Entrevista Indesejada para
Paulinho Serra responder
DANIEL LIMA - 25/07/2019
O prefeito Paulinho Serra não fugiu ao desafio proposto ontem: ele topa responder à quase desativada editoria de “Entrevista Indesejada”, iniciativa deste jornalista que não prosperou ao longo dos anos porque não se encontra no Grande ABC protagonistas que topem a parada de sair do comodismo quase generalizado de Entrevista Desejada.
O prefeito de Santo André respondeu a este jornalista em ambiente fechado de um aplicativo de smartphone. Não vou dar detalhes sobre a mensagem do tucano porque se trata de um canal de comunicação reservado. Somente se ele decidir abrir ao público, publicarei o conteúdo. Certo é que ele decidiu falar. Os detalhes são segredo da fonte que me imponho.
Entrevista Indesejada é uma parada federal, por assim dizer. As questões abordadas são invariavelmente provocativas, como deve ser o bom jornalismo, o jornalismo comprometido com a sociedade, não o jornalismo chapa-branca glorificado pelos poderosos de plantão, pelos mandachuvas e mandachuvinhas.
Leitor decide conjunto
Perguntar não ofende, mas responder também não deve ofender. Democracia de verdade ampara antagonismos. Quem no comando da gestão pública não suporta questionamentos consistentes tem vocação incontrolável ao autoritarismo. Por isso mesmo deixo aos leitores o juízo de valor sobre as perguntas que se seguem.
Estariam essas questões frequentando algum espaço especulativo de política partidária, que passa longe de mim, ou seria a prova viva, vivíssima, do apartidarismo deste veículo de comunicação?
Esta é a segunda vez que entrevistaremos Paulinho Serra. A primeira foi no primeiro ano de mandato, mas não se tratou de Entrevista Indesejada, embora Entrevista Especial também tenha vocação persistente de alinhamento com o compromisso social e o interesse público.
Mais questionamentos
As perguntas que se seguem podem ganhar novo naco de questionamentos nos próximos dias. Preferimos acelerar os passos com as questões logo abaixo para possibilitar o que poderá ser uma primeira etapa de Entrevista Indesejada.
Há questões não abordadas que poderão ser incorporadas. Pretendemos retirar tudo que for possível do prefeito de Santo André. Uma extração jornalística, claro, que visa acabar com a pasmaceira generalizada de bolas levantadas para gols de placa.
A coragem do prefeito a esse enfrentamento não é pouca coisa. Reconhecemos publicamente o que parece se projetar como um grande espetáculo de transparência, algo tão pouco comum na Administração Municipal.
Vetores que chamamos de varejistas, tão ao gosto de Paulinho Serra e dos demais prefeitos, não ganharão espaço nesta Entrevista Indesejada como também não ganham fôlego nesta revista digital. Nossa perspectiva de atuação leva em conta valores estratégicos e estruturais.
Seguem as perguntas
Vamos então à primeira bateria de perguntas, 10 das quais já foram publicadas na edição de ontem, matriz do desafio ao prefeito. E da aceitação mais que alvissareira.
CapitalSocial – Se o senhor fosse fazer um diagnóstico dos ativos e dos passivos sociais e econômicos de Santo André neste século, só neste século, quanto seria a participação de sua Administração em termos percentuais tanto numa coisa quanto na outra?
CapitalSocial – O Instituto ABC Dados coloca sua gestão num nível crítico de atendimento às demandas sociais em várias áreas tipicamente de ações públicas locais. O senhor costuma responder a questões semelhantes com suspeitas sobre o mensageiro, desclassificando a mensagem. Nesse caso, o senhor considera os índices registrados uma fantasia do instituto de pesquisa?
CapitalSocial – Dados de 2016 do Índice Firjan de Gestão Fiscal, cuidadosamente analisados neste espaço, colocam Santo André na Série C do Campeonato Brasileiro. Ainda faltam os dados de 2017 e 2018, que sempre atrasam por conta da complexidade dos estudos. Santo André ocupava naquela temporada a 803ª colocação entre os mais de cinco mil municípios brasileiros, o 85º posto no Estado de São Paulo e apenas o 11º lugar no G-22, o Clube dos 20 Municípios Mais Importantes do Estado, exceto a Capital e com a inclusão de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. O IFGF aborda cinco vetores que diagnosticam o estado de saúde das finanças municipais. O senhor acredita que houve melhoras nos últimos anos? Mais que isso: esses posicionamentos não podem ser interpretados como preocupantes?
CapitalSocial – Que nota de zero a 10 o senhor daria aos prefeitos que ocuparam o Paço Municipal neste século? O senhor tem algum deles como referencial positivo ou os coloca no mesmo saco de gatos?
CapitalSocial – Nos três últimos anos de crise econômica já apurados, de dezembro de 2014 a dezembro de 2017, Santo André ficou entre os municípios mais abalados com a queda de salário médio. Houve uma perda frente a inflação de 3,62 pontos percentuais. Qual sua avaliação sobre isso, levando-se em conta, também, que Santo André classificou-se em 14º lugar num ranking dos 20 maiores municípios do Estado, fora a Capital?
