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Política

DANIEL LIMA - 12/08/2025

Uma pesquisa do Instituto Ipsos-Ipec divulgada há alguns dias bota fogo na expectativa de sucesso da Terceira Via eleitoral que tem  no ex-prefeito de Santo André, Paulinho Serra, um dos divulgadores, adesistas e pretensos beneficiários.  Não tenho dúvida alguma de que Paulinho Serra,  experimento do marqueteiro Duda Lima, excomungará a iniciativa porque a iniciativa é um tiro no pé. Aliás, essa operação já foi deflagrada. Dar um chega-pra-lá nos dois candidatos seria estupidez eleitoral.

O resumo da ópera é o seguinte: duvido e aposto com Paulinho Serra se ele terá coragem de confirmar na campanha eleitoral já posta nas ruas, nas telinhas, nas telonas e em tudo quanto é lugar,  que execra tanto o bolsonarismo quanto o lulismo, como disse recentemente de forma literalmente suicida num País dividido ao meio, ou quase ao meio.

A coluna que Paulinho Serra assina no Diário do Grande ABC (Mais Gestão, Menos Polarização) é o eufemismo dos marqueteiros de Paulinho Serra para amenizar o prejuízo da declaração insensata do ponto de vista eleitoral até que esse ponto de vista eleitoral eventualmente se altere. O  que está longe de ocorrer. No caso, o longe são as disputas do ano que vem.

RESISTÊNCIA RELATIVA

Mesmo com  restrições a  qualquer pesquisa eleitoral que seja divulgada sem que tenha acesso à metodologia, porque pesquisas eleitorais são em geral uma maneira de propagandismo de vieses não declarados, mas consumados em dados, mesmo assim acredito firmemente no Ipsos-Ipec. Há evidências que dispensam confirmações.

Afinal, a polarização com aderência de adesismos de áreas menos extremistas é uma realidade do ambiente político nacional. Não há espaço à Terceira Via que conhecemos há muito tempo e da qual Paulinho Serra é um dos exponentes da região. Terceira Via eleitoral é muito estreita – como mostrarei em seguida – e conta com grau de deslocamento à direita e à esquerda mais que oportunista.

Duvido que o político Paulinho Serra tenha a coragem de dizer ao povo em geral durante a campanha eleitoral que já começou  que tanto Lula da Silva como Jair Bolsonaro não são flores de votos que se coloquem nas urnas eletrônicas.

VASELINAGEM PREVALECERÁ

No caso de Paulinho Serra, a vaselinagem ancorada em conselhos de marqueteiros prevalecerá, ou será restaurada, como já se nota. E Duda Lima, seu cuidador de votos, não cairá na besteira de que para ganhar votos Paulinho Serra deve deixar o muro em que geralmente se mete. Tanto é verdade que o programa de 30 minutos na TV  Bandeirantes (que ainda não assisti) é, pela propaganda de lançamento, uma engenharia que foge da nominação de quem consta do senso nacional como direitista e esquerdista. Prevalece o conceito de gestão acima de polarização, como nas colunas do Diário do Grande ABC.

Escrito isso, importante para situar os leitores à ancoragem de regionalidade num tema nacional, caso da pesquisa do Instituto Ipsos, vamos então a algumas considerações, levando-se em conta, justamente, aqueles dados. 

Leio com atenção de sempre no Valor Econômico o resultado da pesquisa do Ipso-Ipec sobre a polarização nacional e a margem de manobra, por dizer assim, àqueles que não querem nem Lula da Silva nem Jair Bolsonaro. Aparentemente, os 22% dos eleitores que rejeitam conjuntamente os dois principais líderes políticos do País podem sugerir uma margem de manobra razoavelmente robusta. Mas não é exatamente isso. Há condicionantes que demarcam o terreno a movimentações da Terceira Via. Aliás, está faltando uma pesquisa qualitativa e quantitativa para dissecar no sentido sensorial o que os eleitores interpretam como Terceira Via.  A expressão está tão degastada que a esperteza de Duda Lima, o homem de Paulinho Serra, nem de longe foi levada a campo. Mais Gestão, Menos Polarização é a síntese de algo que não pode ser pronunciado.

REJEIÇÃO RECÍPROCA

Mas vamos de novo ao que interessa: além dos 22% que desprezam tanto Lula quanto Bolsonaro, os dois líderes têm o peso de 29% de rejeição individual (Lula) e 30% (Bolsonaro). Os dados da pesquisa são elucidativos porque até outro dia vários institutos de pesquisa alçavam às manchetes de jornais uma muito mais volumosa montanha de rejeição e, num tratado de estultice, alguns chamados especialistas no assunto, interpretavam como medida abrangente à totalidade dos eleitores.

Simplesmente esses analistas esqueceram que tendo maiores nacos de eleitores,  não haveria como, numa sondagem de rejeição, tanto Lula quanto Bolsonaro absorverem pesos negativos mútuos. Por conta disso, a pesquisa Ipsos-Ipec descontamina  reciprocidade entre lulistas e bolsonaristas dos dados finais. Sobraram 22% que, teoricamente, seriam o total de potencial eleitoral de um eventual reduto próprio. De fato e para valer, boa parte desses 22% vai aderir a Bolsonaro ou a Lula da Silva na possível reta de chegada de segundo turno no próximo ano. Completando os dados divulgados, 18% do eleitorado não rejeita Lula ou Bolsonaro.  

Traduzindo tudo isso em termos práticos: apenas um quinto do eleitorado brasileiro estaria supostamente fora do enquadramento de polarização que o marqueteiro de Paulinho Serra tanto dissimila depois de soltar a franga de um antipetismo e um antibolsonarismo sem qualquer parentesco com o passado de adesismo à direita e à esquerda.

QUEM TEM CORAGEM?

O que isso significa é o que já expressei acima: quem terá a coragem, ou cometeria o suicídio eleitoral, de bradar conjuntamente contra Lula e Bolsonaro? Bradar conjuntamente quer  dizer expor publicamente ojeriza ou algo semelhante  aos dois concorrentes presidenciais.

O mais provável é que o andar da carruagem eleitoral para concorrentes a parlamentos determinará a desistência a qualquer intenção de libertação para valer da polarização. Os concorrentes correrão em direção a uma das extremidades. De fato são extremidades relativas porque o centro é um ponto de aglutinação e difusão de interesses tanto à direita quanto à esquerda, separando bolsonaristas e lulistas em forma de disfarces de autossobrevivência. A Terceira Via, portanto, não passa de uma faixa bem mais estreita do que os 22% apontados e que têm todas as características de voyerismo político até o bote final.  



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