A edição do Diário do Grande ABC de ontem, domingo, me proporcionou enorme alegria. Ganhei um parceiro à avaliação mesmo que temporária da Administração de Paulinho Serra durante oito anos em Santo André. Meu companheiro de jornada que vai se estender por algum tempo é Paulinho Serra, agora comentarista com espaço garantido nas edições domingueiras do Diário do Grande ABC.
O título da coluna (“Mais gestão, menos polarização”) é um achado de marketing político que projeta um futuro renegado no passado recente pelo então prefeito Paulinho Serra, agora comentarista Paulinho Serra.
Nesta primeira edição do que chamo de Debate Virtual com Paulinho Serra, tenho também uma resposta tardia, menos apropriada mas nem por isso desprezável: à proposta rejeitada de escrever com este jornalista espécie de Debate-Livro, exposta nesta revista digital em abril deste ano, Paulinho Serra e o Diário do Grande ABC patrocinam uma versão unilateral em forma de colunismo.
Espetacular. Do limão da unilateralidade pretendida por Paulinho Serra ao negar um debate escrito sem intermediários, faço a limonada do debate virtualizado. Daí, como consequência, eis que aparece na tela grande da fortuna democrática um Paulinho Serra involuntariamente crítico do Paulinho Serra prefeito de Santo André.
MODÉSTIA FAZ MAL
Não vou ser modesto nessa história toda. Sou melhor analista de Paulinho Serra prefeito e político do que Paulinho Serra comentarista e colunista do Diário do Grande ABC. Você, leitor, vai ter a prova disso na sequência, mas se entender o contrário, não tem problema algum. Contraditório é isso mesmo. Vou analisar bloco por bloco do texto que Paulinho Serra, provavelmente com apoio de assessores, inclusive jornalistas, produziu para o Diário do Grande ABC. Digo inclusive jornalistas porque o texto do comentarista Paulinho Serra é um texto agradável sob o ponto de vista estilístico. Adoro gostar do que até mesmo me contrarie.
Mesmo sendo bem melhor que Paulinho Serra comentarista (o que é uma obrigação para quem, como eu, é do ofício e faz muito tempo), considero um show de bola os quase 800 caracteres escritos oficialmente por Paulinho Serra. Trata-se da correia de couro cru que incrementa a engrenagem do mecanismo que faz explodir a bomba-relógio do tempo.
Que bomba-relógio? Ora, como costumo escrever, o passado tem sempre um presente pela frente que por sua vez tem sempre um futuro que sempre chega.
PRESTAÇÃO DE CONTAS
Os conceitos que o comentarista Paulinho Serra expõe na página do Diário do Grande ABC de domingo são uma prestação de contas com o prefeito que Paulinho Serra foi até outro dia. Sem querer, mas compulsoriamente querendo, Paulinho Serra nega como comentarista muitas das ações do então prefeito de Santo André. Tudo mais ou menos dentro do que cansei de expor.
Jamais imaginei que algum dia, mesmo sob a condição de exposição de conteúdo interpretativo reverso ao pretendido, Paulinho Serra fosse admitir peremptoriamente os desacertos que patrocinou como titular do Paço de Santo André.
Não vejo a hora de o próximo domingo chegar em forma de segundo capítulo de um contraditório que só não satisfaz quem, como Paulinho Serra provou ao longo de oito anos de jornada de prefeito, sempre exerceu o poder de forma absolutista, radicalmente absolutista. Exatamente o que agora como comentarista político observa no cenário nacional como um mal que precisa ser cortado pelo chamado equilíbrio. A polarização em forma de comando insensível ao contraditório agora é vista como um demônio a ser exorcizado.
Fiquem com os comentários de Paulinho Serra e, intercaladamente, também com as análises deste jornalista que perdeu (ou melhor, ganhou) um novo parceiro de jornada democrática.
