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Sociedade

DANIEL LIMA - 11/06/2025

Estou vivendo ultimamente dias de Ademir Medici, meu amigo memorialista que a cada edição do Diário do Grande ABC resgata uma porção de passados passados que seriam simplesmente ignorados não fosse ele, Ademir Medici, um mestre em cavoucar saudades, em construir o passado antes que o passado vire pó irresgatável.

Para chegar ao arbitrário veredito pessoal de escolher as 10 Capas Históricas de LivreMercado/CapitalSocial é preciso botar a mão na massa e é isso que tenho feito. Aliás, já o fiz. Listei o que tinha de ser listado, e o tenho exibido nas páginas de CapitalSocial e do aplicativo WhatsApp, ferramenta eletrônica que utilizo para me manter em contato pessoal com leitores antigos e leitores novos.

Virei um Ademir Medici de curto prazo, no sentido de que tenho mergulhado no passado das páginas viradas de LivreMercado, no período de novembro de 1996 a janeiro de 2009. Nesse espaço de tempo, a revista de papel LivreMercado ganhou o formato de revista tradicional, deixando para trás o formato de tabloide, que sobreviveu entre março de 1990, quando foi lançada, a outubro de 1996.

GRANDES TRANSFORMAÇÕES

De fato e para valer, LivreMercado tornou-se  um mosaico permanente, cada vez mais plasticamente admirável, mas a essência permaneceu a mesma, desde o lançamento: um jornalismo feito para ser refletido, não para virar aquela coisa que todo mundo sabe quando se vai ao toalete.

A virada de página por página de várias edições de LivreMercado, até que fosse possível eliminar eventuais dúvidas (e foram muitas as dúvidas em busca da justiça de definir as 10 Melhores Capas de Todos os Tempos) me conduziu às entranhas do Grande ABC vivenciadas mas fugidias.

Mais que as reportagens/análises, os cases, os perfis de gente que fazia a diferença na região, mais que as Madres Terezas, mais que o Prêmio Desempenho e tudo o mais, fiquei atento a cada página virada a três fenômenos perecíveis: as empresas que viraram cases jornalísticos, as empresas que anunciavam  produtos e serviços nas páginas viradas e os personagens vistos individualmente ou não nas fotos.

Cada página virada de LivreMercado foi um exercício emocional, além do regozijo pessoal e profissional de ver o quanto aquela equipe  produzimos o melhor jornalismo regional do País.

PROVA DE QUALIDADE

Essa constatação merece parêntese: entre milhares de leitores de CapitalSocial que recebem diariamente mensagens do aplicativo, apenas um idiota juramentado, desses que consagram qualquer um porque se opõe visceralmente a quem o desagrada, esse mísero exemplar coloca em dúvida o inegável: o melhor jornalismo regional do País tem endereço. Basta ler o que a equipe de LivreMercado produziu durante tanto tempo.

O reconhecimento cotidiano dos formadores de opinião, uma constante em forma de mensagens, é suficiente para retirar a sentença definidora desse jornalismo de qualquer operação de marketing. Não é preciso nada disso, mas não custa ressaltar o divisor de águas entre jornalismo gourmet e jornalismo fast-food. Afinal, há gente que precisa desse tipo de mensagem até mesmo para que se torne mais exigente ainda com o que consome. Inclusive nesta publicação digital.

Mas vamos ao que interessa: é impressionante que a cada página virada de LivreMercado saltam aos olhos o desaparecimento físico, biológico, de tantos entrevistados. Mais que isso: também o quanto se esvaiu o poderio econômico dos pequenos negócios, destruídos por fatores múltiplos, mas principalmente por causa da invasão dos bárbaros.

CURADORIA DA SOBREVIVÊNCIA

O Grande ABC dos anos 1990, começo dos anos 2000, não é o Grande ABC desta metade de terceira década de novo século. E não o é para pior, como todos sabem. Saímos do Fórum da Cidadania de interesses múltiplos de todos por todos para o Grande ABC do Clube dos Prefeitos de todos por alguns.

É impossível conhecer e reconhecer todo o mundo que desfilou nas páginas viradas de LivreMercado durante praticamente duas décadas. É claro que isso seria importante a um detalhamento de destinos que se consumaram, inclusive destinos vitoriosos de ponto de vista econômico,  embora sejam a minoria.

Por isso, quem sabe um dia decida chamar especialistas sociais, desses que não deixam de frequentar todos os ambientes de eventos na região, e faça com eles, alguns exemplares à mão,  espécie de curadoria de sobrevivência.

OUTROS TEMPOS

Sim, acho que bastariam as 10 Maiores Capas da História de LivreMercado para, em conjunto,  virando página por página, elaborar dossiêcompleto sobre os resultados que o futuro proporcionou tanto aos personagens em si como também aos empreendimentos.  

