 
 DANIEL LIMA - 10/09/2025
DANIEL LIMA - 10/09/2025
Vou fazer um esforço descomunal para tentar traduzir a entrevista do Repórter Diário com o deputado Fernando Marangoni, com domicílio eleitoral, mas poucos votos em Santo André. A barafunda avaliativa de Marangoni se cristalizou ao abordar (abordar é força de expressão) a pauta master do Congresso Nacional, que trata da Anistia e incontroláveis rescaldos. Marangoni foi além disso, como se não bastasse.
Marangoni é ruim de conversa, ou seja, é um entrevistado ruim de bola. Dá sonolência. Mas deixemos isso de lado. A assessoria de imprensa que trate de dar uma tapa no produto que tem às mãos.
Vou reproduzir a reportagem do Repórter Diário que não traduz completamente a entrevista apresentada na versão TV. Mas a essência está no texto que se seguirá logo abaixo. O leitor vai precisar fazer, repito, um esforço descomunal para tentar entender. E acho que não vai entender.
O principal ponto pode ser resumido na seguinte analogia: o circo institucional do Brasil está pegando fogo depois de longos anos de autoritarismo judicial, mas o deputado federal Fernando Marangoni reclama indignado. Ele quer a bilheteria funcionando, ele quer que o equilibrista corra para o palco e exige que a programação ordinária seja cumprida. Marangoni é impagável.
SEM NOÇÃO DO CONTEXTO
Marangoni acha que o circo pegou fogo por acaso e, sendo por acaso, não há razão alguma para priorizar os estragos. Basta fazer de conta que nada ocorreu ao longo dos últimos anos, tanto à direita quanto à esquerda, e tocar o barco do Congresso Nacional. O leitor vai entender o que é tocar o barco na dialética iletrada do deputado.
Num embaralhamento típico de jogador de cartas que não distingue um zape de um sete copas, Marangoni bombardeou o deslocamento da pauta da Câmara dos Deputados à polarização ideológica. Com isso, não atribuiu um tiquinho sequer da mudança de rumo à contaminação do ambiente nacional a partir dos excessos mais que evidentes do Judiciário. Isso mesmo: Marangoni tratou a questão mais sensível da política nacional e da institucionalidade nacional como se a Constituição Federal, violada reiteradamente, não passasse de retalhos insignificantes.
Quer Marangoni que as pautas por ele e outros deputados e senadores tenham como foco os interesses marginais do contexto político-institucional que coloca o Brasil às portas de uma crise muito além das fronteiras, no caso as retaliações do governo de Donald Trump.
MAIS CUSTOS DO ESTADO
Fernando Marangoni é seguramente um político despreparado às causas viscerais do Brasil tanto quanto parece preparadíssimo à prática exclusiva do varejismo tradicional dos fazedores de leis. Mais que isso: como a maioria, senão a totalidade dos parlamentares, conduz projetos ou participa de projetos que agravam a situação econômica e fiscal do País. Todos vinculados a mais gastos públicos e nada de atenção a mitigar os custos de financiamento de um Estado perdulário.
Por mais justos que eventualmente sejam os projetos verbalizados por Marangoni, o que temos é uma velha e desgastada rotina parlamentar de tirar mais recursos dos contribuintes. Nada consta de seus propósitos intervir não só para cortar despesas improdutivas e inescrutáveis do governo federal como absolutamente nada que gere desenvolvimento econômico.
Uma prova disso? Marangoni festeja o novo e reincidente calote nos contribuintes, porque os contribuintes é que pagam as contas, ao se aprovar no Senado a PEC dos Precatórios que aliviará só no Grande ABC, a bagatela de 150 milhões nesta temporada. Os prefeitos locais e do País como um todo estão exultantes. Não cumpriram as obrigações pertinentes aos Executivos Municipais e ganharam de presente o esticamento de prazo para pagar do jeito que o Diabo gosta.
PIB EQUIVOCADO
Quando Fernando Marangoni fez alguma incursão no mundo da Economia, desnudaram-se despreparo e desconhecimento. Para começo de conversa, não fez qualquer ponderação sobre a situação catastrófica do Grande ABC nos últimos 30 anos, sempre considerando o andar da carruagem do Desenvolvimento Econômico médio do País no mesmo período.
E quando enveredou pelo que chamaria com muito boa vontade de macroeconomia, Marangoni colocou o Brasil na oitava posição do PIB Mundial. Mal sabe que a métrica no ranking internacional leva em conta o PIB per capita de acordo com uma sopa de indicadores que colocam os países em igualdade de condições métricas. E nesse aspecto, ocupamos a posição 82.
Por conta desse analfabetismo crônico, Marangoni caiu em contradição, logo em seguida, ao mencionar problemas atávicos que saltam de indicadores sociais e de infraestrutura. Marangoni não cairia na armadilha do ufanismo inconsistente se prestasse mais atenção no pecado de vender ilusão.
