Há tantas diferenças nos cromossomos econômicos envolvendo Santo André e Diadema (vamos deixar outros vetores para depois) que seria supostamente inadequado ou precipitado, para não dizer pouco ajuizado, estabelecer correlações entres os dois municípios da região influenciados pelo surgimento do sindicalismo e por gestores de esquerda desde os anos 1980.
Mas há semelhanças nas diferenças que desembocam num produto final chamado desenlace de desempenho. E o processo aponta que Santo André e Diadema podem ser ainda mais semelhantes, embora diferentes, quando este século chegar à metade, em 2050.
Considerando-se a toada econômica média do últimos 25 anos, que abrangem exatamente este século, há mesmo um encaminhamento para que Diadema chegue mais próxima de Santo André nos aspectos socioeconômicos. Entre outras razões porque no sentido puramente econômico, desde muito tempo Diadema e Santo André são espécies de irmãos estatisticamente siameses, embora, repita-se profundamente distintos nas matrizes produtivas.
PRIMO RICO DE VERDADE
Considerando-se também o histórico dos dois municípios no século passado e as variáveis que inevitavelmente os colocam em posições antagônicas, a possibilidade de Santo André virar uma Diadema nos próximos 25 anos, ou de Diadema tornar-se Santo André no mesmo período, incomoda quem é ainda superior em vários aspectos. Claro que se trata de Santo André.
A comparação expressa na manchetíssima desta análise deve ter causado furor em instâncias do Poder Público municipal de Santo André. Faz parte do show. Talvez assim, quem sabe, resolvam acordar diante de um fantasma tão próximo. E não adianta praticar o politicamente correto.
Só de imaginar que pode ser uma Diadema amanhã, não interessa como, mas uma Diadema, se uma Diadema melhorada ou não, Santo André deve estar saltitando de raiva por se achar o primo rico, que ainda é, mas nem tanto quanto antes e muito distante do primo rico de verdade, o primo São Caetano.
UM PIB E OUTRO PIB
Santo André e Diadema são iguais há muito tempo num indicador que é espécie de medidor de dinâmica econômica, no caso o PIB per capita, que pode ser traduzido como geração de riquezas em produtos e serviços por habitante. Mas ainda há diferença significativa, embora reduzida nos últimos 25 anos, em outro quesito relevante: PIB de Consumo per capita, que é a capacidade de acumulação de riqueza individual. Não confundam um PIB com outro PIB, apesar do grau de intersecção.
O PIB Tradicional per capita de Santo André e o PIB Tradicional de Diadema parecem irmãos siameses mesmo. Há pelo menos três dezenas de anos correm na mesma raia, com diferença mínima. E têm como característica em comum a velocidade média abaixo do PIB Tradicional per capita médio do País.
Ou seja: cada vez mais Santo André e Diadema se afastam das melhores colocações em nível nacional. E se afastam terrivelmente. A desindustrialização acentuada de Santo André ao longo dos últimos 40 anos e de Diadema neste século ditam o ritmo de rebaixamento.
O que existe de profunda diferença entre o PIB Tradicional de Santo André e o PIB Tradicional de Diadema (sempre per capita, não custa realçar) é a influência do setor industrial.
Santo André perdeu praticamente todas as cadeias produtivas. Restou apenas a cadeia Químico-Petroquímica. Com isso, a Doença Holandesa se instalou e tornou a cidade refém da atividade. Diadema tem a economia mais diversificada, não dependente de um setor específico, mas está sujeita a chuvas e trovoadas típicas dos pequenos e médios estabelecimentos sempre maltratados por todas as esferas de governo.
DOENÇA E DIVERSIDADE
Dando números aos dois mundos municipais da região: nada menos que 74% da atividade industrial de Santo André está agregada aos setores ligados a produtos químicos e ao de borracha e material de plástico. Ou seja: à cadeia químico-petroquímico. A terceira posição, de metalurgia, não passa de 6,6%.
No caso da Diadema industrial, há forte repartição produtiva. São pelo menos seis atividades que dividem o bolo: 16,0% do PIB Industrial está concentrado no setor de borracha e Material Plástico, 15,4% em Produtos Químicos, 12,5% em Máquinas e Equipamentos, 12,5% em Metalurgia, 10,0% em Veículo Automotores, Reboques e Carrocerias e 9,0% em Produtos de Metal.
Essa multiplicidade de Diadema é mais saudável no campo socioeconômico porque esparrama no Município maior oferta por mão de obra do setor industrial. O domínio da cadeia petroquímica-química em Santo André é restritivo ao mercado de trabalho, com baixa quantidade de oferta, mas, por outro lado, gera mais Valor Adicionado por habitante por conta da alta incidência tecnológica.
FISCAL E OCUPACIONAL
Em linhas gerais, a influência do PIB Industrial em Santo André carrega porção muito maior de geração de carga fiscal do quem em Diadema. O resultado dessa equação é que Santo André gera mais Valor Adicionado e menos emprego.
A porção relativa em termos absolutos do PIB Industrial de Santo André é superior ao PIB Industrial de Diadema por conta disso, mas Diadema conta com efetivo de trabalhadores industriais quase três vezes superior a Santo André. Tudo isso e muito mais já escrevi e analisei ao longo dos anos.