CapitalSocial – O posicionamento não é diferente no ranking de produtividade por trabalhador na indústria. Santo André ocupa a 12ª posição entre os 20 maiores, com viés de rebaixamento contínuo. Os números mostram que a cidade e o Grande ABC perdem competitividade a cada temporada. Como sair dessa enrascada?
CapitalSocial – Nas poucas oportunidades em que o senhor se refere à economia de Santo André prevalece oratória de enaltecimento do setor de serviços como espécie de salvação geral. Mas a realidade é diferente: a desindustrialização gravíssima pela qual passou o Município ao longo de décadas está longe de ser compensada pelas atividades de serviços, modesta em relação à maioria dos principais municípios do Estado. A qualidade do emprego de serviços em Santo André o satisfaz de verdade?
CapitalSocial – O senhor não demorou demais, mas muito mesmo de, após mais de 30 meses de mandato, não ter efetivado políticas estratégicas na área econômica para tomar o pulso produtivo e devassar as razões que colocaram Santo André na penúltima colocação do G-22 no ranking de PIB por habitante? É sensato chegar-se a 31,33% de perda neste século, ou seja, um terço do PIB per capita, e nada, absolutamente nada de estrutural, ter saído das entranhas públicas?
CapitalSocial -- O senhor acredita mesmo que com um Parque Tecnológico tão esperado e tão decepcionantemente retardatário Santo André sairia da pasmaceira econômica e social em que se encontra? Costumo dizer que, em grande parcela dos casos, sobretudo dos casos sob a égide da política partidária, parques tecnológicos não passam de nichos que mascaram a realidade bem menos nobre.
CapitalSocial -- O senhor acredita que uma ou outra ponte na Avenida dos Estados, como se está anunciando, retirará aquela serpentina asfáltica da lista de um dos modais mais pronunciadamente improdutivos do sistema logístico do Grande ABC? Consideramos a Avenida dos Estados sob o ponto de vista de produção, de produtividade, mais que um estorvo ao Desenvolvimento Econômico. O senhor acha um exagero?
CapitalSocial -- O senhor está decepcionado com o fluxo de recuperação diretiva do Clube dos Prefeitos, do qual é o titular há sete meses, levando-se em conta que os dissidentes ainda não voltaram, não pagaram os atrasados de filiados rebeldes e incompetentes e a entidade continua sem foco no desenvolvimento econômico muito além do proselitismo político? Mais que isso: o senhor se calou o tempo todo nos dois anos de destruição do Clube dos Prefeitos, uma obra perfeita de seu antecessor, Orlando Morando. Tanta omissão não sinaliza à sociedade que o Clube dos Prefeitos não tem nada de importante ou o alinhamento partidário é muito mais relevante?
CapitalSocial -- O senhor se pronunciou favorável ao BRT e não ao monotrilho somente depois de o governador João Doria decidir dar um drible da vaca no Diário do Grande ABC e apresentar um menu completo de intervenções logísticas no Grande ABC. Por que não o fez antes, durante a campanha maciça do Diário em defesa do monotrilho? Por que não mobilizou a sociedade em defesa do BRT, já que o sistema o agradava tanto?
CapitalSocial -- Como o senhor explica que a chamada Casa do Grande ABC em Brasília é um desperdício de dinheiro público e está muito longe da imperiosidade de ações conjugadas com preparo técnico das iniciativas? Casa do Grande ABC sem ferramental de projetos tecnicamente e financeiramente viáveis não seria algo como jogar dinheiro no lixo?
CapitalSocial -- Como o senhor mantém no organograma da Prefeitura uma mais que manjada inutilidade chamada Ouvidoria, quando se sabe que se trata de penduricalho sem qualquer conotação crítica à Administração Pública, atuando, portanto, num esquema chapa-branca de suporte político-partidário? Por que o senhor não cobra da Ouvidoria uma convocação da sociedade e, em conjunto, exponha com clareza, transparência e didatismo tudo o que já fez no campo fiscal?
CapitalSocial – Por que o senhor não abre uma campanha regional em defesa dos fundamentos que criaram a Fundação do ABC, retirando a escuridão administrativa daquela instituição?
CapitalSocial -- Por que o senhor anunciou após a crise da cobrança tresloucada do IPTU de Santo André no ano passado que formaria uma comissão para equacionar o problema e desistiu da ideia sem dar satisfação ao interesse público? Mais que isso: o que fez para compatibilizar as receitas do IPTU com a competitividade econômica municipal notadamente desajustada?
CapitalSocial -- O senhor seria capaz de dizer de supetão quem é o seu Secretário de Desenvolvimento Econômico, ou seja, o homem com a responsabilidade de liderar ações para recolocar nos trilhos o desenvolvimento que escapuliu do controle da Prefeitura desde muito tempo? Quem são os auxiliares do secretário? Qual o currículo deles na área? Como desprezar esses dados para transmitir ao morador de Santo André que exista uma Administração preocupada para valer com o futuro?
CapitalSocial -- O senhor discorda da constatação de que, com a saída diária de 50% da População Economicamente Ativa em direção a outros municípios da região e da cidade de São Paulo, Santo André sofre há muito tempo com a fuga de cérebros, cujos resultados se espalham por vários campos culturais, inclusive na baixa apetência de participação social?
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