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Economia

DANIEL LIMA - 27/06/2025

O leitor é capaz de imaginar um acréscimo de R$ 117.208.651 bilhões no PIB do Grande ABC? PIB, como se sabe, é a soma de riqueza de produtos e serviços. Já imaginou essa montanha de dinheiro acrescentada aos R$ 150.576.376 bilhões registrados na vida real. O total chegaria a R$ 267.785.027 bilhões.

Essa diferença – prepare-se para não cair da cadeira – é exatamente o que falta para o Grande ABC voltar ao ano 2002, quando Fernando Henrique Cardoso deixou a presidência do País. E FHC deixou um rastro de queda do PIB do Grande ABC de 33% e 85 mil carteiras de trabalho do setor industrial destruídos.

Somente para o leitor não perder o fio da meada do estrago geral e irrestrito que vem desde janeiro de 2003, a Economia do Grande ABC perdeu R$ 117 bilhões em relação ao que FHC deixou após oito anos de dois mandatos. Estamos no fundo do poço do fundo do poço do fundo do poço.  

A trajetória da economia do Grande ABC neste século lembra um Brasil piorado. Afinal, a metáfora de que o País é reincidente na especialidade de voo de galinha é uma constatação suave diante da galinha depenada do Grande ABC.  

VOOS DIFERENTES

Voo de galinha significa crescimento insuficiente do PIB, sempre sujeito a chuvas de avanços tímidos e a trovoadas de retrocessos comprometedores. A galinha depenada do Grande ABC é incapaz de sustentar equilíbrio mesmo em patamares baixíssimos. Basta olhar para o passado, de FHC a Lula da Silva, passando pelos danos irreparáveis de Dilma Rousseff.

Voltar ao passado para demonstrar o que se passa no Grande ABC econômico, com consequências sociais dramáticas,  é uma maneira de quem sabe, despertar os prefeitos do Grande ABC,  a bordo do Clube dos Prefeitos. Será que eles conseguirão empreender reação básica, elementar, desprezada até agora, como os antecessores.

O que falta? Falta tudo, mas quem sabe o tiro de partida a uma reação seja a criação de um gabinete de crise com especialistas de verdade, não apaniguados políticos? Já propusemos essa saída há muito tempo, mas não custa tentar. Água mole de críticas repetidas em cabeça dura de gestores descuidados sempre provoca alguma coisa. Nem que seja muita raiva e perseguição ao autor. Por isso, estamos repetindo os números desta análise em novo contexto. Um contexto de nova composição do Clube dos Prefeitos.

PREFEITOS JOVENZINHOS

Quando FHC deixou a presidência em 2002,  quase todos os atuais prefeitos eram jovenzinhos. Provavelmente desconhecem os fatos, mesmo que os sintam nos orçamentos cada vez mais comprometidos por demandas sociais. Demandas que os levam aos corredores do governo do Estado e do governo federal em busca de dinheiro.

A nova turma à frente do Clube dos Prefeitos não dá sinais de vitalidade reformista. Muito pelo contrário: segue a mesma trilha de improdutividades e espetacularização de antecessores, só que em proporções mais espetaculares. As redes sociais são um palanque permanente.  

A queda de participação do PIB (Produto Interno Bruto) das sete cidades do Grande ABC no PIB Nacional é alarmante. Entre janeiro de 2003 e dezembro de 2021, a região correu à velocidade 77,84% inferior à média nacional.

Em 2002, último ano de FHC, o Grande ABC contava com participação de 2,97% no PIB Nacional. Em 2021, a participação caiu para 1,67%. A diferença entre um resultado e outro em termos monetários é R$ 117.208.651 bilhões. Ou seja: bastaria ao Grande ABC ter repetido o voo de galinha do PIB brasileiro para não se encontrar na condição de galinha depenada.

LULA E DILMA

Os dados do PIB do Grande ABC se encerram provisoriamente em 2021. Os anos subsequentes, de 2022, 2023 e 2024, ainda não foram divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). E quando forem levados à mídia, provavelmente neste final de ano, porque estão atrasados, o melhor é não ter esperança. A galinha depenada da economia regional será incapaz de alçar voo. Mesmo que seja voo de galinha. É muito improvável que a participação relativa se altere significativamente. Provavelmente cairá ainda mais.

