Política

Corrida para dois

  DANIEL LIMA - 12/03/2008

Com esses quatro “emes”, tudo pode acontecer, menos a possibilidade de todos se candidatarem à Prefeitura de São Bernardo.

Maurício (Soares) quer ser prefeito mas provavelmente se ajeitará como vice.

Morando (Orlando) era vice e nada mais o tira da rota da Prefeitura, preferencialmente com Maurício ou Manente de vice.

Marinho (Luiz) está ministro mas tem a missão de assumir a Prefeitura em janeiro do ano que vem, preferencialmente com Maurício ou até mesmo Manente de vice.

Manente (Alex) não quer ficar atrás do também jovem Morando, mas pode se ajeitar tanto como vice dele como de Marinho.

O que fazer diante de tantas alternativas?

Esperar, esperar e esperar, porque pelo andar da carruagem é mais que provável que apenas dois deles restarão para disputar a Prefeitura que detém num lado da moeda um dos orçamentos mais ricos do Estado e no outro uma geoeconomia complicadíssima, que tem o Rodoanel como esperança a contrapor-se a um passivo social de anos e anos de terríveis movimentos de deserção industrial e de explosão demográfica.

Alguns trocadilhos poderiam ser filtrados do fato de que são quatro “emes” que disputam ou fingem disputar o mesmo cargo.

Mas que a disputa é mesmo de matar, não resta dúvida.

Cada candidato carrega porções de vantagens e desvantagens. Certo é que teremos uma disputa idiossincrática além das medidas, na qual, em primeira escala, apenas o jovem Alex Manente parece escapar, porque seu passe e repasse de eleitorado interessa aos demais.

Mas não pense Manente que terá vida boa caso decida sair da posição de segundo para disputar uma improvável cabeça de chapa.

Se é verdade que Manente não tem tônus financeiro para suportar uma corrida à Prefeitura, joga com o prestígio que as pesquisas eleitorais lhe conferem. Seu cacife dependerá da manutenção dos índices de audiência.

É muito provável que esse índice reflua na proporção da subida de Morando que, após seis meses de refluxo, por conta da composição de chapa com Maurício, resolveu emergir e resgatar o tempo perdido.

Marinho é candidatíssimo à Prefeitura que o PT parece decididíssimo a recuperar, após quatro sovas seguidas desde os anos 1990. Marinho sabe que a simbologia de dirigir a Prefeitura de São Bernardo repercutiria nas eleições presidenciais de 2010, tanto quanto nova derrota.

Dificilmente essa corrida abrirá espaço contábil-eleitoral para além de dois concorrentes. Mais que isso, o máximo que se atingiria seria um segundo turno previsível entre o candidato do Paço Municipal e o candidato petista.

São Bernardo é uma cidadela emblemática na disputa entre petistas e tucanos. Sustentar o discurso de que o PT não tem vez onde o presidente Lula da Silva saltou para as manchetes é um prato cheio para os tucanos. Reverter esse jogo é vital para os petistas.

Alguns batalhões infiltram-se pelo território para demarcar forças de combatentes vermelhos e azuis. A projeção do campus da Universidade Federal do Grande ABC em São Bernardo é uma bandeira petista, adquirido que foi o terreno pelo governo federal. O trecho sul do Rodoanel que já corta o Município é uma investida do governo estadual, aliado do prefeito William Dib. A recuperação da indústria automotiva é uma política econômica marcantemente petista. Por sua vez, o governo municipal faz contínuos esforços para dar um drible na guerra fiscal com contragolpes igualmente redutores da carga tributária local.

O quarteto múltiplo, portanto, é apenas uma ilusão de ótica especulativa. Não há uma terceira via independente capaz de mobilizar o eleitorado. Mas sobram terceiras vias auxiliares, com Maurício, Manente filho (Alex) e até mesmo Manente pai (Otávio).

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