 
 DANIEL LIMA - 30/09/2025
DANIEL LIMA - 30/09/2025
Jamais imaginei que, no auge de condições cognitivas profissionais no jornalismo que abracei por necessidade e que me tornou devoto irrevogável, chegaria a estágio de observações tão impactante. Estou me referindo especificamente ao jornalismo praticado em larga escala no Grande ABC.
O que a Velha Imprensa anda fazendo há muito tempo é outra história, da qual já me ocupei e sobre a qual voltarei a escrever qualquer dia desses. Aliás, a Velha Imprensa, quando mensurada sob a ótica de poderio econômico e institucional, está longe do que poderia representar como um dos marcadores mais relevantes do comportamento social.
Hoje me debruço mais uma vez sobre o jornalismo no Grande ABC. Temos uma Pasárgada no noticiário médio enquanto a Detroit à Brasileira fica restrita a esta revista digital. E assim caminha a quase unanimidade burra.
Quando afirmo sem nenhuma nesga de dúvida que vivo a conjunção de experiência e sensibilidade na produção de jornalismo posso garantir que faço diariamente a prova dos nove. O que é a prova dos noves? Ora, deixar conservadores fanáticos e progressistas radicais estupefatos. Os de centro são outros quinhentos, porque os de centro são inconfiáveis como fonte segura de observações. Eles têm a mania de não descer do muro de conveniências.
FORA DO JOGO
Estou completamente fora do jogo jogado na maioria dos casos na região, e também extra região. Não faço parte da patota que por algumas razões ou muitas razões tem camisas para vestir ou camisas para denegrir, pouco importando os motivos.
Embora não esconda de ninguém os conceitos e preceitos que me movem há 300 anos (o empreendedorismo privado e público e o compromisso social, além de uma regionalidade que vai muito além da superfície de vaselinagem, eis minha síntese), não faltam agressores nos grupos de WhatsApp dos quais participo praticamente como voyeur.
São poucos os agressores, a bem da verdade, mas escancaram as raízes que os movem. Eles estão ligados a políticos profissionais que os remuneram de alguma forma para exercer a ignorância muito além do razoável. O que é exatamente exercer a ignorância muito além do razoável? Ora, bolas, é simplesmente manifestar no uso dos dígitos o que lhes caberia nas patas.
LEITORES FIÉIS
Já no caso dos leitores que aos milhares alcanço nas minhas listas de transmissão, e com os quais mantenho relações de distribuição do material deste site há muitos anos, desde os tempos da revista de papel LivreMercado, a relação é bem diferente. Eles não caíram de paraquedas de idiossincrasias encabrestadas e participam com mensagens contributivas, saudáveis e respeitosas.
Não posso dizer que são dois mundos diferentes, ou seja, dos leitores que escolhi para constarem de listas de distribuição e leitores de grupos alheios. Há pouca diferença entre os dois casos, mas no segundo caso há um grupinho organizado e remunerado. Mal sabem esses poucos que quanto mais se manifestam, mais incrementam meu senso crítico.
Estou atentíssimo à movimentação das pedras da comunicação na região (no Brasil e em nível internacional também) como crítico do jornalismo que abracei e com o qual mantenho estreita fidelidade em fundamentos que alguns ou vários outros endereços preferem negligenciar.
Não sei se os leitores de jornais de papel e digitais da região reconhecem algumas características de cada endereço midiático que frequentam assiduamente ou não. Os mais atentos estariam apetrechados de senso crítico para distinguir uns de outros.
FONTE DE FELICIDADE
De maneira geral, o jornalismo regional é uma fonte de felicidade envolvendo as administrações públicas. Já há muito tempo o que temos nas sete praças municipais é um festival de sucessos administrativos. Falta combinar com os resultados que fogem do controle do noticiário regional. Cada ranking de qualquer coisa valiosa e que tenha lastro é um desassossego geral.
Não há como manter narrativas panglossianas. Fatos insistem em contrariar versões edulcoradas. O jornalismo de aplausos faz das tripas de manchetes adocicadas coração de felicidade, mas o sangramento econômico e social do Grande ABC de desindustrialização teimosa e ruinosa prossegue arrasador.
O mais calamitoso desse quadro conta com o paralelismo da escassa fonte de financiamento editorial do setor privado. Por mais que se teime em tentar manter as aparências de políticas varejistas, surgem também estragos internos provocados nas áreas de Segurança Pública, Educação, Habitação, Saúde, Finanças Públicas, Meio Ambiente e tudo o mais.
SEM RESISTÊNCIA
Não há credibilidade forçada pela política cor-de-rosa de tentar bloquear corpos estranhos ao endeusamento do noticiário que resista à avalanche de uma área de quase três milhões de habitantes imersa em profundos passivos sociais. Uma área que vende a ideia de região quando não passa de municípios concorrentes entre si e em camadas administrativas sobrepostas de baixa produtividade.
Ando muito atarefado com demandas jornalísticas mais nobres (afinal, experiência também serve para isso, ou seja, para descartar ou minimizar atenção a banalidades cotidianas que se repetem infinitamente, enquanto o mundo da informação já é desafiador ao acompanhamento de noticiários mais robustos) para esquadrinhar diariamente e preparar um balanço geral a cada semana sobre o que alimentou o noticiário das publicações da região.