O melhor desempenho do PIB do Grande ABC neste século pós-Fernando Henrique Cardoso pertence ao último ano de dois mandatos do presidente Lula da Silva, em 2010. E custou caro na sequência, com Dilma Rousseff.

Com o governo Lula turbinado pelas exportações de commodities aos asiáticos, principalmente a China, e a casa tributária razoavelmente arrumada durante o governo FHC, com aumento cavalar aos contribuintes, o PIB aumentou em média 4% ao ano. Com isso, a participação relativa do PIB do Grande ABC chegou a 2,65%. As duas doenças holandesas da região – automotiva e químico/petroquímica – bombaram positivamente no período.

NEM LULA SUPERA FHC 

Mesmo assim, como se verifica, o resultado final de Lula da Silva ficou abaixo da gestão de Fernando Henrique Cardoso – de 2,97%. A confiança de que a situação poderia melhorar e chegar ao nível do desastre de Fernando Henrique Cardoso desvaneceu.  

O dilúvio patrocinado por Dilma Rousseff, mas com ampla colaboração da gastança de Lula da Silva, rebaixou em 2016 a participação do PIB do Grande ABC no PIB Nacional a 1,79%. Nenhuma região sofreu tanto com a maior recessão da história do País. Entre 2014 e 2016, quando Dilma Rousseff sofreu impeachment, o Grande ABC perdeu quase 100 mil empregos em todos os setores e o PIB Geral caiu 22%, contra menos de 8% do País.

É provável que quando o IBGE divulgar o PIB  dos Municípios Brasileiros no final do ano, capturando pelo menos duas das três temporadas de defasagem, finalmente o rebaixamento provocado por Dilma Rousseff seja superado. Mas não será fácil.

Contra os 1,79% deixados por Dilma Rousseff, o Grande ABC precisará de avanço porque em 2021 ainda estava abaixo disso, com participação de 1,67%.

Será que o Grande ABC cresceu mais que a média nacional nas últimas temporadas, contrariando um padrão de domínio nacional ao longo deste século? É pouco provável.

REMELEXO GERAL

O peso da desindustrialização conjugado com um terciário de baixo valor agregado não estimula sonhos nem sugere espaço a excesso de expectativas. Uma linha do tempo que tenha como marco inicial o ano de 1990, com a chegada de Fernando Collor à presidência, revela os estragos no casco do navio do Grande ABC com a abertura dos portos. Depois foi uma sucessão de derrotas. Antes disso, como se sabe, o movimento sindical e a guerra fiscal trataram de esticar a corda do enforcamento da mobilidade social na região.

Não custa lembrar que nos anos 1990, antes e durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o Grande ABC perdeu larga faixa de desenvolvimento econômico e social, com a destruição de 100 mil empregos formais no setor industrial. Uma avalanche ditada também pelos efeitos antinflacionários do Plano Real.

Tudo isso junto e misturado, deu num duplo desastre: com o massacre no emprego industrial, muitos deserdados de chãos de fábricas viraram empreendedores despreparados no comércio e em serviços. E canibalizaram o mercado.

Tudo coincidiu com outra dose mortífera: a chegada dos grandes conglomerados comerciais. Resumo da ópera? Com a brutal queda de espalhamento de riqueza industrial e a multiplicação da concorrência no comércio e também em serviços, a carnificina econômica se instalou. E não arreda pé.

QUEDA GERAL

Os dados gerais do PIB do Grande ABC contrapostos ao PIB Nacional em matéria de participação relativa desde 2002 estão intestinamente ligados, evidentemente, ao desempenho de cada um dos sete municípios. As três principais economias da região registraram quedas semelhantes. Santo André caiu 78,17% na participação relativa frente aos dados do País. Eram 0,645% e passou para 0,362. São Bernardo perdeu 79,84% em participação relativa. Eram 1,160% e caiu para 0,645%. E São Caetano caiu 77,45%, de 0,480% para 0,173. Mauá e Diadema perderam menos porque resistiram por mais tempo à desindustrialização. Diadema caiu 41,46%, de 0,290% para 0,205% de participação relativa. Mauá perdeu 27,27%, caindo de 0,294% para 0,231%. A Doença Holandesa Petroquímica amenizou a situação de Mauá. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra tem participação relativa inexpressiva no País.



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