Por que é hora de mudar
o foco do debate público
Vivemos um tempo em que o debate político tem sido capturado por extremos. A polarização, antes exceção, tornou-se regra. A crítica ao adversário substituiu o argumento. A fidelidade a narrativas ideológicas passou a valer mais do que resultados concretos. Em meio a esse ruído, uma pauta essencial tem sido negligenciada: a da gestão pública eficiente, transparente e centrada em resolver os problemas reais das pessoas. Este é o ponto de partida da série “Mais gestão, menos polarização”: reconectar a política com o que realmente importa. Não se trata de negar o valor do debate democrático – ele é essencial. Mas sim de resgatar o equilíbrio. De lembrar que governos existem para servir, não para dividir. De colocar a competência acima do conflito. De mostrar experiências exitosas de gestão que mudaram para melhor a vida da nossa gente!
Por que é hora de apurar
o foco da gestão pública
Vivemos um tempo em que a gestão pública de Santo André consolida uma ação meticulosa de encabrestamento geral e irrestrito. A fidelidade a narrativas ilusionistas consolidou-se como ferramenta de controle social monolítico, na penumbra da polarização nacional substituta de um período de relativa harmonia de conveniências. Por conta disso, a gestão pública municipal foi soterrada como fonte de inspiração e se transformou em ferramenta de debate público diversionista, voltada a uma espécie de observatório do quadro nacional radicalizado, para escamotear passivos de resultados pífios neste século de novas perdas econômicas e sociais. Ao instalar o mandonismo ilusionista acima de qualquer materialidade provada e comprovada, o que reservamos para o futuro prático de Santo André – como de resto na região, embora não com tamanha gravidade e profundidade -- é um quadro de empobrecimento social, econômico e cultural praticamente sem retorno.
O custo da polarização
A polarização radicalizada tem efeitos profundos sobre a sociedade. Ao reduzir o outro a um inimigo, ela paralisa a cooperação institucional, corrói a confiança entre cidadãos e dificulta acordos que exigem maturidade política. O resultado é a ineficiência. Projetos importantes ficam travados. Recursos públicos são desperdiçados em disputas sem fim. E, sobretudo, perde-se tempo – o recurso mais precioso para quem precisa de respostas rápidas em áreas como saúde, educação, segurança e emprego. Não se trata de dizer que a política deve ser neutra. Toda decisão pública envolve escolhas, valores e visões de mundo. Mas há um abismo entre o embate saudável de ideias e o antagonismo permanente. A polarização tóxica contamina a máquina pública, interfere em decisões técnicas e afasta talentos da vida pública. É a política contra a gestão.
O custo do mandonismo
Desviar a atenção para o ambiente político nacional, a nova arena em que mandachuvas de Santo André pretendem trafegar, é a maneira mais esperta de deixar para trás as ineficiências acumuladas ao longo dos anos, industrializada por um movimento coordenado de triunfalismo incessante e penalidades aos críticos que ousem enfrentamentos. O modelo de espetacularização, sedução, subjugação, cooptação, tratado como equilíbrio entre os poderes para desviar a atenção e a condenação à polarização nacional, pretensamente escaparia incólume. Toda decisão pública tomada para perpetuação do poder, numa dinastia que se ensaia, foi rigorosamente controlada por um grupo que manteve a cidadania no banco de reservas, quando não nos vestiários. A dominação vigorosa da sociedade, respaldada por um marketing diplomático da porta do Paço Municipal para fora, exige muito talento persuasivo e dissuasivo e minimiza qualquer ação prioritária de transformação econômica e social para valer. Vale mais a Secretaria de Efeitos Especiais do que qualquer outro departamento gerencial. O controle político e institucional abarca série de medidas para sugerir a ideia de que se pratica equilíbrio democrático em Santo André em contraposição à radicalidade nacional. O modelo paroquial de unanimidade fabricada e de mudez oposicionista está longe de construir o futuro que o radicalismo no ambiente nacional ao menos fustiga e testa permanentemente. A intolerância que é uma parte do enredo do ambiente nacional se repete em pele de cordeiro na Santo André que Paulinho Serra dirigiu durante oito anos, em aperfeiçoamento constante. E segue com o sucessor previamente definido numa atmosfera eleitoral arrasadora.
