O que Bigucci tem a dizer
sobre organização criminosa?
DANIEL LIMA - 21/11/2016
Esta é uma nova tentativa de Entrevista Indesejada com o empresário Milton Bigucci, comandante do conglomerado MBigucci e presidente do Conselho Deliberativo do Clube dos Construtores do Grande ABC. Entrevista Indesejada é uma das editorias desta revista digital. É uma inovação na Imprensa brasileira que, por hábito, trata a maioria dos entrevistados com excesso de salamaleques.
Nesse território editorial de CapitalSocial os entrevistados não contam com possibilidade de respirar tranquilo. Tanto é verdade que poucas das entrevistas propostas se consumaram. Ao longo dos últimos seis anos Milton Bigucci negou-se a responder a seis tentativas. Este jornalista provocou os leitores e foi sabatinado duas vezes. E está disposto a responder a eventuais novas demandas. No fundo, só existe Entrevista Indesejada para quem não tem respostas desejadas pelos consumidores de informação -- que também são contribuintes, leitores, trabalhadores.
A nova incursão que coloca Milton Bigucci no centro de questionamentos está ligada à organização criminosa do setor imobiliário que age na Província do Grande ABC -- conforme denunciei mais uma vez, agora de forma enfática, na última sexta-feira. Uma denúncia encaminhada ao Corregedor-Geral do Ministério Público do Estado de São Paulo. As instâncias locais não têm dado respostas que a sociedade espera. Escândalos imobiliários são uma constante. Sem contar operações-abafa que impedem a revelação de novos casos.
A pergunta é a seguinte: quem acredita que o empresário e presidente do Conselho Deliberativo do Clube dos Construtores atenderá a esse chamamento vinculado à responsabilidade social e à liberdade de informação?
Passado que condena
Como acreditar se Milton Bigucci já negou fogo em seis oportunidades? Ele se sente poderoso demais para responder a demandas da sociedade intermediada por jornalistas. A reiterada escolha do dirigente empresarial e classista que durante 25 anos chefiou o Clube dos Construtores não é por acaso. É direcionadíssima por uma razão muito simples: não existe ninguém mais apropriado a falar sobre organização criminosa no mercado imobiliário.
Ou o leitor acredita que alguém que está há mais de 40 anos na atividade não tem muito a dizer, principalmente por ter durante todo esse tempo se transformado em liderança? Liderança no sentido de liderar a si próprio, claro. Aquela entidade foi esfacelada ao longo dos anos sob a chefia de Milton Bigucci. Não fossem o subsídio do Secovi, o Sindicato da Construção, o Clube dos Construtores não teria sobrevivido. Mal sobrevivido, é verdade, porque jamais foi protagonista de qualquer ação relevante na qual a sociedade regional ocupasse extremo de atenção.
Nas próprias perguntas que se seguem estão explícitas as razões de Milton Bigucci ser o alvo desta Entrevista Indesejada. Não teria sentido, portanto, escolher qualquer outro representante do setor imobiliário.
O presidente do Clube dos Construtores, Marcos Santaguita, acabou de chegar àquela entidade e mal teve tempo reorganizar o caos de um quarto de século do antecessor. Outros empreendedores do setor também jamais ocuparam tanto os noticiários de jornais impressos e digitais como Milton Bigucci.
Uma tentativa por ano
Então, sem perda de tempo, vamos aos questionamentos. Milton Bigucci tem 15 dias para responder. Será que vai refugar pela sétima vez? A primeira tentativa de Entrevista Indesejada com esse empresário e dirigente de classe foi formulada em 2010. Seguiram-se uma a cada ano. Faltava o desta temporada.
Até agora, Milton Bigucci tem respondido de maneira diferenciada, típica dos coronéis de asfalto. Seus advogados voltam-se contra o jornalista e o acionam na Justiça. Jamais as queixas-crime se referem às perguntas indesejadas. Eles sabem que não é estratégia inteligente aceitar as regras do jogo democrático de jogar limpo. Jogar limpo, no caso, é enfrentar os questionamentos sem medo.
O senhor e outros empresários se sentem preocupados com o artigo produzido por este jornalista na última semana, que dá conta de uma organização criminosa difusa na Província do Grande ABC, atuando no mercado imobiliário?
