. Marketing – Orlando Morando. 

3. Capacidade técnica – Orlando Morando. 

4. Oratória – Orlando Morando. 

5. Coerência política – Orlando Morando. 

6. Empatia – Paulinho Serra. 

7. Desenvolvimento Econômico – Nenhum dos dois.  

8. Atuação na Pandemia – Orlando Morando. 

9. Regionalidade – Nenhum dos dois. 

10. Governabilidade – Nenhum dos dois. 

11. Governança – Orlando Morando.  

O processo explicativo dessa avaliação impõe brevíssima abordagem individual dos requisitos listados. Sei que não posso deixar de me concentrar nesse aspecto, sob risco de estender-me demais. Não faltaria oportunidade a aprofundamento específico. Mas não é esse o momento. No fundo, o que reproduzo em forma de competição entre os dois prefeitos é um balanço geral do que escrevo há muito tempo. Portanto, não há novidade alguma ou quase nenhuma, ou nada impactante. Talvez subsista como novidade o conjunto da obra que se segue.  

a) Transparência – nenhum dos dois. 

Não me agrada a forma como Orlando Morando e Paulinho Serra lidam com o que chamaria de comprometimento social nas decisões tomadas ou anunciadas. Há um centralismo exagerado sem direito a contraditório. Secretários municipais raramente participam do jogo de informações à sociedade. Paulinho Serra e Orlando Morando são opostos. A Paulinho falta seriedade. Faz estardalhaço sem construir bases sólidas de dados. A Morando falta mais proximidade com os consumidores de informações. Há muito de oficialesco e quase nada de contraditório na relação dos dois prefeitos com a sociedade em geral.    

b) Marketing – Orlando Morando.   

A linguagem utilizada pela Administração de Orlando Morando é mais profissional e menos escancaradamente política no campo da comunicação do que o que se vê do outro lado da divisa entre os dois municípios. Morando expande tentáculos de suporte da imagem além do território do Grande ABC, bem articulado que é na mídia paulistana. Paulinho Serra é gataborralheiresco. Os dois não satisfazem a outros requisitos relacionados ao marketing, mas a dianteira de Morando é notória.  

c) Capacidade técnica – Orlando Morando.  

A experiência de três mandatos de deputado ante mandatos de vereador de Paulinho Serra torna Orlando Morando mais preparado para lidar com prioridades. São Bernardo é um endereço mais efetivo em políticas públicas. A reestruturação do aparato logístico, com ações fundamentadas em melhorias econômicas locais, reflete em obras de verdade. Diferentemente, portanto, dos puxadinhos festejados na Avenida do Estado. Santo André segue encalacrada em mobilidade urbana e sem perspectiva de melhora. São Bernardo reage, mesmo tendo (ou exatamente por isso) um Grande ABC completamente fora das planilhas de grandes investimentos produtivos.   

d) Oratória – Orlando Morando.   

Se fosse possível (e é possível) medir o tamanho do estoque e a velocidade exposta de palavras de Orlando Morando em ambiente público, contrapondo-se a ele o mesmo critério tendo Paulinho Serra como oponente, a superioridade do prefeito de São Bernardo seria cientificamente provada. Como ninguém se deu a essa tarefa ainda, o que resta é afirmar sem provas, mas suportado no conhecimento e na subjetividade, que Orlando Morando exercita um valor muito superior a Paulinho Serra na articulação verbal e cognitiva. O que os difere mesmo, nesse campo, é a mais apurada efetividade de Orlando Morando, espécie de time que sabe o que faz para chegar ao gol adversário. Paulinho troca mais passes óbvios e improdutivos. 

e) Coerência política – Orlando Morando.   

Não existe nada na carreira de Orlando Morando que o identifique com outro partido senão o PSDB. A linhagem do prefeito de São Bernardo se mistura ao protótipo dos tucanos. No falar e no administrar. O que possivelmente o coloca em situação menos conservadora quando conectado ao PSDB tradicional são os embates com os petistas, por força da concorrência local. Já Paulinho Serra é uma nau sempre à procura de ancoradouro. Navegou inclusive por águas petistas, como secretário de Carlos Grana. E agora flerta com o PSD de Gilberto Kassab, mandachuva que influencia a gestão tucana.    

f) Empatia – Paulinho Serra.  

