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Economia

DANIEL LIMA - 10/06/2025

Entre os 10 principais fatores da desindustrialização expostos na prateleira de  destruição continuada da riqueza do Grande ABC o sindicalismo liderado pelos metalúrgicos de São Bernardo a partir do final dos anos 1970 está proporcionalmente à frente dos demais. Não é o único vetor, claro, mas é o principal.

O que pesa contra os sindicalistas é relativamente mais forte do que pesa a favor. O erro é acreditar que somente os sindicalistas explicariam a derrocada regional. Longe disso. Essa é uma obra coletiva, sobre a qual já escrevi muito. Mas, dia destes, volto ao assunto de forma específica para clarear a mente de eventuais radicais.

Por isso, vamos devagar com o andor de expectativas que se frustrariam em seguida. Pelo histórico dos metalúrgicos no Grande ABC, e, também, marcantemente pelo presente que pode ser interpretado como os últimos 10 anos de anorexia participativa, quando não de pantagruélica omissão, não haveria a mínima condição de se apresentarem como fontes de inspiração ao governo federal que cai pelas tabelas.

ALIADOS DOS CHINESES

Os metalúrgicos do Grande ABC – e também os demais sindicalistas de setores à reboque ou não da categoria – são uma velha colcha remendada de pouco uso prático no campo da transparência pública, embora continuem agindo nos chãos de fábrica onde seja possível exercer algum tipo de ação, mesmo que secundária e quase irrelevante, principalmente depois de o Imposto Sindical ter sido retirado da planilha de receitas orçamentárias.

Além disso, desde o ano passado,  os metalúrgicos de São Bernardo estão alinhadíssimos ao governo chinês. As tratativas sugerem exótica combinação de zebra com elefante. O que o capitalismo de Estado ou o Estado capitalista chinês faze com os trabalhadores é exatamente a antítese do que os metalúrgicos exibem no portfólio de conquistas no Grande ABC como modelo supostamente desenvolvimentista entre capital e trabalho.

Por tudo isso e muito mais, a proposta que acabo de ler no Diário do Grande ABC de hoje, feita por lideranças do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, para consertar a degringolada macroeconômica brasileira, é de lascar. Trata-se de anedota de gafieira.

MISSÃO POLÍTICA

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, o visitante festejado, cumpriu missão política. O problema do Brasil, sabe ele, é, entre tantos, a gastança pública, das três esferas de governo. E vem de longe. Mas se agrava na nova gestão petista. Até os ditos progressistas menos fanatizados sabem disso. Oportunistas usam a polarização política para descaracterizar a insolvência fiscal tecnicamente provada e comprovada.

A turma que dirige o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, e que com isso espalha na região os conceitos já mais que envelhecidos ideologicamente da disputa entre capital e trabalho, é uma turma muito despreparada tecnicamente no campo econômico.  

Nem de longe lembra os antecessores que, juízo de valor à parte sobre o que pretendiam, conseguiram ou se frustraram, reuniam alta dose de carisma, entusiasmo e outros apetrechos pessoais e corporativos, além é claro de um contexto político todo especial à consagração popular. Essa nova turma é ruim de imagem e de cabeça. Mais que o Banco Central, quem precisa mesmo de um Conselho Consultivo são eles, essas toscas lideranças.

VISITA PATÉTICA

Para se ter ideia do quanto são decepcionantes, não custa lembrar a mais recente trapalhada que veio a público. Quem não se lembre que eles, os sindicalistas do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, foram à China ditatorial e de capitalismo de Estado para buscar reforços de investimentos no setor automotivo regional? Sim, eles queriam e querem trazer montadoras chinesas especializadas em veículos elétricos. Imagine a estupidez. Temos um parque automotivo forjado numa relação entre capital e trabalho que custou caro, mas deu dignidade de classe média aos trabalhadores. E os inteligentíssimos sindicalistas de agora querem importar o modelo escravocrata de dezenas de fabriquetas de veículos chineses.  Vou escrever sobre isso, mais detalhadamente, nos próximos dias. 

Como adotei sistema de transferência de informações relevantes a partir da própria fonte, vou reproduzir neste espaço a reportagem publicada no Diário do Grande ABC de hoje, e que foi levada à manchetíssima da edição (manchetíssima é a manchete principal de primeira página) de modo que os leitores não fiquem com a impressão de que esteja este jornalista frequentando algum espaço onde se respiraria mais que oxigênio e se consumiria mais que um lanche. Vão lá, então?  

Metalúrgicos querem comitê

para discutir rumos da economia  

A criação de um conselho consultivo, que reúna trabalhadores, empresários e instituições de ensino superior para dialogar com o Banco Central sobre os rumos da economia brasileira foi o principal tema tratado na visita do presidente da instituição financeira, Gabriel Galípolo, ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, ontem à tarde. O impacto da alta dos juros na criação e manutenção dos empregos também pontuaram a reunião.