Milton Bigucci –
CapitalSocial – Com o conhecimento do mercado imobiliário que o senhor detém, saberia apontar na direção de maus empresários que justificariam o artigo deste jornalista?
Milton Bigucci --
Como presidente do Clube dos Construtores do Grande ABC durante um quarto de século e agora na presidência do Conselho Deliberativo, o senhor não se sentiu jamais incomodado com o noticiário dando conta de casos de corrupção e de flagrantes desvios de finalidades no mercado imobiliário da região?
Milton Bigucci –
Qual foi a providência que o senhor tomou quando da denúncia e dos desdobramentos do caso do residencial Barão de Mauá, em Mauá, onde condôminos de classe média baixa sofreram danos diversos, de saúde e financeiro, por conta de uma construção repleta de irregularidades? Não existe qualquer registro de que aquela calamidade que atingiu dezenas de famílias tenha tido alguma preocupação da entidade que o senhor dirigia.
Milton Bigucci –
As denúncias relativas ao Residencial Ventura, localizado no Bairro Jardim, em Santo André, foram completamente ignoradas pelo senhor como presidente do Clube dos Construtores. Aquele condomínio de classe média alta foi construído -- segundo dossiê deste jornalista adotado integralmente pelo Ministério Público Estadual -- num terreno com sérias restrições ambientais, além de forma irregular na cronologia de implementação. Uma indústria química funcionou naquele espaço durante 70 anos. O senhor também não mexeu uma palha para exigir a apuração do caso. Teria tudo a ver com as relações que o senhor, sempre na condição de dirigente institucional, tem com um dos responsáveis por aquele empreendimento, no caso o empresário Sérgio De Nadai, denunciado na primeira versão da Máfia da Merenda em São Paulo e em outros Estados e, nesse caso, atuando como investidor imobiliário?
Milton Bigucci –
O senhor foi denunciado ao Ministério Público Estadual por adquirir de forma completamente irregular um terreno nobre em São Bernardo, no qual constrói um grande empreendimento. Não houve a devida apuração do caso mais que comprovadamente no seleto grupo de corrupção impune. O senhor entende que aquele leilão de um terreno público não se encaixa nos critérios condenatórios de usos e abusos de um gestor empresarial?
Milton Bigucci –
Ainda sobre a área em que se constrói o empreendimento chamado Marco Zero: por que o senhor não apresenta à sociedade da região documentos públicos antecedentes e posteriores para demonstrar que houve cuidados com impactos viários, de mobilidade urbana, os quais, na prática, jamais foram obedecidos? Ou seja: aquelas torres comerciais e residenciais vão provocar sérios danos à qualidade de vida do entorno sem que o Estado, na forma do Município, tenha obtido qualquer contrapartida do conglomerado empresarial que o senhor chefia.
Milton Bigucci --
O conglomerado empresarial que o senhor comanda participou do empreendimento Royale Residence, em Santo André, ao lado do Shopping ABC. As informações dão conta de que há irregularidades que possibilitaram o uso e a ocupação do solo de forma abusiva. Entre as infrações constam a canalização indevida de um córrego e também alterações nas normas que regem o volume de construção, com o lançamento de unidades de apartamentos muito acima do permitido. O que o senhor diria sobre tudo isso?
Milton Bigucci --
Por que o senhor como liderança de classe não mantém transparência com a sociedade e vem a público para atualizar informações sobre investigações que o colocaram como um dos integrantes da Máfia do ISS da Capital?
Milton Bigucci --
Quais foram as medidas diretivas que o senhor tomou à frente do conglomerado MBigucci após as denúncias do Ministério Público do Consumidor de São Bernardo que instalaram o conglomerado como campeão regional de abusos contra a clientela?
Milton Bigucci --
O senhor acredita que o Clube dos Construtores associa lisura e credibilidade quando tem entre seus integrantes alguém envolvido em várias denúncias, no caso o próprio presidente do Conselho Deliberativo?
Milton Bigucci –
O senhor poderia assegurar que não moveu articulações com parceiros do setor imobiliário para sensibilizar um dos delatores do Escândalo do Semasa, em Santo André, a alterar depoimento ao Ministério Público Estadual no sentido de que não fosse incriminado com um dos agentes privados que teriam participado de corrupção?