Guardo por determinado período (que já foram anos, mas agora não passam de alguns meses) a média de 40 páginas selecionadas e devoradas de quatro jornais que recebo diariamente.
Poderia fazer o tal balanço geral semanal ou quinzenal, mas não tenho paciência. Poderia apontar uma estatística que dimensionaria tecnicamente matérias publicadas pela mídia regional mais representativa. Definiria categorias de noticiário positivo, negativo ou neutro. Garanto que, apesar de todas as pressões e suprimento da máquina do positivismo a qualquer custo ou preço, os danos detectados seriam proporcionalmente maiores.
PASSOS DOS PAÇOS
No campo político, os atuais prefeitos das sete cidades contam com a façanha mais que explicada de gozarem de alto prestígio junto à mídia regional. Muito raramente há noticiário crítico. Por conta disso, quem se aventurar a apontar percalços, como este jornalista invariavelmente o faz, acaba parecendo aos olhos populares o único soldado fora do passo.
O que muitos não entendem é que não se trata de estar fora do passo, mas de compreender a natureza de cidadania que evoca os paços como endereços de curadoria permanente, porque é isso que esperam os consumidores de informação independentes.
Sei que sei que apesar do varejismo que ainda impera nas políticas públicas na região, há movimentações de rupturas que poderiam acenar com o combustível de entreveros sempre saudáveis porque supostamente transformadores. Pena que não se trata disso. O que temos invariavelmente é o acionamento do botão de uma centrífuga de interesses dos novos mandatários municipais. Os que passaram e gozaram de prestígio de noticiários, agora não apitam nada. Viraram vilões.
O que acho mais interessante e engraçado, para não dizer patético, é que os informativos acreditem que não há quem perceba e detecte movimentações atípicas em pretenso formato de normalidade. Costumo dizer que conheço até a última gota o perfil de cada publicação da região. Basta acompanhar o noticiário para matar a charada.
CARTAS MARCADAS
Algumas fontes auxiliam nessa tarefa, mas não pesam tanto quanto meu senso de observação. Pergunte a um pastor veterano se ele não consegue ver o desespero de um fiel à entrada no templo? Pergunte a um zagueiro bom de bola se ele não decifra o olhar do centroavante e do meia-atacante prontos para dar um bote em direção ao gol? Essas coisas não têm preço.
Qualquer candidato a qualquer eleição que tenha rodado o mundo em busca de voto sabe quando o eleitor abordado de fato vai lhe dar o que ele pede enquanto um outro dá sinais de que não está nem aí com a candidatura dele.
O jogo de cartas marcadas do noticiário regional carrega tanta ingenuidade na tentativa de parecer o que não é, ou seja, uma empreitada que vai além do que aparece, que chega mesmo a ser anedótico, não fosse trágico.
Há algumas regrinhas que os assessores de imprensa dos agentes públicos poderiam utilizar para levar à sociedade desorganizada e servil em forma de informação jornalística muito mais que um novo caudal bajulativo de quem está no poder.
A claque organizada e manifesta em cada parágrafo é nociva à sociedade como um todo. Quanto mais um prefeito ou outro prefeito, um vereador ou outro vereador, um secretário municipal e outro secretário municipal, se utilizam de adjetivações e grandiloquências, mais desconfio do conteúdo.
SUCESSOS E FRACASSOS
Ainda está para nascer um homem público na região que trate os leitores e eleitores com responsabilidade social à altura das necessidades postas. Essa constatação que pode ser ajuizada a cada novo dia é um tropeço monumental.
Gestor público consciente da função social que lhe cabe deveria ter relacionamentos sem pasteurização com os contribuintes, eleitores, consumidores e torcedores. Falar a verdade sobre programas de governo não custa nada. Programas públicos descontinuados, por exemplo, valem tanto como notícia quanto programas públicos aperfeiçoados. Quem não se furta de informar sobre os primeiros, potencializa os ganhos sobre os segundos.
Minha sugestão aos prefeitos atuais é que chamem a mídia permanentemente para mostrar os desafios com os quais convivem. Não é preciso partidarizar nem ideologizar. Tampouco espicaçar antecessores. Basta prestar informações e divulgarem encaminhamentos.
FAZER A HORA
Poderia dar inúmeros exemplos levando em conta os primeiros nove meses desta temporada de novos prefeitos. Eles se repetem no ritual ditado por marqueteiros que fazem do Grande ABC território de permanente disputa política. Por isso estamos numa pindaíba de dar dó.
Pasárgada é uma ilusão. Somos mesmo e indefinidamente uma Detroit à Brasileira. Enquanto a sociedade como um todo, mesmo uma sociedade desorganizada e servil como a do Grande ABC, não se der conta de que a conta do triunfalismo é uma perdição permanente, enquanto todos não se derem conta desse conto do vigário, estaremos mais e mais afundados em empobrecimento material e humanístico.
Sociedade que não faz a hora não sabe o que pode acontecer porque a farmacologia demagógica de entorpecimento é vigorosa e ruinosa.