POUCOS VOTOS
Não custa lembrar (e isso não tem sentido discricionário, porque se o tivesse eu diria) que Fernando Marangoni é representante de Santo André e da região em Brasília, mas não obteve em Santo André e na região os votos de que precisava para eleger-se. Marangoni somou 89.290 votos nas eleições de 2022. Desse total, apenas 28,56% foram obtidos em Santo André e outros 4,27% dentro do território regional. O restante de 60.042 votos, num total de 67,17%, foi em algumas dezenas de municípios do Estado. A área de habitação popular é sua praia, sempre com recursos governamentais.
Talvez fosse mais correto dizer que Fernando Marangoni não é um quadro da política regional se fosse levar a ferro e fogo o conceito de municipalismo, ou mesmo de regionalismo. Mas isso não interessa agora. O que importa mesmo é que sendo de onde quer que seja, precisa melhorar o trem de jogo.
Na sequência, repasso aos leitores o texto completo do jornal Repórter Diário que, como já antecipei, não espelha integralmente o teor da entrevista na versão televisiva, mas que, repito, é estruturalmente adequado à compreensão dos leitores. Acompanhem:
REPÓRTER DIÁRIO
Na segunda semana de setembro será decisiva em Brasília com a finalização do julgamento dos acusados em participar de uma tentativa de golpe. Mas uma das preocupações está com a pauta travada no Congresso Nacional. Ao RDtv desta segunda-feira (08/09), o deputado federal Fernando Marangoni (União Brasil) lamentou o cenário e aponta a necessidade de a política deixar de lado a polarização e assim focar nas pautas voltadas para a população.
Ao celebrar o prosseguimento de seu projeto de lei que visa ampliar o atendimento das Delegacias de Defesa da Mulher (DDMs) para crianças e adolescentes, o deputado ressaltou que existem uma série de pautas que estão paradas devido ao debate sobre uma possível proposta para anistiar quem foi acusado de participação ao ataque contra a democracia. Com o clima “acirrado”, há uma maior dificuldade para emplacar outros debates.
“Então, acho que a gente tem que virar essa página no Brasil, de uma vez por todas, eu acho que a questão do julgamento é uma questão relativamente aos seus envolvidos e ao judiciário brasileiro, eu acho que o Congresso não deve se meter nesse processo, sendo muito sincero, enfim, então eu acho que o Congresso tem que virar a cabeça com o trabalho para aquilo que o povo espera dos seus representantes, que é tocar as pautas urgentes para o País.”, comenta.
Marangoni relembrou o início de seu mandato quando foi o relator da Medida Provisória (MP) sobre o programa Minha Casa, Minha Vida. O deputado federal lembra que existia a polarização, mas que conseguiu finalizar o texto que passou por unanimidade na comissão mista e depois na Câmara Federal e no Senado.
Marangoni elogiou a reunificação política no Consórcio ABC e ressaltou a importância deste tipo de união para tirar do papel futuros investimentos (Foto: Reprodução/RDtv)
Ao ser questionado sobre o que é necessário fazer para retomar o ritmo dos trabalhos legislativos, o parlamentar ressaltou a necessidade dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) conversarem para alinhar os trabalhos e manter a independência.
“Eu acho que, primeiro, a gente está vivendo um desequilíbrio institucional no Brasil, a gente viu o Poder Executivo no passado cometer excessos para cima dos outros poderes e agora esses excessos de certa forma estão sendo respondidos, respondidos por outros poderes, enfim, então a gente precisa, eu acho que do bom senso, a gente precisa sair de narrativa política eleitoral e com muita responsabilidade fazer a narrativa, entrar na narrativa da vida real.”, inicia.
“Eu acho que é sentar, entender e separar primeiro com relação à anistia, aquelas pessoas que foram se manifestar, que foram ali acreditando, que estavam indo para uma manifestação acerca de uma posição, de quem eventualmente, e isso quem vai resolver a justiça ou não, participava do governo, quem tinha condição de articular qualquer tentativa de golpe, etc.”, segue.
“Eu acho que são públicos muito distintos na minha visão, e aí você vê uma extrema direita querendo colocar tudo isso no mesmo pacote e aí carece o bom senso, e aí a outra parte fala, não, espera aí, então se construir acho que é algo de bom senso, de consenso, então acho que agora é sentar todos os poderes, eu acho que são os presidentes dos principais poderes, do Parlamento Brasileiro, do Poder Executivo, do Judiciário, para que a gente comece a parar com essa guerra institucional que nós estamos vivendo no País e comece a achar caminhos de consenso e todo mundo vai ter que abrir mão um pouco de poder, vai ter que abrir mão um pouco de algumas convicções para que o país possa seguir naquilo que realmente interessa para o brasileiro.”, completa.