Não custa lembrar que LivreMercado publicava cerca de 50 cases de empreendimentos econômicos, sociais e governamentais a cada edição de páginas viradas. Essa massa de textos registrava a temperatura dos negócios e das ações governamentais. Tínhamos o retrato fiel daquele Grande ABC de todas as camadas sociais e empreendedoras.

Os pequenos negócios, principalmente, eram cuidadosamente retratados. Até hoje, de vez em quando, alguém me aborda para lembranças festivas do significado de uma matéria publicada, por menor que fosse. LivreMercado era o ancoradouro de visibilidade dos empreendimentos familiares, de pequenos negócios sempre em busca de crescimento. Eles, esses empreendedores,  se conheciam e se reconheciam nas páginas de LivreMercado. O Prêmio Desempenho era um corolário democrático.

Virar as páginas de LivreMercado é uma catarse jornalística. Só assim mesmo para me dar conta de que estamos num outro Grande ABC nestes tempos em que cidadania, regionalidade, comprometimento social e tudo o mais não passam de disfarce dos aproveitadores, dos mandachuvas insanos, dos territorialistas, dos triunfalistas.

RESGATE PRECIOSO

É impossível passar em branco ao virar as páginas de LivreMercado. Est ali, exalando esperança, o futuro que os pequenos negócios não alcançaram porque não nos preparamos a enfrentamentos macroeconômicas e também estritamente locais que chegaram para valer.

O grupo de escrutinadores das páginas viradas de LivreMercado, e que resistem ao tempo ao se manterem vivos e lúcidos,  resgataria preciosidades que meus olhos e minha mente, sozinhos, não conseguirão jamais.

Sobretudo porque, por mais que existam facilidades tecnológicas que me colocam em lugares diferentes quase que simultaneamente graças à rede de fontes de informações que meu smartfone armazena, nada disso tem o mesmo sentido presencial. E o sentido presencial no meu caso se tornou  questão de escolha e de limites depois daquele tiro.

Fico particularmente mais emocionado ainda quando viro as páginas das edições de LivreMercado que retratam o sucesso continuado das edições do Prêmio Desempenho, evento que realizamos durante 15 anos seguidos e que reunia tudo o que o leitor imaginar em matéria de capital social.

FOTOS REVELADORAS

Empresários, sindicalistas, políticos, donas de casa, médicos, advogados, filósofos,  tudo vezes tudo marcaram presença, quando não ações, nas páginas que expuseram cada nova edição da premiação de credibilidade irretocável, entre outras razões porque jamais abriu mão de consultoria externa para aferição dos resultados produzidos pelos conselheiros editoriais. Chegamos a contar como duas centenas e meia de conselheiros.

A cobertura fotográfica do Prêmio Desempenho que se desdobrava em várias categorias, inclusive individuais, como o caso das Madres Terezas, dos Frei Galvão, dos Empreendedores Social, Esportivo, Empresarial e Cultural, é provavelmente a melhor escolha para esse suposto grupo de garimpeiros sociais rastrear o destino individual de cada retratado.

Uma porção deles já foi embora, detectados por mim. Outros tantos provavelmente também nos deixaram. E mais um tanto estaria naquela trajetória de isolamento não necessariamente voluntário, mas imposta pelo tempo sempre inexorável.

MUITO DIFERENTE

O fato mais evidente em tudo isso, nessa imersão típica do inigualável Ademir Medici, é que o Grande ABC de três décadas atrás está definitivamente enterrado como institucionalidade. O potencial de transformação motivacional à geração seguinte está morto e enterrado sim.

Convivemos hoje diariamente com essa gente que ocupa postos públicos e não sai das redes sociais cantarolando vitórias, conquistas, enquanto a cada novo dia, outras páginas viradas, páginas do jornalismo diário, de papel ou digital, registram, como hoje registra o Diário do Grande ABC, mais uma jornada de pedintes municipais junto às esferas superiores de governantes.

As páginas viradas de LivreMercado que virei a cada edição em busca de uma definição justa das 10 Melhores Capas da História de LivreMercado, são páginas viradas que, sem saudosismo e caretice, merecem lágrimas de agradecimento por tudo que, bem ou mal, mas com persistência,  a grande maioria dos personagens individuais e organizações diversas, construíram para deixar um legado ao Grande ABC.

Pena que aquelas páginas viradas não tenham tido como retrato fiel daquele Grande ABC do passado o condão milagroso de evitar que um bando de arrivistas sociais tomasse conta do pedaço. E, mais ainda, que contasse com o apoio público de vagabundos sociais.



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