A força da boa gestão
A boa gestão, por sua vez, é silenciosa, mas poderosa. Ela não brilha nas manchetes, mas transforma a vida cotidiana. Ela não precisa gritar para mostrar resultado – basta entregar. Quando uma cidade melhora o transporte, avança na digitalização de serviços ou investe em educação infantil, o impacto é real, direto, mensurável. Não depende de ideologia, mas de planejamento, competência e compromisso com a população. Governar com foco na gestão é ter coragem de enfrentar burocracias, rever prioridades e buscar eficiência. É gastar bem, com responsabilidade. É medir impacto, corrigir rotas, ouvir a sociedade. E, acima de tudo, é entender que o que une é maior do que o que separa: todos queremos cidades mais seguras, escolas melhores, saúde de qualidade, empregos dignos.
A força do marketing
Quando o marketing político contratado a peso de ouro se mostra eficiente ao tratar o gestor público como produto na prateleira de encantamento social, independentemente dos resultados práticos, não há quem resista. A gestão propriamente dita é catalogada como espécie de penduricalho. A cidade despenca em todos os rankings delatados impiedosamente em múltiplas estatísticas de organizações rigorosas. Mas, o projeto de dominação se intensifica pela ilusão. A insistência com que Santo André aprofundou a submersão histórica nos mais diversos indicadores sociais e econômicos, de violência urbana à desindustrialização, de baixa potencialidade em produção de bens de serviços e de consumo, não entra em qualquer análise dos mandachuvas de plantão. Valem as narrativas controladas e mansamente massificadas pela mídia cor-de-rosa. Saúde, Educação, Infraestrutura Social, Mobilidade Urbana, Mobilidade Social, Valor Adicionado, PIB, ICMS, IPVA, tudo isso e muito mais são sorrateiramente subjugados e descartados como peça de gestão para valer. Valem muito mais programas assistencialistas, antes projeto do Município-Estado, agora projeto político, pessoal e partidário. Uma jogada genial como mosaico de um projeto territorialista.
Gestão como ponte
Mais gestão e menos polarização não significa negar as diferenças. Significa usar a gestão como ponte. Como território comum onde se pode dialogar, mesmo com visões distintas. Uma boa política pública pode ser fruto de um governo liberal, socialista ou conservador – desde que tenha sido bem planejada, bem executada e bem avaliada. É possível, por exemplo, construir parcerias público-privadas que modernizem a infraestrutura sem abrir mão de controle e transparência. Ou implementar políticas sociais que combatam desigualdades com responsabilidade fiscal. O que importa é o resultado: se melhora a vida das pessoas, é bom. Se não melhora, precisa ser revisto – independentemente de quem propôs.
Resultados como inspiração
Utilizar o ambiente nacional de polarização política como subterfúgio às ineficiências locais não é uma estratégia que sustente o passado de dois mandatos do prefeito Paulinho Serra. Jamais em toda a história regional um prefeito contou com tanta benevolência do jornalismo e omissão da sociedade desorganizada. Os menos desavisados ou desatentos deixaram-se iludir por falsificações administrativas. Uma sociedade sem contraditório é uma sociedade entregue à sanha triunfalista. Santo André de Paulinho Serra foi o suprassumo dessa alquimia. Virou numa Pasárgada de casca de ovo, em conflito permanente com a realidade. O espelho de fatos revelou durante todo o período os horrores dos efeitos alucinógenos dos especialistas em perfumarias sociais.
Menos Ilusionismo e Mais Resultados é o resumo da ópera do esfriamento do ambiente político municipal que inaugurou o placar do vale-tudo como fórmula mágica de avanço de mandachuvas. Um projeto de fenomenal resultado para alguns, mesmo que tenham dado até agora com os burros nágua de ingresso reticente no quadro partidário nacional, caso do prefeito Paulinho Serra e o voo de galinha de comandar o ramal paulista do PSDB em processo de dissolução por fadiga de material, Um PSDB que ao longo dos anos e em companhia do PT patrocinou o equilíbrio, entre aspas, fragorosamente derrotado como conceito civilizatório ao desembocar, por ineficiência e muito mais, na polarização que vem desde 2013. Uma polarização que, num processo natural de maturação, com picos de exageros, vai desaguar provavelmente em algo melhor do que o estoque de equívocos de divisão anterior, de um acerto permanente de agendas dissimulatórias de democracia.