Milton Bigucci –
Na condição de então presidente do Clube dos Construtores do Grande ABC o senhor nada fez para que as apurações do Escândalo do Semasa de forma mais consolidada e, inclusive, agindo no sentido de punir empresas por participação no esquema. A omissão se deu por conta de que sua organização também estaria metida na enrascada, conforme delação do advogado Calixto Antônio Júnior, um dos pontos-chave da operação?
Milton Bigucci --
Existe um feixe de apontamentos que o colocam como inimigo da classe dos construtores imobiliários por estar metido em vários assuntos delicados, quando não desmobilizadores. Um desses casos é que a reestruturação do uso e ocupação do sol em São Bernardo, perpetrada no ano passado pelo prefeito Luiz Marinho. Trata-se de agressão aos empreendedores de pequeno e médio porte, em favor dos grandes, inclusive de seu conglomerado. A batida mais forte o coloca como pouco transparente nos debates, restrito a alguns amigos próximos do Clube dos Construtores. O senhor considera esse tipo de relacionamento com o Poder Público o mais saudável ao empreendedorismo e à própria sociedade? Por que o Clube dos Construtores sob seu comando não organizou um comitê multifacetado, inclusive com representantes da sociedade, nos encontros com o Poder Público?
Milton Bigucci –
Apresentamos há cinco anos um material consistente sobre mudanças que poderiam dar ao Clube dos Construtores nova roupagem ética e moral, democratizando as decisões. Encaminhamos o material àquela associação e jamais obtivemos respostas. Também tratamos da incorporação do que chamamos de um Código de Ética. O senhor jamais respondeu. Código de Ética em consonância com as demandas da sociedade não constaria do léxico de atuação daquela associação e também do conglomerado que o senhor dirige?
Milton Bigucci –
Há informações que colocam seus empreendimentos num dos grupos beneficiados pelo governo federal petista. A vantagem daria a seus empreendimentos atenção especial à aprovação de financiamentos da Caixa Econômica Federal. Fala-se que um dos vínculos dessa espécie de privilégio foi a ex-ministra e em seguida presidente da Caixa, Miriam Belchior, egressa de Santo André. A mesma Miriam Belchior que o senhor, então presidente do Clube dos Construtores, homenageou numa festinha de última hora na sede daquela entidade. Chegou-se ao ponto de se criar um troféu a toque de caixa para justificar aquele encontro. Um troféu cuja aprovação não passou por qualquer instância estatutária do Clube dos Construtores e que, desde então, jamais foi sequer cogitado a qualquer outra autoridade.
Milton Bigucci –
Este jornalista já foi vítima do senhor em três ações no Judiciário. Duas diretamente e uma terceira como então presidente do Clube dos Construtores. O senhor sempre usou de artimanhas subjetivas para enganar o Judiciário. A terceira queixa-crime está em plena execução. Por que o senhor jamais foi ao Judiciário para se queixar deste jornalista no que se refere às denúncias de uma série de irregularidades cometidas como dirigente empresarial?
Milton Bigucci –
Cansamos de denunciar que o senhor sempre manipulou as pesquisas sobre o comportamento do mercado imobiliário da região. O senhor jamais ofereceu oportunidade ao contraditório. A nova diretoria do Clube dos Construtores praticamente extinguiu o anúncio público dos dados porque recebeu de herança uma barafunda sem consistência. Na verdade, sequer há estrutura de recursos humanos, material e financeira para a manutenção daquele balaio de gatos numéricos. O senhor considera exagero enquadrar a política de informação de dados estatísticos mantida durante sua longa gestão como crime de informação deliberadamente fajuta?
Milton Bigucci –
O senhor considera adequadas as medidas que tornaram as investigações da Máfia do ISS sob segredo de Justiça nestes tempos de Lava Jato? Como representante de uma entidade de classe o senhor não estudou jamais a possibilidade de sugerir que as apurações sejam transparentes, mostrando-se à sociedade em geral tudo que envolveu os delinquentes engravatados das empresas do setor imobiliário e os fiscais da Prefeitura da Capital?
Milton Bigucci --
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