Clique aqui para imprimir




Regionalidade

DANIEL LIMA - 02/07/2025

O gataborralheirismo do Grande ABC ganhou reforço deletério de novas tonalidades e potencialidades com a chegada em janeiro da turma de prefeitos regionais que não passam de prefeitos municipais no Clube dos Prefeitos ruim da cabeça e doente das pernas de competitividade econômica. A governança regional que jamais foi uma joia da coroa da libertação do municipalismo velho de guerra segue à deriva.

Seis meses após a nova composição de prefeitos que saíram das urnas com apenas 35% dos votos disponíveis nas sete praças, o que temos no Clube dos Prefeitos é a baixa utilidade de uma pauta de imediatismo nada reestruturante e de um médio-prazismo igualmente pouco significativo.

Vejam só que estamos conseguindo o milagre de  aprofundar a ruinosa mediocridade histórica. Adicionamos ao gataborralheirismo velho de guerra o propagandismo de suposta revolução que não passa de nanismo de incursões cosméticas ou pretensamente importantes sem, entretanto, oferecer a mínima garantia a resoluções factíveis.

PEDINTES E PROSPECTIVOS

A reprodução de uma engrenagem política de roda quadrada em forma de representação regional em Brasília, anunciada com pompa e circunstância como mais vantajosa que a fracassada no passado, talvez seja a mensagem mais emblemática da turma liderada pelo prefeito de São Bernardo, Marcelo Lima. Oficializamos o Clube dos Prefeitos Pedintes. O Grande ABC precisa mesmo é do Clube dos Prefeitos Prospectivos

Essa operação que tem mais a ver com política de grupo político alinhado aos poderosos de plantão não passa de drible da vaca nos incautos.  

Por mais que o titular do Paço de São Bernardo enfeite o pavão definidor do que seria aquele puxadinho regional, na tentativa de diferenciá-lo e superá-lo em qualidade do anterior,  tudo não passa de reposição de experiência pouco útil, além de revelar o pensamento e as ações médias dessa mesma turma.

Ou seja: interessa mais a política de pedintes, atrás de recursos públicos federais cada vez mais escassos, do que o planejamento para valer, como Celso Daniel tanto ensinou nos anos 1990. A falta de sorte dessa turma e das turmas que a antecedeu é que é marco da regionalidade política tem nome e sobrenome.

Sim, Celso Daniel o primeiro, o único e o imbatível prefeito dos prefeitos regionais que honrou as calças de comprometimento com um projeto que ele mesmo criou. E que os sucessores sucatearam.

AMBIENTES DIFERENTES

Cabe sempre a ressalva de que o ambiente regional em meados dos anos 1990 contava com pressão ambiental do Fórum da Cidadania, formado por lideranças de várias entidades sociais e econômicas. Uma situação institucional completamente desmobilizada ao longo dos anos.

Hoje o que temos é uma turma dominadora da cena regional, integrada pelos atuais prefeitos e um entorno eclético, mas unificado em torno de impor o territorialismo como forma de controle social. Um projeto fabulosamente vencedor nestes primeiros assaltos. A sociedade servil e desorganizada está nocauteada. Como se fosse possível nocautear mortos.

A combinação de gataborralheirismo com sete anões é uma  alusão aos sete municípios da região que os políticos do passado decidiram criar ou dividir, repartir e ferrar a geoeconomia do Grande ABC como Município único.

RESPEITO AOS ANÕES

Talvez a imagem seja imprecisa, quando não injusta, para não dizer angustiante, senão agressiva. Os sete anões da literatura infantil são personagens alegres, festivos e instigantes. Alimentaram e alimentam a imaginação, a curiosidade, a criatividade e tudo o mais de gerações. Os sete anões do Grande ABC são patéticos como prefeitos regionais, embora todos tenham valores como prefeitos municipais típicos de domésticas borralheiras.

Aliás, por falar em prefeitos municipais, sempre que necessário alertei os repórteres com os quais trabalhei no sentido de que a expressão é uma redundância que precisaria ser evitada. “Prefeito municipal” não tinha razão de ser de ser “prefeito municipal”, porque prefeito só pode ser municipal mesmo.