“Em 60 anos, é a primeira vez que um presidente do Banco Central visita um sindicato. Como sabemos que uma das atribuições do Banco Central é a questão do emprego, propusemos a criação de um conselho, formado por trabalhadores, empresários e representantes da academia. Um conselho consultivo, não deliberativo”, afirmou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Moisés Selerges.

O dirigente esteve em Brasília no dia 28 de maio, quando entregou a Galípolo a pauta da classe trabalhadora, resultado da manifestação contra a taxa de juros. Em março, 5.000 trabalhadores ligados a 20 entidades sindicais realizaram passeata em São Bernardo e elaboraram um documento – destinado também aos presidentes da Câmara e do Senado – no qual questionavam a taxa de juros, pediam o fim da jornada 6x1 e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000, entre outros temas.

“Os trabalhadores apresentaram a pauta que, para nós, é fundamental: a redução da taxa de juros. Ela dificulta investimentos e está em um patamar insuportável. Sabemos qual é a missão do Banco Central e, acima de tudo, propusemos que ações como a de hoje (ontem) ocorram com mais frequência, para que o Banco Central dialogue com a sociedade civil”, declarou Selerges.

Galípolo destacou que poder ouvir os sindicatos, trocar ideias e dialogar foi uma agenda muito importante para todos os envolvidos. “O Banco Central está cada vez mais aberto ao diálogo com a sociedade civil, e hoje foi um dia de grande aprendizado para todos”, concluiu a autoridade financeira.

A taxa básica de juros (Selic) está em 14,75% ao ano, a maior desde julho de 2006 (15,25%). Nos dias 17 e 18 de junho os integrantes do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central vão se reunir para definição do percentual e, pelas declarações de Galípolo, deve ser mantido no mesmo patamar.

Além dos metalúrgicos, representantes de outros sindicatos da região e os prefeitos de São Bernardo, Marcelo Lima (Podemos), e de Mauá, Marcelo Oliveira (PT), participaram da reunião de ontem.  

SEDE DE PROTAGONISMO 

Como se percebe, é muita sede por protagonismo de uma corporação sem lastro atual, incapaz de sequer, sequer e sequer, ajustar-se domesticamente aos desafios econômicos e sociais do Grande ABC. Trata-se, claramente, como se vê ou não, de ação de marketing político- partidária que pretende transmitir a ideia de que o movimento sindical e os universitários estão engajados no governo Lula da Silva. Tudo encenação.

Os sindicalistas de São Bernardo estão perdidos no tempo e no espaço porque o modelo de Estado que pretendem e no qual o sindicalismo obteria pretensamente o lugar de volta, inclusive com a retomada do Imposto Sindical, é um modelo obsoleto. O que os metalúrgicos parecem não ter entendido ainda é que o tempo passou e o passado não volta mais como pretendem. Mesmo com flerte contraditório com os chineses bons de bico.

Houvesse na região sindicalismo produtivo na construção de nova concepção de embates e harmonia entre capital e trabalho, os metalúrgicos de São Bernardo teriam feito do encontro com o presidente do Banco Central algo de porosidade participativa sustentável no sentido de oferecer alicerces ao Desenvolvimento Econômico. Qual nada. O que eles querem mesmo é se ocuparem nas mídias em geral. Mas vejo que os grandes jornais não deram bola para a visita de Gabriel Galípolo. Algo que, por outro lado, não tira a importância emblemática da visita.

E O OUTRO LADO?

Para quem eventualmente tenha dúvida sobre as responsabilidades dos sindicalistas no destino de desindustrialização da região, lembro que escrevi dezenas de análises sobre a influência positiva e a influência negativa do movimento iniciado pelo jovem Lula da Silva antes que os anos 1980 chegassem. E que jamais arredei pé da missão jornalística de acompanhar os desdobramentos que são contínuos e de várias facetas.

Desse modo, posso afirmar sem temer qualquer tipo de constrangimento (que se manifestam sempre que volto ao assunto) que a covardia do outro lado do balcão do capitalismo do Grande ABC é uma manifestação permanente em forma de silêncio.

Vejam, por exemplo, o que disseram no passado e dizem no presente os dirigentes empresariais do Centro das Indústrias (Ciesp) a respeito das relações entre capital e trabalho em São Bernardo. Eles são completamente omissos, quando não aliados dos petistas e cutistas.

Por que razão, afinal? Primeiro, busca oportunista de vantagens nos governos comandados ou sob influência de sindicalistas. Segundo temores de represálias nos chãos de fábrica. Essas questões são tabus no tratamento da mídia às relações entre capital e trabalho no Grande ABC. Ficar em cima do muro é especialidade de todos que passarão pela história como prevaricadores sociais.

Os metalúrgicos e os sindicalistas em geral têm enorme vantagem sobre os demais espectros sociais e econômicos. Eles não escondem o que querem. Jogam às claras. O outro lado do balcão é adesista por conveniência e safadeza. Salvam-se as exceções, que só são exceções porque são exceções.



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