Possivelmente por ser menos qualificado e trafegar por caminhos tortuosos em busca de uma maioria mesmo gelatinosa que o valorize, Paulinho Serra é bem mais simpático que Orlando Morando quando testado em ambientes privados ou públicos. Daí a acreditar que o bom-mocismo resista à realidade de fatos posteriores vai enorme distância. O resumo da ópera é que Paulinho Serra agrada mais à primeira vista, ao primeiro diálogo, porque reflete a política tradicional. Orlando Morando perde esse jogo, mas ganha na sequência: ao não esconder demais o que pensa e faz, gera menos desgaste e decepção.  

g) Desenvolvimento Econômico – Nenhum dos dois. 

Tanto Paulinho Serra quanto Orlando Morando ainda não entenderam o estágio de infortúnio de mobilidade social que impacta o Grande ABC desde o começo do século. A desindustrialização segue em ritmo preocupante e estilhaça a outrora vitrine de grandeza social da região. Nenhuma política de eficiência comprovada foi lançada em quase cinco anos de mandatos. E tampouco antes, quando se preparavam para disputar o Executivo. As secretarias de Desenvolvimento Econômico repetem velhos equívocos. Requentam velhas propostas. São inertes quando contrapostas às urgências locais.  

h) Atuação na Pandemia – Orlando Morando. 

Os casos de letalidade em São Bernardo (quando medidos corretamente, pelo critério por 100 mil habitantes) são levemente melhores que os de Santo André. Parece apenas um detalhe, mas faz muita diferença. Afinal, São Bernardo apresenta neste século uma taxa de crescimento demográfico (e de exclusão social de famílias que chegam diariamente em maior proporção) muito maior que Santo André. O inchaço da periferia, vítima preferencial do vírus, faz de São Bernardo um desafio maior ao gestor público. O atendimento público é melhor em São Bernardo. Enquanto o prefeito Paulinho Serra desativou um hospital de campanha no Estádio Bruno Daniel, sem se dar conta do risco que adveio com a segunda onda, Orlando Morando entregou à população um hospital novo e, principalmente, não desmontável, de verdade. Além disso, a influência nefasta da Administração de Paulinho Serra na Fundação do ABC, mais precisamente na Central de Compras, é o extrato da irresponsabilidade com a saúde do Município.  

i) Regionalidade – nenhum dos dois.  

A atuação de Orlando Morando à frente do Clube dos Prefeitos foi clamorosamente ruim. A atuação de Paulinho Serra à frente do Clube dos Prefeitos é dissimuladamente ruim. O que os diferencia na condução da principal e sofrida instância colegiada do Grande ABC é um marketing de improdutiva vizinhança com os demais prefeitos, exercido por Paulinho Serra, e uma ostensiva rejeição aos contrários partidários, com Orlando Morando. No fundo, tanto um quanto outro, repetindo cantilena de descaso dos anteriores, jamais entenderam o significado de regionalismo. Paulinho Serra traduz o tema em políticas varejistas, sem foco. Orlando Morando contrapôs-se com municipalismo autárquico.  

j) Governabilidade – Nenhum dos dois.  

Falta muito para Paulinho Serra e Orlando Morando entenderem o que é governabilidade, ou seja, a competência para lidar com agentes sociais e, principalmente, econômicos. Existe distanciamento que não condiz com as demandas de cada Município e da região como um todo. É verdade que as instâncias mais tradicionais no campo econômico são uma lástima. Preferem o enclausuramento seletivo e o relacionamento enviesado com o Poder Municipal.  

k) Governança – Orlando Morando.  

Paulinho Serra faz da gestão da Prefeitura de Santo André colcha de retalhos de interesses específicos que têm como finalidade manter-se na lides político-partidárias ao fim do segundo mandato. O descaramento é total. Um supersecretário chamado José Police Neto, ex-vereador da Capital, é chamado de superprefeito. É o retrato cínico da entrega dos cordéis administrativos a terceiros, sobretudo ao ex-prefeito da Capital e ex-ministro de Lula da Silva, Gilberto Kassab, presidente do PSD. Orlando Morando tem a governança sob controle, com condicionantes naturais de que um Prefeitura não é um Império. Mas fechou as portas a redutos tradicionais da região que se pretendem intocáveis. 

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