Os desdobramentos socioeconômicos desse perfil econômico produtivo são evidentes neste século, tendo-se por base os dados de 1999 da Consultoria IPC, especializada num outro tipo de PIB, o PIB de Consumo, oficialmente chamado de Índice de Potencial de Consumo.
A vantagem de Santo André vai perdendo fôlego. Uma vantagem acumulada ao longo do século passado entre outros motivos porque liderava a Economia do Grande ABC e forjou uma classe média tanto de trabalhadores industriais como de empreendedores.
Esqueçam a arquitetura urbanística dos dois municípios, porque de maneira geral Santo André conta com vantagem expressiva, embora decadente. Fixem atenção apenas nos dados socioeconômicos.
RICOS E CLASSE MÉDIA
A Classe Rica e a Classe Média Tradicional de Santo André são relativamente muito mais expressivas no conjunto da população do que se registra em Diadema; A distância, entretanto, vai-se reduzindo gradativamente ao longo dos anos.
Em 1999, tiro de partida do PIB de Consumo, Santo André contava com 6,49% das moradias de Classe Rica, ante apenas 1,79% de Diadema. Vinte e cinco anos depois, neste 2025, a proporção caiu para 5,30% em Santo André e foi reduzida para 1,60% em Diadema.
A proporção de famílias de Classe Rica em Diadema correspondia a 27,58% de Santo André na largada do ano 2000. Já neste 2025, se elevou para 30,19%. Resumo da ópera: mobilidade social no estrato superior praticamente congelado em termos proporcionais nos dois municípios.
Já na Classe Média Tradicional, a participação de residências em Santo André registrava 33,46% do total. Esses dados correspondem ao ano de 1999. Em Diadema, eram 23,20 famílias de Classe Média Tradicional no total de moradias. Neste 2025, a Classe Média Tradicional de Santo André ocupa 32,20% do total de moradias, enquanto em Diadema são 23,70%. No período de 25 anos, a participação de famílias de Classe Média Tradicional em Diadema passou de 69,33% para 71,43 ante Santo André. Uma diferença também bastante discreta.
CLASSE PRECÁRIA
Já entre as moradias de Classe Média Precária, houve significativo avanço em Diadema ante os números de Santo André. Classe Média Precária é denominação deste jornalista em contraposição ao que sociólogos de esquerda chamam de Nova Classe Média.
A escolha de Classe Média Precária se dá por conta da vulnerabilidade desse amplo contingente da população, muito próximo da zona de risco da Classe Pobre. Santo André contava com 36,92% de Classe Média Precária em 1999, ante 47,75% de Diadema. Já em 2025, são 45,20% de residências de Classe Média Precária em Santo André e 51,50% em Diadema.
Conclusão? A queda de participação relativa da Classe Rica e da Classe Média Tradicional em Santo André se dá entre outras razões porque houve precarização econômica expressa no crescimento mais avantajado da Classe Média Precária em relação a Diadema.
POBRES E MISERÁVEIS
Completando o ciclo socioeconômico entre 2000 e 2025, tendo 1999 como base de estudo, a Classe de Pobres e Miseráveis de Santo André teve participação relativa reduzida de 23,12% para 13,20%, enquanto em Diadema a queda foi menos intensa, de 28,25% para 23,20% Tanto num caso quanto no outro, o fator Bolsa Família e assemelhadas contribuiu decisivamente à redução desses contingentes de excluídos sociais.
Levando-se em conta essas mudanças num quarto de século, o desenho socioeconômico de Santo André frente a Diadema passou por transformações aparentemente sutis, mas que, observadas como um todo, oferecem perspectivas de avanço gradual e aparentemente irresistível de aproximação entre os dois municípios.
ABAIXO DO PAÍS
Tanto é verdade que o PIB de Consumo Médio de Santo André nesses 25 anos apresentou crescimento nominal (sem considerar a inflação do período) de 732,35%, enquanto o PIB de Consumo Médio de Diadema avançou 837,43%. Nos dois casos, entretanto, bem abaixo da média nacional, de arredondados 1.800%.. Desindustrialização custa caro, como se vê.
Quando se coloca em confronto direto o PIB de Consumo médio por habitante entre Santo André e Diadema, o que se verifica é que em 1999 os R$ 4.590,43 registrados por Diadema correspondiam a 72,38% dos R$ 6.341,64 de Santo André. Já em 2025, o PIB de Consumo médio de Diadema, de R$ 43.031,91, correspondia a 81,52% do PIB de Consumo médio de Santo André, de R$ 52.784,71.
Verifica-se, portanto, que são quase 10 pontos percentuais de redução no período. A levar em conta a manutenção desse ritmo de queda da distância entre os dois municípios, na metade deste século os resultados serão possivelmente tão semelhantes quanto o são desde pelo menos duas décadas no caso do PIB Tradicional.
Há muito mais aspectos que colocam em debate semelhanças e diferenças entre Santo André e Diadema, modelos distintos de mudanças provocadas, entre outros fatores, pela entrada no campo político-social do Partido do Trabalhadores e, especialmente, do sindicalismo, e de administradores voltados mais diretamente às questões ideológicas.
O PT de Santo André, liderado por Celso Daniel, sempre foi bastante diferente do PT de Diadema, de Gilson Menezes e seus sucessores na Prefeitura, mas os resultados práticos são outros quinhentos.