O papel do cidadão
Essa mudança de eixo – da polarização para a gestão – também exige um novo papel do cidadão. Em vez de torcedor de partidos, precisamos de cidadãos mais exigentes com a qualidade da gestão. Mais atentos aos indicadores, aos dados, aos planos e metas. Cidadãos que não se contentam com discursos inflamados, mas cobram entregas concretas. A política de resultados não é fria nem desumana. Ao contrário, ela é profundamente comprometida com o bem comum. Ela valoriza o servidor público, respeita o dinheiro do contribuinte e coloca o interesse da população no centro das decisões. E, principalmente, ela pacifica – porque mostra que é possível avançar mesmo em meio às diferenças.
O papel da cidadania
O amordaçamento da cidadania já rarefeita em Santo André, um entre os endereços da região que sucumbiram também como estrutura crítica ao longo dos anos de desindustrialização, é um prática muito bem engendrada pelos alquimistas da gestão de Paulinho Serra. A concentração de esforços e iniciativas para dourar a pílula de uma cidade em franca decadência, comprovada exaustivamente ao longo dos últimos 40 anos, é um método de eficiência brutal. Qualquer verbete ou expressão que remeta a algo que se assemelhe à cidadania não passará de engabelação do distinto público. Sociedade Civil Organizada, por exemplo, é a subversão mais adocicada de uma tragédia enunciada. Sociedade Servil Desorganizada é contraofensiva respaldada por fatos e parecerá aos olhos menos atentos um ataque às tradições de Santo André, quando de fato e para valer é um alerta para despertar a cidadania quase morta, quase enterrada.
Um convite ao debate
Ao lançar esta série de artigos, o convite é claro: vamos pensar juntos um novo ciclo para a gestão pública brasileira. Um ciclo menos barulhento e mais efetivo. Menos marcado pela raiva, mais guiado pela razão. Um ciclo que valorize a política como instrumento de transformação, mas que coloque a boa gestão como sua principal ferramenta. “Mais gestão, menos polarização” não é apenas um lema. É uma agenda. É uma escolha. E, mais do que isso, é uma esperança – de que possamos construir juntos um futuro mais equilibrado, mais eficiente e mais justo.
Um alerta ao mandonismo
Tudo isso é colocado como contraponto democrático que não pode jamais ganhar a roupagem cômoda e desclassificatória de polarização e de intolerância. A estratégia adotada por neutros encurralados por intolerantes, mas também pelos sensatos, é estigmatizar, quando não demonizar, o debate fértil, às vezes disruptivo, quase sempre efervescente. Generalizam como fonte demolidora da democracia grupelhos minoritários de redes sociais. Estabelecem paralelos desclassificatórios entre torcidas organizadas e sociedade crítica. Alimentam maliciosamente a fornalha de igualdade entre camadas insatisfeitas da sociedade, colocando-as no mesmo saco de gatos ideológicos. O que muitos desses centristas que sempre se omitiram diante de circunstâncias graves e se juntaram aos vencedores de plantão querem mesmo é o retorno aos tempos de acerto e acordos mutuamente vantajosos. Uma prova provada de que apesar dos pesares a polarização também tem vantagens que dinamitam supostos excessos é Santo André: a derrocada neste século, principalmente neste século, ganhou força e velocidade a partir do mandonismo de controle social nos últimos oito anos. A paz de cemitério da cidadania de Santo André não serve para um País com déficit social tão grave. Façam os intolerantes, os radicais, os polarizadores, a barulheira que quiserem. Por mais que pratiquem excessos democráticos, sempre serão menos tóxicos que a unanimidade controlada e burra.