Mas, entretanto, porém e todavia, eis que entra em campo Celso Daniel e a regionalidade no campo político-institucional, e se insere no léxico jornalístico regional, por meio deste jornalista, e isso há pouco tempo, a bem da verdade, a expressão “prefeito regional”. Essa diferença é importante porque separa o eventual trigo (dos prefeitos municipais) do enraizado joio (dos prefeitos regionais).

COMEÇO LASTIMÁVEL

Os seis primeiros meses de governança regional da nova turma de prefeitos regionais é uma lastima. Ainda não tive paciência para destrinchar o que a mídia regional divulgou ainda outro dia como uma peça de propaganda, em forma de 18 propostas que a nova turma divulgou terem sido encetadas desde janeiro.

Confesso que dei uma olhadela no material, sem o senso crítico de sempre, mas com a camada de curiosidade e atenção para formar juízo de valor ainda a ser acurado. O que li não passa de, em larga escala, um projeto dissuasivo às críticas mais que necessárias e factíveis à caminhada trôpega da regionalidade nestes novos tempos de marketing espetaculoso e pouco produtivo.

O período de seis meses de titularidade de governança regional dos prefeitos atuais seria escasso à construção sustentável de projeções para o futuro. Ainda faltam muitos semestres para que se possa, em tese, exarar parecer consistente sobre o desempenho dessa turma de prefeitos municipais aparentemente sem talento e preocupante nas funções de prefeitos regionais.

Mesmo correndo o risco de quebrar a cara,  não tenho dúvida de que Marcelinho Lima, Marcelinho Oliveira, Gilvanzinho Júnior, Takinha Yamauchi, Gutozinho Volpi e Akirinha Ariane estão aperfeiçoando o processo de destruição da brilhante invenção de Celso Daniel. E Tite Campanella? -- perguntaria o leitor. Vou explicar.

O diminutivo que utilizo para identificar dentro do espírito de anõezinhos regionais seis dos sete prefeitos do Grande ABC não tem absolutamente nada de depreciativo. Longe disso.

DIMINUTIVO TEMPORAL

O diminutivo se refere ao fato cronológico de que quando o Clube dos Prefeitos foi criado, em 1990, e o espírito de regionalidade começou a ser supostamente imantado nos formadores de opinião e tomadores de decisões, os seis prefeitos mencionados eram criancinhas. Mal completavam 10 anos. Tite Campanella, mais velho, não entra nessa barca denominativa.

Visto do alto, supostamente os seis prefeitos anões do Grande ABC desta e das próximas temporadas em ações regionais não teriam mesmo como aquilatar a importância da regionalidade. O vácuo que se formou após o assassinato de Celso Daniel incrementou a obtusidade do municipalismo autárquico. Ou seja: a completa negação ou o assentimento conveniente de uma regionalidade sem eira nem beira em termos de projetos, iniciativas, planejamento, execução e propagação dos ganhos sistêmicos.

Temos, portanto, sete anões iludidos sobre o destino individual das prefeituras que dirigem. Ainda não captaram a mensagem da regionalidade fora do eixo milagroso de pó de pirlimpimpim para todos os problemas acumulados, mas, sem dúvida, como o sistema organizacional mais compatível com os pressupostos de retirar a região da enrascada econômica em que se meteu.

Ou não é enrascada, por exemplo, o fato ainda outro dia analisado neste espaço de que o PIB regional neste século correu à velocidade 77% inferior ao pobre ritmo do PIB nacional?

QUEBRANDO A CARA

Gostaria imensamente de quebrar a cara de projeções fundamentadas, ou seja, com uma extraordinária operação estratégica e tática dos sete anões regionais a ponto de o Borralheirismo ser duramente impactado. Quando esse dia chegar, e gostaria imensamente que chegasse, o quebrar a cara terá outro significado: finalmente os anões atuais teriam adotado parte significativa das ideias deste jornalista. Basta puxar o fio da meada de propostas que abundam no acervo desta publicação.

Diria sem medo de errar que se o Clube dos Prefeitos Pedintes ousasse lançar e efetivar 10 práticas político-administrativas ao longo dos próximos anos para colocar a região fora da zona de rebaixamento econômico e social continuado, nove terão saído destas páginas. Exatamente por isso, ou paradoxalmente por isso, os prefeitos regionais borralheirescos mantêm-se borralheirescos.



IMPRIMIR